segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021


 

 

BRISAS BRANCAS I – 5 SET 20

Eu hoje me acordei às nove e meia...

Por incrível te pareça, é no inverno

que levanto mais cedo, o frio externo

não me incomoda e nem me causa peia...

e por igual me deito após a ceia

e porque não me chamou o sono eterno,

só permaneço no calorzinho terno

dos cobertores, quando lá fora geia,

até as cinco ou as quatro da manhã!

 

Coisa bem de gaúcho, já se vê!

Ou pelo menos, de leite um tirador.

 

As vacas mugem, conclamando o afã,

mas não se engane, você que hoje me lê:

não busco no leite de ubre o seu calor!

 

BRISAS BRANCAS II

 

Logo em seguida eu abro minha janela,

a receber em meu rosto brancas brisas...

Se de pegar um resfriado tu me avisas,

eu amo o escuro da madrugada bela;

são brisas brancas que me envia ela,

gosto de geada em tais ráfagas lisas...

com teu granizo, zéfiro, não me pisas

e nem saraiva o coração me gela!...

Mas é Setembro!  Já o vento demudou!

 

Na madrugada há certa calidez,

não o bastante para me assustar...

 

Mas previsão do calor já me chegou

e do entusiasmo me causas pequenez,

cortando o impulso de me levantar...

 

BRISAS BRANCAS III

 

As brisas de verão são mais escuras

e mesmo ainda não chegada a primavera

o meu inverno menos frio me gera,

brisas cinzentas em claras gotas puras

e assim as madrugadas menos duras:

sinto que a cama está à minha espera,

sua goela aberta como besta-fera:

penso que a mim, de fato, nada apura:

eu fico hoje até as seis e meia...

 

A essa altura o Sol já despertou

e poderei conversar com a alvorada...

 

Mas o lençol armou-me forte peia:

quando acordei o relógio me mostrou

pleno velório de toda a madrugada!

 

VENTOS INCOLORES I – 6 SET 20

De ti preciso muito mais que a vida:

minha pandemia em ti toda concentrei,

meu COVID dezenove em ti encontrei,

és o meu vírus e a ti darei guarida!

Tua ferocidade inicial foi-me escondida,

como um ingênuo de ti me aproximei

e em meu paroxismo então beijei,

teu leve hálito a tomar-me de vencida!

Teus venenosos ventos incolores

entraram em minhalma, subreptícios

e se aninharam para não mais sair;

embora afastem de mim todas as dores,

sei muito bem que se tornaram vícios,

que ainda eu seja independente a me iludir!

 

VENTOS INCOLORES II

Então percebo que em amor te contraí

e que permeaste meus glóbulos vermelhos,

tuas próprias hemácias como escaravelhos:

câncer gentil que com prazer sofri.

Em meus leucócitos o fado meu cumpri,

refletidos nos teus tal qual espelhos,

teus anticorpos são formosos relhos,

meus anticorpos aos teus submeti!...

Assim não posso mais viver sem ti,

nessa moléstia de amor eu me perdi

e nem que queira, não me posso libertar

e assim desejo teus vírus abraçar,

tuas bactérias gentis sempre beijar:

de certo modo, por teu amor morri...

 

VENTOS INCOLORES III

És minha diálise – sem ti, me infecciono,

preciso constantemente de te ver,

meu sangue filtras só de me acolher

e nos teus braços me entrego em abandono!

Me anestesias no principiar do sono,

já nem sei qual seja dor, qual o prazer,

és como fístula no meu padecer,

o sangue todo em teus filtros inspeciono.

Eu sou vermelho em ti, me faço espuma,

pois limpas a minha linfa, lentamente

e não vivo mais sem ti, só por ti espero,

a vida inteira num farfalhar de bruma,

em teus ventos incolores sou presente

e quanto mais te enxergo, mais te quero!

 

SETE DE SETEMBRO I – 7 SET 20

 

Minha pátria eu amo em total sinceridade

e por nada trocaria o meu Brasil;

não porque tenha um vasto céu de anil,

nem pelas selvas de tal verdicidade;

nem pelo ouro na bandeira em quantidade!

 

Fosse por isso, meu amor seria vil;

nem por estrelas gravadas com buril

no brasão blau da nacionalidade!...

 

Amo minha pátria, porque nela habita

um povo forte que a miséria enfrenta

e que apesar de tudo não se entrega!

Amo essa gente que sofre sua desdita,

mas de olhos no futuro sempre atenta,

mas a quem demagogia tanto cega!

 

SETE DE SETEMBRO II

 

A partidos políticos sou contrário:

deixei bem claro nos meus prévios versos;

direita e esquerda para mim não são diversos,

nem quem de votos seja um latifundiário,

nem quem proclame ir reformar o erário...

 

nem os que dizem da corrupção ser adversos,

que ao entrarem no Congresso são conversos,

tornando assim meu voto perdulário!...

 

Embora afirme não ter ideologia,

sei que é ideológico tal ponto de vista;

porém dos ancestrais percorro a pista,

a lastimar tanto a atual folia:

sequer os rostos ninguém mais avista:

como encaramos mal a pandemia!

 

SETE DE SETEMBRO III

 

Não acredito, de fato, que seria

andar de máscara sinal de patriotismo,

pois me parece muito mais de nihilismo

(e nem se pode condenar quem nos envia

essa praga enquanto nos sorria!)

 

Há hipocrisia em tal orientalismo,

que uma vacina propõe vender-nos com cinismo,

depois que a tal moléstia enviaria!...

 

Contudo, eu amo o Hino Nacional

e nossa triste história incompreendida,

que o gramscismo procura desvirtuar,

pois nossa raça é muito mais espiritual,

cores da pele arco-íris são da vida

e a cada um de meus irmãos quero abraçar!

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