O GRANDE RETORNO I – 10 SET 21
(Ilustrado por Ingrid Bergman)
Amor é mais que sexo, feito de endorfinas,
uma onda física de subitâneo espanto,
que nos invade o corpo em cada canto:
é um tsunami, afinal, que me destinas,
que sobe pela espinha em gotas finas,
à gravidade opostas, largo manto,
que então recobre o peito no seu canto,
nessa maré predisposta em antigas sinas.
Que nos inunda assim, fisicamente,
em orgasmo multicor, multiabrangente,
em que o organismo inteiro é que ejacula,
o coração no peito em espantamento,
um grito na garganta em encantamento
de ali prender a emoção que se acumula.
O GRANDE RETORNO II
Honestamente, lastimo até bastante
esses que buscam no amor apenas sexo,
uma explosão temporária em dom perplexo,
enquanto amor se replica a cada instante.
Quando amor preencher nos pode o nexo,
muito mais do que um espasmo delirante,
a renovar-se da forma mais constante,
um coração de outro a ser reflexo.
Quer seja a mente a refletir a outra
ou a endorfina a se reproduzir,
mas que nunca se limita a um só momento,
quando uma alma assim se mescla noutra,
num entrevero constante em seu fluir,
mistura alegre de ilusão e sofrimento.
O GRANDE RETORNO III
Mas nem por isso despreze-se o carnal,
que para o amor é necessário codicilo,
não a questão de um temporário filo,
mas a completação do que é parcial.
Não que algum dia, qual na fábula ancestral,
nós fôssemos redondos nesse estilo,
com oito membros e pelo orgulho ancilo,
o nosso corpo repartissem num ritual.
Mas que duas almas de uma fossem parte
e assim rasgadas por destino fossem,
não é impossível para nosso imaginar
e que essas almas anseiem então, destarte,
a exaltação por que ambas se endossem
em algo muito mais que o copular.
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