segunda-feira, 18 de janeiro de 2021


 

 

ATRIBUTOS  1 – 18 JUN 2020

 

O que é da vida sem se ter amor?

O que é do amor se não há idolatria,

O que é da idolatria sem se ter imagem,

O que é da imagem sem se ter andor?

O que é do andor sem ter seu portador?

O que é do portador sem ouvir homilia,

O que é da homilia sem mancha de heresia,

O que é da heresia se não tem temor?

O que é do temor sem se possuir coragem?

O que é da coragem sem ter enfrentamento,

O que é do enfrentamento sem se ter vigor?

O que é do vigor sem se possuir miragem?

O que é da miragem sem ter sofrimento,

O que é do sofrimento sem se ter fervor?

 

ATRIBUTOS  2

 

A vida sem amor é só vazio,

O amor sem idolatria é temporário,

A idolatria sem imagem é oco sacrário,

A imagem sem andor não terá brio,

O andor sem portador é um corrupio,

O portador sem homilia é mercenário,

A homilia sem heresia é um fraco páreo,

A heresia sem temor é um seco rio,

O temor sem ter coragem é apenas medo,

A coragem sem enfrentamento é pretensão,

O enfrentamento sem vigor é derrocada,

O vigor sem ter miragem é um segredo,

A miragem sem sofrimento é só ilusão,

O sofrimento sem fervor é apenas nada.

 

ATRIBUTOS   3

 

O vazio sem ter amor não possui vida,

O temporário sem amor é idolatria,

O sacrário sem amor oco seria,

O brio sem ter imagem atroz ferida,

O corrupio sem ter andor não tem guarida,

O mercenário só mastiga essa homilia,

O páreo ao ser tão fraco é uma heresia,

O rio sem ter temor é água perdida,

O medo sem coragem é fraqueza,

A pretensão sem enfrentamento é fantasia,

A derrocada sem combate é covardia

O segredo sem miragem é incerteza,

A ilusão sem sofrimento é só loucura...

Contudo o amor sem ter fervor ainda perdura!

 

ECLETISMO I – 19 JUN 2020

 

Será que é meu olhar que está manchado

pelas centelhas da lâmpada que vi,

ou este mundo que agora percebi

pelo escuro está de fato acabrunhado?

 

Já é bem hora do Sol ter-se mostrado,

mesmo que o Outono esteja por aqui...

alguma coisa será que hoje perdi,

será que o Sol comunicou estar gripado?

 

Quem sabe essa COVID chegou lá

e o pobre Apollo não tem respirador,

pois lá em cima é o ar bem rarefeito

e algum seu substituto já não há:

as máscaras se queimaram no calor,

de Hélios o carro não pode ser sujeito!

 

ECLETISMO II

 

Na verdade, levantei-me hoje mais cedo,

não admira que esteja o Sol ainda obscuro;

já esfriou um pouco é se faz destino duro

levantar de madrugada e até dá medo!

 

Talvez o Sol esteja agora a assoprar dedo,

talvez sua luva seja velha e mostre furo;

as rédeas da quadriga, neste apuro,

quiçá já tenham desgastado o seu enredo!

 

Ou quem sabe, com preguiça se acordou

e com bocejos nem desperte o galo:

“Longe o tempo em que o povo me adorou

 

e sacrifícios com frequência me enviou,

mas tudo bem, do Zodíaco sigo o valo,

e até agora nem um só signo despertou!”

 

ECLETISMO III

 

E que haveria, se de fato esse luzeiro

fosse afetado por tão grave pandemia?

Será que algum hospital o atenderia?

Pobre do Sol, já esquecido tão ligeiro!

 

Quem sabe a Lua chegaria ali primeiro

e em alguma de suas fases o acolheria?

Na Lua Nova talvez mesmo o guardaria,

o Quarto Crescente mascarando seu candieiro,

 

máscara presa em um dos chifres como em prego,

mas que a seguir se mostraria insuficiente

toda a luz que a pobre fase dispersasse;

 

e a Lua Cheia amarraria com um nó cego

a própria máscara com um jeito diferente,

que transparente sua luz ainda brilhasse!

 

RESGATE I – 20 JUN 20

 

Já muitas vezes a história foi contada

da bela ave libertada por pardal:

com seu biquinho já ferido muito mal,

foi sua gaiola finalmente destravada;

a ingrata obra com frequência entusiasmada

pelas promessas da “passarinha fatal”,

que prometeu-lhe um estado marital

ou pelo menos, relação apaixonada!...

 

mas que no instante de ver-se libertada,

bateu asas e voou rapidamente,

deixando para trás o pardalzinho,

muita versão sendo depois imaginada,

mas com o pardal sofrendo tristemente,

seu destino menos ou mais mesquinho.

 

RESGATE II

 

Sem qualquer dúvida é parábola somente,

para indicar que tanto sacrifício

foi feito pelo amor em seu bulício,

com resultado bastante inconsequente.

Tanta mulher que finge, astutamente,

que ao pretendente concederá um benefício

e o infeliz se consome por tal vício

e cai no “conto do vigário” facilmente!

 

Contudo, só se deixa assim enganar

quem pensa um lucro desonesto conseguir,

não é um amor simplesmente a se iludir,

mas a ilusão falsa de o beijo assim gozar,

sem compromisso, uma compra como todas,

bem merecendo da má-fortuna as rodas!

 

RESGATE III

 

Mas o contrário igualmente transparece,

quando é o homem que engana uma mulher,

que lá no fundo, nem é vítima sequer,

mas que do Instinto do Ninho não se esquece

e se em comum tocaia ela cai e desfalece,

é que esperava um companheiro cert ter

que a ajudasse a seus filhos proteger,

mas do que o ganho obtido em simples prece.

 

Mas aqui vejo a afirmação da raça:

se uma mulher quer a si reproduzir,

tudo isso é feito por pressão da biologia;

e quando incauta embarca nessa traça,

mais do que pena, merece reluzir

de vasto orgulho pelos filhos que traria!


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