ARIADNE EM CRETA I – 3
MAR 2021
Essa temática de
Ariadne e Teseu
rendeu vasta quantidade
de versões:
Teseu vilão nunca agradou as multidões
e deste modo muita coisa se escreveu
que justificativa qualquer lhe concedeu,
pois depois partipou das expedições
dos Argonautas, consoante as tradições...
Como um herói tanta maldade cometeu?
Ora o Pseudo Apollodoro mencionou
que uma noiva ele tivesse a bordo
e que por ela Ariadne desprezou;
seria Karintha seu nome e em azedume
forçou Teseu a agir com pleno acordo,
sendo Ariadne abandonada por ciúme!...
ARIADNE EM CRETA II
Na época barroca, os
anos setecentos,
estava em modo reviver
mitologia,
toda a ópera assim se
inventaria,
durante séculos rm
desenvolvimentos.
Assim o tema de Ariadne
apelaria
mais que muitos dos
demais eventos;
assim Nicola Porpora
seus talentos
em “Arianne e Teseo”
empregaria...
dois anos depois, outro
compositor,
Leonardo Leo, o mesmo
libreto usou
e Francis Colman a
seguir o reformou
para “Arianne in Creta”
e com louvor,
Georg Friedrich Händel
o empregou
na bela ópera que com
sucesso musicou.
ARIADNE EM CRETA III
As de Porpora e Leo
desconhecidas,
só em museus estão as
partituras,
mas as de Händel, com
suas notas puras,
no King’s Theater foram
aplaudidas
e por Marie Sallié
“enriquecidas”
por cenas de balé um
tanto duras;
no Covent Garden
causaram loucuras
ao serem pela bailarina
apresentadas.
Nessa época ainda era
novidade
a presença de mulheres
no teatro,
castrados cantavam as
partes femininas...
Anna Maria Strada com
grande qualidade
fez a estreia nesse
primeiro quadro,
não obstante as
zombarias masculinas...
ARIADNE EM CRETA IV
Ninguém se espante qeu
esse tão famoso
Georg Händel tivesse aproveitado
um libreto já por
outros empregado:
era um costume comum e
generoso
e do próprio Rossini,
prestimoso,
o seu Barbeiro de
Sevilha foi calcado
sobre o libreto por
Paisiello antes usado,
de Beaumarchais sendo o
tema primoroso.
Hoje em dia ressurgiu a
apreciação
pelo barroco e
“Arianne” foi gravada
depois de ter sido
reapresentada;
em dois mil e quatorze
foi a última ocasião,
então apresentada nos
teatros mais finos.
durante os grandes
Centenários Händelinos.
ARIADNE EM CRETA V
Em “Arianne in Creta”
foi o vilão
o Rei Egeu de Atenas.
Quando em guerra
com o Minos, ele
invadiu sua terra,
matou um de seus filhos
à traição
e raptou a menina
Ariadne sem razão;
no palácio de Arqueu de
Tebas ele a encerra,
que como a própria
filha a ela se aferra;
mas após quinze anos
venceu Minos na ocasião.
Então exigiu o tributo
conhecido:
“sete casais de sete em
sete anos”
para ao Minotauro em
alimento se entregar
e Teseu teria, para que
fosse abolido,
de exercer esforços quase insanos,
além do monstro um
campeão a derrotar!
ARIADNE EM CRETA VI
Este era Táuride, de
cinto mágico senhor,
com o qual se manteria
invencível.
Ariadne, numa peripécia
incrível,
também foi exigida por
penhor,
mas entre ela e Teseu
já havia grande amor,
a jovem Carilda também
por ele apaixonada;
ao desembarcarem, logo
esta é observada
por Táuride, mas também
ganhou o favor
do ateniense Alceste,
outro refém.
Carilda convenceu
Alceste a combater,
que matou os guardas e
então fogiu com ela.
Furioso, o Minos a
Ariadne quer também
que tome o seu lugar
para morrer;
ao Labirinto descerá
Teseu com a donzela!
ARIADNE EM CRETA VII
Mas antes disso Ariadne
escutara
Uma conversa de Táuride
com o Minos
e como vencer a ambos
assassinos
ficara sabendo e a
Teseu tudo contara;
tão logo o herói no Labirinto
entrara,
foi atacado pelo
monstro em desatino,
em sua garganta enfiou
um osso pequenino
e deste modo a fera
executara!...
Mas depois que o
Labirinto foi aberto,
também teve de lutar
com o campeão,
mas logo seu cinto
mágico ele corta!
Seu segredo destarte
descoberto,
Táuride é morto sem
mais complicação
e assim Teseu o feroz
tributo aborta!
ARIADNE EM CRETA VIII
Ele pede a Minos que
lhe dê a mão
de Ariadne e o rei
concede,
mas autorização de seu
pai ainda pede,
só descobrindo ser seu
pai então!...
