BRISAS
BRANCAS I – 5 SET 20
Eu
hoje me acordei às nove e meia...
Por
incrível te pareça, é no inverno
que
levanto mais cedo, o frio externo
não
me incomoda e nem me causa peia...
e
por igual me deito após a ceia
e
porque não me chamou o sono eterno,
só
permaneço no calorzinho terno
dos
cobertores, quando lá fora geia,
até
as cinco ou as quatro da manhã!
Coisa
bem de gaúcho, já se vê!
Ou
pelo menos, de leite um tirador.
As
vacas mugem, conclamando o afã,
mas
não se engane, você que hoje me lê:
não
busco no leite de ubre o seu calor!
BRISAS
BRANCAS II
Logo
em seguida eu abro minha janela,
a
receber em meu rosto brancas brisas...
Se
de pegar um resfriado tu me avisas,
eu
amo o escuro da madrugada bela;
são
brisas brancas que me envia ela,
gosto
de geada em tais ráfagas lisas...
com
teu granizo, zéfiro, não me pisas
e
nem saraiva o coração me gela!...
Mas
é Setembro! Já o vento demudou!
Na
madrugada há certa calidez,
não
o bastante para me assustar...
Mas
previsão do calor já me chegou
e
do entusiasmo me causas pequenez,
cortando
o impulso de me levantar...
BRISAS
BRANCAS III
As
brisas de verão são mais escuras
e
mesmo ainda não chegada a primavera
o
meu inverno menos frio me gera,
brisas
cinzentas em claras gotas puras
e
assim as madrugadas menos duras:
sinto
que a cama está à minha espera,
sua
goela aberta como besta-fera:
penso
que a mim, de fato, nada apura:
eu
fico hoje até as seis e meia...
A
essa altura o Sol já despertou
e
poderei conversar com a alvorada...
Mas
o lençol armou-me forte peia:
quando
acordei o relógio me mostrou
pleno
velório de toda a madrugada!
VENTOS INCOLORES I – 6 SET 20
De ti preciso muito mais que a vida:
minha pandemia em ti toda concentrei,
meu COVID dezenove em ti encontrei,
és o meu vírus e a ti darei guarida!
Tua ferocidade inicial foi-me escondida,
como um ingênuo de ti me aproximei
e em meu paroxismo então beijei,
teu leve hálito a tomar-me de vencida!
Teus venenosos ventos incolores
entraram em minhalma, subreptícios
e se aninharam para não mais sair;
embora afastem de mim todas as dores,
sei muito bem que se tornaram vícios,
que ainda eu seja independente a me iludir!
VENTOS INCOLORES II
Então percebo que em amor te contraí
e que permeaste meus glóbulos vermelhos,
tuas próprias hemácias como escaravelhos:
câncer gentil que com prazer sofri.
Em meus leucócitos o fado meu cumpri,
refletidos nos teus tal qual espelhos,
teus anticorpos são formosos relhos,
meus anticorpos aos teus submeti!...
Assim não posso mais viver sem ti,
nessa moléstia de amor eu me perdi
e nem que queira, não me posso libertar
e assim desejo teus vírus abraçar,
tuas bactérias gentis sempre beijar:
de certo modo, por teu amor morri...
VENTOS INCOLORES III
És minha diálise – sem ti, me infecciono,
preciso constantemente de te ver,
meu sangue filtras só de me acolher
e nos teus braços me entrego em abandono!
Me anestesias no principiar do sono,
já nem sei qual seja dor, qual o prazer,
és como fístula no meu padecer,
o sangue todo em teus filtros inspeciono.
Eu sou vermelho em ti, me faço espuma,
pois limpas a minha linfa, lentamente
e não vivo mais sem ti, só por ti espero,
a vida inteira num farfalhar de bruma,
em teus ventos incolores sou presente
e quanto mais te enxergo, mais te quero!
SETE DE
SETEMBRO I – 7 SET 20
Minha
pátria eu amo em total sinceridade
e por nada
trocaria o meu Brasil;
não porque
tenha um vasto céu de anil,
nem pelas
selvas de tal verdicidade;
nem pelo
ouro na bandeira em quantidade!
Fosse por
isso, meu amor seria vil;
nem por
estrelas gravadas com buril
no brasão
blau da nacionalidade!...
Amo minha
pátria, porque nela habita
um povo
forte que a miséria enfrenta
e que
apesar de tudo não se entrega!
Amo essa
gente que sofre sua desdita,
mas de
olhos no futuro sempre atenta,
mas a quem
demagogia tanto cega!
SETE DE
SETEMBRO II
A partidos
políticos sou contrário:
deixei bem
claro nos meus prévios versos;
direita e
esquerda para mim não são diversos,
nem quem
de votos seja um latifundiário,
nem quem
proclame ir reformar o erário...
nem os que
dizem da corrupção ser adversos,
que ao
entrarem no Congresso são conversos,
tornando
assim meu voto perdulário!...
Embora
afirme não ter ideologia,
sei que é
ideológico tal ponto de vista;
porém dos
ancestrais percorro a pista,
a lastimar
tanto a atual folia:
sequer os
rostos ninguém mais avista:
como
encaramos mal a pandemia!
SETE DE
SETEMBRO III
Não acredito,
de fato, que seria
andar de
máscara sinal de patriotismo,
pois me
parece muito mais de nihilismo
(e nem se
pode condenar quem nos envia
essa praga
enquanto nos sorria!)
Há
hipocrisia em tal orientalismo,
que uma vacina
propõe vender-nos com cinismo,
depois que
a tal moléstia enviaria!...
Contudo,
eu amo o Hino Nacional
e nossa
triste história incompreendida,
que o
gramscismo procura desvirtuar,
pois nossa
raça é muito mais espiritual,
cores da
pele arco-íris são da vida
e a cada
um de meus irmãos quero abraçar!
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