domingo, 14 de março de 2021


 

 

DEALBAR I – 11 MAR 21

 

Dorme no céu a longa nuvem rosa,

um pássaro voa sob ela, preto,

mas do meu ponto de vista mais direto

ele voa sobre a nuvem preguiçosa...

A aurora ainda não surgiu formosa,

do horizonte não percebo o tom dileto;

tão só linha quebrada é o objeto

em que termina minha visão airosa.

 

Moro na parte velha da cidade

e quando olho para o lado norte,

só vejo essa silhueta dos telhados

e o Sol encontra ali dificuldade

de ser erguer sobre os merlões do forte

em que o povo protege seus pecados...

 

 

DEALBAR II

 

Já para o lado sul há outra visão;

vejo o jardim em meu primeiro plano

e então o terraço se mostra soberano

com glicínias a brotar em profusão,

mais outras flores em caramanchão,

mesa e cadeiras a proteger de um dano;

a escada em caracol dá certo afano,

uma roseira a se enroscar no corrimão...

 

Os seus espinhos conformam ameaça

a quem pretende ascender até o terraço

e o cilindro central recebe o abraço;

mas lá no alto o olhar alcança graça,

atravessando da folhagem fresco véu,

na amplitude da visão do céu.

 

DEALBAR III

 

E ao debruçar-se sobre o peitoril,

prédios e casas corrompendo embora,

há uma visão do cerro e da senhora

que descrevi como dama senhoril,

deitada na fronteira do Brasil

a proteger dos ataques de um outrora,

tempos antigos perdidos já no embora:

hoje há amizade bastante varonil.

 

Mas o céu que vejo aqui é amarelado,

como um reflexo desse véu rosado,

 o lado oeste invejoso do nascente,

enquanto o leste espalha-se impudente...

Contra o calor agora fecho meus postigos:

ergueu-se o Sol e a luz traz seus perigos...

 

DEALBAR IV

 

O céu a meu redor é tão variado!

Mais do que a Lua se mostra caprichoso,

às vezes calmo, de outras bem ventoso;

esta manhã encontrava-se nublado;

contudo, o dia já avançado,

vem o Sol espiar mais temeroso,

explorando a situação desse teimoso

ondular da névoa sobre o prado...

 

Mas como já não moro na campanha

e permaneço quase sempre sob um teto,

suas condições hoje registro apenas,

a contemplar da atmosfera a manha,


à chuva e ao orvalho mostrando o mesmo afeto,

sem que a geada sequer me cause penas!


Nenhum comentário:

Postar um comentário