O SACRIFÍCIO ANUAL
WILLIAM LAGOS, 31/12/2020
O SACRIFÍCIO ANUAL I – 31 DEZ 2020
A CADA ANO SE FAZ UM SACRIFÍCIO:
MATAM UM ANO PARA OUTRO SE INSTALAR
E O DIA DE HOJE DEVERÃO DECAPITAR,
SEGUNDO DIZEM, PARA NOSSO BENEFÍCIO!
OU QUEM SABE, SIMPLESMENTE COMO UM
VÍCIO,
POIS SE CONHECE QUE TAL EXECUTAR
JÁ SE ENCONTRA NUM ATRASO SECULAR,
ÀS ESTAÇÕES CAUSANDO MALEFÍCIO!...
MAS COMO O TEMPO QUER TUDO CORTAR
E ATÉ DO DEUS AMOR CORTOU ASINHAS,
AION OU ÉON OS CICLOS A REGER,
SERÁ PRECISO O HOLOCAUSTO REALIZAR,
OUTRO BEBÊ A SACUDIR AS SUAS
PERNINHAS,
AMOR E AFETO PARA SI A REQUERER!
O SACRIFÍCIO ANUAL II
ENTÃO HOJE UM NOVO ANO SE COMPLETA,
MESMO QUE SEJA TÃO SÓ TEORICAMENTE,
O CALENDÁRIO DEFASADO REALMENTE,
ALGUNS DIAS PARA A FRENTE SE
PROJETA...
OU AO CONTRÁRIO É INVERTIDA A SETA?
APENAS SEI QUE A DATA É DIFERENTE;
QUE NADA ACABA E NEM COMEÇA É
INDIFERENTE
PORQUE NA PRÁTICA EM NADA ISSO ME
AFETA!
O QUE IMPORTA É QUE A CRONOLOGIA
VEM DO NOME DO DEUS DESTRUIDOR
QUE DEVORA SEUS FILHOS SEM AMOR,
QUE A SEU PRÓPRIO PAI CASTROU UM DIA,
ATÉ QUE ZEUS O VENCESSE COM VIGOR
E ETERNO EM CONSEQUÊNCIA FICARIA!
O SACRIFÍCIO ANUAL III
SEGUNDO O RITUAL ÓRFICO, CHRONOS
SERIA
UM DIA GERADO PELA ÁGUA E PELA TERRA
E PAI DO ÉTER E DO CAOS SE CONSIDERA;
MAS TAMBÉM OVO GIGANTE ELE PORIA,
DE QUE UM DEUS HERMAFRODITA NASCERIA,
O IGNOTO PHANES QUE UM INSTANTE
ABERRA
E COMO PAI E MÃE AOS VELHOS DEUSES
GERA;
MAS LOGO TAL CONCEPÇÃO SE PERDERIA.
UM OUTRO MITO SOBRE ESTE DOMINOU,
QUE ERA FILHO DE URANO, O DEUS DO CÉU
E DE GAIA OU GEIA, A DEUSA-TERRA
E EM UM DOS SEIS TITÃS SE TRANSFORMOU
E COM O EMPREGO DE UMA FOICE E DE UM
ARPÉU
CONTRA SEU PAI URANO INICIOU GUERRA.
O SACRIFÍCIO ANUAL IV
DIZEM QUE GAIA-TERRA LHE PEDIU
PARA LIVRÁ-LA DO PAI QUE O ESCONDERA
NO TÁRTARO PROFUNDO E ALI O PRENDERA
COM DEZENAS DE IRMÃOS; E POR UM FIO
O RETIROU DO VASTO ABISMO; CHRONOS
VIU
SEU PAI ADORMECIDO E O CASTRARA,
OS TESTÍCULOS LANÇANDO AO MAR DE
MÁRMARA,
E ENTÃO O TRONO DO UNIVERSO ELE
ASSUMIU.
PORÉM ODIAVA SEUS FILHOS IGUALMENTE
E PARA MAIOR PRECAUÇÃO OS ENGOLIA,
ATÉ QUE REIA, SUA ESPOSA, LHE SERVIA
UMA PEDRA NO LUGAR DE ZEUS NASCENTE,
QUE FINALMENTE A CHRONOS DOMINOU
E A ERUCTAR SEUS IRMÃOS O OBRIGOU!...
