MISTÉRIOS PARA OS BOBOS I
– 8 ABR 20
O que surgiu primeiro, o
ovo ou a galinha?
Qualquer idiota responde a
esta questão,
antes dos galináceos,
outras aves ali estão
e antes delas, já apareceu
tartaruguinha...
o jacaré, o lagarto, a
cobra mais daninha,
que ovos puseram desde sua
criação
e antes deles os
batráquios também são
de ovos nascidos, igual
que uma tainha!...
Dos ovos a origem é
multissecular,
os dinossauros de seus
ovos já nasciam...
Só um tolo em tal pergunta
se embaralha...
Pobre galinha, nem sequer
sabe voar,
mas de outras aves seus
ovos já surgiam,
com dura casca que o
chocar não atrapalha!
MISTÉRIOS PARA OS BOBOS II
É como essa gente que esse
vão mistério
da Atlântida comenta e até
mesmo a localiza
em dez lugares, sem
qualquer prova precisa
e mesmo um falso
intelectual os leva a sério!
A explosão de Santorini tornou
em cemitério
a civilização de Creta em Cnossos
e além visa
Micenas e Tirinto, a
transformar em rocha lisa,
lençois de cinza em um
imenso despautério!
Mas Santorini fica perto,
logo ali no Mar Egeu,
de forma alguma atingiria
o Mar Oceano,
jamais a Atlântida misteriosa
de Platão,
porém no oceano nenhum
lugar se conheceu
em que arquipélago
suportasse o reino atleano
e assim na América alguns
até a buscarão!
MISTÉRIOS PARA OS BOBOS III
Contudo, há vinte anos se
encontraram,
no Mar do Norte alguns
restos imensos
de cidades de madeira em
postes tensos
e artefatos que alhures
não se acharam,
que em museu da Escócia se
guardaram
na Noruega outro tem vestígios
densos,
que o explorar do petróleo
em vastos lenços
tal mistério trouxe à luz
e o desvendaram.
O Mar do Norte para todos
é evidente
que integra parte do
Oceano Atlântico
e afundou há mais ou menos
dez mil anos,
depois que a glaciação se
fez de novo ardente,
em aquecimento global,
igual que o mântrico
de que tantos nos
profetizam grandes danos!
MISTÉRIOS PARA OS BOBOS IV
Durante a glaciação, o Mar
do Norte
se achava realmente a
descoberto,
só além das Ilhas Féroe o
mar aberto,
o continente sob gelo em
vasto porte,
transformado em um gélido
deserto
e foi ali que a Atlântida
teve a sorte
de se erguer para depois
sofrer a morte,
voltando a água a deixar
tudo coberto...
Madame Blavatska, dois
séculos atrás,
já afirmava, em sua
Doutrina Secreta,
da arcana Atlântida sua
localização;
mas a resolução de um
mistério nunca traz
prazer algum e a farsa é
de novo ressurreta,
igual que um ovo quente
para nossa refeição!
PERIGO I – 9 abril 2020
Encontrei em meus rascunhos um soneto
De décadas atrás, todo esquecido,
Como são muitos em que um dia havia crido,
Mas não me inspiram mais ardor dileto...
Fico a pensar em qual amor secreto
Me inspirou o sentimento ali contido;
Eu sei que foi real, mas desvalido
Ficou o poema, qual se fora um desafeto...
Causam as décadas tal solene desmazelo
Entre as memórias e sobre os pensamentos
E facilmente desafiam os
julgamentos.
Pois desusado vi que foi um tal desvelo
E no entretanto, mal aspiro essa fumaça,
Perdida para sempre em minha desgraça.
PERIGO II
Quem se perdeu de mim? Nem tantas foram.
Até consigo repetir seus nomes,
Nessa cadeia das passadas fomes...
Por quem minhas faces levemente coram?
Algumas os meus sonhos ainda enfloram.
Por um vaidoso espero não me tomes!...
Mas tu, desconhecida, por que somes
Dessas cem recordações que à mente afloram?
Será que foi tão só um devaneio
E descrevi um rosto em que não creio,
Qual desejo realizado na alvorada?
Mas, por real que fosse, foi-se embora
Esse ato de amor, morto na aurora,
Que a luz de um dia reduziu a nada!...
PERIGO III (29 jul 79]
Primeiro tu me adiaste um tal momento
Em que o esplendor jorrasse de espumante,
Numa centelha estrídula, inquietante,
Julgada a vinda do derradeiro instante.
Já se escoara o final do sentimento,
Ao me dizeres ao ouvido, numa rua,
Com a mesma voz que proibira toda nua
Ficasses em meus braços, como a lua,
"Eu quero agora, vem e vem depressa!"
E a carne à carne se ajuntou de opressa
E todo o corpo estrugiu de exultação,
Nesse ato de amor, tão triunfante,
Que ribombou em orgasmo rebrilhante,
Veloz como o bater do coração!...
