sexta-feira, 22 de janeiro de 2021


 

 

MEUS LIMITES 1 – 3 JULHO 20

sempre alguém sabe alguma coisa que não sei,

sempre alguém diz algo melhor que eu,

sempre alguém livros bem mais que eu  já leu,

sempre um amor alguém dará a quem não dei;

assim se encolhe qualquer ideia que criei

até um nível que corresponda mais ao meu

e então percebo até que ponto se escondeu

sequer a pretensão de que mais que tu pequei!...

constato em tudo essa firme realidade

de ser só um entre os milhões que há,

mesmo afirmando ser tão só um transmissor;

quando me for não perderá a humanidade

nada que em tantos outros se achará,

pois do que vi sei ser apenas devedor...

 

MEUS LIMITES 2

houve um tempo em que achav a poderia

deixar a marca do que sou à descendência;

tantas coisas já tentei com despondência,

até aceitar quanto a mim limitaria;

e quando enfim percebi ser da poesia

um servidor desses mil versos de ardência,

reconhecendo haver algures proveniência,

ainda assim um certo orgulho sentiria,

por ter sido agraciado tão frequente

por um dom que outros não têm e tanto querem

mesmo que tudo eu deva aos que me acodem;

porque a vida ensina a todos, finalmente,

não a poderem fazer tudo o que querem,

mas a querer fazer tudo o que podem!...

 

MEUS LIMITES 3

assim eu quero fazer hoje tão somente

o que minhas mãos alcançarem a fazer,

sem buscar o que não me possa pertencer

e com quanto me venha estar contente,

sem me render à tal pressão premente

de tudo quanto queria ainda poder,

delimitando assim o meu querer

a quanto a musa me dá condescendente...

quando contemplo os versos dos Romanos,

que dois mil anos depois são relembrados,

quantos dos versos que ingentes compuseram

não mais se leram na fúria desses anos,

se mesmo eu, tantos livros já folheados,

só lembro os nomes, não as frases que escreveram?

 

VIRUSFOBIA I – 4 JULHO 2020

 

O fato é que alguém deve ter coragem

De protestar contra o que estão dizendo

E se ninguém mais se apresenta, atendo,

Na linha oposta de tanta fabulagem!

 

Não que pretenda afirmar ser só miragem:

Que existe a pandemia eu bem entendo,

Mas o prazer masoquista não compreendo

De se fazer alegremente essa contagem!

 

Ou é sadismo dos sobreviventes

Essas vitórias afirmar de um campeonato,

A este ou àquele pôr em desacato,

Ou há intenções políticas evidentes,

No acrescentar de tal mortalidade,

Onde real é tão somente a morbidade.

 

VIRUSFOBIA II

 

Eu continuo qualquer fraude a perceber:

Deve a higiene ser por certo respeitada,

Mas esse álcool-em-gel não vale nada,

É tão somente um sucedâneo, no meu ver.

 

O uso de luvas bem melhor ia proteger,

Até chegar-se em casa ou à desejada

Repartição de trabalho então buscada,

Com sabonete e detergente então poder

 

Lavar as mãos e os braços a valer

E não apenas passar essa mistura,

Que a maior parte das vezes nem é pura,

Que anteriormente mal se podia vender;

Mas de que forma ao povo convencer,

Já que usar luvas bem pouca gente atura!

 

VIRUSFOBIA III

 

A imensa maioria dos infectados

O vírus contraiu dentro de casa

E não nas ruas, onde o vento vaza

E os perdigotos são logo dispersados.

 

Mas para mim o pior desses pecados

É a forma em que estatística se embasa,

Nessa contagem extremamente rasa:

Já não se morre por motivos costumados!

 

Onde será que a dengue se acha agora

Ou a zyka e a chikungunya matadoras,

Com efeitos tão funestos um ano atrás?

Algo perverso aqui percebo nesta hora,

Sendo escondidas as moléstias causadoras,

Pois nem o câncer mortandade sequer traz!

 

CONTAMINANTE I – 5 JUL 20

 

Quero ser larva em ti, teu corpo inteiro

Percorrer, sem devorar, mas conhecer

Os interstícios, do primeiro ao derradeiro

Qual novo espírito, o teu par permanecer,

Pois quero estar em ti e assim te ver

De dentro para fora, alvissareiro,

Qual num amor canibal te pertencer,

Larva de ti, absurdo e aventureiro!

 

Não quero ser mais eu, ser teu somente,

Não quero apenas te beijar a superfície

E nem sequer penetrar nos teus refolhos,

Quero estar dentro, ilimitadamente,

Entregar-me integralmente a essa estultície,

Não mais que imagem no fundo de teus olhos!

 

CONTAMINANTE II

 

E neste tempo que a pandemia tanto afeta,

Quero ser dentro de ti vírus de amor;

Ao invés de enfraquecer, dar-te vigor,

Ser bacteria que te torne mais completa...

Mas meu viver em ti jamais te infecta,

A minha presença só partilha seu calor

Participar busca cada face do pudor,

Tua alegria de viver tornar dileta!

 

Que nada mais de mim vás esconder,

Uma lagarta a percorrer teus sentimentos,

Mas só ali algo gentil acrescentado,

Nada roubando, mas buscando me perder

Internamente nos teus pensamentos,

Sem me importar de por ti ser devorado.

 

CONTAMINANTE III

 

Só assim se cumpre o mito das metades,

Já que não posso tua pele recortar,

A minha inteira simultâneo a esfolar:

Só unir a minha então a tuas vontades,

De forma alguma a te roubar intimidades!

Se desse modo eu quero penetrar

É que desejo dentro de ti morar,

Ceder-te a soma de minhas capacidades.

 

Talvez tudo te pareça uma loucura

E honestamente nem sei se outro pensou

Em uma união assim tão integral;

Não obstante, a intenção é toda pura,

Meu coração com o teu já se ligou

E minha alma já pousou no teu pombal!


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