sábado, 31 de julho de 2021


 

OS REIS E OS PROFETAS

CAPÍTULO TRÊS– 23 JUL 21

 

Quando Omri na cidade penetrou

O palácio, seus móveis e riquezas,

Não eram mais que escombros e carvão!

Mandou os ossos que encontrou fora jogar,

Pouco conforto contudo ali encontrou,

Porque no meio de tantas incertezas,

Metade de Israel quis a ascensão

De Tibni, filho de Ginnath, para o desafiar!

 

E foi travado muito feroz combate,

Após o qual foi massacrada muita gente

E nessa luta também Tibni pereceu,

Muitos povoados sendo destroçados!

Mas Omri se fortaleceu após o abate

E foi ungido no ano correspondente

Ao ano trinta e um em que Asah permaneceu

No trono de Judá, afastando seus pecados.

 

Omri mandou de novo o palácio construir

Em Tirzah, mas não se achava confortável

E no ano sexto desse seu reinado

Comprou de Semer um outeiro no horizonte

Por dois talentos de prata e ali fez erigir

Uma cidade planejada e agradável,

Que chamou de Samaria; e confortado,

Tornou-a a capital sobre esse monte.

 

Mas não abandonou de Jeroboão a idolatria,

Já disseminada por demais em Israel;

As mulheres coziam tortas para a Lua,

Identificada com Ashtoreth ou Astarteia;

Com mais seis anos a sua vida concluía

Sepultado sendo dentro do quartel,

No sepulcro que sobressaia sobre a rua,

Concluída sendo assim a sua epopeia.

 

Em seu lugar, reinou seu filho, Ahab,

Que foi perverso perante Jehovah

E cometeu gravíssimos pecados,

Mais do que todos os reis precedentes;

Porém antes que seu reino acabe,

Frequentemente em luta com Judá,

Reinou ali vinte e dois anos bem contados,

Pensando o reino deixar aos descendentes.

 

Pois nesse tempo com Sidon fez aliança

E de Ethbaal, régulo desses Filisteus, (*)

Sua filha Jezebel recebeu como sua esposa,

Pela qual apaixonou-se totalmente,

Muito mais que das mulheres em abastança

Que conservava nos serralhos seus;

E sendo a sua influência poderosa,

A Baal ergueu um templo, finalmente!...

(*) Pequeno rei, cada cidade da Filistia tinha o seu.

sexta-feira, 30 de julho de 2021


                                       OS REIS E OS PROFETAS

CAPÍTULO DOIS– 22 JUL 21

O RÁPIDO REINADO DE ZIMRI

 

Pois quem no campo de teus filhos morrer,

Ficará igualmente por ali abandonado,

Para que o devorem corvos descendo desde o céu!

Assim Baasha por vinte e quatro anos reinou,

Evitando os combates, para não perecer

E protegendo seus filhos com cuidado,

Dando o comando dos carros e do exército seu

A Zimri e a Omri e em batalha não pisou.

 

Isto o tornou bastante impopular,

Mas pensando em fortalecer o seu reinado,

Um inimigo externo buscou novamente

E em Gibbethon fez cercar aos Filisteus,

Mas como a tropa nunca ia comandar

Fez os soldados alinharem-se do lado

Dos comandantes.  Morreu Baasha, finalmente,

Sendo enterrado com os ancestrais seus. 

 

Elá ou Ielah, seu filho, começou a reinar,

No ano vinte e seis em que o rei Asah

Sobre Judá reinava; mas apenas por dois anos.

Zimri, que seus carros comandava,

Em quem julgava o novo rei poder confiar,

Tinha livre acesso à cidade de Tirzah

E ao rei achou na casa do mordomo, sem enganos,

Em um festim no qual se embriagava...

 

Assim entrou no salão, insuspeitado

E ao rei embriagado degolou,

Matando seu Mordomo Arsa igualmente

E com eles todos os convidados.

Proclamou-se o novo rei; e entronizado

A cada descendente de Baasha exterminou,

Os amigos de Elah e também cada parente

Rapidamente foram massacrados.

 

E para que se cumprisse a profecia,

Proibiu que fossem sepultados

E nas ruas os cães os devoraram,

Enquanto as aves os devoravam ao relento,

Como castigo contra os atos de heresia

Que por Baasha haviam sido praticados

E por Elah, que Baal ambos adoraram;

Mas só por sete dias no trono teve assento.

