HIEROFANTE I (23
AGO 79)
Hoje deixei de
novo de ir às aulas
E permaneço
aqui, passando a limpo
Meus versos,
quais bateias de garimpo,
A peneirar
cativos nestas jaulas.
São versos
mansos, mas tão desesperados!
As minhas
ilusões feitas escória,
Meus dias gastos
em horas sem história,
A perlustrar
umbrais remarchetados
Da mesma
carnação carmesinante,
Madrépora de
aniz circunjacente,
Que um dia
acidulou-se de desejo
E nos meus
lábios fez-se lancinante
Amêndoa
amarga, em tal ideal pungente,
Percutido em
maciez nesse teu beijo.
HIEROFANTE II (8 JUN 10)
Hoje que estou já descomprometido
com quaisquer infelizes didatismos,
sem sentir os menores saudosismos
do longo tempo inglório e malquerido;
cessada a liturgia do esquecido
serviço a ministérios sem batismos,
liberado de quaisquer sacramentismos,
sou hierofante de um deus adormecido.
Em tais poemas, a ruidosa voz dos mortos
ruge e troveja pelo morto Pan,
enquanto tremo em meu diletantismo.
Não busco mais esses cretenses portos:
é o deus que chega e unge, em glória vã,
e me coroa com os louros do humanismo.
HIEROFANTE III
Cessei de
descrever o meu passado
ou o passado dos
que em mim habitam,
suas órbitas sem
olhos que me fitam,
bocas sem língua
em canto compassado,
meu cantochão
não mais determinado
por essas regras
que antigos papas ditam,
mas em que
escalas helênicas se agitam,
no canto álacre
por ossos conservado.
Deixei agora,
para sempre, as aulas,
não mais
celebro, qual juiz de paz,
não mais prego
os evangelhos memoriais;
são meus
escravos, em abertas jaulas
que me ensinam a
maneira em que se faz
uma torrente de
versos imortais!...
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