segunda-feira, 11 de janeiro de 2021


 ASONAM KAPOOR, ATRIZ HINDU DE 'BOLLYWOOD' 

 

ESCLERA I  (24 AGO 79)

 

Tu nunca saberás a que ponto é verdade

E a que ponto meus versos são só de ficção,

A que ponto se mescla o pendor da emoção

Com os fatos vividos, sonora em vaidade.

 

A que ponto os eventos narrados somente

Surgiram brilhantes da tinta e da pena,

A que ponto sofridos no centro da cena,

A que ponto criados no fundo da mente.

 

Talvez eu não conte, de fato, o que houve,

Talvez que a verdade escutada se ouve,

Na fábula muda, em sabor mais sincera.

 

E quem sabe se o sonho, de ideal tão frequente

Não é mais real, nos prazeres que sente,

E esta vida tediosa um luzir de quimera?

 

ESCLERA II  (29 MAI 2010)

(Tecido fibroso e endurecido)

 

Muitas vezes ouvi, no passado, esta frase:

"Que o homem, no fundo, é tão só pretensão".

Assim, quem escuta qualquer narração

uma parte desconta no que a história se embase.

 

Já se espera, afinal.  Se deseja, ate quase,

que os outros nos tomem por exageração,

pois existem aqueles que em toda ocasião

já aumentam um pouco, que o resto não vaze.

 

Porém eu não sou tal.  Nunca fui fanfarrão

e assim nada inventei para teu benefício,

mas nem tudo o que conto, fui eu, me compreendes?

 

Pois há vozes opostas no meu coração

e muito que narro de feroz malefício

não merece essa pena, que às vezes, me estendes.

 

ESCLERA III

 

Tampouco o que conto se chama mentira:

alguém certamente o sentiu e o sofreu;

talvez o momento tenha sido mais teu

do que meu foi jamais esse instante, que gira

 

por entre meus dedos e em tinta se vira,

pois um tal sentimento por certo ocorreu,

talvez o conheças bem mais do que eu

e ao som da memória, tua mente o confira.

 

Mas enquanto o descrevo, por certo ele é meu:

por entre meus dedos se mostra desperto,

não importa se houve, se fez verdadeiro.

 

E há valor semelhante para quem isto leu:

gravou-se bem fundo e teu peito está aberto,

tal qual se o tivesses sentido primeiro...

 

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