sábado, 22 de dezembro de 2012




ZOMBARIA & MAIS
William Lagos

ZOMBARIA I – 10 JUL 2007

Por toda a vida, ela sentiu-se unida
às plagas espanholas dos seus ancestrais,
como se todos fossem apenas espanhóis,
e não proviessem de qualquer ermida

que ibérica não fosse, mais querida
que os portugueses e outros povos mais,
cujo sangue jorrou, em velhos sóis,
para forjar o seu e dar-lhe vida...

A teimosia ibérica é sua praia,
aprova integralmente essa sua estranha
forma de ser, católicos e ateus...

E agora, ao assistir a imensa vaia,
também um sonho luziu nos olhos seus:
poder expor-se nua ao sol de Espanha!...

ZOMBARIA II  (13/12/12)

Na verdade, hoje recordo só de leve
essa imagem que a televisão mostrou,
na ocasião em que o Papa visitou
terras da Espanha em estadia breve.

E a falar contra o aborto então se atreve
e contra homossexual qualquer união,
contra qualquer feminina ordenação
e tudo o mais que para a Igreja não se deve.

O resultado foi a chocante procissão
de centenas de mulheres, peitos nus,
a protestar contra a homilia papal...

Logo na Espanha de tanta devoção,
que à matança dos judeus antes conduz
ou dos hereges que à Igreja fazem mal...

ZOMBARIA III

Não cabe a mim criticar qualquer dos lados,
mas nos protestos descubro algum limite,
pois há provocação que mais incite
à constância permanente dos pecados.

A liberdade dos corpos desnudados
(exposição que espero não me irrite,
tendo prazer no belo que o olhar fite...)
deveria ter motivos mais sagrados.

Porque os seios são a marca da mulher
em sua tendência para a maternidade,
enquanto o aborto é sua contradição...

Que os mamilos exponha quem quiser
para a reprodução da humanidade
e não somente para tal condenação...

ZOMBARIA IV

De fato creio que o aborto era um pretexto:
marchavam mesmo contra qualquer censura;
no seio exposto eu vejo a mulher pura,
mesmo com leve sugestão de incesto...

É mais um passo contra a escravatura
a que a mulher se submete em outro contexto;
e nessa marcha se encontra mais um gesto
prol total emancipação de sua figura.

Pois nos seios da mulher vejo poesia:
os seus mamilos são frutas maduras
a ser sugadas para meu deleite...

Mas mostrados para mim só eu queria
ou para os filhos que tivessem em doçuras,
nessa sagrada comunhão do leite.



VAIDADE INVERSA I  (14/12/12)

Para que Helena te traia, vai primeiro
dez anos para a guerra e então espera
que chegará visita, a estranha fera
que os lares descabeça bem ligeiro.

Para esse Helena de Tróia, teu terreiro
deixa vazio...  Seus guardas, quem te dera!
dela cuidassem bem...  Porém a mera
ausência tua é o proclama derradeiro

de que, no fundo, dela não dás conta...
Preferes te ausentar, deixar sozinha
essa mulher mais formosa deste mundo...

Por isso, se ela trai, a ti remonta
a culpa do adultério, que se aninha
até no amor ingênuo mais profundo...


VAIDADE INVERSA II

Para que Helena te ame, permanece
sempre a seu lado, o quanto mais puderes;
surgem caprichos de amor, sem que os esperes,
porque a mente da mulher não é uma prece.

E por maior que seja o amor, vê, não esquece,
que ela deseja todo o carinho que lhe deres
e ainda mais, se acaso o retiveres,
pela prenda de amor que ao seio desce.

Toda mulher se deseja cortejada
e bem no fundo, não despreza galanteio,
mesmo sabendo seja mera cortesia.

E com frequência se sente desprezada
ao comparar-se a outras, no receio
de ser posta de lado, em aleivosia...


