HÉRCULES
E ALCESTE
Capítulo
III
“Mas
eu lhe juro que, cumprida essa missão,
são
e salvo lhe devolverei seu cão.”
Não
ficou Hades nem um pouco agradado,
mas
ali estavam Hermes e Athena;
se
negasse, os ofenderia e como pena
condição impôs ao pedido inesperado.
Cobrou
assim um preço desusado:
“Consinto,
desde que seja carregado
em
suas costas pelo caminho inteiro
e
que pela sua honra ainda me jure,
duas
testemunhas para que não perjure,
que
este meu cão devolverá ligeiro!”
Que
o devolveria são e salvo ele jurou
e
sobre as costas de um só golpe o colocou;
seguiu
assim até a entrada da caverna
e
pelo longo caminho até Micenas,
garras
e presas sem lhe causarem penas,
a
pele do leão a lhe dar proteção terna.
Contudo,
ao apresentar-se a Euristeu,
o
rei, de medo, sob a banheira se meteu,
que
era de bronze e que fez emborcar,
gritando
a Hércules para nunca retornar,
ficando
o herói do castigo a se livrar,
tendo
o cão Cérbero podido até amansar!
Logo
a seguir, ele cumpriu a sua promessa,
Kérberos
a seu lado a caminhar sem pressa
e o
devolveu prontamente a seu asilo;
nenhuma
alma tentou dali escapar,
somente
Orfeu que conseguira penetrar,
mas
essa lenda já possui outro sigilo...
E
assim sabendo que Alceste falecera,
mesmo
depois que Thânatos dali correra,
foi
Hércules de retorno a essa mansão,
sem
ajuda de outros deuses, mas sem medo:
Kérberos
com ele partilhava do segredo,
e
sem uivar, manso lambeu-lhe a mão!
E lá
chegou ante o trono de Plutão,
para
explicar-lhe a sua nova missão,
que
o rei dos mortos não queria aceitar,
porém
sua esposa, a doce Proserpina,
com sua
voz doce, que o coração fascina,
convenceu-o
a Alceste libertar.
“Veja
bem, meu esposo encarecido,
teu
servo Thânatos foi primeiro convencido
a
não tomar de tal mulher a alma,
porém
foi Átropos que manteve a decisão
e
lhe cortou o fio, sem compaixão:
deves
pensar com gentileza e calma...”
E
desse modo, também Hades consentiu
e
Alceste Hércules ao mundo conduziu,
mas
no momento em que chegou à luz,
sumiu
sua sombra e então reencarnou
no
corpo que até então ninguém cremou:
grande
alegria ao povo então seduz!
Despediu-se
Hércules, muito satisfeito
Indo
a Tirinto para retomar o seu direito,
Quando
ocorreu aquele triste desenlace,
que
de Iphitos resultou na triste morte;
não
tentou Hércules mais tentar a sorte,
com
Proserpina talvez mesmo se desgrace!
Voltou
Alceste assim para o marido,
o
seu amor não mais sendo interrompido,
com
ele tendo boa descendência:
seu
filho Eumelo oito navios levou
para
a guerra de Tróia, os quais fabricou,
Magnes,
filho de Argos, com paciência.
Era
casado com Perímele, sua irmã,
completa
aqui esta lenda temporã,
pré-homérica,
sem a menor contrariedade. (*)
e
por ser Euristeu rei de Micenas,
transcorreu
sabemos nessas épocas serenas,
antes
que o vulcão destruísse sua cidade.
(*) A guerra de Tróia
referida é anterior à de Heitor e Aquiles, sendo comandada por Hércules e
Telamon, quando Príamo, o último descendente real, cujo nome significa
“resgatado” foi nomeado rei e reconstruiu a cidade, destruída novamente
cinquenta anos depois. Todos os mitos
envolvendo Hércules se referem ao período miceniano, antes que os Helenos
ocupassem a península grega, após a destruição de Cnossos, Micenas e Tirinto
pelas erupções de Santorini, contemporâneas à saída dos Hebreus de seu
cativeiro no Egito, conforme narrado no livro de Êxodo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário