OS NOVE POETAS ARCAICOS I – 15 AGO 2020
MUITAS VOZES ME ALCANÇAM DO PASSADO
APÓS DIONYSO ABRIR O MEU CANAL
PROCURAM TRANSMITIR-ME SEU FANAL
DE QUANTO FOI POR ELES TRABALHADO
A MAIOR PARTE DO LABOR SENDO OLVIDADO
OU MIL VERSOS NEM COMPOSTOS NO FINAL
DIFÍCEIS DE ESCREVER NESSE RITUAL
DE GRAVAR EM ARGILA O VERSO ALADO
OU EM PAPIRO EGÍPCIO IMPORTADO
NA MAIORIA GUARDADOS NA MEMÓRIA
SEM MARGENS PARA GRANDE PRODUÇÃO
QUANTO VERSO ASSIM PERDIDO NO PASSADO
QUANTA ARGILA ESMAGADA COMO ESCÓRIA
SEM OS PÓSTEROS A LHES DAR VENERAÇÃO
OS NOVE POETAS ARCAICOS II
SELECIONADOS FORAM PELOS ALEXANDRINOS
NOVE POETAS DE VASTA QUALIDADE
DENTRO DOS TERMOS DA ANTIGA HELENIDADE
ALCEU E A SAFO DE PENDORES FEMININOS
DO SÉCULO SÉTIMO SEUS VERSOS PEREGRINOS
E ANACREONTE DE LÍRICA ANSIEDADE
TODOS OS TRÊS A EXPOR SUA VARIEDADE
MONOCORDICAMENTE ANTE AUDITORES FINOS (*)
ALKMENO, ESTESÍCORO, ÍBIKOS, SIMÔNIDES
QUE SÓ COMPUNHAM PARA CANTO DE CORAIS
E FINALMENTE PÍNDARO E BAQUÍLIDES
JÁ NO SÉCULO QUINTO, AMBOS RIVAIS
CUJOS TRABALHOS MENOS RARO INCIDES
MESMO TANTOS DESGARRADOS DOS TOTAIS
(*) Cantados por uma única voz acompanhada por lira.
OS NOVE POETAS ARCAICOS
III
SÓ DE PÍNDARO E BAQUÍLIDES
MAIS NOS RESTAM
RECUPERADOS EM SEUS TEXTOS
COMPLETOS
HOJE DE PÍNDARO OS VERSOS
MAIS DILETOS
POUCOS DE BAQUÍLIDES A
MEMÓRIA ATESTAM
NA MAIORIA ODES TRIUNFAIS
ENCESTAM
SOBRE LUTAS, PENTATLOS,
OUTROS DESPORTOS
MAS DE CRESO DA LYDIA
TROUXE APORTOS
E DE HÉRCULES NO HADES
AINDA PROTESTAM
OS ESPÍRITOS APÓS DESCER
ATÉ O INFERNO
OU DE ULYSSES EM TRÓIA NA
EMBAIXADA
SEUS “EPINÍCIOS” DE
CARÁTER BEM MAIS TERNO
DITIRAMBOS E PEÃS (CANTOS
DE GUERRA)
TEMAS ERÓTICOS, TANTA
COISA SUSSURRADA
A PERCORRER DOS MILÊNIOS
LONGA SERRA
OS NOVE POETAS ARCAICOS IV
EMBORA EU MESMO NÃO ME
IMPORTE COM ESPORTES
E MUITO MENOS COM CORRIDAS
EM GERAL
NO ANTIGO TEMPO EM QUE NÃO
HAVIA JORNAL
AS OLIMPIADAS ERAM O AUGE
DOS APORTES
NOS INTERVALOS DE OUTROS
JOGOS AS COORTES
OS JOGOS ÍSTMICOS
CONCORRIDOS, NO TOTAL
COM MUITOS OUTROS, NESSA
BUSCA TRIUNFAL
GUERRAS ASSIM AFASTANDO
COM SUAS MORTES
POR ISSO OS EPINÍCIOS DO
POETA
NA MAIORIA CELEBRAVAM TAIS
VITÓRIAS
TÃO EFÊMERAS QUE NINGUÉM
MAIS RECORDARIA
SE NÃO FOSSE DE BAQUÍLIDES
A INCOMPLETA
SÉRIE DE ODES DECANTANDO
AS GLÓRIAS
DESSES ATLETAS QUE O PÓ
CONSUMIRIA
cantos do horizonte 1
– 16 ago 2020
as minhas mãos se
apertam e o calor
sinto das palmas na
região dorsal;
que me estreite a mim
mesmo não faz mal,
mesmo havendo
proibição de tal vigor!