VAIDADE INVERSA III

Toda mulher tem seu sabor de Helena
e adoraria ser a mais bela deste mundo;
contra o espelho, o olhar lança iracundo,
caso suas rugas lhe mostre, quando acena;

É muito triste precisar sair de cena,
se a indiferença a seu rosto rubicundo
zombeteira lhe quebra o ideal rotundo:
pobre mulher nutrindo a própria pena!

E pode haver pior ato de ironia
que batizar de Helena a jovem feia?
Pois nem sequer é a mais feia deste mundo!

E assim pratica, em longa e inversa liturgia
a progressiva acentuação do que receia,
nesse desprezo de si mesma tão profundo...


VAIDADE INVERSA IV

Contudo eu vejo Helena na mulher
que por mim passa, sem qualquer beleza;
vejo Helena na velha, em sua tristeza,
e na menina que nem brotou sequer.

Em cada uma existe flor para colher
e nesse orvalho de rápida incerteza
ela se torna Helena, em singeleza,
desde que alguém a saiba conhecer,

nesse momento breve de fragrância,
em que flutua, na fímbria da vaidade
e perfeita se percebe em tal segundo...

Velha ou adulta ou em perpétua infância,
essa mulher representa a humanidade
e então se torna a mais bela deste mundo.

MANADA DE VERSOS I (15/12/12)

Ouso dizer que já escrevi manada
tão numerosa quanto eram os bisões
no século dezenove, em multidões
de versos galopando pela estrada.

Ouso dizer que nunca escrevi nada,
que tais palavras foram meras ilusões
caleidoscópios em perpétuas mutações,
que eu sacudi em nova estrela alada.

Essas pedrinhas de vidro colorido
a correr sem cessar contra um espelho,
nessa poeira levantando mil palavras...

E no entretanto, como o verso foi nutrido
pelo sangue de meus dedos, sob o relho,
chuva de ouro das mais antigas lavras...

MANADA DE VERSOS II

Antigamente, as pradarias percorriam
os mil rebanhos de auroques orgulhosos;
hoje só existem esqueletos portentosos,
igual que os alces irlandeses, que existiam.

Tornaram-se lembranças dos que os viam;
foram-se os prados, devorados por gulosos
ovinos e bovinos numerosos
que os homens para si somente criam.

E assim meus versos se extinguirão também,
a serem substituídos por alheios...
Que importância têm, que me pareçam

ser mais belos que os de qualquer alguém
que, para mim, só traçou poemas feios,
se em breve tempo tantos meus pereçam...?


MANADA DE VERSOS III

Pois a manada passou rapidamente
e só os mais próximos divisar consigo;
já dormem os primeiros no jazigo
e os do futuro vejo só imprecisamente.

E por mim correm às dezenas, velozmente,
não tenho tempo para os reter comigo.
Os mais antigos relembrar persigo,
mas já partiram para o olvido totalmente.

E fico preso no estouro da boiada,
ao derredor só me soa esse estampido,
debalde eu busco qualquer coisa conservar;

e sinto as costas de minha mão cansada,
no esforço inútil do verso já partido
que sob as unhas nunca pude dominar.


MANADA DE VERSOS IV

Ai quem me dera!  Poder um dia lembrar
essa manada de versos relutantes,
os poemas em jatos saltitantes,
os sonetos que não posso mais guardar!

Pois lá se foram, para meu penar:
guardo milhares datilografados;
outros milhares apenas esboçados,
bem mais que os outros que pude digitar.

E de que serve a corrida do rebanho
em direção aos corações dos cegos,
para as bocas dos surdos sonhos mudos?

E então me vejo enlaçado em meu antanho,
a martelar contra mim mesmo tantos pregos,
contra a própria solidão erguendo escudos.

QUEIXUMES I (17 dez 12)
(Para Rafael “Di” Amaral)

Se você soube um jeito de dirigir sua vida
de forma até melhor que conduzi a minha,
meus parabéns receba e toda a louvaminha
e se mantenha firme em tal senda escolhida.