O SACRIFÍCIO ANUAL V
SERIA REIA A GRANDE-MÃE CRETENSE;
A SATURNO CHRONOS FOI IDENTIFICADO
ATÉ QUE JÚPITER O TIVESSE DOMINADO,
COMPLICADA CRONOLOGIA ENTÃO SE PENSE,
MAS JÚLIO CÉSAR A RESISTÊNCIA VENCE,
LONGO PERÍODO ORDENOU FOSSE PODADO
DO CALENDÁRIO, DEIXANDO-O ACERTADO,
CONFORME AS ESTAÇÕES QUE ENTÃO SE
CENSE.
AO CALENDÁRIO CHAMADO DE JULIANO
SÉCULOS DEPOIS SUBSTITUIU O
GREGORIANO:
O PAPA ORDENOU PODA BEM MENOR;
MAS CHRONOS SE VINGOU E HOJE O ANO
ADAPTAÇÃO NECESSITA BEM MELHOR,
PARA DA ONU SE EXIGIR ESFORÇO INSANO!
O SACRIFÍCIO ANUAL VI
E SE CHRONOS CORTA ASAS AO AMOR,
POR DURA MORTE OU POR SEPARAÇÃO,
DE ALGUM MODO AMOR FAZ REVERSÃO
CONTRA O MAGO-TEMPO, SEU DESTRUIDOR,
POIS HÁ REPRODUÇÃO NESSE CALOR
E QUANDO MORRE INTEIRA GERAÇÃO
OUTRAS NASCEM E ENTRE NÓS ESTÃO,
PARA CHRONOS ENFRENTAR COM MAIS
VIGOR.
E A CADA GERAÇÃO VIVEMOS MAIS,
CRONOLOGIAS NÃO DELIMITAM OS TOTAIS
E ASSIM SE HOJE SURGE UM NOVO ANO,
CELEBRO APENAS O SACRIFÍCIO ARCANO,
NÃO À MORTE FINAL DO ANO VELHO,
MAS AO ANO NOVO, QUE DA VIDA É
ESPELHO!
ISQUEMIA I (26/12/2009)
Escravo deste corpo,
sou a besta
de carga do capricho
feminino;
esgotado de injúrias,
sou a festa
de azorrague cruel e
dançarino,
que baila nas minhas
costas e que encesta
talho após talho,
grande ou pequenino;
seu galope provocando
meu destino:
já há larvas nos
cortes e o ar se empesta.
E não sei como
furtar-me à triste sina
que me deixou a dama
nesta hora,
que me esporeia em
fulgor de castração,
porque esse amor é
ave de rapina:
pendura-me em suas
garras e devora,
bicada após bicada, o
coração.
ISQUEMIA II
Não é em vão que
amo. Foi talvez
para mostrar o mesmo
amor ao mundo,
ajudar no que possa,
no profundo
desespero que dos
homens mancha a tez.
Não espero que me
ajudem. Meu inglês
basta bem para o
sustento. Bem no fundo,
até prefiro ajudar do
que, iracundo,
ter de sentir-me
grato por minha vez.
Cuido de mim somente para ter
o suficiente, no
evento ou na ocasião
de que de mim
precisem quantos amo.
E como fico grato, ao
perceber,
que quanto ganho
basta para a mão
abrir àqueles que de
amigos chamo.
ISQUEMIA III
Muito te amei um dia
e já me espanta,
agora que de novo me
procuras...
Que por ti eu já
sofri penas bem duras,
que em tantos versos
meu amor descanta.
A simpatia, é certo,
se levanta
entre nós dois, mas
são cores escuras
o que agora recordo
das mais puras
emoções em que o
outrora se agiganta.
Ainda me lembro das
noites de esperança
e hoje me espanto do
que em ti enxergava,
quando espremida a
memória se remurcha,
de que me sobre
apenas a lembrança
daqueles anos em que
tanto te mandava
pequenas jóias de surpresa
murcha!...
ISQUEMIA IV – 1º janeiro 2021
Amor pode ser belo ou asqueroso,
dependendo da forma em que se veja:
quando se tem o quanto mais se almeja,
quando se perde o dote mais formoso.
Às vezes, ao perder-se, em rigoroso
fiasco do destino que se enseja,
é quando belo ainda mais se alveja,
que é a perda desse amor que o faz airoso.
Mas tanta vez, se amor se tem nos braços,
desaparece, no instante do domínio,
da maravilha a vasta cordilheira...
E na memória furtiva de seus traços,
se encerra lentamente e sem fascínio,
aquela ânsia perdida por inteira...
ISQUEMIA V
É quando mais se passa pelo atroz
momento de certeza alvissareira,
fulgor da expressão mais condoreira,
que se percebe como amor é algoz.
