quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021


 

 

SOMBRAS BRANCAS I – 30 OUT 20

 

A sombra branca da espiral do som

Desfaz-se lentamente ante meus olhos,

Uma colcha de retalhos em abrolhos

Desvairados no arco-íris desse tom.

 

A sombra branca se desfaz e com

Total descaso assombra meus antolhos,

Lágrimas correm como santos óleos,

Sem que confiram unção de ânimo bom.

 

O som me acolhe diuturnamente,

Sempre que posso vou música escutar,

Minha audição ainda extremamente fina;

E de reuniões prefiro estar ausente,

Que as vozes altas me vêm perturbar

Ou essa batida mais forte me assassina.

 
SOMBRAS BRANCAS II
 
A sombra me acalenta docemente,
Num manto de cadência individual,
Uma corrente de som em manancial
E a sombra vejo ali invisivelmente.
 
Se fosse a sombra negra tão frequente,
Que me acompanha em passo sequencial,
Não me daria um envolvimento natural,
Seria mais outro calçado indiferente,
 
Que me brotasse dos pés e se alijasse;
Talvez se em muro ou parede se tocasse,
De um dedo brotaria ou de minha mão;
E uma sombra cinzenta se afastasse,
Tocada pelo vento em suspensão,
Sem conseguir proteger-me o coração.
 
SOMBRAS BRANCAS III
 
Mas esta sombra é branca e é espiral,
A meu redor se enrosca como escudo,
Na sensação da voz de cantor mudo,
Som de orquestra sem instrumento musical.
 
Mas é sombra de meu ser individual,
Ou pelo menos nisso assim me iludo,
Que o espaço a meu redor está desnudo,
Só eu percebo na sombra algo marcial.
 
Porém consigo percebê-la e ainda acredito
Que também tu tragas uma a teu redor,
Que te envolve e te murmura proteção,
A acariciar-te em teu momento aflito,
Do mal cortando o pior de seu rigor,
Qual um suspiro a penetrar no teu pulmão.
 
REITERAÇÃO ABORRECIDA I – 31 OUT 2020
 
JÁ POR DEMAIS PROTESTEI DA PANDEMIA,
QUE HOJE COMBATEM AINDA EM IMPOTÊNCIA,
COMENTARISTAS A MASTIGAR CIÊNCIA,
QUANDO DE FATO DELA NADA SE ENTENDIA;
RARA A PESSOA QUE AO AR LIVRE PEGARIA
ESSE VÍRUS, QUE LOGO CAI EM INDOLÊNCIA,
COM OITENTA E CINCO POR CENTO DE FREQUÊNCIA
DENTRO DE CASA É QUE SE CONTRAIRIA.
 
MAS COMO EM CASA PODEREMOS CONVENCER
A USAR MÁSCARAS COMO EM CIRURGIA;
MÉDICOS PÕEM-NAS ANTES DAS OPERAÇÕES
E QUANDO VÃO NOS CORREDORES SE MOVER,
MOSTRAM OS ROSTOS A TODA A COMPANHIA,
MASCARANDO SOMENTE OS CORAÇÕES!
 
REITERAÇÃO ABORRECIDA II
 
PORÉM DEPOIS DE SER FEITA A ASSEPSIA,
OS BRAÇOS LEVAM ERGUIDOS PARA O AR,
ATÉ OS COTOVELOS INDO SE ENLUVAR:
SÓ ÁLCOOL-GEL DE NADA ADIANTARIA,
QUE É SUCEDÂNEO DE MÍNIMA VALIA;
O QUE IMPORTA É FREQUENTE AS MÃOS LAVAR
E ATÉ COM PAPEL-TOALHA SE SECAR,
TOALHA DE PANO OS VÍRUS GUARDARIA!
 
MAS EXISTE ESTA OPRESSÃO A FALQUEJAR,
DO CIDADÃO TIRAM TODA A LIBERDADE,
NO APAGAMENTO DA INDIVIDUALIDADE;
CONTUDO EM VEJO ESTAR SÓ A DEBLATERAR
E NEM DEVIA ESCREVER VERSOS, NA VERDADE,
SEM EM ÁLCOOL-GEL MINHA CANETA MERGULHAR!
 
REITERAÇÃO ABORRECIDA III
 
JÁ CONVENCER A USAR LUVAS AS PESSOAS
É MAIS HERCÚLEO QUE USAR MÁSCARAS SOMENTE,
QUE ATÉ VEJO REJEITANDO MUITA GENTE,
MESMO QUE TAIS PROVIDÊNCIAS SEJAM BOAS!
O QUE COMBATO SÃO RECOMENDAÇÕES ATOAS
PARA O USO DE ÁLCOOL-GEL ONIPRESENTE,
SENSAÇÃO FALSA DE SEGURANÇA TRAZ INGENTE,
APÓS OUVIR DE SEU USO TANTAS LOAS.
 
PORQUE A PESSOA LEVA APÓS AO ROSTO AS MÃOS
E COMO METADE DA FACE ESTÁ COBERTA,
É QUASE CERTO QUE AS PÁLPEBRAS APERTA
E TAL PRODUTO PODE OFENDER OS OLHOS SÃOS
E ALI CAUSAR INCÔMODA ALERGIA,
SENÃO PROBLEMA QUE AINDA MAIS TE AFLIGIRIA!
 
NUVEM DE VERSOS I – 1º NOV 2020
 
Já esperei um dia – que tolice!
que alguém chegasse num intento de ledice
e oferecesse para de graça publicar
o imenso fruto de meu constante laborar.
Pois até houve uma editora singular
que as despesas todas quis pagar,
na esperança que em tal ano conseguisse
um prêmio de uma agência que então visse.
 
Mas houve atraso em tal publicação
e o prazo se esgotou para o concurso,
talvez por má-vontade e não decurso
e as despesas cuidadosas da edição
de forma alguma lhe foram ressarcidas,
e vão tornou-se o investimento dessas lidas.
 
NUVEM DE VERSOS II
 
Assim nem esta nem ninguém segunda oferta
me apresentou com idêntico sentido
e há tanto verso pueril que tenho lido,
os meus ainda qual ferida aberta!
Não que eu anseie pela sorte incerta
de um livro que publicado tenha sido;
não conservo ilusões, nem sou movido
a insistir em tal causa pouco alerta.
 
Prefiro enviar então a gigantesca
produção que me enviam avatares,
pela rede em seus vastos delizares,
quer sublime a palavra ou então grotesca:
nada me custa, só o tempo ali vertido,
que bem ou mal, não me parece ser perdido.
 
NUVEM DE VERSOS III
 
Muito mais tempo então se perderia
na árdua demanda por tal impressão;
teria ao menos de fazer a revisão
e apenas nisso muito tempo gastaria,
enquanto os novos poemas deixaria
de redigir entre tanta altercação.
Se os digito é que acredito que eles são
bem mais valiosos que a fama que teria.
 
Para publicar tão somente uma fração,
quantas dúzias de livros são precisos
para conter meus milhares de sonetos
e outros poemas da impudica produção?
E assim apenas os posto por sorrisos

granjear de quem lhes dê gentis afetos!...

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