Pois aquela que observo pela malta perseguida
é apenas pouso frágil no qual mágoa se aninha,
somente espera lenta pelo fim que se avizinha,
passos aziagos marchando empós sua longa lida.

Da minha, não me queixo.  Bem sei que já foi dito:
Não tenho tudo que quero, mas o que tenho eu amo;
nada perdi de fato a que desse real valor,

e não marcho por aí, num tropeçar aflito,
em suave desespero, buscando algum reclamo
que a alma me quebrante em gélido esplendor.

QUEIXUMES II

Sempre me espanto assim ao escutar as queixas
lançadas contra Deus, por que Ele permita
o mal vir sobre nós, por que não o evita,
por maior que seja a fé em férvidas endeixas.

“Por que, ó santo Deus, as minhas preces deixas
de escutar, por mais que a fé as incita?
Por que desprezas o que minhalma agita?
Por que castigos sobre mim enfeixas...?”

Existe tanta gente que equiparou seu deus
ao tal velhinho gordo, de rosto rubicundo,
Papai Noel vermelho, em seu sorrir jocundo...

E tantos outros há que julgam serem seus
os direitos senhoris sobre um servo onipotente,
que às suas ordens venha e atenda prestamente...

QUEIXUMES III

É-lhes difícil compreender um Deus distante,
imaterial, invisível e onisciente,
de nosso âmbito temporal ausente
e antropomorficamente divagante...

Por isso criam a santidade delirante:
gente que foi em nosso tempo consistente
e que, portanto, viveu igual à gente
e nos pode compreender o breve instante.

Assim guardam Deus Pai como reserva,
pedindo ao santo que lhes seja intercessor;
e se não chega a graça reclamada,

não foi Deus quem lhes falhou, porém a serva
receptora das preces de fervor,
com a nova instância sempre reservada...

QUEIXUMES IV

Mas eu sempre acreditei mais no louvor
e em agir com solidez de ferramenta;
Deus me dará aquilo que me atenta,
para cumprir por mim o seu labor...

Quanto ao milagre, dou cético valor;
caso um assista, a mente se contenta
em acreditar que desde sempre ele se assenta
na intenção desse Supremo Criador.

Pois me criou para cumprir Seu Próprio plano
e não para meu bem satisfazer,
a não ser que o pretendesse de antemão.

E se você sofreu na vida menor dano
e mais sucesso do que eu pôde obter,
terá minha bênção, com minha aprovação.


ENLEVO I (18 DEZ 12)

Eu vejo o braço desnudo: hoje, decerto,
falar de braços, dos pelos dessa pele,
é coisa antiga... Como querer que ainda apele
somente o aroma em esplendor aberto?

Hoje em dia, toda a nudez é prato certo
que a cada instante se encontre e se revele,
a um ponto tal que o desejo quase gele
ao ver um ventre exposto e quase aberto...

Pois vejo o braço desnudo e sinto o aroma
que se evola dos seus pelos delicados
e como o braço apenas é excitante!

A manga o oculta e meio braço toma,
mas os dedos, às avessas contemplados,
são mais mulher que o corpo da bacante!

ENLEVO II

Contemplo o mundo com perplexidade,
tão diverso do que foi na minha infância:
duas gerações mudaram toda a instância,
em seus valores proclamando liberdade.

Que eu alcancei com maior dificuldade,
pois precisava de empenho e manigância
para obter o que hoje, em contrastância,
vejo ser dado sem maior complexidade.

Que não se pense que eu condene nada
ou então que inveje as novas situações
ou que sequer as recuse aproveitar,

mas me parece que a poesia alada
já não oculta as velhas intenções
e o antigo jogo já não vejo se adotar.

ENLEVO III

Pois realmente, a vista de um umbigo
já não desperta laivos de paixão;
seios mostrados em múltipla ocasião,
coxas expostas em convite amigo...

O que eu percebo é bem outro perigo:
que se obtenha tudo cedo e a negação
do mistério se transforme em entediação
de quanto essa experiência traz consigo.

