O
PAÍS DOS ELFOS VII
(SEGUNDA PARTE DE QUATRO)
Naquele
dia, caçou-os, finalmente,
nos
biriquetes escusos do castelo
ou
no pátio, alguns no pomar belo
e
para o banho levou todos por diante;
depois
sentaram-se à mesa gigante,
os
seus pratinhos raspando inteiramente!
Depois
Tia Grissy os levou ao alojamento,
em
que ocuparam suas dez caminhas;
ela
mesma calafetou as cobertinhas,
despedindo-se
com beijos carinhosos
e
para impedir brinquedos mais fogosos,
passou
a chave, no maior contentamento!
Mas
assim que seus passos se afastavam,
os
doze já se erguiam das caminhas,
de
travesseiros a fazer as suas guerrinhas;
depois
serem fantasmas pretenderam;
sob
os lençóis os travessos se esconderam,
com
muitos gritos a fingir que se assustavam!
Tia
Grissy, sendo surda, não temiam
que
os escutasse; e o aposento do Barão
ficava
do lado oposto da mansão;
mas
enfim da brincadeira se cansaram
e
nas caminhas de novo se deitaram,
olhos
fechados, mas os sonhos não viriam...
O PAÍS
DOS ELFOS VIII
As
janelas do salão eram gradeadas
e a
porta grossa nunca se abriria,
as
paredes de forte alvenaria...
Mas os
travessos afastaram um armário,
o
reboco ali atrás bem ordinário
e
começaram a dar-lhe chutes e pancadas!
E de
repente, com um ronco inesperado,
uma
porta apareceu, larga e escura,
uma
escada com degraus de pedra dura...
“De
esconderijo será um bom lugar,
aqui
Tia Grissy não poderá nos encontrar!
Logo o
caminho foi por eles explorado!...
E nem
pensaram em puxar de volta o armário,
embora
achassem que estava muito escuro,
as
mãos passando ao correr do áspero muro;
seguia
na frente o esperto Número Um,
atrás
os outros, sem ficar nenhum,
sem o
menor temor de um mau fadário!...
“Toquem
nos ombros uns dos outros!” – ordenou
o mais
velho, a quem todos respeitavam,
de vez
em quando alguns escorregavam,
mas
uns aos outros foram amparando
e mais
e mais foram-se aprofundando,
só que
o buraco ainda mais fundo continuou!
O
PAÍS DOS ELFOS IX
Depois
de muito tempo de descida,
estando
já com fome e um certo medo,
cansaram-se,
afinal, desse segredo
e
decidiram fechar a passagem, novamente,
para
voltar com qualquer coisa luzente,
lamparinas
ou alguma tocha conseguida.
O
tempo todo faziam os doze troça
da
boa velha que os amava tanto:
“Vai
procurar por nós em cada canto
e
depois de não ter nada conseguido,
seu
nariz vai ficar bem mais comprido!”
Riam-se
todos, numa baderna grossa!...
Deram
a volta, na frente estava o Doze,
porque
a passagem estava muito estreita
e
no alto da escada, sem suspeita,
nenhum
traço encontraram dessa porta!
“Quem
sabe essa escada é meio torta?”
O
Um as costas contra a parede cose...
E
sobre os outros conseguiu chegar em cima,
mas
realmente o Doze estava certo!
Apalpou
cada pedra que achou perto,
todos
os doze procurando uma passagem,
alguns
com medo, outros com coragem,
sem
achar fenda por que passasse lima!...
O PAÍS
DOS ELFOS X
Número
Um novamente dccidiu-se
e se
apertou outra vez contra a parede;
por
mais que em braços e pernas ali se enrede,
conseguiu
retornar até o começo:
“Se
não posso subir, então eu desço!”
O Dois
puxou para que o seguisse!
Mas os
irmãos não queriam mais descer:
“E os
duendes que existem lá no fundo?
E
aquele Troll faminto e tão imnndo?
E mais
os Elfos, que dizem habitar
Lá
embaixo, no seu reino milenar...?”
