domingo, 19 de setembro de 2021


 

 

DEUS E FAMÍLIA I – 17 SET 21

 

A mim parece esdrúxula a teoria

que o conceito divino seja dependente

de um conceito familiar pré-existente,

que a proteção ao nenê conferiria.

 

Esta teoria bem mais se aplicaria

à urdefesa de um Servo Onipotente,

o Gênio da Lâmpada, não onipresente,

mas que após alguma prece surgiria,

esfregadas assim as suas potências

por uma vela acesa ou uma promessa,

como se Deus dessas coisas precisasse.

 

E três desejos suas benemerências

nos concedessem, porém que logo cessa,

salvo se um turíbulo de novo se esfregasse.

 

DEUS E FAMÍLIA II

 

Se tivéssemos evoluído dos insetos,

de ovos a eclodir sem proteção,

bem diversa deveria ser conotação,

seríamos larvas sem jamais ter sido fetos!

 

E sem nutrir quaisquer noções de afetos,

somente o medo instintivo de emoção,

saciar a fome, buscar reprodução,

matar rivais para alcançar tais objetos,

não haveria a noção de providência;

mesmo formigas e abelhas na colmeia

tendo o dever olfativo da obediência

 

só pensariam na Deusa Materna,

como indivíduos isentos de epopeia,

que o enxame morre, enquanto a Mãe é eterna!

 

DEUS E FAMÍLIA III

 

Com aracnídeos já é algo diferente,

pois a mãe cuida dos ovos que produz,

mesmo que coma alguns, se a fome é cruz:

eis novamente a Grande Mãe potente!

 

Mas será deusa a essa família respondente,

que quando eclode e explode para a luz

não mais protege nem ao redor conduz,

somente lança ao mundo, indiferente?

E assim ocorre com os répteis também,

seus ovos sob o sol mal escondidos,

na maioria a lhes morrer os filhotinhos...

 

Mas entre as aves, pai e mãe convêm

em lhes trazer alimentos escolhidos:

por certo possuem deus os passarinhos!

 

O DEUS DAS AVES I – 18 SET 21

 

Vou frequentar a catedral das aves:

pipilam nela, em sua Escola Dominical,

seus pintainhos, para aprender o bem e o emal:

ficam os adultos a cantar em seus conclaves!

 

É bem possível que em variadas claves

se organize então cada coral

e que machos fiquem no átrio, afinal,

para evitar que ali ingressem os entraves!

Qual será o deus que os pássaros adoram,

a persistir em sua vivência familiar?

Devem pensar, ao menos, em um casal!

 

E se aves predadoras se assenhoram

de adoradores indefesos a orar,

pelo alimento dando graças, afinal?

 

O DEUS DAS AVES II

 

Com relação aos mamíferos, a situação

já é um pouco diferente.  Há os solitários

e aqueles que se mostram mais gregários,

mesmo entre estes havendo divisão.

 

Uma coisa é a alcateia em excursão,

outra os pequenos roedores sedentários,

outra as manadas em seus caminhos vários,

e para outros a companhia é uma exceção.

E que dizer dos animais gigantes,

como os grupos familiares de elefantes,

com perfeita noção de vida e morte?

 

Será que formam conceitos divinais

e nesses casos serão só matriarcais,

a Deusa-Mãe a presidir sua sorte?

 

O DEUS DAS AVES III

 

Mas o que é certo é que entre os animais

não existe um deus como criado onipotente:

é um Senhor, que se mostra raramente,

nesses períodos de seca mais fatais.

 

Conceito, se há, é de respeitos mais mortais:

que se mantenha a divindade ausente,

qualquer ofensa aos seus punindo ferozmente,

como temiam dos Helenos os jograis!...

Ou os Romanos, que receavam algo pedir,

porque um deus poderia estar à escuta

e conceder literalmente o seu pedido!...

 

Não um deus com quem pudessem discutir,

igual que Job, depois de tanta luta,

a humilhar-se finalmente decidido!

 

O DEUS DO TESTAMENTO I – 19 SET 21

 

Feroz o Deus do Antigo Testamento,

sempre disposto para a punição,

dos inimigos a reclamar destruição,

impiedoso com quem quebrar-lhe o mandamento!

 

Capaz, não obstante, de um portento,

mediante a prece da mais plena devoção,

compassivo quando houvesse humilhação

de quem lhe quebrantasse o juramento!

Jamais um deus dependente do conceito

de servo onipotente – Ele é o Senhor,

tampouco um deus que lhe forje o familiar,

 

porém de um povo de vasto preconceito:

só para os tais que exista um salvador,

que todos os mais haverá de exterminar!

 

O DEUS DO TESTAMENTO II

 

Por que os profetas se foram isolar,

longe de pai e mãe, longe de aldeia,

anacoretas em sua estamenha feia,

seu próprio corpo pela fome a macerar?

 

Esse era um Deus a Quem devia só louvar,

por mais escassa que lhes fosse a ceia,

mas que os podia auxiliar numa peleia,

não por dever, mas por assim o desejar!

Se fosse apenas um conceito familiar,

não dependeria de tal contemplação,

mas de uma tenda de maior tranquilidade,

 

com mãe e pai o seu carinho a renovar,

atendimento ao serzinho em criação,

a transmitir-lhe seu conceito de bondade.

 

O DEUS DO TESTAMENTO III

 

O problema será então a falsa gentileza

de um sentido construir de maravilha:

Papai Noel, com presentes em sua trilha,

Coelho da Páscoa, peludinho em sua beleza...

 

E a Fada dos Dentes ainda, em sua nobreza:

só uma moeda pelo dente que te pilha...

Falso conceito na mente então se empilha

e que desaba, de repente, em tal pobreza!

Se não existem as fadas e os noéis,

por que haveria esse Papai dos Céus,

que atenderia à prece mais veemente?

 

Bem diversos, entretanto, os mil lauréis

de um Deus que nos criou quais servos seus,

em rubras gotas de Seu Sangue onipotente!

 

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