COMUNIDADE I – 11 SET 2021
(Ilustrado por Zezé Motta em Xica da Silva)
Sós no mundo nunca estamos
realmente:
existem coisas que
chamamos de emoções,
que vêm dos fígados e dos
corações
e nos envolvem com fragor
potente.
Existe o medo, da tristeza
conivente,
ódio e ciúme em fortes
contrações,
lascívia e inveja em mil
conotações,
orgulho firme e humildade
reverente.
E nessas emoções nos
irmanamos,
pois nossas almas assim
compartilhamos,
no sentimento comum de
humanidade,
a dor alheia sendo igual à
nossa dor,
da humilhação partilhado o
mau odor,
mesmo sofrendo com menor
intensidade.
COMUNIDADE II
Se alguém estranha que não
falei de amor,
é que essa emoção é bem
mais rara,
com sexo e atração que
alguém compara,
com o egoísmo da posse em
seu pendor.
Em certas línguas, nem há
termo delineador
para “eu te amo” – que
coisa mais amara!
Podemos dizer para alguém
que nos é cara,
mas num sentido muito
menos constritor,
E a quantas coisas se
refere com fervor,
quais se amor fossem? Amor à arte,
amor à igreja, amor aos
animais,
significado cada qual mais
poluidor,
distribuído entre mil
outras emoções,
denominando mesmo vagas
sensações...
COMUNIDADE III
Pois tudo isso é mais um
sentimento
de posse egoísta, sem
dúvida comum,
quando queremos conservar
algo ou algum
junto de nós, em pleno assentimento.
Para a maioria, o termo
toma assento
nesse desejo de
refletir-se num
que só pertença a nós e a
mais nenhum,
que se alimente de nosso
mesmo alento.
Mesmo dos filhos o amor
significa
não altruísmo, porém nossa
extensão:
algo de nós em sua carne
permanece,
enquanto amor bem mais que
tal indica,
não é somente nossa
continuação,
mas uma entrega total em
fiel prece.
CONOTAÇÃO I – 12 SET
2021
Dizem que existe maior
felicidade
em dar que receber. Mesmo a Escritura,
em sua verdade
permanente e pura,
afirma que a ventura
nos invade,
sempre que algo
partilhamos com bondade
daquilo que nos sobra
com fartura
ou mesmo faça falta,
mas que cura
a quem sabemos ter
maior necessidade
mas o inverso também é
verdadeiro:
está a alegria na
reciprocidade
e existe um amargor em
só ganhar
e assim este provérbio
é mais certeiro:
há certamente menor
felicidade
em precisar receber sem
poder dar!
CONOTAÇÃO II
Entra o amor nessa reciprocidde,
que se possa igual dar
que receber
e desta forma
firmemente pertencer
a um elo do grilhão da
humanidade.
Existe o amor nessa
real felicidade
de tudo partilhar, não
só querer
ter alguém para nós,
não no poder,
mas nessa entrega mútua
de amizade.
Por isso digo que o amor
aos pais
e o amor aos filhos não
são bem amor,
mas a grande serpente
que nos une;
por serem nossos,
igualmente somos mais,
bem mais que os outros
que notamos ao redor
e assim a separação
muito mais pune.
CONOTAÇÃO III
Mas todos temos as
mesmas emoções,
em grau mais fraco ou
potencial mais forte;
sendo humanos,
partilhamos de igual sorte,
compartilhamos das
mesmas sensações,
submetidos às mesmas
ilusões,
por mais que a razão
nossa as recorte,
por mais que alguma
força em nós se aborte,
somos humanos de
idênticos grilhões.
Por isso digo que nunca
estamos sós,
que as emoções assim
compartilhadas
chegam nos ares desde
as alvoradas
e nos atilham com
permanentes nós:
e por mais que o
racional em oposto pense,
tudo que é humano de
fato nos pertence.
CONIVÊNCIA I – 13 SET 21
Tu não sentes ódios alheios, mas os teus,
não as dos outros, mas as tuas depressões,
gozas apenas das tuas exultações,
conceitos tens diversos de um só Deus.
E amor se sente somente pelos seus,
mas colorido pelas outras emoções,
mais por aqueles que nos dão satisfações
e desconheces quais os rancores meus.
Mas tudo quanto se sente é semelhante,
que tudo brota de só e única fonte
e lá no fundo, os sentimentos são iguais
e quando sentes qualquer fome delirante,
à tua maneira estabeleces uma ponte
com cada fome que sentem os demais.
CONIVÊNCIA II
Certamente que divergem circunstâncias,
que a alguns castigam e a outros favorecem,
mas as espirais do deeneá jamais esquecem
as emoções que existiram noutras danças.
Herdamos todos reflexos das instâncias,
amor e ódio são potências que florescem
e no consciente enfim se estabelecem,
não importa quais sejam as esquivanças.
Mas quanto ao amor, tão raro sentimento,
devemos todos renovar com ousadia,
que após de nós o gérmen gravaria,
que suavize o nosso falso julgamento
que francamente nos leva mais a odiar
do que podemos uns aos outros nos amar.
CONIVÊNCIA III
Também é certo que exista quem prefira,
por ter dos sentimentos distorção
a dor qual centro e eixo da emoção,
quando sua culpa em torno dela gira.
E de igual modo que aos demais confira
a dor possível em sadismo de intenção,
do masoquismo sendo gêmeo e irmão:
quem a si fere, também que aos outros fira!
E mesmo assim, nos irmanamos na maldade,
na desconfiança e em toda a malquerença,
mesmo o chamado de “amor” é doloroso,
porém nos prende ao comum da humanidade,
um deus-castigo permeando toda a crença,
bem mais fácil de aceitar que um deus bondoso!
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