“Mas
se ficarmos aqui, vamos morrer!”
“Já
que têm medo, eu vou descer sozinho!
Depois
eu volto para lhes dizer
se
achei caminho, com mais luz para descer.”
“E se
não voltas?” – o Três choramingou,
mas o
mais velho com nada se importou
e foi
descendo os mil degraus, devagarinho...
Passado
um tempo, ele nunca retornava,
só se
escutava o assobio do ar,
que de
uma passagem deveria soprar...
E
finalmente, se decidiu Número Dois:
“Eu
vou atrás dele. Vocês venham depois.”
E pelo
escuro igualmente se embrenhava!
O
PAÍS DOS ELFOS XI
Passadas
horas ou o que horas pareceram,
o
irmão Número Três enfim desceu;
logo
no escuro também desapareceu;
então
os nove que faltavam, decidiram:
“Vamos
juntos, então!” Todos seguiram,
mas
a seguir os degraus desapareceram!
E
estando os nove todos de mãos dadas,
caíram
juntos, numa vasta confusão,
mistura
triste de tanto pé e tanta mão!
Foram
caindo, com gritos de terror
e
desabaram, afinal, em seu horror,
apalpando
suas perninhas machucadas!
Por
sorte, nenhum tinha se quebrado:
uns
aos outros depressa a se chamar;
haviam
caído em um poço circular,
com
paredes muito lisas de metal...
“Que
bom não aconteceu nada de mal!”
Falou
o Onze, sentindo-se aliviado...
“Lamento
muito que te vá desiludir,”
respondeu
Um. “Mas não sabem onde estão?”
Respondeu
Cinco: “É a panela do Papão!”
“Sem
dúvida. E o Troll come crianças!”
Falou
Sete: “Já não temos esperanças?”
“Silêncio!”
– gritou Um. “Eu quero ouvir!”
O PAÍS
DOS ELFOS XII
E no
silêncio que então todos fizeram,
vinham
chegando passos arrastados,
por
uma fraca luz acompanhados.
Ficaram
os doze totalmente apavorados,
ante o
destino a que estavam arrojados:
bem
verdadeiras suas suspeitas eram!
Iluminada
pelo que parecia lamparina,
apareceu
uma cabeça bem disforme,
toda
azul, com nariz mais desconforme
que o
da Tia Grissy; e os dentes afiados
por um
horrível sorriso revelados:
“Ora,
ora, cá chegou-me rica mina!...”
“Doze
garotos muito suculentos!
Por
alguns dias, não precisarei caçar,
nem
das minhas criações me alimentar,
vão
dar um belo ensopado com batatas!
Só vou
buscar uns temperos pelas matas...”
Ficou
olhando, gozando seus lamentos!...
Então
prendeu algo de fosforescente
na
beirada da panela e se afastou.
Número
Sete logo o identificou:
“É uma
cobra, toda luminosa,
por
certo, é igualmente venenosa!
Ficou
aqui para tomar conta da gente!...
O
PAÍS DOS ELFOS XIII
O
Troll saiu dali, muito contente,
indo
dar a notícia à sua mulher
e
às doze filhas, empenhadas no mistér
de
colares tecer com cada dente
de
crianças que comeram anteriormente:
“A
refeição hoje vai ser excelente!”
“Vou
buscar lenha para o panelão;
vocês
doze tragam água para encher,
que
até a roupa vamos deles comer;
coisa
gostosa é vivos cozinhar!
A
minha cobrinha não os deixará escapar...
Andem
ligeiro: cumpram sua missão!”
Ora,
a mulher do Troll era uma humana
que
certo dia ele roubara e ia comer;
mas
precisava de alguém para aquecer
sua
cama imensa e assim, ficou com ela;
cada
cria produzida era donzela:
doze
meninas sem igual feição insana!
Embora
filhas do Troll, eram bonitas
e
até um pouquinho menores que os meninos,
braços
e pernas delicados, pequeninos,
do
pai herdando só os azuis cabelos,
eram
da mãe seus delicados zelos
e
preferiam era comer batatas fritas!
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