TAROT ERÓTICO I – 8 OUT 2020
Encontrei em algum ponto da Internet
esta foto que já tem mais de cem anos;
alguém havia transtornado esses arcanos
nas imagens em que o erótico intromete;
chega a dar lástima o quanto ali projete
o seu desejo de avistar além dos panos,
atrevimentos que parecem quase insanos
ante a nudez que hoje aos olhos se arremete.
Nesse baralho, quase todas bem vestidas,
se comparadas com as visões de nossas
praias,
sem mencionar pornografias produzidas,
trajos cobrindo as coxas e até os braços,
trajos de banho que causariam vaias,
não mais que sugerindo ocultos traços...
TAROT ERÓTICO II
Provavelmente há muito morta essa mulher
ou pelo menos, em veraz senectude,
como um desejo despertar alguém se ilude?
É só um reflexo, sem nos revelar sequer
um nu dorsal que pudesse nos trazer
certo receio, certo medo a que se alude,
do preconceito que sua nudez escude,
só ousada a foto para quem isso quiser
perceber como sensual. Como escultura
ou quadro a óleo de beleza pura,
não mais nos mostra o quanto é transitória
a carne humana e como é lastimável
que então criasse volúpia admirável
na gente ingênua que se perdeu na história.
TAROT ERÓTICO III
Naturalmente, não me causa excitação,
embora seja, mui certamente, estética;
lástima causa e simpatia quase cética
esse corpo que só foi belo na ocasião.
Não saberia de fato a razão da exposição;
escasso pagamento academia pouco ética
troca por carne dessa jovem magnética
de que ninguém buscaria hoje a exibição.
Talvez exista orgulho ou então vaidade,
ao se julgar tão feminina e atraente;
talvez certeza de sua transitoriedade,
possivelmente lucro imediato vê,
sem precisar prostituir-se realmente...
E a quem respeito, por menos que se crê.
PASSOS DE AZUL I – 9 OUT 2020
Os dedos de azul me cortam as cores,
as mãos lavei sobre a água desse anil,
a adaga de gelo ergueu-se do barril,
talhou minhas pupilas em geladas dores;
a dama de azul cortou os meus ardores,
em ciano sua sombra num toque sutil,
a mágoa da cor, em clamor feminil,
talhou minhas pupilas em castos amores.
É o azul que me corta ou os dentes da dama,
azul seu vestido, seus olhos, sua lua,
marinho o triângulo sugerido que vês,
sua faca de luz despetala e me escama,
apenas a vejo transpondo essa rua,
tão breve esse azul tanto encanto me fez...
PASSOS DE AZUL II
É certamente no mais puro esteticismo
que então me surpreendo a fitar sua
passagem,
sem intenção qualquer de percorrer paisagem
e sem um laivo sequer do menor saudosismo;
também certamente no maior romantismo
que a vejo passar como simples miragem,
e se nunca me abeiro do azul dessa imagem,
fascínio me prende em suas cores de abismo.
Na verdade a contemplo tal qual uma flor
que jamais pretendia destacar de seu pé,
permanece mais bela a florir no jardim,
que tão brando admiro em seu puro frescor
e ao redor do canteiro passear posso até,
e apenas desejo ver que ali floresça assim.
PASSOS DE AZUL III
Descrevo aqui tão só meus pendores,
esse estímulo romântico da mente,
sem intenção de amor subjacente,
descrevo estética, sem falar de amores.
Ao ver que move seus gráceis esplendores
é para mim a mãe da raça onipresente;
por todas sinto amor puro e abrangente
e a todas elas atribuo meus valores.
E se um dia essa dama de passos azulados
marcou sem saber sua sombra no momento,
para minha inspiração deu mais alento,
qual fosse uma desses seres encantados
que em mim ondulam no ciano do espavento
e se refletem em meus versos exaltados!...
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