LUSTRES
DE AROMAS I – 16 JUL 2020
de
teus perfumes meigos Condensados,
em
multicores pingentes de Cristal,
com
fatias de meus ossos, em Manual
construção,
com alicates Coagulados
de
meu sangue e em labor Manipulados,
formei
um lustre de cada cor Cardial;
foi
o vermelho do sangue Menstrual,
tomei
o azul dos olhos teus Gateados,
tirei
o verde de teus Estratagemas,
o
amarelo do cabelo Artificial,
o
violeta de hematomas de Carinho,
o
anil a recolher de cada Pena,
o
laranja do mel de teu Fanal
e
o branco pálido adicionei Sozinho.
LUSTRES
DE AROMAS II
mas
teus aromas tinham ânsia bem Vital,
brotavam
dos canteiros de tuas Flores,
de
cada canto da pele em Esplendores,
de
cada broto do arbusto Espiritual,
cheiros
trazendo uma impressão Carnal
de
estames e pistilos Multicores,
da
corola sutil dos Dissabores,
polispermia
de teu beijo Vegetal
e
trescalava de cristais a pura Antera,
diante
de mim aberta em Deiscência,
tal
qual se fecundá-la então Pudera
e
assim julgava lhe dever Manutenção,
adubo
e rega distribuindo com Paciência,
nesse
aromático lustre da Quimera.
LUSTRES
DE AROMAS III
mas
ao toque do pistilo, meus Estames,
antes
de almíscar na corola Protegidos,
é
que se abriram deiscentes, Revestidos
da
alegre cor dos sonhos que Derrames;
que
nesse gesto de opérculo, Proclames
de
meristemas os encantos Proibidos,
no
dilema das pétalas Contidos,
fulgor
da antera no cristal de teus Reclames,
estranho
efeito tendo na minha Vida:
esperava
que de ti brotassem Flores,
mas
foi meu o canteiro assim Semeado.
tu
continuaste ainda meiga e Desvalida
e
eu me esqueci do afã de meus Amores,
brotando
em versos por teu pólen Fecundado!
EUFEMISMOS
I – 17 JUL 2020
a
alma, o sonho, o vulto, uma Quimera,
o
semblante, o vago, o incerto, a Sutileza,
o
espírito, o reflexo, o carisma, a Incerteza,
o
ectoplasma, a metade, a luz, a Espera,
tanta
figura a girar na mesma Esfera,
esses
mil símbolos a sugerir Beleza!
etérea
é a deusa humana, com Certeza,
enquanto
amor tal ilusão nos Gera!
mesmo
se a carne a nós tanto Consome,
imaginamos com leveza a Bem-Amada,
inda
que a vida tal triste fé nos Dome...
pois
tudo é assim, simples risco na Alvorada,
até
que a rubra luz do ocaso nos Retome
esse
ludíbrio a que a mente deu Morada...
EUFEMISMOS
II
cada
metáfora nada mais que um Eufemismo,
porque
é a pele da carne a Desejada,
nessa
busca incessante e Irrealizada
de
noutro corpo, envolto em Romantismo,
algo
se achar mais que o Materialismo,
tonta
vontade de ter tudo ou não ter Nada,
tanta
mentira que a poesia, Desenfreada,
torna
verdade ao ocultar o Realismo!
sempre
é o reverso do amor que se Perfaz,
mesmo
na busca de uma plena Companhia,
em
que se encontra ainda mais que se pedia;
que
realmente tal mentir seja Capaz
de
transformar a palavra em Beberagem,
no
recíproco turbilhão dessa Voragem!
EUFEMISMOS
III
por
mais que se ame o amor da Amada,
não
se acredita ser deusa, com Certeza;
de
Afrodite ou de Isis a Beleza
sobre
os altares ainda está Entronizada;
e
por mais que seja a sombra Idolatrada,
algo
queremos abraçar com mais Firmeza;
vago
semblante não nos dá vasta Riqueza
e
é bem difícil pura alma ser Beijada!
na
penumbra é que abraçamos algum Vulto,
que
em plena luz há bem menos Sutileza
e
que Platão me conceda pleno Indulto,
suas
duas metades são apenas Fantasia,
uma
quimera de perfeita Gentileza,
que
a pele à pele com meiguice Sugeria...
OLHOS
DE ÁGATA I – 18 JUL 2020
não
foi desejo que me atraiu a Ti,
porém
tua mente e também teu Coração;
quebrantada
te encontrei e Compaixão
me
dominava; ou pelo menos, assim Cri;
não
esperava então sofrer como Sofri,
por
minha ternura receber Retaliação,
que
no entretanto me invadiu e, sem Razão,
de
quanto mais havia eu me Esqueci...
mas
custei tanto a ter-te nos meus Braços!
em
minha pieguice, nem sequer Buscava
e
só queria era contigo Conversar...
houve
momentos em que olvidei teus Traços
e
nem sequer tua voz mais Escutava,
na
amarga ilíada de um longo Despertar!
OLHOS
DE ÁGATA II
contudo
o amor chegou, Eventualmente,
não
mais a busca mental de Compreensão,
não
mais querer de espiritual Completação,
que
a carne é carne e impôs-se Calmamente,
mais
em surpresa tornando-se Evidente,
na
estranha noite arcana da Oclusão,
só
castos beijos tendo havido de Antemão
e
finalmente: o milagre do Descrente!
como
se a vida toda Conduzisse
à
epifania de tal Crucifixão,
braços
abertos na cruz de uma Paixão,
depois
fechados qual o abraçar Pedisse,
no
mimetismo de tal Ressurreição,
esplendorosa
no fervor que se Sentisse!
OLHOS
DE ÁGATA III
crucificado
em ti meu corpo Inteiro,
qual
a lança de luz do Centurião.
um
halo nos envolve e o Galardão
difunde
ao mundo o brado Derradeiro!
o
diadema dos dentes num Luzeiro,
de
espinhos cabeleira em Coroação,
na
concha dos desvelos Recepção,
a
me matar e renovar quando me Abeiro,
pois
sinto a carne morta em meu Orgasmo,
imperecível
tornada nesse Pasmo,
que
a alma preenche de emoção Antiga,
pois
cada vez que a carne me Esfalece,
é
como se esplendor então Pudesse
encher-me
a mente de imortal Cantiga!
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