quinta-feira, 11 de março de 2021

 

 

ARIADNE EM CRETA I – 3 MAR 2021

 

Essa temática de Ariadne e Teseu

rendeu vasta quantidade de versões:

Teseu vilão nunca agradou as multidões

e deste modo muita coisa se escreveu

que justificativa qualquer lhe concedeu,

pois depois partipou das expedições

dos Argonautas, consoante as tradições...

Como um herói tanta maldade cometeu?

 

Ora o Pseudo Apollodoro mencionou

que uma noiva ele tivesse a bordo

e que por ela Ariadne desprezou;

seria Karintha seu nome e em azedume

forçou Teseu a agir com pleno acordo,

sendo Ariadne abandonada por ciúme!...

 

ARIADNE EM CRETA II

 

Na época barroca, os anos setecentos,

estava em modo reviver mitologia,

toda a ópera assim se inventaria,

durante séculos rm desenvolvimentos.

Assim o tema de Ariadne apelaria

mais que muitos dos demais eventos;

assim Nicola Porpora seus talentos

em “Arianne e Teseo” empregaria...

 

dois anos depois, outro compositor,

Leonardo Leo, o mesmo libreto usou

e Francis Colman a seguir o reformou

para “Arianne in Creta” e com louvor,

Georg Friedrich Händel o empregou

na bela ópera que com sucesso musicou.

 

ARIADNE EM CRETA III

 

As de Porpora e Leo desconhecidas,

só em museus estão as partituras,

mas as de Händel, com suas notas puras,

no King’s Theater foram aplaudidas

e por Marie Sallié “enriquecidas”

por cenas de balé um tanto duras;

no Covent Garden causaram loucuras

ao serem pela bailarina apresentadas.

 

Nessa época ainda era novidade

a presença de mulheres no teatro,

castrados cantavam as partes femininas...

Anna Maria Strada com grande qualidade

fez a estreia nesse primeiro quadro,

não obstante as zombarias masculinas...

 

ARIADNE EM CRETA IV

 

Ninguém se espante qeu esse tão famoso

Georg Händel tivesse aproveitado

um libreto já por outros empregado:

era um costume comum e generoso

e do próprio Rossini, prestimoso,

o seu Barbeiro de Sevilha foi calcado

sobre o libreto por Paisiello antes usado,

de Beaumarchais sendo o tema primoroso.

 

Hoje em dia ressurgiu a apreciação

pelo barroco e “Arianne” foi gravada

depois de ter sido reapresentada;

em dois mil e quatorze foi a última ocasião,

então apresentada nos teatros mais finos.

durante os grandes Centenários Händelinos.

 

ARIADNE EM CRETA V

 

Em “Arianne in Creta” foi o vilão

o Rei Egeu de Atenas. Quando em guerra

com o Minos, ele invadiu sua terra,

matou um de seus filhos à traição

e raptou a menina Ariadne sem razão;

no palácio de Arqueu de Tebas ele a encerra,

que como a própria filha a ela se aferra;

mas após quinze anos venceu Minos na ocasião.

 

Então exigiu o tributo conhecido:

“sete casais de sete em sete anos”

para ao Minotauro em alimento se entregar

e Teseu teria, para que fosse abolido,

 de exercer esforços quase insanos,

além do monstro um campeão a derrotar!

 

ARIADNE EM CRETA VI

 

Este era Táuride, de cinto mágico senhor,

com o qual se manteria invencível.

Ariadne, numa peripécia incrível,

também foi exigida por penhor,

mas entre ela e Teseu já havia grande amor,

a jovem Carilda também por ele apaixonada;

ao desembarcarem, logo esta é observada

por Táuride, mas também ganhou o favor

 

do ateniense Alceste, outro refém.

Carilda convenceu Alceste a combater,

que matou os guardas e então fogiu com ela.

Furioso, o Minos a Ariadne quer também

que tome o seu lugar para morrer;

ao Labirinto descerá Teseu com a donzela!

 

ARIADNE EM CRETA VII

 

Mas antes disso Ariadne escutara

Uma conversa de Táuride com o Minos

e como vencer a ambos assassinos

ficara sabendo e a Teseu tudo contara;

tão logo o herói no Labirinto entrara,

foi atacado pelo monstro em desatino,

em sua garganta enfiou um osso pequenino

e deste modo a fera executara!...

 

Mas depois que o Labirinto foi aberto,

também teve de lutar com o campeão,

mas logo seu cinto mágico ele corta!

Seu segredo destarte descoberto,

Táuride é morto sem mais complicação

e assim Teseu o feroz tributo aborta!

 

ARIADNE EM CRETA VIII

 

Ele pede a Minos que lhe dê a mão

de Ariadne e o rei concede,

mas autorização de seu pai ainda pede,

só descobrindo ser seu pai então!...

