A CANÇÃO DO ESPERMA I – 7 DEZ 2020
Que se pode esperar de uma raça de
assassinos
que apenas sobrevivem após matar irmãos?
Serão tais crimes só morticínios sãos,
sem ser massacre deliberado de meninos?
Não é a matança dos pobres pequeninos
de Belém, qual Herodes ordenou em ocasiões,
nem dos meninos judeus execuções,
por Faraó ordenada contra os inquilinos
que em escravos se haviam transformado,
ordenando às parteiras das judias
que só meninas sobreviver deviam,
cada menino a ser por elas sufocado!...
Não me refiro a tais anomalias,
mas aos processos que todos nós um dia
criam.
A CANÇÃO DO ESPERMA II
Quando nascemos, sempre ocorre morticínio
de milhões de espermatozóides na corrida;
somente um leva aos outros de vencida,
metade morre durante seu longo declínio,
mas sobrevive apenas um no latrocínio
do óvulo a escolher quem ganha a vida,
os demais deixando à morte na sortida;
Qual o motivo que nos leva ao lenocínio,
que teria feito cada um de nós para ganhar
a oportunidade desse cone de atração?
Cada um de nós foi Caim nessa ocasiões,
tantos Abéis nesse dia a massacrar...
Na garantia de ocasional reprodução,
prodigaliza a natureza suas vastas difusões!...
A CANÇÃO DO ESPERMA III
De fato, eu sou injusto quando digo
que somos assassinos. Toda espécie
lança uma teia de sementes que padece,
fração minúscula escapando do perigo;
veja-se o pólen das plantas: um abrigo
em tuas narinas a encontrar, onde perece,
o teu espirro a solitária prece,
que para o ar espana o seu jazigo...
Que seja então dos peixes a semente,
que até julgavam representar pureza:
a fêmea espalha ovas em incerteza
e o macho solta a sua em tal jacente:
sopa de peixes no fundo de algum rio,
sem que os dois juntos usufruam de algum
cio.
A CANÇÃO DO ESPERMA IV
E quantos sobrevivem nesta teia?
a maioria simplesmente devorados,
antes que os pares sejam encontrados
e deste modo a Terra inteira se permeia
de um excesso semental tornado ceia
de bactérias e outros seres assexuados,
que por cissiparidade ou outros fados,
se reproduzem só em individual veia...
Mas a imagem não me cessa de assombrar:
quem o óvulo de tua mãe aconselhou,
para que do sêmen de teu pai a ti
escolhesse?
E desse modo, quem de fato assassinou
os teus irmãos, que tanta vida se perdesse
e a tua somente para a luz incentivou?
TOCAIA FEMININA I – 8 DEZ 2020
Não é que canse a vida conjugal
pelo poder que nos traz monotonia;
bem ao contrário, sempre pressentia
um perigo à espreita em seu canal
e por mais que retornasse até o fanal,
nunca sabia que escolhos acharia,
se açoreada a vaza encontraria
pelo desdém, a tristeza ou o carnaval.
Ter mil parceiras até pareceria
para meu corpo excitação queimar,
mas em quantas acharia o azedume?
Inconstante essa estranha parceria,
com que não pude até hoje acostumar,
mas que ainda me afogue em seu perfume!
TOCAIA FEMININA II
Esse tipo de medo foi descrito
continuamente pela literatura:
até menciona ter vagina dentadura,
para o pênis mastigar em dom aflito!
Que à impotência conduzisse já foi dito,
na inexperiência de quem lê a partitura,
tanta tara, tanto tipo de loucura,
terror atávico em derradeiro grito!
Ou ao contrário, a edípica atração:
tomar a mãe após matar o pai!...
Ou ao contrário, o temor do pênis vai,
que cause dor pela defloração
e em consequência provocar a frigidez,
que tão oposta ao reproduzir se fez!...
TOCAIA FEMININA III
Não admira, porque a própria religião
firme associou o sexo ao pecado,
nossa mãe Eva assim tendo desvirtuado:
por que a serpente surge na ocasião?
Decerto Lilith já mantivera relação
com esse Adão do pó encapsulado...