PERIGO IV – 9 abr 20
E já nem sei, passado tanto tempo,
O que foi que me inspirou o sentimento,
Quem foi que me roubou o julgamento
E me levou a redigir tais versos...
Como a mente e o coração foram conversos
E nesses braços, meus líquidos dispersos
Se derramaram, nos atos controversos
Que me levaram à cor desse momento.
Nem o que representou ela pra mim,
Se nem consigo recordar seu rosto
E muito menos o nome que me deu!...
Porém, na época, foi importante assim:
Que reencontrei esse momento posto
No poema antigo que enfim reapareceu!...
“DE VOLTA AO FUTURO” I – 10 ABR 20
Nem sei o que me espera.
Estes rascunhos,
acumulados às centenas, foram
esquecidos de todo e nem ideia
eu mesmo faço do que escrevi então!
Foram somente sangue de meus punhos,
que malquerenças de proezas douram,
que transformaram a mágoa em melopeia,
na desistência falsa do querer-se em vão!
Porém me envolvo em estranha persuasão:
sei bem que posso escolher alguns momentos
destinados ao futuro em fragmentos...
Basta a limpo passar qualquer outra ilusão:
por meia hora governo os movimentos
desse meu barco sem leme em turbilhão!
“DE VOLTA AO FUTURO” II
Naturalmente, este título roubei
de um filme cult por
tantos conhecido;
o conteúdo nada tem de parecido,
foi tão somente que do nome me adonei...
Mas uma longa controvérsia registrei:
esses rascunhos que tenho agora apaziguado,
o meu antanho a transportar para meu lado,
são do presente ou desse tempo que lembrei?
E esses todos a que atenção não dei,
mas que pretendo digitar em meu porvir,
são do presente ou são de meu futuro?
Desde o passado cá estão, muito bem sei,
mas no futuro muitos pretendo redigir
para o passado ou meu presente impuro?
“DE VOLTA AO FUTURO” III
Ora, nem sei se o futuro há de chegar:
eu fui futuro quando os rascunhei
ou sou passado depois que os digitei,
serei presente quando alguém os apreçar?
A todo dia vejo o presente terminar,
mas nestes versos o passado reencontrei:
de certo modo, de meu futuro retornei
para o passado que não pode mais voltar?
E nesse tempo que não consigo segurar,
para o futuro eu corro em disparada,
com mil papéis rascunhados na mochila.
E se acaso, no que há de vir, os digitar,
será o presente que vivi desde a alvorada
ou meu passado crepúsculo em tal fila?
AMOR AO INGLÊS I – 11 ABR 2020
Aulas eu dava
com fé e entusiasmo
no tempo
antigo, antes de me aposentar,
e de uma aluna, certa vez, fui escutar,
que amava inglês! Ela quase num orgasmo;
achei estranho e até de causar pasmo,
de inglês eu gosto, mas se alguma vou amar
é o português em que poemas vou vazar,
sem dar lugar a qulquer alheio espasmo...
Surpreendeu-me bastante o sentimento
que assim manifestou e sua mente percorria,
meu entusiasmo desta forma assimilado,
mas logo percorreu-me o pensamento,
que “amar inglês” era disfarce em que dizia
que ao professor desejava de seu lado...
AMOR AO INGLÊS II
Não há nisso sequer ponta de vaidade,
que amor por professor ou professora
é coisa assaz comum em toda hora,
porém se esfuma com bastante brevidade;
é muito raro existir perenidade
em tal paixão que o coração escora;
a tentação só ocorre nesse embora,
e não se pode aceitar com leviandade.
Alguns que conheci até tombaram
nessa armadilha, pensando em aceitar
e certamente se prejudicaram,
ainda mais hoje que de pedofilia chamaram
essa atração entre idades secular,
por razões que vagamente me explicaram.
AMOR AO INGLÊS III
Pedofilia designava antigamente
a atração de algum adulto por criança,
mas até onde minha memória alcança,
tinha outro significado, claramente!
Aos quinze anos, só muito raramente
uma menina não se tornou mulher;
só se a menarca não ocorreu sequer
e sua menstruação não se apresente.
Por isso, ao longo da história, é natural
que aos quinze anos casada já estivesse;
mas nos meninos maturidade tarde desce
e a atração pelos mais velhos é normal
e há milênios que transcorre pelo mundo,
sem merecer este apelido tão imundo!
AMOR AO INGLÊS IV
Contudo, numa escola é diferente:
nem professor nem professora há de aceitar
que essa atração se venha a completar,
que mais não seja, por ética, somente;
se bem que a sedução seja frequente
entre as jovens que se querem afirmar,
a seus mestres desejando conquistar,
e é aqui que esta vaidade está presente.
Sempre evitei embarcar em tal canoa,
tratando embora, com todo o meu carinho,
desentendido a me fazer, sem que, a toa,
confusa aluna assim pudesse machucar,
seu falso amor a orientar, devagarinho,
sem nem sequer meus sonetos lhe mostrar!
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