E surja a busca de uma nova excitação
e esta conduza facilmente à perversão,
pela impotência perante o costumeiro.

E nessa busca de veloz consumação
não se ache em outro corpo mais sabor
e se descreia até que exista amor.


ENLEVO IV

Mas em mim se manifesta, multiforme,
esse poder de excitação e magia,
nas mil pequenas coisas que se via,
nos cem aromas de sedução informe...

Sem precisar de me mostrar conforme
a quaisquer sugestões de nova orgia,
na qual amor algum a mente via,
mas tão somente uma explosão disforme.

Mas nem por isso condeno, só não quero
para mim mais que a mulher em singeleza,
no cheiro de seus pulsos meu enlevo,

na breve hesitação que ainda espero
se desfaça em um amor de gentileza
que com carinho retribuir-lhe eu devo...

RUAS DESNUDAS I (19 DEZ 12)

Acendo ruas no escuro de minha mente,
quando na alma corre a ideia, como vela;
os corredores neurais me então revela
e arranca-lhes palavras em som quente.

Em cada escaninho do encéfalo um ardente
pensamento é desvendado em frase bela;
a minha velinha se faz em meiga estrela
e então escorre, desassisadamente,

sem o menor vestígio de pudor,
em seu cefalorraquiano gotejar,
na mais incauta das hemorragias,

a mente requeimada em seu fulgor,
sem conseguir, no entretanto, dominar
a luz maciça das lâmpadas mais frias.

RUAS DESNUDAS II

Era mais fácil vencer almotolias,
com sua débil luzinha amarelada,
pavio de azeite de oliveira repisada,
nessa pequena chama, na qual vias

as mariposas e as falenas em orgias,
buscando a morte de maneira desvairada;
também minha ideia se faria luz airada
contra um lampião ou o fogo das coxias.

Então podia minha canção faceira
brilhar tão clara como um lúcido farol,
que se avistava, ao longe, de um convés;

mas hoje a frase que se lança, arteira,
é logo obscurecida em falso sol,
que só ilumina um caminho para os pés.

RUAS DESNUDAS III

Seria mais fácil ser poeta, então,
sem o fragor da vazia televisão,
sem as vitrinas, em seu pálido clarão,
sem o alarido da atroz mediocridade,

sem discursos entreabertos de vaidade,
sem arame falso e farpado de piedade,
gramaticais espinhos, na verdade,
a prender os meus versos pelo chão.

Os maus poetas, porém, foram esquecidos,
porque sua luz era tímida e mortiça,
só os melhores criaram os padrões;

mas vê-se hoje tantos cantos desnutridos
a se plagiarem, repetição mestiça,
que nivelaram em suas pobres pretensões.

RUAS DESNUDAS IV

Contudo, ainda fulguro as luzes nuas
que concebi nas redes minhas neurais;
se não as mostro, não luzirão jamais:
pois que se espalhem desnudas pelas ruas!

E se essas trovas se rasgarem contra as puas
da insensatez e das críticas sociais,
falsos conceitos aceitados por normais,
que seu sangue se enegreça sob a luas!...

E assim esgrime por si cada soneto,
já que forçou-me os dedos a escrevê-lo.
Que se derreta no calor do estio

ou se congele pelo ardor do gelo,
se não puder para os demais ser um secreto
brilhante lapidado em agudo fio.


QUATRO DE AHAU I  (20 DEZ 12)

Na véspera do fim do mundo, escuto sinos de vento;
na víspora do fim da vida, meu número não foi cantado;
no grande bingo do século, talvez eu seja chamado;
no grande bangue da morte, quiçá tenha o meu assento.

Na véspera do fim do mundo, não escondo o meu alento;
na víspora do fim da vida, não me encontro desolado;
no grande bingo do século, não estou maravilhado;
no grande bangue da morte, não demonstro sentimento.

No grande loto da vida, não sei qual seja meu norte,
mas a grande loteria não me traz preocupação:
as coisas são o que foram, as coisas são como o são;

e se algo não me espanta, é a chegada da morte;
só me causam certo susto os prováveis dons que estão
associados à passagem, por melhor que seja a sorte.


