AOS FILISTEUS DE GOTHA
(Arthur Schopenhauer, 1807,
Traduzido do alemão por William Lagos, 2010)
(Era costume chamar de filisteus aos conservadores
contrários às artes e às inovações literárias).
Gotha é uma cidade alemã em que morou o Filósofo.
Eles espiam e acorrem bem depressa
Para ver qualquer coisa que aconteça,
O que outro faz e tudo que alguém peça,
Tudo o que falam, nunca o povo cessa,
Qualquer coisinha já lhes interessa...
Seus rostos aparecem nas janelas:
Cada porta tem ouvidos atrás delas,
Contemplam tudo, assim como as estrelas;
Se os gatos usam os tetos como selas,
Tudo é assunto para homens e donzelas...
Mas essas coisas que têm maior valor,
Inteligência, pensamento ou ardor,
Em nada lhes despertam seu amor,
Apenas se este é rico ou tem favor,
Ou se é apreciado por algum comendador...
Querem saber quem é mais respeitado,
Quem deverá primeiro ser saudado,
Se é nobre ou conselheiro respeitado,
Se é Luterano ou serve ainda ao Papado,
Se é solteiro ou se já está casado...
Se mora em casa grande ou veste roupa fina,
Tudo eles pesam, a tudo isso se atina,
Mas aquilo a que esse povo mais se afina
É se uma vantagem, mesmo pequenina,
Podem tirar em favor da própria sina...
E uns dos outros ficam indagando
O que de nós se pensa ou está falando,
Ao Fulano e ao Sicrano perguntando,
Enquanto as opiniões vão sopesando
E os rostos vão, com cuidado,
examinando!...
MEU
GRANDE PROFESSOR
(Arthur
Schopenhauer, 1807 – Traduzido
do
alemão por William Lagos, 2010)
(Naturalmente,
ele está troçando do professor).
Ornamento
da tribuna e da cátedra a alegria,
O
cronista da cidade, mas ator de fancaria,
Ele
é o mais perfeito dentre todos os cristãos,
Louvado
pelos judeus, renomado entre pagãos,
Durante
toda a manhã, montes de livros carrega,
Ao
abano de seu leque a tarde toda se entrega;
Das
sete artes liberais é o fiel dominador,
Que
sabe tudo e até pode de tudo ser professor,
Enfim,
a flor e coroa da mais bela inteligência,
Pois tem
um milhar de amigos e os menciona com frequência...
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