 

Chegou a notícia até o acampamento,

Em torno a Gibbethon, que comandava

O General Omri, bastante popular

Entre sua tropa, que proclamou-o rei!...

Omri partiu para Tirzah nesse momento;

Percebeu Zimri que a sorte lhe faltava

E o palácio real fez incendiar:

“Aqui sou rei e como rei eu morrerei!...”

 

C

quinta-feira, 29 de julho de 2021


 

OS REIS E OS PROFETAS

CAPÍTULO PRIMEIRO – 21 JUL 21

 

Por alguma razão pouco explicada,

Queria Israel tomar dos Filisteus

A fortaleza de Gibbethon, perto do mar

E após a morte à traição do Rei Nadabe,

Seguiu Baasha a guerra começada,

Já no ano três de Asah, rei dos Judeus,

Mas foi forçado o cerco a levantar

Embora a hostilidade não se acabe.

 

Então mudou sua capital para Tirzah,

Considerada mais segura que Shequem

E prosseguiu com as lutas na fronteira,

Entre os dois reinos, por todo o seu reinado.

Vinte e quatro anos combateu ao rei Asah,

Para nenhum total vitória vem,

Que se pudesse contar por derradeira,

Sempre mantido o combate atribulado.

 

Na longa luta Judá defendia a Jehovah

E o povo de Israel a idolatria,

Mas Gibbethon foi então em paz deixada,

Até erguer-se em Israel novo profeta,

Jeú ou Yehu, que se dirigirá

Ao rei, que nos muros de Tirzah se defendia,

A proclamar-lhe a profecia enviada,

Por não cumprir de Deus a voz dileta.

 

Assim Jeú, filho de Hanani, manifestou:

“Rei Baasha, escuta a voz de Deus:

Anos atrás, te levantei do pó

Para ser rei sobre o povo de Israel;

A tua tropa inteiramente exterminou

A descendência de Jeroboão.  Dos seus

Nada restou, nem um parente só,

Nem em Shequem e nem no alto de Bethel.

 

Eu esperava de ti a gratidão,

Mas repetiste todos os pecados

Com que fez se desviasse a Israel

E adorassem a Asherah e os Baalim,

Igual fez teu predecessor, Jeroboão.

Seus filhos foram por ti exterminados,

Mas prosseguiste em sua obra de fel:

Destino idêntico te preparo assim!...

 

Do mesmo modo que a ti eu suscitei,

Levantarei um novo príncipe do povo,

Que fará contigo o mesmo que fizeste,

Exterminando toda a tua descendência.

Quem estiver na cidade, eu matarei

E os cães o comerão.  Farão de novo

O que fizeram com os que abandonaste

Da prole de Jeroboão, sem ter clemência!

 

 

quarta-feira, 28 de julho de 2021


 

 

GESTA DE AMOR I – 26 JUL 21

 

O nosso amor é como o mel do orvalho,

Geada singela que nunca fica fria,

Gentil garoa que assim nos conduzia,

Amor perfeito e livre de ato falho;

O nosso amor é qual chispa de algum malho,

Amor tinido que na alma reluzia,

Amor vibrante que na mente retinia,

Folha esmeralda a balouçar em cada galho.

Amor composto de frescura no verão,

Amor calor no inverno aconchegante,

Amor polivariado em cada outono,

Simples amor em que baila o coração,

Canário amor em jalde canto delirante,

Que se encolhe sobre nós durante o sono.

 

GESTA DE AMOR II

 

O nosso amor é flor de simpatia,

Amor de calma em olor de primavera,

Amor de zéfiro que só frescor nos gera,

Amor de chuva quando a mente estia.

O nosso amor é botão de nostalgia,

Pequena abelha modelando nossa cera,

Amor rainha que gentil zumbir nos dera

Nessa colmeia de elegíaca harmonia.

Amor assim a colorir a flor do prado,

Amor de estrela em perpétuo cintilar,

Amor candente de um extinto meteoro,

Amor de vórtice por cometa apaixonado,

Amor satélite que não para de girar,

Amor zodíaco do mais puro agouro.