QUATRO DE AHAU II

Hoje é o Terceiro de Ahau e vi na televisão,
junto às antigas pirâmides, pelos maias desleixadas,
escravos do calendário, profecias ordenadas
que os deixavam governar a sua vasta multidão.

Só assim as profecias tiveram completação:
que a turba dos sacerdotes as havia interpretadas;
camponeses avisavam, de mentes bem dominadas,
a juntarem seus pertences para nova migração.

Eu acredito bem mais em outra interpretação:
como muitos ameríndios, praticavam as queimadas,
desconhecidas na Europa ou nas terras africanas;

sendo a gleba assim obtida de bem curta duração
e em breve, longe demais para serem transportadas
as grandes safras de milho nas plagas americanas.

QUATRO DE AHAU III

Nos longos ciclos lunares gemiam os antepassados,
desejando ser nutridos por sacrifícios frequentes:
o sangue os alimentava e o sofrimento das gentes;
jogavam nos tabuleiros seus temores compassados;

pelas partidas de jogos os tempos determinados,
longas rotas de magias e mil injunções urgentes;
era o lançar das pedrinhas ou, às vezes, de sementes
que demarcava o destino, em anos mais alongados

por drogas psicodélicas que os tempos modificavam
e nesses instantes lentos até séculos passavam,
pois mediante o tabuleiro revelavam seu futuro.

Assim o Quatro de Ahau, que marca a última data,
era o dia derradeiro que a larga sorte desata...
Mas chegaram os aztecas, trazendo destino duro...


QUATRO DE AHAU IV

De fato, o que demarcaram foi o fim de sua cultura,
infelizmente ceifada quase seis séculos antes,
pela sanha dos aztecas, vindos de plagas distantes,
ansiando por sacrifícios e vítimas para tortura.

Ao chegarem os espanhóis, sua raça já não perdura,
senão como escravos pobres, sem ambições delirantes,
continuando a praticar as queimadas, como dantes,
mas agora controlados por um governo de agrura.

Talvez se os maias tivessem por mais tempo perdurado
seus austeros sacerdotes de novo teriam jogado
e calculado outro ciclo de mais longa duração...

Mas tal não aconteceu e os novéis arqueólogos,
ao decifrarem sua língua, no viés dos antropólogos,
abriram velhos enigmas para a nova geração...

QUATRO DE AHAU V

Também ouvi na tevê comentário de ironia:
que a indústria hoteleira da mexicana nação
estava tendo prejuízos pela vasta confusão
armada pelos cartéis, em luta por primazia,

na busca pelo controle da maior distribuição
dessas drogas destrutivas que sua venda lhes trazia,
novas vítimas modernas de uma nova liturgia,
sem que nada lhe importasse a sua triste danação...

Mas agora, a turistagem nas pirâmides se ajunta;
os hotéis ficaram cheios, montaram acampamento:
há quem diga que os etês por ali irão pousar...

Entre milhares de fanáticos a profecia se assunta,
julgando intérpretes ser desse antigo pensamento
que, falando francamente, é bem fácil de explicar.

QUATRO DE AHAU VI

Se o fim do mundo vier para meus sinos de vento,
eu tocarei no meu “som” um outro acompanhamento:
de Eric Coates a música de seus poemas sinfônicos
que a esses maias antigos por certo faria atônitos;

seus sacerdotes de antanho há muito já são afônicos
e quem pega o tabuleiro tem movimentos distônicos,
enquanto eu só elocubro o meu próprio pensamento
e permaneço envolvido nesse antigo julgamento;

“Enquanto a morte não chega, continuo por aqui;
e quando a morte chegar, aqui não me encontro mais.”
Por que motivo sequer eu deveria temê-la?

E se o mundo se acabar, nem verei, ausente ali,
que o mundo estava correndo para a senda do jamais,
a Terra a ser engolfada pela explosão de uma