segunda-feira, 13 de setembro de 2021



 

HÉRCULES E ALCESTE

Capítulo III

 

“Mas eu lhe juro que, cumprida essa missão,

são e salvo lhe devolverei seu cão.”

Não ficou Hades nem um pouco agradado,

mas ali estavam Hermes e Athena;

se negasse, os ofenderia e como pena

 condição impôs ao pedido inesperado.

 

Cobrou assim um preço desusado:

“Consinto, desde que seja carregado

em suas costas pelo caminho inteiro

e que pela sua honra ainda me jure,

duas testemunhas para que não perjure,

que este meu cão devolverá ligeiro!”

 

Que o devolveria são e salvo ele jurou

e sobre as costas de um só golpe o colocou;

seguiu assim até a entrada da caverna

e pelo longo caminho até Micenas,

garras e presas sem lhe causarem penas,

a pele do leão a lhe dar proteção terna.

 

Contudo, ao apresentar-se a Euristeu,

o rei, de medo, sob a banheira se meteu,

que era de bronze e que fez emborcar,

gritando a Hércules para nunca retornar,

ficando o herói do castigo a se livrar,

tendo o cão Cérbero podido até amansar!

 

Logo a seguir, ele cumpriu a sua promessa,

Kérberos a seu lado a caminhar sem pressa

e o devolveu prontamente a seu asilo;

nenhuma alma tentou dali escapar,

somente Orfeu que conseguira penetrar,

mas essa lenda já possui outro sigilo...

 

E assim sabendo que Alceste falecera,

mesmo depois que Thânatos dali correra,

foi Hércules de retorno a essa mansão,

sem ajuda de outros deuses, mas sem medo:

Kérberos com ele partilhava do segredo,

e sem uivar, manso lambeu-lhe a mão!

 

E lá chegou ante o trono de Plutão,

para explicar-lhe a sua nova missão,

que o rei dos mortos não queria aceitar,

porém sua esposa, a doce Proserpina,

com sua voz doce, que o coração fascina,

convenceu-o a Alceste libertar.

 

“Veja bem, meu esposo encarecido,

teu servo Thânatos foi primeiro convencido

a não tomar de tal mulher a alma,

porém foi Átropos que manteve a decisão

e lhe cortou o fio, sem compaixão:

deves pensar com gentileza e calma...”

 

E desse modo, também Hades consentiu

e Alceste Hércules ao mundo conduziu,

mas no momento em que chegou à luz,

sumiu sua sombra e então reencarnou

no corpo que até então ninguém cremou:

grande alegria ao povo então seduz!

 

Despediu-se Hércules, muito satisfeito

Indo a Tirinto para retomar o seu direito,

Quando ocorreu aquele triste desenlace,

que de Iphitos resultou na triste morte;

não tentou Hércules mais tentar a sorte,

com Proserpina talvez mesmo se desgrace!

 

Voltou Alceste assim para o marido,

o seu amor não mais sendo interrompido,

com ele tendo boa descendência:

seu filho Eumelo oito navios levou

para a guerra de Tróia, os quais fabricou,

Magnes, filho de Argos, com paciência.

 

Era casado com Perímele, sua irmã,

completa aqui esta lenda temporã,

pré-homérica, sem a menor contrariedade.  (*)

e por ser Euristeu rei de Micenas,

transcorreu sabemos nessas épocas serenas,

antes que o vulcão destruísse sua cidade.

(*) A guerra de Tróia referida é anterior à de Heitor e Aquiles, sendo comandada por Hércules e Telamon, quando Príamo, o último descendente real, cujo nome significa “resgatado” foi nomeado rei e reconstruiu a cidade, destruída novamente cinquenta anos depois.  Todos os mitos envolvendo Hércules se referem ao período miceniano, antes que os Helenos ocupassem a península grega, após a destruição de Cnossos, Micenas e Tirinto pelas erupções de Santorini, contemporâneas à saída dos Hebreus de seu cativeiro no Egito, conforme narrado no livro de Êxodo.

  

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