SÃO BARTOLOMEU (24
AGO 79)
Nascido de mulher,
igual como tu és,
Eu tenho teus suores,
teus medos, teus receios,
Sou vesgo, como tu:
zumbaias, devaneios
Compõem-me a liturgia
das mais perdidas fés.
Nascido eu sou do
esperma, nascida és tu também
E nosso ovulejar
repete, em nossa vida,
Falópico trajeto, na
trompa adolescida,
Ao útero saltar de
nosso amor que vem
Tingir-se de
placenta, em plena madurez,
Nutrir-se em alheio
sangue de alheia fluidez,
Nos meses que
compõem, em seu nutrir de feto,
O mesmo sonho humano,
fervido no embrião,
Que a nós nos
refecunda, em tangencial afeto
E à morte nos
expulsa, no fim da gestação.
SÃO BARTOLOMEU
II (2 JUN 10)
Nascido para a morte,
tão logo vejo a luz,
meu corpo em expansão
de pura distropia,
rancor desse universo
amante da entropia,
em mim se manifesta no
fado a que conduz.
Um saquitel de sonho,
invólucro de mus-
go, em pele
transformado, quimera de elegia,
na fluidez sublime
desgasto essa energia
que em mim se
concentrou enquanto amor reluz.
Porém, para nascer,
matei os meus irmãos:
somente eu penetrei no
óvulo materno,
que todos temos culpa
desse primeiro incesto.
Milhões que pereceram,
sem terem corações,
para que eu visse hoje
o dealbar do inverno,
igual que tu culpado
de um fratricida gesto.
SÃO BARTOLOMEU III
Não é de admirar que
tais competidores,
que soubemos alcançar
a luz deste fanal,
assim permaneçamos
gulosos, vencedores,
após romper
membranas, sem lamentar o mal
causado à nossa mãe,
rompendo-lhe o canal:
que egoístas somos
todos, nascemos entre dores,
de sangue recobertos
ao mundo natural,
na esperança de
à luz alçar-nos quais condores.
Por isso, ainda
lutamos, quebramos os espaços,
sem grande
desperdício de humana simpatia...
E o
mesmo repetimos, a cada geração,
abraçados assim
todos, na busca dos regaços,
em novo desafio às
leis dessa entropia,
enquanto nos perdure
o bater do coração.
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