A SENHORA DO
JARDIM I – 23 OUT 20
Maritza se
levantava com as flores,
antes da hora
de nelas pôr a água,
mas as regava
cedo com sua mágoa,
sonhando
mortos e perdidas dores;
quando se
erguia não pensava nos amores,
tão somente
da saudade a sentir frágua,
flexível
nessa pena, era uma ninfa dágua,
ninguém diria
ao olhar os seus flexores;
como se
alonga e gira em contorsões
que quem a
olha imitar não pode,
que em pé sinta
dores ou quando caminha,
quando seus
nervos sofrem contrações
e precisa do
analgésico que a acode
desse cilício
com que a vida lhe continha...
A SENHORA DO
JARDIM II
Hoje em dia,
ela mudou o seu costume,
a pouco e
pouco foi levantar mais tarde;
não sei se a
dor ainda mais lhe arde;
cedo ao
jardim sei bem que não mais rume;
muito eu
queria que tal problema esfume,
eu mesmo para
a dor não sou covarde,
sem igual
sofrimento que me enfarde,
bem mais de
leve a cortar-me forte gume;
mas continua
até hoje bem flexível,
até espanto a
causar na terapeuta,
que a
massageia na medida do possível,
ao
examiná-la, seu aspecto acha incrível,
quando em sua
mesa finalmente deita
e até a chama
de modelo nessa feita!...
A SENHORA DO
JARDIM III
Ela se
espanta ao ouvir tal elogio,
que tem a
idade já bem avançada,
de ouvir de
mim estando acostumada,
mas deitada
nessa mesa sente frio;
mas já
sentindo do calor um certo fio,
para ter seu
jardim diária aguada
outra pessoa
foi por ela contratada,
que planta e
poda com seguro brio.
Eu continuo a
contemplá-la com carinho,
até mesmo a
lhe mostrar admiração
e confesso
sentir até certo azedume;
a terapeuta incomoda-me
um pouquinho!
Quem tem
direito a elogiá-la, penso então,
sou eu
apenas, a mastigar o meu ciúme!
TRÊS AMORES – 24
OUT 20
NAMORO DE CRIANÇA
Quando menino,
queriam que eu casasse
com uma menina
chamada Maria Cecília,
de amigos de meus
pais bonita filha,
mas embora
brincar com ela me agradasse,
queria apenas que
comigo ela brincasse,
sem de outra
intenção seguir a trilha,
em aniversários
sempre boa partilha
e com frequência
eu a ela visitasse
e ela a mim, era idéia
só de adultos;
nem sei se é
viva, nem sei aonde mora,
mas até cantar fui
no seu casamento;
a vida é assim,
desfazem-se os vultos,
o mundo dá suas
giras sem demora,
inútil sendo
nosso empreendimento.
MINHA AXÔNIA
Ao namorar uma
Sônia, eu a chamava
de “minha
Axônia”, sem sequer saber
se entendia o que
eu queria dizer
ou se esse nome
carinhoso lhe agradava,
é claro que a
intenção eu lhe explicava,
mas no geral um
apelido não se quer,
ela sorria, mas
sem gostar sequer,
para não desagradar, não reclamava;
mas finalmente eu
vi chegar o dia
em que, firme, me
pediu para parar
com o apelido há
tanto tempo a incomodar;
há muito tempo não
lembrava essa guria,
mas ainda lembro
quando me sorria,
mesmo quando por Axônia
a ia chamar...
A PINTORA
Nunca esqueci da
loura americana
com quem vivi e
por quem me apaixonei;
lembro dezenas de
vezes que a abracei,
separação a
causar-me dor insana,
que a
circunstância foi bastante desumana
e meu retorno
brevemente lhe jurei,
não obstante, eu
nunca mais voltei,
talvez sem ter
para tal bastante gana;
anos passaram e
já não faço ideia,
lembro que era
uma ótima pintora,
será que
conseguiu fazer carreira?
Eu prossegui em
pobreza de odisseia,
sem ser possível
recobrar o meu outrora
e infelizmente,
ela não foi a derradeira...
HÁPAX LEGÓMENON I – 25 out 29
(Dito uma só vez)
Ainda lembro da enorme sensação
que Michelle Morgan um dia causou,
quando os seios nadando nos mostrou
em película de universal exibição.
