sexta-feira, 8 de janeiro de 2021


 

 

BAIONETA I   (24 ago 79)

 

O amor que nós sentimos, sem freio e descorreito,

Não importa qual barreira, não importa qual direito

Alheias vidas tenham por sobre a nossa vida,

Amor perpétuo e cheio, sublime de imperfeito,

 

Que expande-se tão mais se veja desejado

E encolhe-se tão menos se veja de almejado,

Mas, vendo-se querido, a tudo de vencida

Arroja de altivez e a tudo põe de lado...

 

Amor feito artefato, de nosso amor fagulha,

Amor de lavrador, perene e transitório,

Que, a cada brotação, de novo amor se entulha;

 

Amor feito artifício, de nosso amor triagem,

Amor de semeador, amor irredentório,

Que quanto mais se alarga, mais se enche de coragem...

 

BAIONETA II    (28 mai 2010)

 

O amor assim sentido é feito de lembrança:

não dessa que sentimos dos tempos de criança,

porém dessa memória que escorre pelo ar,

entrando pelos olhos, em sonho de bonança.

 

O amor assim nutrido, dos ventos é bebido:

amor tão abrangente quanto já vem perdido,

amor que já se sabe não poderá durar,

porque chora das nuvens, em canto malferido.

 

Não é o nosso amor, porém o amor do amor,

não é nosso desejo, mas desejo do desejo,

são fantasmas de amor pairando sobre o solo.

 

Não é nosso vigor, mas ânsia do vigor,

não é o nosso beijo, mas anseio desse beijo,

que do alto escorreu e sentou-se em nosso colo.

 

BAIONETA III

 

Por isso, tal amor nos entra tão profundo,

tal como a baioneta que um soldado iracundo

arroja sobre nós, em ato de loucura,

aos som dos clarins mil que correm pelo mundo.

 

Esse amor nos assalta, em busca de carinho,

parece tão carente o sonho pequeninho

que se assenta em teu colo é pede tua ternura,

com olhar suplicante e hálito de vinho...

 

Mas esse amor, amiga, não é uma criança:

embora traga fraldas e chupe no teu seio,

já foi amor adulto e perdeu-se por aí...

 

Fantasma foi de amor, já seco de esperança,

que assim te hipnotiza, buscando qualquer meio

de arraigar-se em teu ventre, para viver de ti.

 

 


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