Passado o ardor, de novo estamos sós;
passada a vez segunda e a terceira,
nada mais resta dessa ambição primeira
que a sensação de que não somos "nós",
mas somos dois, na fímbria dos abraços,
nessa tristeza pura e imaculada,
nesse inundar total do coração.
Já se sumiram do desejo os traços
e não se espera mais, se espera nada
dessa perfeita e carnal desilusão.
ISQUEMIA VI
Na realidade, é imperfeita perfeição,
enquanto se engalana o material,
na fruição de imenso amor carnal,
que se reveste de pequena imensidão.
Na realidade, só biológica emoção,
que se destina a perpetuar o cabedal
de nossos gens, não um dote espiritual
que se transmita para nova geração.
E nisso se resume o vasto orgasmo,
que se expande por momentos cintilantes,
todo o sistema nervoso a percutir,
por breve instante de perene pasmo,
o mundo inteiro suspenso por instantes,
a própria alma num espasmo a se fundir!
ISQUEMIA VII – 2 JAN
2021
Em tal espasmo se
prende todo o espaço
e se suspende até a
circulação,
o corpo inteiro
compromete na explosão,
toda contida no cerne
desse abraço
ou antes na recepção
de tal congraço,
ventre com ventre em
longa estremeção,
vida com vida contida
em contração,
na eterna vida de tal
momento escasso!
Todo o sangue a
percutir no seminal,
trompas abertas na
canção do amor
e bem no fundo, o
óvulo na espera,
no mais real momento
do irreal,
em dimensão de
surpresa e de vigor,
a nova vida a se
moldar da cera!...
ISQUEMIA VIII
Sangue vermelho em
seu fluir leitoso,
tornado branco por
força do carinho,
um vasto fluxo empós
seu escaninho,
que meio ser já
conserva, dadivoso!
E no momento de
enfoque poderoso,
em que o cone de
atração prepara o ninho,
é como um salmo a se
entoar baixinho,
a nos vibrar pelos
ossos, espantoso!
Qual o segredo que
preside tal escolha?
Como essa esfera
sabem quem precisa?
Como se espasma a
santa seleção?
Na capa líquida que o
integumento molha,
que arcana voz à
receptora avisa:
“Esta é a metade de
teu coração?...”
ISQUEMIA IX
Qual potestade esse
escolher preside?
Pois sem dúvida
rejeitam-se milhares;
não é penetração
feita aos azares,
que o novo corpo
escolhe com quem lide.
Qual a metade dessa
nova vide
que o vinho irá
verter em seus lagares,
a fermentar
misticamente nesses lares,
tem já o óvulo mente
e assim decide?
Ou algum tipo de
gnômon toma conta,
qualquer egrégora
ansiando por formar-se,
antepassados
presidindo tal catarse,
enquanto a raça
inteira estua e monta,
a presidir esse novel
destino,
o sangue inteiro a
salmodiar tal hino?
ISQUEMIA X
Qual potestade preside o
nascimento
de qualquer árvore na
prodigalização
desses milhões de
sementes, multidão
que ao solo desce em tal
falecimento?
Qual é o trono que dá
florescimento
a alguma flor que não
teve plantação,
que de um almácego não
teve a proteção,
mas que floresce em
majestoso alento?
Qual domínio permite que
uma estrela
surja do cosmos em
miríades de poeira,
nesse agregar de luz
alvissareira?
E qual portento faz
parecer mais bela
essa mulher que envolve a
gravidez
dessa semente de incrível
pequenez?
ISQUEMIA XI
Por isso falo aqui haver
uma isquemia,
não acidente de caráter
vascular
a ressecar um segmento
cerebral,
mas a criar nova jóia de
valia!...
Por isso falo da estranha
sinfonia
de algum coro de anjos a
entoar
e não apenas uma vez no
individual
da Encarnação que o
Espírito nutria!
Mas sempre que outra vida
assim se cria,
em nossa raça, dita ser a
semelhança
da própria Divindade que
a soprou,
nesse fôlego da vida, que
se alia
ao soldadinho que ao
óvulo se lança
e se dissolve quando
triunfou!...
ISQUEMIA XII
E novamente, quem a
escolha presidia
ao forjar de um amor
espiritual,
a transcender do corpo
material,
será a mulher somente que
escolhia?
Tal como o óvulo que para
um só se abria,
pode a mulher, em místico
fanal,
decidir quem dará semente
ideal,
não só do corpo, mas da
alma que se cria?
Todos os mais desprezando
na isquemia,
quer o capricho só pareça
transitório,
mas que de seu arbítrio é
independente,
e ainda indago que coisa
em mim se via
para aceitar-me um peito
complacente,
minha semente a recolher
como um cibório?
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