Alceste e Carilda são presos na ocasião

e em perdoá-los o rei também acede,

ao achar a filha, em alegria se desmede,

à dupla boda então dando permissão.

 

E assim a ópera termina num balé

que despertava o entusiasmo da plateia...

As óperas barrocas não eram trágicas...

Talvez o enredo pueril pareça até,

nem mencionei os mil ciúmes da epopeia,

mas inspirou a Händel notas mágicas!...

 

DESCONTROLE I – 4 MAR 2021

 

Eu não devia te enviar mais versos:

não é amor que sinto, é nostalgia,

todo meu sangue em capilares de poesia,

vilosidades em meus gânglios reconversos,

as redes neurais em pensares dispersos,

saídos só do olhar, A boca nem desconfia

da mudez de meus ouvidos na abstinência fria,

escorrem anos em metáforas conversos.

 

Mas temo que minhas mágoas interpretes

na confissão de amor que tua alma deseja,

os gritos de paixão de uma boca costurada,

pois nem sequer te conheço, mas estes mil confetes,

as hemácias de meu sangue, a saliva que não beija

ressoarão em teu peito como harpa cadenciada.

 

DESCONTROLE II

 

Assim, querida, não te chamo idolatrada,

mas não consigo sopitar os sentimentos,

que só pelas tuas frases têm alentos,

pois não te amei e não serás amada!

Mas de ti lembro em cada madrugada

e nos meus sonhos ensaio os movimentos

que levariam a teus doces aposentos,

sem minha presença ali sequer ser esperada.

 

Apenas lembro de ti em cada despertar

e fico a mastigar gotas de acanho:

serão o ressaibo que sinto de teu beijo?

Será que sinto ainda na pele o acariciar

dessas tuas mãos de um frescor tamanho,

que assim me marcam depois de cada ensejo?

 

DESCONTROLE III

 

Como te disse, após me achar desperto,

com vã frequência eu busco te esquecer,

mas por minha amada não te irei comprometer,

que amada é esta de rosto tão incerto

que só me habita no coração deserto,

durante meu bizarro e onírico viver?

Só em meus sonhos te posso conhecer,

meu coração rasgado e todo aberto.

 

Assim eu não te amo; e nem a mim.

De que maneira posso a mim mesmo amar

se só na onirosfera posso te encontrar

e me condeno porque vivo assim,

na nostalgia de um vulto singular

que a alma inteira não me deixa descansar!

 

APOTEGMA I – 5 MAR 2021

 

Houve tempo que só lia, no aguardar das aulas,

devorava conto e história nas linhas perseguidas

por ambições alheias, em lendas repetidas,

parágrafos contendo barras negras como jaulas.

 

E assim me contentava, divertido no porém,

lendo sem criticar, enquanto a alma piscava,

o espírito dormia, a mente estremunhava,

vastos anos do passado envolvidos no também.

 

E de novo despertei, as décadas ressequidas,

as veredas circulares sem qualquer continuação

explodiram o labirinto nas sebes das canções

e agora espoucam tanto as cigarras malferidas,

registradas em rascunhos sem qualquer alteração,

na diálise diária em que sangram emoções...

 

APOTEGMA II

 

E quando eu leio hoje, eu leio a ti somente,

em cada feminina e formosa personagem,

em cada malferida e despida de coragem,

na meia-idade e senectude assente.

 

Em cada filha descrita estás presente,

em cada mãe de calígera mensagem,

em cada irmã errando na paisagem,

somente tu estás e ali estás onipresente.

 

Lá se foram os tempos de pura indiferença,

em que textos traduzia sem ter envolvimento

ou criticar podia conforme o meu contento,

de novo retomada da juventude a crença,

só por lembrar de ti após te conhecer,

concentrado na lembrança o total de meu viver.

 

APOTEGMA III

 

Na alma sempre existe o temor do desenlace,

quando tudo se acaba e chega o fim da senda,

não é pelo que fez que a gente se arrependa,

mas pelo nunca feito que nalma nos perpasse.

 

Assim eu penso em ti e o peito satisfaz-se,

eu penso em ti sem olhar qualquer agenda,

eu penso em ti no ouro e azul da lenda,

penso no espelho que a alma te estampasse.

 

Mas de que serve pensar, se tudo está contido

nos secos grãos de pólvora de meu almofariz?

Assim eu me renego a não pensar mais nada,

mas pelo pensamento me vejo perseguido

e em tanta coisa penso e esqueço o que mais quis,

pois despertou-me a alma e se acha atribulada!


ANNA MARIA STRADA, A PRIMEIRA ARIADNE DE HÄNDEL

 


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