A
Fonte do Paraíso 1 – 25 jul 2020
Diz
o Alcorão que a Fonte Salsabil
Límpida
brota no umbral do Paraíso,
De
que as sombras dos crentes, num sorriso
Beberão
com prazer ante o redil,
Contendo
néctar mesclado a Zanzabil,
Que
é o gengibre, para o paladar mais liso
De
quem puder trilhar o sagrado piso,
Da
impureza liberto e sem desejo vil.
Como
é citada apenas uma vez,
Talvez
a lembrem poucos muçulmanos,
Já
no final da Surata Al-Insaan,
Ou
do Homem, a Setenta e Seis,
Versículo
dezoito em tais arcanos,
Revelados
por Maomé a seu Islam.
A
Fonte do Paraíso 2
Em
certos pontos corresponde a Primavera,
Também
citada como Sansabil Jannah;
Só
tal escassa referência porém há
Dessa
fonte dos crentes sempre à espera.
A
Surata Setenta e Seis promessas gera
Àqueles
fieis que o Paraíso abraçará,
Esse
lugar em que o frio não haverá
E
nem calor de equatorial esfera...
Mas
é preciso aguardar Ressurreição,
Que
os mortos esperarão o Julgamento
E
só os puros serão lá admitidos,
Sem
haver ali demasiada compaixão
Ou
qualquer graça de pleno sentimento
Para
que os maus possam ser absolvidos.
A
Fonte do Paraíso 3
Essa
palavra alcançou outros lugares:
Existe
um Bairro Sansabil em Tehran
E
tem diverso sentido no Industan.
Há
muitas fontes de bizarra beberagem
De
qualquer mitologia na paisagem,
Sem
que pareça ser promessa vã
A
Fonte da Água da Vida temporã,
Nos
Evangelhos mencionada de passagem.
Contudo,
tal espera é discutível,
Já
que Deus de todo o tempo está além
E
os espíritos deverão estar também,
Após
libertos do peso tão terrível
Da
carne e ossos dos corpos humanos,
Que
iguais carregam tantos muçulmanos.
A
Fonte do Paraíso 4
Os
dois extremos assim mostra o Alcorão:
No
inferno cresce a Árvore Zaqqum,
Que
a tortura mais aumenta quando algum
Come
seus frutos que mais sede dão;
No
Paraíso já os salvos acharão
Essa
Fonte Salsabil, que qualquer um
Que
ali chegar sem esquecer nenhum
De
seus deveres, já cumpridos de antemão,
Terá
partilha desse Néctar da Vida,
Sendo
as coisas assim equilibradas,
Por
mais que tenham sido deformadas
Nestes
desertos em que o corpo tem guarida:
Deus
é clemente e misericordioso
Com
quem Suas Leis cumprir bem cuidadoso!
NUVENS DE
CRISTAL I – 26 JUL 20
“Tudo depende
da cor do cristal”:
as coisas
mudam no luzir do espelho;
em nosso mundo
tudo é desparelho,
onde há
deserto, talvez surja um pantanal.
Tantos desejos
a espantar-se a relho,
sem saber a
que levavam no final;
outros
impulsos só nos causam mal,
por
aceitá-los, seguindo mau conselho,
pois
confundimos o bem com a beleza,
em restos de
latão reflete a prata,
tantos
resquícios da mais estranha natureza,
pois é quanto
mais amamos que nos mata,
nessa falsa
alacridade da tristeza,
que em plena
luz a treva nos desata!..
NUVENS DE
CRISTAL II
Diziam os
Romanos ter cuidado
no que pediam,
pois haver podia
qualquer deus
que seu pedido escutaria,
a conceder
esse bem solicitado
e as
consequências que teria acarretado,
a contemplar
tal petição com ironia;
e algum
filósofo, destarte, lhe diria:
“Melhor não se
pedir certo ou errado!”