Mas durou pouco, logo houve imitação,
muita outra atriz seu peito desvendou,
Brigitte Bardot a seguir se desnudou
(o nu frontal nos foi cortado na ocasião!)
Burt Lancaster vaia ouviu peremptória
ao sair de uma lagoa e o nu dorsal
exibir completamente masculino....
Mas hoje em filmes já é quase obrigatória
a exibição constante de tal nudez frontal,
seja de homem, seja de corpo feminino...
HÁPAX LEGÓMENON II -- 22 jun 2009
Agora é moda salientar os seios,
como nos filmes, nesse antigamente
que o século dezenove faz presente:
os ombros nus, vestidos só de anseios...
E como é bela a visão desses alheios
apêndices mamários tão frequente...
Mesmo sabendo que a visão fremente
não nos pertence, que jamais essas ameias
da fortaleza da blusa ou do vestido
se tornarão disponíveis para nós...
Mas ainda assim, essa visão é bela.
Ai, sedução revelada no tecido,
num cristalino convite, os seios sós,
que me espiam como jovens na janela!
HÁPAX LEGÓMENON III – 25 out 2020
Em pouco tempo surgiu o monoquíni,
os belos seios nas praias a se expor,
sem perceber que do Sol forte calor
câncer causava já desde o biquíni...
Mas é preciso que o olhar nos mime,
pelo orgulho ou vaidade em seu vigor,
sem intenção de conceder o seu amor
e muito menos que a dormir nos nine...
do monoquíni era apenas mais um passo,
para o seu corpo inteiro se mostrar,
a fim de parelhamente se bronzear,
a censura a estender só curto braço,
determinando praias só para nudismo,
em que se possa atender a tal modismo...
HÁPAX LEGÓMENON IV – 25 out 2020
Fui até tolo, onze anos já lá vão,
ao mencionar essa leve intimidade...
Total entre casais já nem é novidade,
mas o que é que eles fazem e nós não?
De pornografia se mudou definição,
nem é mais crime mostrar sexualidade,
aborrecida a censura, na verdade,
um novo crime impõe-nos desde então.
E chega assim a chamar de pedofilia
qualquer amor por alguma adolescente,
enquanto em seu book
ela fácil se exibia
não somente desnuda totalmente,
mas que de coxas abertas mostraria
a vagina exposta para toda a gente!...
EOLUROFILIA I – 26 OUT 2020
(Amor pelos gatos)
Três gatos tinha e em nada me inspiravam,
apenas miavam e urinavam ternamente,
tomando a casa inteira por “patente”
e se reclamava, com indignação miravam.
Algumas vezes penso até que conspiravam,
mas de outras competiam vivamente;
um quer carinho, o outro arranha a gente,
quando os chamava, as costas me viravam.
Desse modo, é impossível ter por musa
qualquer felina, por mais que pelos brilhem
e que seus olhos cintilem obliquamente,
todas tendo a mesma máscara como escusa,
face peluda que seus bigodes trilhem,
contemplando fantasmas calmamente...
EOLUROFILIA II
Sempre serviam para espantar os ratos,
se bem preferissem caçar os passarinhos
e comer a suas rações até sozinhos:
não eram nada altruístas esse gatos!...
Com frequência me causavam desacatos,
quando insistiam em exigir carinhos
ou se intrometiam pelos meus caminhos:
não viveriam se morassem lá nos matos!
Quanto a fantasmas, é coisa muito certa
que eles enxergam coisas pelos cantos
e algumas vezes seus pêlos arrepiam,
enquanto vemos que a peça está deserta.
Será que nos protegem com encantos,
Igual minhas tias, em criança, me diziam?
EOLUROFILIA III
Hoje em dia, já morreram todos três,
de quando em vez, até tenho precisão,
indo à cozinha, percebi hoje invasão
de um ratinho, pretendendo ser freguês!
O cachorro estava ausente desta vez,
se cá estivesse, não lhe daria permissão,
mas o seu banho tomava na ocasião.
Armo a ratoeira, outras mortes já me fez.
Eu só espero que o pessoal da ecologia
não nos queira proibir matar os ratos,
pois já garantiram proteção aos jacarés
e até a tubarões, quem nos diria?
Até mesmo de escorpiões ouvi boatos!
Um dia dos ratos ajoelhamos ante os pés!
Nenhum comentário:
Postar um comentário