Qual o motivo nessa cobra foi achado,
senão o temor do pênis na ocasião?
Mas se esses monges lá do Medioevo
não tivessem tanto medo de mulher,
sequer teriam mutilado os Mandamentos!
E ao paganismo anterior portanto devo
render um preito, sem condenar sequer,
tendo ante o sexo tão diversos julgamentos!
CAUSA MORTIS I – 9 DEZ
20
Não é a monotonia e
nem rotina
que matam casamento,
lentamente;
são as contradições, a
amarga sina
de quem estava até com
ele bem contente;
são as picuinhas que
surgem diariamente,
essa necessidade
onipresente
da contrariedade e da
ironia fina,
que ela, sim, mastiga
o mais paciente!
Esse prazer de puxar
nosso tapete
quando menos
esperamos, sem motivo,
apenas em função de se
afirmar.
Esse joguinho de
poder, vedete
da arma do sexo e o
furtivo
prazer constante de ao
outro dominar!
CAUSA MORTIS II
Por mais afirme não
ser isso verdade,
toda mulher sabe o
sexo empregar
qual uma arma para o
próprio validar
de domínio, até mesmo
sem maldade;
coisa bem natural já
que a necessidade
bem mais no homem se
vem manifestar:
se alguém possui o que
outrem quer ganhar,
seu preço é posto com a
maior facilidade!...
E se houver algum
motivo, realmente,
que não seja tão
somente por negaça
e o homem não o
entenda, simplesmente,
mesmo quem nunca como
arma o utilizou
se fez consciente
desse valor de praça
e a partir de então
sempre o cobrou...
CAUSA MORTIS III
Mas cedo ou tarde
algures se achará
o que não se obtém no
próprio lar;
não falta quem a arma
vá empregar
noutro sentido e assim
conquistará;
e se souber, a
gentileza empregará,
mais importante mesmo
que o sexuar;
se alguém assim gentil
se demonstrar,
bem mais depressa o casamento acabará.
Não que eu restrinja
isto só ao marido,
que seja ele
sarcástico e dominador,
nem é preciso que
empregue violência.
Pois nesse caso é a
mulher que terá sido
inclinada a buscar
alheio amor,
que espera a trate com
maior decência!
VANÁDIO I – 10 DEZ 20
Já que me intrigam certos elementos,
será o Vanádio o próximo da lista;
por que me interessou nem tenho pista,
somente o nome encontrei em meus assentos
de títulos para definir os apontamentos
que alcançariam de sonetos a conquista;
mais outro sólido então aqui se avista,
mais outro ao chumbo mostrando ligamentos.
Manuel del Rey no México o descobriu,
no princípio do século dezenove;
este espanhol era um mineralogista;
ligá-lo ao aço então ele sugeriu,
em sugestão que bem rápido se aprove,
que a corrosão do ferro tem em vista.
VANÁDIO II
Do aço aumenta toda a tonicidade
e assim sua mecânica resistência;
combate o açúcar com máxima veemência,
da diabetes diminuindo a veleidade.
E no organismo ataca a tenacidade
do colesterol, que enfrenta com potência,
impedindo que a gordura em sua valência
veias e artérias a obstruir de opacidade.
É elemento essencial para microrganismos
que realizam a Fixação do Azoto,
processo que vai em amoníaco transformar
o nitrogênio do ar para os metabolismos
das plantas, sustentando cada broto
na fotossíntese que possa realizar...
VANÁDIO III
Mas hoje em dia tem mais função estética,
pois oxidações orgânicas modera
em nosso corpo e em parte nos libera
do envelhecimento precoce em pura ética.
Não é uma droga milagrosa nem profética,
mas o anabolismo por igual prospera, (*)
as debilidades igualmente recupera
e de infecções combate a dura séptica!...
para nós esse Vanádio é essencial
e na água doce estando dissolvido
é oligoelemento de fácil obtenção,
do nosso corpo constituinte natural,
por tanto tempo assim desconhecido,
apesar de tão benévola função!...
(*) Absorção dos Alimentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário