domingo, 31 de janeiro de 2021


 

 

POLIFENISMO I – 9 AGO 20

 

Existe em insetos e alguns outros animais

a capacidade de real transformação;

parecem mesmo, perante a observação,

serem espécies diversamente naturais.

 

Desses o exemplo que se conhece mais

é o das formigas, cuja alimentação

conduz as larvas cada qual à sua função,

de acordo com as necessidades materiais

 

do formigueiro.   As suas potencialidades

vão sendo assim alentadas ou inibidas,

criam menores para serem operárias

e as que conservam mais capacidades

serão “soldados”,  para suas guaridas

defenderem das agressões mais várias.

 

POLIFENISMO II

 

Algumas, enfim, à reprodução destinam,

todas elas poderão virar rainhas,

com asas para um voo vão sozinhas,

até um orifício que na terra minam

 

ou em fendas de rochas e até se empinam

por entre as telhas e logo pequeninhas

saem dos ovos para atacar as vinhas

e alimentar as outras que ainda ninam.

 

Mas isto é irreversível.  Outros insetos

mudam de cor conforme a estação,

fenótipos vários, diversos os tamanhos;

mesmo os mamíferos do ártico diletos

trocam do pelo a nuance em proteção

ou de alimento obter maiores ganhos.

 

POLIFENISMO III

 

E sempre houve o gigante de olho só,

o Cíclope a que chamaram Polyphemo,

em boa parte imaginado como um demo

por humanos devorar sem qualquer dó.

 

De meus sonetos também a longa mó

revela aspecto bastante polifeno,

alguns maldosos e cheios de veneno,

outros complexos de até causar um nó

 

na gentil compreensão de seus leitores,

outros ainda eruditos ou sarcásticos,

alguns eróticos, sem serem pornográficos,

alguns expressam sentimentos cáusticos,

outros descrevem acontecimentos gráficos,

ingênuos outros na descrição de seus amores.

 

OS TRÊS IRMÃOS I – 10 AGO 20

 

Poucos recordam de Tíbulo, o poeta

romano, que escreveu odes de amor,

que da guerra combatia o estridor,

para viver entre os braços da dileta...

 

“Louco é quem parte como veloz seta

ao encontro da morte, não ao calor

do corpo de sua mada ou ao vigor

da vida em paz no lar que nos completa!”

 

Louvava o campo contra a vida urbana

e recordava, em sua melancolia,

a Idade de Ouro, pois assim dizia

ser o tempo em que a guerra não conclama

ao campo de batalha, em busca de ouro,

cobiça a fonte de qualquer desdouro...

 

OS TRÊS IRMÃOS II

 

Guerra, Cobiça e Luxo, três irmãos,

três flagelos desprezíveis igualmente,

cada um ao outro tornando mais potente,

sem os demais, seus resultados vãos.

 

Nos velhos tempos de suas ilusões

nenhum exército existia, realmente,

um coração de ferro tinha, certamente,

quem primeiro a espada brandiu em ocasiões.

 

“Porque não devem os ferreiros ser culpados

só por que aos homens forjaram as espadas,

que destinavam a combater as feras,

nós que empregamos os objetos fabricados

uns contra os outros, em lutas acirradas,

a morte rindo, soturna em suas esperas!”

 

OS TRÊS IRMÃOS III

 

“De fato a culpa pertence só ao ouro:

não havia guerra quando em copos de madeira

bebiam os filhos do fruto da videira,

fermentado por seu pai em vasos de louro.”

 

“Feliz do homem que aguarda, sem desdouro,

entre seus netos, a visita derradeira

de uma morte preguiçosa ante a lareira,

sem ir buscá-la, veloz como um tesouro!”

 

“Ali com outros Três Irmãos conviverá:

o Amor, a Paz e o conforto de seu Lar,

contra o Luxo, a Cobiça e a fria Guerra...”

Não admira que já não mais se falará

desse poeta gentil, ante o louvor

das ferozes epopeias de sua terra!...

 

A VIDA NAS MORTES I – 11 AGO 2020

 

A Morte somos nós, cercados sempre,

que nos faz definidos no que somos;

não é a Vida, de quem um dia fomos

e já não somos mais, pois nós mudamos

e a Morte para nós é o novo ventre,

que nos torna finais em sua certeza;

pode a Vida ser feia ou de beleza,

porém na Morte enfim nos transformamos

naquilo que vivemos para ser;

o quadro se completa em tal momento

e nada mais consegue ser mudado;

nós nos tornamos no que querem ver

aqueles que ainda estão em movimento,

simples retrato em porcelana completado.

 

A VIDA DAS MORTES II

 

E se Tíbulo Poeta a distinguía,

qual na série que ontem descrevi,

é que era jovem em seu tempo de alali

e a Morte apenas de um lado conhecia;

sem recordar que inda há terceira via,

não nas batalhas que critica ali,

nem a tranquila que deseja para si,

mas a doença que a tantos desvalia...

isso é até de espantar, quando a malária

tanta gente massacrava dos Romanos,

cuja fibra se esgotou pela doença,

não por qualquer viciosidade multifária,

nem tampouco pelos luxos soberanos,

que tanto condenava em ingênua crença.

 

A VIDA DAS MORTES III

 

Pois bem melhor até seria a morte breve

num campo de batalha, em que os feridos,

por “golpe de misericórdia” eram banidos

para esse Orco, a quem ninguém se atreve

em geral a mencionar, porém que leve

em sua garganta os Romanos falecidos,

cuja entrada no Fórum os entendidos

até mostravam, para que o sangue ceve

as almas que se encontram lá, sedentas;

por isso de gladiadores os combates,

um sacrifício aos deuses Lares e Penates;

ali estando sacerdotes, em litanias atentas,

lutas sangrentas destinadas a abafar

o medo aos mortos que os poderiam chamar.

 


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