ESCLERA I (24
AGO 79)
Tu nunca saberás a
que ponto é verdade
E a que ponto meus
versos são só de ficção,
A que
ponto se mescla o pendor da emoção
Com os fatos vividos,
sonora em vaidade.
A que ponto os
eventos narrados somente
Surgiram brilhantes da
tinta e da pena,
A que ponto sofridos
no centro da cena,
A que ponto criados
no fundo da mente.
Talvez eu
não conte, de fato, o que houve,
Talvez que a verdade
escutada se ouve,
Na fábula muda, em
sabor mais sincera.
E quem sabe se o
sonho, de ideal tão frequente
Não é mais real, nos
prazeres que sente,
E esta vida tediosa
um luzir de quimera?
ESCLERA II
(29 MAI 2010)
(Tecido fibroso e endurecido)
Muitas vezes ouvi,
no passado, esta frase:
"Que o homem,
no fundo, é tão só pretensão".
Assim, quem escuta
qualquer narração
uma parte
desconta no que a história se embase.
Já se espera,
afinal. Se deseja, ate quase,
que os outros nos
tomem por exageração,
pois existem
aqueles que em toda ocasião
já aumentam um
pouco, que o resto não vaze.
Porém eu não sou
tal. Nunca fui fanfarrão
e assim nada
inventei para teu benefício,
mas nem tudo o que
conto, fui eu, me compreendes?
Pois há vozes
opostas no meu coração
e muito que narro
de feroz malefício
não merece essa
pena, que às vezes, me estendes.
ESCLERA III
Tampouco o que conto
se chama mentira:
alguém certamente o
sentiu e o sofreu;
talvez o momento
tenha sido mais teu
do que meu foi jamais
esse instante, que gira
por entre meus dedos
e em tinta se vira,
pois um tal
sentimento por certo ocorreu,
talvez o conheças bem
mais do que eu
e ao som da memória,
tua mente o confira.
Mas enquanto o
descrevo, por certo ele é meu:
por entre meus dedos
se mostra desperto,
não importa se houve,
se fez verdadeiro.
E há valor semelhante
para quem isto leu:
gravou-se bem fundo e
teu peito está aberto,
tal qual se o
tivesses sentido primeiro...
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