domingo, 14 de fevereiro de 2021


 

 

VOZES DE ZUMBIDOS I – 13 OUT 2020

 

De permeio aos clarins da pandemia,

transmitida por vírus invisíveis,

esqueceram dos mosquitos bem visíveis,

almas penadas a zunir em zombaria.

Zumbidos cantam em sua fantasia,

muito seguros de poderes impossíveis,

sempre avisando em tons inexauríveis

de sua presença nos mergulhos da agonia.

 

Sou assassino de centenas de vampiros,

que até parecem ter tendência suicida

ou um pacto espiritual de qualquer sorte,

pois me murmuram em enfáticos suspiros,

que a cada um de quem se tira a vida,

eles se vingam ao sugar a nossa morte!

 

VOZES DE ZUMBIDOS II

 

Até o princípio deste ano era anunciado,

com insistência, haver nova epidemia;

ou era a dengue que nos perseguia,

de fato endêmico seu ataque costumado.

Já mais recente foi bastante observado

que para nós furiosa a zyka chegaria

e a chikungunya  por igual nos mataria,

bom presente africano, para nós trazido

 

por imigrantes ilegais, bem corajosos,

escondidos no cavername de navios

ou até mesmo de aeroplanos nos porões,

mas ninguém mais fala nesses perigosos

micróbios com os quais apresentam desafio

os mosquitos a que dominam tais patrões!

 

VOZES DE ZUMBIDOS III

 

De vez em quando, eu penso e até suspeito

que a própria dengue para nós tenha chegado

em algum barco negreiro malfadado,

só desta vez com mais pleno direito!...

Nenhum escravo desejaria ser sujeito

desse transporte por que fora transportado

e caso algum já se encontrasse infectado,

seria então para a dengue um prato feito!

 

Ou já vieram nos navios também mosquitos,

que se cruzaram com os nativos do Brasil,

o sangue humano a nos chupar alegremente!

Mas vejo agora praticados outros ritos,

a pandemia sob o nosso céu de anil,

clandestina que adaptou-se plenamente!

 

SOLDADOS DE CHUMBO I – 14 OUT 2020

 

Menino, eu era militarista, inteiramente,

comandante de uns seiscentos soldadinhos,

a maioria de chumbo e esmaltadinhos,

outros de plástico e de origem diferente.

Acredito que os de chumbo, antigamente,

Eram fundidos em formas de chumbinhos,

ou Importados da Alemanha, esticadinhos

em passo firme de marcha, realmente...

 

E então montava os meus longos batalhões,

no corredor da casa em que morava,

atrapalhando a passagem de outra gente;

hoje não posso cometer tais más ações,

ou cada um de meus joelhos reclamava,

para o passado retornar sendo impotente...

 

SOLDADOS DE CHUMBO II

 

Minha avó e tias me ensinaram a recortar

outros calungas em folhas de papel;

das novas tropas tornei-me o coronel,

milhares mesmo chegando a acumular;

entre o colchão e as molas pude achar

um bom espaço para fundar quartel

e de jornal ainda cortava, a meu bel-

prazer, inimigos com quem luta travar!

 

Mas como ocorre, caso a gente não faleça,

eu fui crescendo e já não mais brinquei,

embora os exércitos guardasse com cuidado,

até que um filho a certa idade cresça,

meus soldadinhos de novo eu esmaltei

e lhe entreguei tal como fora combinado...

 

SOLDADOS DE CHUMBO III

 

Os de chumbo haviam sido de meu pai;

por longos anos apenas me emprestava,

só raramente, que em mim pouco confiava;

mas de presente minha tropa inteira vai;

para os de plástico diversa sorte cai:

dei ao outro filho, que também gostava

e os de papel entre ambos separava,

cada regimento em diverso quartel vai...

 

Hoje em dia, meus filhos já cresceram

e me parece que o mais velho neto

demonstra apenas um interesse digital;

já nem sei bem que fim eles tiveram,

talvez os guardem em qualquer lugar secreto.

Será que alma têm brinquedos, afinal...?

 

TRAIÇÕES URBANAS I – 15 OUT 20

 

Não é o marido, geralmente, que te trai,

salvo se o deixas muito insatisfeito;

e mesmo assim, raramente toma a peito

outra mulher e a tal conquista vai;

na realidade, é mais a Outra que o atrai,

em especial quando é íntegro o seu jeito,

seus afazeres a cuidar como é direito,

e então de súbito, numa armadilha cai!..

 

Se ela quer, sempre encontra uma ocasião

e por instinto, sabe como o seduzir,

especialmente após tudo sopesar

e perceber como acharia compreensão

naquele homem que não a busca conquistar,

mas que consegue com seus olhos atrair...

 

TRAIÇÕES URBANAS II

 

Algumas há que nem querem compromisso,

satisfação temporária, tão somente,

e quando encontram algum mais indiferente,

essa atração talvez aumente só por isso;

sempre uma forma de seu ego omisso

fortalecer nessa conquista ingente,

pois vale mais se obter homem decente,

que nem pensava tornar-se parte disso...

 

Já algumas vezes ouvi certos comentários

ou li em livros ou na Tevê os assisti,

“que os melhores já foram todos conquistados

e só nos restam os que são mais ordinários...”

e muitas pistas desde então já consegui

de que preferem realmente os já casados!

 

TRAIÇÕES URBANAS III

 

Naturalmente, hoje em dia é bem mais fácil

de um matrimônio o divórcio se obter

ou, pelo menos, tal liame desfazer,

quando nova ligação pareça ser mais grácil;

a qual, de novo,  já não é nada dificil

em união estável alguém se comprometer

e bem depressa tal devoção se interromper,

tal qual composta de matéria físsil...

 

Não que eu pretenda a qualquer absolver,

mas em geral prefere o homem seu conforto

e qualquer caso de amor é um peso morto,

que o forçará um largo esforço a empreender

e o peso da culpa nos ombros ainda ter,

mesmo que o laço estivesse antes bem torto!


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