O GRANDE ERRO I – 7 SET 21
A maioria dos mortos por
COVID
a contraíram em suas
residências,
forçados por errôneas providências
a permanecer onde o vírus
mais reside.
Dentro de casa a doença
mais incide,
que ali os ventos têm
menos potências,
ficam no ar os perdigotos
em leniências,
são respirados facilmente
em lide;
nas ruas os vírus que
foram transmitidos
muito depressa tombam para
o chão
e não são aspirados desta
forma!
Que fiquem rostos em
máscaras escondidos,
que com frequência se lave
cada mão,
destanciamento social que
seja a norma!
O GRANDE ERRO II
Mas se alguém julga que eu
estou errado,
veja onde foi o contágio
mais frequente,
onde mais faleceu a pobre
gente,
veja a estatística que
mostra cada estado;
foi em São Paulo e no Rio
determinado
sair de casa só por motivo
urgente
e foi nesses estados,
justamente,
que foi o vírus mais
disseminado!
No Rio Grande do Sul o contágio
era menor
até que aqui o tal lockdown foi instituído
e logo os casos começaram
a aumentar;
e no Amazonas a coisa foi
pior,
onde a umidade tornou o
vírus mais nutrido
para as pessoas poder
assassinar!
O GRANDE ERRO III
Contudo, de que forma
convencer
as pessoas a usarem em
suas casas
essas máscaras de abjetas
vazas
que já ao ar livre era
difícil se querer?
Assim, quando vinhas da
rua, sem saber
trazias o vírus e à
moléstia embasas,
logo tirando as
desagradáveis gazas,
para no ar sacudir o dom
de morrer!
Também inutil sendo o tal
de álcool-gel,
o importante ser lavar as
mãos
com sabonete forte de
antisséptico
e mais as roupas trocar
nesse quartel,
sem transportar consigo em
procissões
os soldadinhos do
assassino séptico.
O GRANDE ERRO IV
É bem difícil se exigir
que lave as mãos
nosso parente que entrou
na residência
ou à visita que chegou em
inocência
que seus calçados trocasse
em ocasiões!
Que não se ofenda no
aplicar dessas noções
ou conservar de sua
máscara a aparência:
é preciso afirmar
identidade com potência,
já que não mostra a
maioria das feições!...
Assim não afirmo que
tivessem a intenção,
porém que erraram, de
fato, os governantes,
ao exigirem que as ruas se
esvaziassem!
Mas da hecatombe os reais
culpados são,
esses pretensos
combatentes, nos instantes
em que as vítimas exigiram se encerrassem!
A GRANDE SOMBRA I – 8 SET 2021
Entre o passado e o presente uma sombra recai,
entre o presente e o futuro existe luz;
o que lembramos do passado nos seduz,
mas raramente vera lembrança sai:
lembramos a lembrança que nos vai
modificar-se a pouco e pouco e se reduz,
ante a força do presente nessa cruz,
que tão depressa no passado também cai!
Mas o futuro, por nós desconhecido,
mostra um milhão de potencialidades,
cada qual delas girando mais brilhante
e quando o véu se faz interrompido,
é clara a sombra de tais irrealidades,
canais abrindo por várzea expectante.
A GRANDE SOMBRA II
Talvez porque essa sombra tão escura
recaia entre o presente e o que se foi,
é que a ausência do passado tanto dói
e sua lembrança tão frequente se procura;
mas a memória do passado é tão perjura!
Facilmente essa cortina o tempo rói
e para tapar-lhe os orifícios a gente mói
outras lembranças de feição mais obscura
e então se pensa que as falhas das memórias
foram serzidas com cuidadoso ardor,
mas qual o fio que empregamos no labor?
É um fio que agulhas puxaram peremptórias,
repuxadas então de outras cortinas,
que assim puídas também se tornam finas.
A GRANDE SOMBRA III
Será o contrário com as falhas do futuro,
que só se encontram na imaginação...
Será que existe a verdadeira rotação,
um devenir de giratório impuro?
Lembramos o que não houve e é inseguro,
mas que talvez, na recorrência da ilusão,
já tenhamos vivenciado em ocasião
e refletimos de um espelho o aço duro?
Quando tornamos, porém, à encruzilhada
que teríamos tomado da outra vez,
a sombra é clara, mais luminescência,
então tudo se repete – ou quase nada,
novo caminho a percorrer em insensatez,
no desmentido da eterna recorrência?
A GRANDE FLORAÇÃO I – 9
SET 21
(Para Marta Negreiros Vianna)
Sempre as glicínias me anunciaram tempestade,
suas centenas de amentilhos arroxeados,
ao longo do jardim emancipados
e no terraço, em vistosa realidade,
o seu caramanchão em novidade,
após os meses de ramos desnudados,
enchem os olhos com reflexos embaçados
e a alma alegram em sua viçosidade;
porém logo a seguir chega o granizo
ou a saraiva, de pedras mais grosseiras
e ali derruba as florações inteiras;
ou então chega trovoada sem aviso
e as gotas violentas tudo arrancam,
tapete roxo sobre o piso me atravancam...
A GRANDE FLORAÇÃO II
Mas este ano, por inusitada graça,
chegou a saraiva antes da floração,
os amentilhos apenas em botão,
sem que fossem arrancados em desgraça
e quando a chuva tombou em nossa praça
não desfolhou a inteira brotação;
de minha janela ainda vejo a multidão
de flores roxas a me encantar sem jaça.
E nem sei se deveria demonstrar
minha alegria por sua permanência:
e se algum serzinho maligno me lê
e então nova borrasca vem chamar,
cada galhinho descamando sem leniência
até que só no piso a flor se vê!...
A GRANDE FLORAÇÃO III
O anseio pelo belo é um “sentimento
muito teimoso, que alarga o coração”,
querendo impor-nos amarga emoção,
“cabendo dor de apertado” desalento,
por “se saber que o canto” - encantamento
não se destina a nós, salvo ilusão,
que a flor é bela, mas por nós não tem paixão
e assim “impõe-nos seu distanciamento”.
Dizem que amor é então bela flor roxa,
que brota em qualquer fresta, num cantinho,
mas quando atrai um faminto passarinho,
só o acolhe, para o “fazer de trouxa”,
que entrega o néctar para ter fecundação
e um verso doce para o amor é extrema-unção.
Bom dia. William
ResponderExcluirSEu texto é prenhe de verdades, sobre os erros cometidos na Pandemia com os cuidados e paliativos, e sobre os corações sofridos por amores fugidios e uns tanto esquivo. Parabéns