Pois o mal
poderia ser um bem,
em seu aspecto
soturno disfarçado,
enquanto o bem
poderia ser um mal,
traiçoeiro
sendo contra nós também;
melhor aos
deuses sacrifício ser alçado,
sem lhes
pedirmos em troca nada igual.
NUVENS DE
CRISTAL III
E embora no
Evangelho haja a promessa:
“Pedi e
obtereis; batei e abrir-se-vos-á”,
que pese bem a
reza que fará
o suplicante,
sem pedir com pressa;
que na
verdade, aquilo que interessa
de forma
permanente e há muito, já
foi planejado
e então nos chegará,
na hora exata,
sem que ninguém o peça,
pois quanto o
humano possa imaginar,
já desde
sempre Deus criou primeiro:
só recebemos o
que Ele nos concede,
igual que aos
lírios do campo em seu lugar,
ou as
avezinhas em seu ninho pegureiro,
na proporção natural
que tudo mede.
NUVENS MORTAS I – 27 JUL 2020
“BEIJAR O CORAÇÃO”, CARINHO HORRÍVEL
QUE ME RECORDA UM CRUEL CANIBALISMO
E LOGO EU, EM VEGETARIANISMO,
SINTO REPULSA DESSA EXPRESSÃO INCRÍVEL!
QUE MINHAS COSTELAS, INVASÃO TERRÍVEL,
AFASTADAS ME SEJAM EM EXOTISMO,
PARA ENCONTRAR O CORAÇÃO EM SEU ABISMO
EXPOSTO ASSIM A UM BEIJO TÃO TEMÍVEL!...
PORÉM, SE FOSSES TU, CONSENTIRIA
QUE ME CORTASSES OS OSSOS PARA O BEIJO,
NA MINHA ENTREGA PARA O SACRIFÍCIO,
NO CANIBAL AMOR QUE ME COLHIA,
NESSE INSTANTE FUGAZ DE MEU DESEJO,
TODO MEU SANGUE A CEDER-TE SEM RESQUÍCIO!
NUVENS MORTAS Ii
EU NÃO ME DROGO E NUNCA ME DROGUEI:
SE ALGO EXISTE NA VIDA QUE RESPEITE
É O QUE FOI DENTRO DA MENTE ACEITE,
MINHA PRÓPRIA INTELIGÊNCIA QUE ABRACEI;
SÓ DE UMA DROGA EU SEMPRE PRECISEI,
DO TEU AMOR, INSPIRAÇÃO PARA O DELEITE,
QUANDO TEU CORPO CONTRA O MEU ESTREITE,
NENHUM ESTÍMULO JAMAIS PRECISAREI.
FAZ PARTE DESSE JOGO QUE ME INSPIRE:
NESSE PENDOR, DIONISIACAMENTE,
OS VERSOS FLUEM E A MÚSICA ME VEM;
E SE TE ABRAÇO, QUE ENTÃO O MUNDO GIRE,
SÓ PENSO EM TI, MEU CORPO FAZ-SE MENTE,
NESSA EXPLOSÃO QUE SINTO EM TI TAMBÉM.
NUVENS MORTAS Iii
AS NUVENS CORREM AO SABOR DO VENTO,
EM SEUS VAPORES DE CONDENSADA MORTE,
POR MAIS QUE A ÁGUA QUE CONTÊM IMPORTE
VIDA QUE CHOVE SEM
IMPEDIMENTO;
TODO O PRAZER SENDO BREVE LINIMENTO,
UM INTERVALO NA INDIFERENTE SORTE,
ANTE A INCERTEZA UM TEMPORÁRIO CORTE,
BREVE PERFUME A CORROER O PENSAMENTO.
E POR MAIS QUE PENSE EM TI, MEU CORAÇÃO,
PREFERIA CONSERVAR-SE NO IMO PEITO,
O AMOR APENAS A PERCORRÊ-LO COMO LUME;
E ASSIM CONTIDO NAS VASCAS DA EMOÇÃO,
DEVORO AS NUVENS, COM PLENO DIREITO,
BEBENDO O VENTO NUM FRASCO DE PERFUME!
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