Alceste e Carilda são
presos na ocasião
e em perdoá-los o rei
também acede,
ao achar a filha, em
alegria se desmede,
à dupla boda então
dando permissão.
E assim a ópera termina
num balé
que despertava o
entusiasmo da plateia...
As óperas barrocas não eram
trágicas...
Talvez o enredo pueril
pareça até,
nem mencionei os mil
ciúmes da epopeia,
mas inspirou a Händel
notas mágicas!...
DESCONTROLE I – 4 MAR
2021
Eu não devia te enviar
mais versos:
não é amor que sinto, é
nostalgia,
todo meu sangue em
capilares de poesia,
vilosidades em meus
gânglios reconversos,
as redes neurais em
pensares dispersos,
saídos só do olhar, A
boca nem desconfia
da mudez de meus
ouvidos na abstinência fria,
escorrem anos em
metáforas conversos.
Mas temo que minhas
mágoas interpretes
na confissão de amor
que tua alma deseja,
os gritos de paixão de
uma boca costurada,
pois nem sequer te
conheço, mas estes mil confetes,
as hemácias de meu
sangue, a saliva que não beija
ressoarão em teu peito
como harpa cadenciada.
DESCONTROLE II
Assim, querida, não te
chamo idolatrada,
mas não consigo sopitar
os sentimentos,
que só pelas tuas
frases têm alentos,
pois não te amei e não
serás amada!
Mas de ti lembro em
cada madrugada
e nos meus sonhos
ensaio os movimentos
que levariam a teus
doces aposentos,
sem minha presença ali
sequer ser esperada.
Apenas lembro de ti em
cada despertar
e fico a mastigar gotas
de acanho:
serão o ressaibo que
sinto de teu beijo?
Será que sinto ainda na
pele o acariciar
dessas tuas mãos de um
frescor tamanho,
que assim me marcam
depois de cada ensejo?
DESCONTROLE III
Como te disse, após me
achar desperto,
com vã frequência eu
busco te esquecer,
mas por minha amada não
te irei comprometer,
que amada é esta de
rosto tão incerto
que só me habita no
coração deserto,
durante meu bizarro e
onírico viver?
Só em meus sonhos te
posso conhecer,
meu coração rasgado e
todo aberto.
Assim eu não te amo; e
nem a mim.
De que maneira posso a
mim mesmo amar
se só na onirosfera
posso te encontrar
e me condeno porque
vivo assim,
na nostalgia de um
vulto singular
que a alma inteira não
me deixa descansar!
APOTEGMA I – 5 MAR 2021
Houve tempo que só lia, no
aguardar das aulas,
devorava conto e história nas
linhas perseguidas
por ambições alheias, em lendas
repetidas,
parágrafos contendo barras negras
como jaulas.
E assim me contentava, divertido
no porém,
lendo sem criticar, enquanto a
alma piscava,
o espírito dormia, a mente
estremunhava,
vastos anos do passado envolvidos
no também.
E de novo despertei, as décadas
ressequidas,
as veredas circulares sem
qualquer continuação
explodiram o labirinto nas sebes
das canções
e agora espoucam tanto as
cigarras malferidas,
registradas em rascunhos sem
qualquer alteração,
na diálise diária em que sangram
emoções...
APOTEGMA II
E quando eu leio hoje, eu leio a
ti somente,
em cada feminina e formosa
personagem,
em cada malferida e despida de
coragem,
na meia-idade e senectude
assente.
Em cada filha descrita estás
presente,
em cada mãe de calígera mensagem,
em cada irmã errando na paisagem,
somente tu estás e ali estás
onipresente.
Lá se foram os tempos de pura
indiferença,
em que textos traduzia sem ter
envolvimento
ou criticar podia conforme o meu
contento,
de novo retomada da juventude a
crença,
só por lembrar de ti após te conhecer,
concentrado na lembrança o total
de meu viver.
APOTEGMA III
Na alma sempre existe o temor do
desenlace,
quando tudo se acaba e chega o
fim da senda,
não é pelo que fez que a gente se
arrependa,
mas pelo nunca feito que nalma
nos perpasse.
Assim eu penso em ti e o peito
satisfaz-se,
eu penso em ti sem olhar qualquer
agenda,
eu penso em ti no ouro e azul da
lenda,
penso no espelho que a alma te
estampasse.
Mas de que serve pensar, se tudo
está contido
nos secos grãos de pólvora de meu
almofariz?
Assim eu me renego a não pensar
mais nada,
mas pelo pensamento me vejo
perseguido
e em tanta coisa penso e esqueço
o que mais quis,
pois despertou-me a alma e se
acha atribulada!
ANNA MARIA STRADA, A PRIMEIRA ARIADNE DE HÄNDEL
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