 

GESTA DE AMOR III

 

O nosso amor é relíquia em estamenha,

Amor sobrepelis, sacro ornamento,

Amor estola e solidéu que te apresento,

Amor de cíngulo, qual espero que nos venha

A cingir sempre que do afastar surgir a senha,

Amor de incenso, turibular acento,

Amor de altar em pleno sentimento,

Amor degrau galgando imensa penha,

Em que apenas nós dois nos acharemos,

Bem lá no alto, amor de cordilheira,

Amor que a alma prende toda inteira,

Que no mais íntimo do ser os dois buscamos,

Mente na carne em amplidão ligeira,

A nos unir inda além da hora derradeira.


Na ilustração, a atriz francesa Claudette Colbert, famosa por "Cleópatra". 

GESTA DE MORTE I – 27 JUL 2021

 

tu és meu câncer, mulher, que me consome,

inexorável fonte deste pranto,

que escorre seco no poema e canto,

que nada fazem contra a imensa fome.

 

em minha anorexia, mulher, deixo que assome

o quanto existe em mim de menos santo,

o quanto existe em mim de mais espanto,

o quanto eu domar tento sem que dome.

 

assim me sinto de tísica assolado,

tuberculoso em vias de hemoptise,

tão somente pela falta de te ver,

quiçá somente por lúpus penetrado,

quando somente por toda a vida vise

o teu amor que nunca pude ter.

 

GESTA DE MORTE II

 

toda beleza que meu peito invade,

em brasa morna ou centelha de fulgor,

sempre acalenta um certo grau de amor,

um sentimento de real solenidade,

 

um tal amor que me concita a idade

a esquecer, perdido no esplendor

da decadência sublime do sexor,

límpido e claro em nebulosidade.

 

porque me arde concreto ao coração

farol luzente de beleza taciturna,

que bem sei não ser minha de verdade.

 

mas fora dela só existe a abstração,

do amor do amor, que meu amor soturna,

que me impele e me impede a liberdade.

 

GESTA DE MORTE III

 

porém eu busco, mulher, na intensidade,

todo esse amor que a vida me consome,

busco esse amor que a triste alma dome

e a mente prenda em total iniquidade.

 

porque esse amor somente impõe sua majestade,

sem jamais satisfazer-me a plena fome,

é um amor de almofariz, de pedra-pome,

que se alimenta de minha própria eternidade.

 

mas sendo impuro, é um alívio derradeiro,

quer seja denegado ou satisfeito,

porque completo me preenche o coração

 

e mesmo sem ganhar de ti um beijo inteiro,

tem sobre mim o mais pleno direito

de me magoar sem receber retaliação.

 

GESTA DE ESPANTO I – 28 JUL 21

 

Um ponto negro surgiu no céu cinzento,

toda a esperança que nutro no momento,

não um ponto de luz tangido ao vento,

mas um ponto de negror e luz vazia,

esse ponto sem cor que o céu abria,

minha própria cor de tom monotonia,

ali apenas a não-cor que reluzia

no céu grisáceo de meu pressentimento.

 

No fim da luz do túnel vejo o escuro,

remanchado de assombro deslumbrado,

escuro enfim que meus olhos desvaria,

pois não mais tenho ilusão, pois sou perjuro,

não mais que sombra ineficaz, cansado,

sob esse céu de chumbo que me guia.

 

GESTA DE ESPANTO II

 

Se me refiro ao cinzor deste meu céu,

só interrompido por pontos de luz negra,

é certamente porque, via de regra,

minha esperança é tão somente arpéu,

coisa pequena que me balouça ao léu;

meu otimismo o imediatismo integra,

e tudo dentro em mim logo se alegra,

porém tal luz logo me lança um véu.

 

São milhares de vezes em que a esperança

ri sobre mim em inocente derisão,

sem que nada prometido se cumprisse;

não me deprimo com essa contradança,

simples apenas me revolta o coração,

por não ter tido coisa alguma que pedisse.

 

GESTA DE ESPANTO III

 

não que de fato algo mais peça realmente:

já de há muito me contento em receber

somente aquilo que me intende conceder

a Providência que inteiro me sustente;

vejo em minha vida sempre estar presente

essa muralha de fogo a carne a proteger

de qualquer malefício a se esconder,

quando à beira da vereda malfazente.

 

E se percebo essa constante proteção,

sem que sequer essa atreva-me a pedir,

estou seguro de minha própria redenção

e em tudo darei graças em ocasião,

sem queixa aceito todo o mal que me afligir

e o bem recebo na mais surpresa gratidão!