sábado, 23 de janeiro de 2021


 

 

O PAÍS DOS ELFOS

Folklore irlandês, adaptado e versificado

por William Lagos, 6 julho 2020

(Primeira Parte de Quatro)

 

O PAÍS DOS ELFOS I

 

Havia um castelo numa região remota

da Irlanda, em parte já arruinado,

permanecendo, contudo, ainda habitado

pelo Barão O’Callagham e pelos filhos,

doze meninos a acompanhar seus trilhos

nessa região por tantos ignota.

 

O castelo parecia já cansado,

depois de tantos anos existente;

e de fato, até seria diferente,

não fosse de magia o encantamento,

que ali morava, com seu consentimento,

a irmã da jovem com quem se havia casado.

 

Ora, o Barão fôra ferido num combate

e embora sobrevivesse, nunca mais

armadura usaria em situações marciais;

caminhava com auxílio de bengala,

sem de novo conseguir transpor a vala

que o castelo protegia contra embate,

 

ante a ambição de quaisquer inimigos,

porém tomara o partido perdedor,

seus bens sendo confiscados com rigor,

a um ponto tal que nem tinha mais criados,

muitos labores a ser desempenhados,

pela Tia Grissy, mesmo os de mais perigos.

 

O PAÍS DOS ELFOS II

Ora, acontece que sua irmã era uma fada,

mas ela mesma pouca magia possuía

e quanta tinha, ali a dispendia,

em manter a construção ainda de pé;

só lhe sobrando para realizar, com boa fé,

as tarefas domésticas e mais nada!...

 

outra irmã ela tivera, a bela Eileen,

que havia morrido após o último parto,

seu corpo já cansado e muito farto,

pois doze filhos ela dera à luz,

acompanhados por uma estranha cruz:

todos nascidos totalmente iguais assim.

 

Olhos azuis e cabelos arruivados,

louro-vermelho, esse que chamam alburno;

cada um deles crescera, por seu turno,

até chegarem a uma certa altura,

de uns dez ou doze anos, em segura

contrariedade dos fatos esperados.

 

Seu pai doente, pouco podia fazer

e assim a Tia Grissy se esforçava,

mantinha o solar limpo e cozinhava,

pelo exercicio de sua gentil magia;

limpos e sadios ainda conseguia

aos barõezinhos, com amor, manter!

 

 

O PAÍS DOS ELFOS III

 

Na verdade, eram três irmãs:

a mais velha, Farsália, era uma fada;

Tia Grissy, ou Griselda, era dotada

de alguns poderes, como descrevemos;

das três, Eileen era a que tinha menos

e essas forças se tornaram vãs,

 

depois que se casou, já quase humana;

o Barão O’Callagham, na juventude,

era um garboso rapaz e assim se ilude

a desistir de sua herança antiga

e doze filhos a gerar se obriga;

com o marido, dessa forma, ela se irmana.

 

Mas a cada bebê que dava à luz,

conferia uma parte do que tinha;

por isso todos de igual alturinha,

sem passarem pelos anos de nenês:

coisa muito bizarra, como vês,

e que ao Barão por certo não seduz.

 

E assim um dia, ela se desvaneceu,

após nascer o último menino;

por ela, nem sequer tocou-se um sino,

já que do corpo não sobrou nem esqueleto,

apenas um suspiro bem discreto

e de repente, ela desapareceu!...

 

O PAÍS DOS ELFOS IV

 

Pois ao país das fadas retornou

o seu espírito, ainda cintilante;

sua parte humana fora levada avante

pelos doze filhos ruivos que tivera,

em seus olhos azuis essa quimera,

que a descendência não mais apresentou.

 

Mas por todo o carinho da Titia,

os doze irmãos eram muito bagunceiros

e por serem na verdade tão arteiros,

a Tia Grissy tudo tinha de arrumar;

não que de fato fossem-na desrespeitar,

porém muitas brincadeiras se fazia!

 

Como o castelo já era muito antigo,

muitos dos quartos já desocupados,

em um grande salão foram todos alojados,

onde era mais fácil para a tia controlar

qualquer partida que lhe quisessem aprontar,

depois de recolher-se ao próprio abrigo...

 

Mas como eram todos tão iguais.

a Tia Grissy seus nomes nem lembrava

e era por números então que os apelava,

pela ordem de nascença.  O Número Um

era o mais velho; e essa ordem comum,

o Dois e o Três aceitavam naturais.

 

O PAÍS DOS ELFOS V

 

Então o menor de todos era o Doze;

menor por ser o último a nascer;

como foi dito, todos paravam de crescer

quando alcançavam aquela mesma altura

que o pai olhava com certa desventura,

porém Tia Grissy aceitava bem tal pose.

 

Mas a coitada, por guardar toda a magia

no difícil manter desse castelo,

não reservara para si qualquer desvelo

e como era meio-fada, realmente,

tinha alguns séculos de vida e finalmente

mostrava o efeito dos anos que vivia...

 

Já estava meio surda e meio cega,

até mancava um pouco, ao caminhar,

grande touca seus cabelos a guardar,

seu nariz como tromba de elefante,

o queixo era pontudo para avante:

de ser bruxa a suspeita se lhe pega!

 

Mas seu sorriso tudo desmentia,

junto ao brilho gentil de seu olhar

e aos meninos gostava de educar,

pois todos doze já sabiam ler,

a vasta biblioteca a percorrer,

que há séculos no castelo se reunia!

 

O PAÍS DOS ELFOS VI

Knocknasheega chamava-se a colina,

ou Nocassígia, que se diz melhor

e se dizia, para bem ou mal maior,

que abaixo dela o País dos Elfos existia,

que em subterrâneo um feio Troll havia,

em velha lenda que o imaginar fascina...

 

Um  dia, em que o Barão estava doente,

os doze garotinhos se esconderam,

à Tia Grissy nunca responderam,

pois acontece que detestavam banho,

igual cachorros, com desdém tamanho,

que se tornava, de fato, deprimente!

 

E como eram assim tão parecidos,

alguns mentiam já terem tomado,

fazendo outro de novo a ser lavado...

Então Tia Grissy encantara grande tina,

sofrendo todos doze a mesma sina:

na água morna fingiam-se entanguidos!

 

Mas logo após, tudo virava brincadeira;

com o sabão uns aos outros se esfregavam,

enquanto as roupas magicamente se levavam

e assim Tia Grissy os vestia novamente,

fazendo a água sumir-se de repente,

com vapor a secar a turma inteira!...


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