que cotovelos se
encostem como andor,
pulsos fechados de
forma inatural
que há pandemia que
dizem triunfal
nos quatro cantos do
horizonte seu pavor!
porém se aperto a
minha mão direita
com minha esquerda,
dificilmente passo
qualquer vírus daninho
em brando abraço,
mesmo assim recordando
a cada feita,
chegando em casa, na
minha Rua Sete
de Setembro, a me
lavar com sabonete!...
cantos do horizonte 2
ainda hoje conservo a
desconfiança
de que essa história
está muito mal contada
e que muita
providência foi errada
como se a imprensa se
achasse em aliança
com quem nos produziu em abastança
essa rede de mortes
encadeada
nos quatro cantos do
horizonte desgarrada;
razão não vejo para
desesperança,
mesmo que nunca vi
pelo horizonte
qualquer região que
fosse mais quadrada,
circular vendo
qualquer canto à minha volta,
ainda que de cada
ponto me desponte
alguma ideia a ser
versificada,
minha pandemia de
versos pondo à solta!
cantos do horizonte 3
soube de um homem que
da sogra não gostava
e que quando construiu
a sua casinha,
toda redonda a deixou,
bem bonitinha:
nenhum cantinho para a
sogra ali deixava!
porém dos cantos do
horizonte me chegava
um canto alegre em
borbulhar de cachoeirinha,
num coral que
internamente me sustinha
contra o desânimo que
um dia assoberbava...
que o horizonte, mesmo
arredondado,
tem cantos prontos
para guardar amor,
tem ganchos prontos
para pendurar carinho
e quando penso que
esteja hoje assombrado,
não são os vírus que
me dão pavor,
mas a esperança
encalhada num cantinho!
HORMÔNIOS SANTOS I – 17 AGO 2020
Amor, fantasmagórica incerteza,
vasto produto químico, afinal,
que alguns trazem abundante no bornal
e outros possuem de escassa natureza!
Mas são apenas feromônios, pão e sal,
que os deuses distribuíram com leveza,
como a zombar de alguns em sua vileza,
quanto a outros premiar em festival...
Por isso esses e essas procurados,
enquanto são outros e outras desprezados:
no fundo, tudo é efeito de seu cheiro...
Como alcatéias, vivemos todos pelo faro,
por mais que ter consciência seja raro
de tais odores que o vento traz ligeiro!...
HORMÔNIOS SANTOS II
Porém não são somente os feromônios,
que amor é sempre busca de endorfina,
a ser seguida pela serotonina,
todo o orgasmo provocado nos axônios.
Por cintilantes que sejam seus agônicos
espasmos a aureolar a nossa sina,
o amor sentido por qualquer menina
não se reduz a toques telefônicos...
Estes apenas vão abrir algum caminho,
mas no momento de se aspirar perfume
é que se cai na armadilha do carinho
e no instante de prazer, leve ou violento,
nessa explosão que nos conduz ao cume,
cada hormônio vem impor o seu assento.
HORMÔNIOS SANTOS III
Esse prazer que sentimos no sensual
também se encontra no êxtase religioso
e é idêntico ao do exercício fervoroso,
cada espasmo a brotar de fonte igual.
Triste de quem não se entrega ao divinal
e tampouco sente o amor mais caloroso;
ambos transmitem o prazer mais vigoroso,
ambos causados por idêntico fanal.
Quem não os goza procura se drogar,
ou sensações a recolher no tabagismo,
serotonina a usufruir da embriaguez...
Pequenos deuses que ali possa adorar,
nestes altares de breve cataclismo,
em que depressa o prazer já se desfez!
HORMÔNIOS SANTOS IV
Mesmo o prazer que eu hoje mais sinto
do mais puro realizar intelectual,
com endorfinas tem gozo consensual,
a cada vez que novo poema eu pinto.
Quando compunha a meu piano, tinto
da inspiração obtida em seu teclal,
sentia idêntico prazer espiritual
da confiança no divino e em nada minto.
Tenho conjura com o Espírito Santo,
por meio dele me inspiram os poetas,
bem anteriores até que o Cristianismo,
porque esse amor que diariamente canto
é uma das bênçãos divinas mais diletas,
qual já o entendiam desde o Paganismo...
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