terça-feira, 26 de janeiro de 2021


 

 

LUSTRES DE AROMAS I – 16 JUL 2020

de teus perfumes meigos Condensados,

em multicores pingentes de Cristal,

com fatias de meus ossos, em Manual

construção, com alicates Coagulados

de meu sangue e em labor Manipulados,

formei um lustre de cada cor Cardial;

foi o vermelho do sangue Menstrual,

tomei o azul dos olhos teus Gateados,

tirei o verde de teus Estratagemas,

o amarelo do cabelo Artificial,

o violeta de hematomas de Carinho,

o anil a recolher de cada Pena,

o laranja do mel de teu Fanal

e o branco pálido adicionei Sozinho.

 

LUSTRES DE AROMAS II

mas teus aromas tinham ânsia bem Vital,

brotavam dos canteiros de tuas Flores,

de cada canto da pele em Esplendores,

de cada broto do arbusto Espiritual,

cheiros trazendo uma impressão Carnal

de estames e pistilos Multicores,

da corola sutil dos Dissabores,

polispermia de teu beijo Vegetal

e trescalava de cristais a pura Antera,

diante de mim aberta em Deiscência,

tal qual se fecundá-la então Pudera

e assim julgava lhe dever Manutenção,

adubo e rega distribuindo com Paciência,

nesse aromático lustre da Quimera.

 

LUSTRES DE AROMAS III

mas ao toque do pistilo, meus Estames,

antes de almíscar na corola Protegidos,

é que se abriram deiscentes, Revestidos

da alegre cor dos sonhos que Derrames;

que nesse gesto de opérculo, Proclames

de meristemas os encantos Proibidos,

no dilema das pétalas Contidos,

fulgor da antera no cristal de teus Reclames,

estranho efeito tendo na minha Vida:

esperava que de ti brotassem Flores,

mas foi meu o canteiro assim Semeado.

tu continuaste ainda meiga e Desvalida

e eu me esqueci do afã de meus Amores,

brotando em versos por teu pólen Fecundado!

 

EUFEMISMOS I – 17 JUL 2020

a alma, o sonho, o vulto, uma Quimera,

o semblante, o vago, o incerto, a Sutileza,

o espírito, o reflexo, o carisma, a Incerteza,

o ectoplasma, a metade, a luz, a Espera,

tanta figura a girar na mesma Esfera,

esses mil símbolos a sugerir Beleza!

etérea é a deusa humana, com Certeza,

enquanto amor tal ilusão nos Gera!

mesmo se a carne a nós tanto Consome,

 imaginamos com leveza a Bem-Amada,

inda que a vida tal triste fé nos Dome...

pois tudo é assim, simples risco na Alvorada,

até que a rubra luz do ocaso nos Retome

esse ludíbrio a que a mente deu Morada...

 

EUFEMISMOS II

cada metáfora nada mais que um Eufemismo,

porque é a pele da carne a Desejada,

nessa busca incessante e Irrealizada

de noutro corpo, envolto em Romantismo,

algo se achar mais que o Materialismo,

tonta vontade de ter tudo ou não ter Nada,

tanta mentira que a poesia, Desenfreada,

torna verdade ao ocultar o Realismo!

sempre é o reverso do amor que se Perfaz,

mesmo na busca de uma plena Companhia,

em que se encontra ainda mais que se pedia;

que realmente tal mentir seja Capaz

de transformar a palavra em Beberagem,

no recíproco turbilhão dessa Voragem!

 

EUFEMISMOS III

por mais que se ame o amor da Amada,

não se acredita ser deusa, com Certeza;

de Afrodite ou de Isis a Beleza

sobre os altares ainda está Entronizada;

e por mais que seja a sombra Idolatrada,

algo queremos abraçar com mais Firmeza;

vago semblante não nos dá vasta Riqueza

e é bem difícil pura alma ser Beijada!

na penumbra é que abraçamos algum Vulto,

que em plena luz há bem menos Sutileza

e que Platão me conceda pleno Indulto,

suas duas metades são apenas Fantasia,

uma quimera de perfeita Gentileza,

que a pele à pele com meiguice Sugeria...

 

OLHOS DE ÁGATA I – 18 JUL 2020

não foi desejo que me atraiu a Ti,

porém tua mente e também teu Coração;

quebrantada te encontrei e Compaixão

me dominava; ou pelo menos, assim Cri;

não esperava então sofrer como Sofri,

por minha ternura receber Retaliação,

que no entretanto me invadiu e, sem Razão,

de quanto mais havia eu me Esqueci...

mas custei tanto a ter-te nos meus Braços!

em minha pieguice, nem sequer Buscava

e só queria era contigo Conversar...

houve momentos em que olvidei teus Traços

e nem sequer tua voz mais Escutava,

na amarga ilíada de um longo Despertar!

 

OLHOS DE ÁGATA II

contudo o amor chegou, Eventualmente,

não mais a busca mental de Compreensão,

não mais querer de espiritual Completação,

que a carne é carne e impôs-se Calmamente,

mais em surpresa tornando-se Evidente,

na estranha noite arcana da Oclusão,

só castos beijos tendo havido de Antemão

e finalmente: o milagre do Descrente!

como se a vida toda Conduzisse

à epifania de tal Crucifixão,

braços abertos na cruz de uma Paixão,

depois fechados qual o abraçar Pedisse,

no mimetismo de tal Ressurreição,

esplendorosa no fervor que se Sentisse!

 

OLHOS DE ÁGATA III

crucificado em ti meu corpo Inteiro,

qual a lança de luz do Centurião.

um halo nos envolve e o Galardão

difunde ao mundo o brado Derradeiro!

o diadema dos dentes num Luzeiro,

de espinhos cabeleira em Coroação,

na concha dos desvelos Recepção,

a me matar e renovar quando me Abeiro,

pois sinto a carne morta em meu Orgasmo,

imperecível tornada nesse Pasmo,

que a alma preenche de emoção Antiga,

pois cada vez que a carne me Esfalece,

é como se esplendor então Pudesse

encher-me a mente de imortal Cantiga!


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