segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016





A RAINHA DA NEVE – 30 JAN 2016
(Recontada por Alexandre Dumas sobre texto original de Hans Christian Andersen,
em OS MAIS BELOS CONTOS DE FADAS, versão poética de William Lagos.)

A RAINHA DA NEVE I

Havia em Dinamarca uma cidade antiga:
casas de colmo, com andares amontoados,
os superiores ante as calçadas debruçados,
quase formando um túnel sobre a rua;
e não havendo lugar para suas hortas
inseriam cantoneiras sobre as portas
ou nas janelas em frente aos peitoris,
nas quais plantavam temperos, qual nos diz
esta história sobre certa gente amiga
e duas crianças, em que um grande amor atua.

Os dois brincavam desde tenra idade:
ele era Peter e a menina Gerda; (*)
olhos azuis dos pais cada qual herda,
mas a menina a mostrar louros cabelos
ao passo que os de Peter eram escuros;
passavam juntos em seus folguedos puros:
um dia Gerda ao menino visitava,
no outro em casa dela ele a encontrava,
sempre vivendo cheios de amizade;
quando brincavam, dava gosto vê-los!
(*) Pronuncia-se GUERDA.

Durante o inverno, havia tempestades
e os dois bem menos podiam se encontrar;
para se verem, precisavam esquentar
uma moeda de cobre no fogão
e a colocavam, com grande precaução,
suas luvas grossas dos dedos proteção,
contra as vidraças, o gelo derretendo
numa rodinha, por ali os dois se vendo:
só dois olhinhos para avistar saudades,
o seu carinho conservado ao coração.

Certa tarde, forte nevasca fora,
Peter e Gerda escutavam a Vovó,
narrando histórias ou inventando só
e referiu-se aos mil flocos de neve:
“São milhares de abelhas em reclames,
brancas abelhas que descem em enxames...”
“E por acaso elas têm uma rainha?”
indagou Peter, que boa noção já tinha
sobre as colmeias, que vira em outra hora,
na primavera e no verão ali tão breve...

A RAINHA DA NEVE II

Disse a Vovó: “Têm Rainha, como não?...
Ela se encontra onde os flocos são mais grossos
que lá do alto vêm preencher os fossos,
as ruas e os tetos pintando de brancura...
Mas a Rainha nunca toca o chão,
sempre que desce, retoma a flutuação;
curiosa, espia sempre nas janelas:
deixa flor branca que depois se encontra nelas,
as quais já devem ter visto em formação;
contudo, pouco tempo ela perdura...”

E acreditaram na história, piamente,
por mais que fosse inicialmente brincadeira.
“Se a pegasse, punha na frigideira,”
bravateou Peter, “para ver se derretia...”
Disse a Vovó: “Não mexa com a Rainha!
Ela pode se zangar, que é vaidosinha!...”
Naquela noite, pouco antes de deitar,
até a janela foi Peter, a espiar
pelo orifício de sua moeda quente,
contudo a Gerda já não pôde ver...

Só viu os flocos de neve, numerosos,
que de repente, em mil abelhas se tornaram,
um floco enorme, entre as que chegaram,
mais uma rosa branca do que gelo,
que começou a crescer rapidamente,
bela mulher, delicada e resplendente,
seu vestido formavam flocos, como flores,
diamantes e estrelas, mil fulgores,
tendo no rosto dois olhos luminosos
e um sorriso do maior desvelo!...

Através da rodinha da vidraça
ela acenou para Peter, complacente...
Por mais gentil seu ânimo aparente
o pobre Peter de imediato se assustou!
Fechou depressa os postigos da janela,
lá de fora a lhe chegar risada bela...
Na primavera, já a neve se acalmava;
nasceram flores, mas enquanto as contemplava
Peter sentiu em seu olhar, tal qual pirraça,
ardência forte que ao coração chegou!...

A RAINHA DA NEVE III

Gerda pensou que tinha sido argueiro –
um grãozinho de pó – e o assoprou,
mas foi coisa bem pior que o atacou!...
Certo dia, inspirado por maldade,
Loki moeu no almofariz gelo com sal (*)
e assim criou um grande espelho para o mal
ao qual chamou de Espelho da Verdade,
mas era antes o espelhar da falsidade:
quem quer que nele olhasse, bem ligeiro,
tudo enxergava em oposição à realidade!
(*) O Deus nórdico do fogo e da mentira.

O que era belo e bom surgia feio
e o que era feio e mau fazia-se belo;
guardava-o Loki em magnífico castelo,
para com ele distrair seus visitantes...
Mas um dia, quando esfregava um olho,
quatro duendes do pior restolho
roubaram seu espelho e o carregaram
e pelo mundo aos humanos o mostraram,
provocando entre as mulheres o receio
e entre os homens ódio e cólera infamantes!

Após divertimento assim maldoso,
antes que seu mestre Loki o descobrisse,
até ao Valhalla acharam lindo que subisse, (*)
para enfrentar a própria divindade!
Mas encontraram o guarda do portão,
que ergueu a espada em rápido clarão
e estilhaçou o Espelho da Maldade!...
Porém Heimdall agiu com ingenuidade: (+)
mil fragmentos do espelho portentoso
se derramaram por sobre a humanidade!...
(*) A Mansão dos deuses nórdicos, localizada acima da Terra..
(+) O guarda do portão do arco-íris, chamado Ponte Bifrost.

Quem recolhia cacos nos seus olhos
passava a ver o mundo em pessimismo,
porém se até ao coração, em cataclismo,
o fragmento penetrasse, seu efeito era pior!
Pedra de gelo seu coração agora,
já praticando maldades, sem demora:
por isso existe até hoje a violência,
travam-se guerras sem qualquer clemência,
torpedos lançam barcos nos escolhos,
almas geladas nos demais causando dor!

A RAINHA DA NEVE IV

Depressa Loki compreendeu o acontecido,
sem lamentar a sua perda do artefato,
um resultado bem maior, em triste fato
do que havia inicialmente imaginado.
Foi Heimdall entregar a Odin sua espada: (*)
“Senhor, castigue-me por minha ação malvada!”
Contudo, Odin perdoou: “Eras Guarda do Portão;
erraste, mas só cumpriste a tua função;
eu perdoarei ao coração arrependido,
se induzido pelo espelho a um vil pecado!...”
(*) Odin ou Wotan, o rei dos deuses nórdicos.

Foi o que houve com Peter, coitadinho!
Seu coração se virou em cristal de gelo;
não pôde o mal inteiramente tê-lo:
era criança, ainda a guardar certa inocência,
mas abafava quaisquer nobres sentimentos
e ao invés de agradecer os bons intentos
de Gerda, para o argueiro lhe assoprar,
disse: “Seu mau hálito me está a sufocar!”
E começou, sem temer qualquer espinho,
as rosas a arrancar com violência!...

E quando Gerda começou a soluçar,
ele fez troça: “Como tu ficaste feia!
Parece gosma que em teu olhar se enleia...”
Seus pais e a avó passou a desrespeitar,
o interesse já perdera por histórias,
sempre a zombar das partes mais simplórias
e a imitar pelas costas a sua voz...
Logo a seguir, também a outros se dispôs,
até que alguns chegaram mesmo a admirar:
“Que belo ator esse menino ainda vai dar!...”

Com Gerda agora ele não mais brincava.
“Não sou criança, já sou um rapazinho!”
Saía às ruas sem ordem, algum vizinho
de alguma forma sempre a desrespeitar...
Logo as queixas chegavam a seus pais;
se o repreendiam, se emburrava por demais...
Certo dia, um trenó pegou emprestado
e disse a Gerda que o lago havia gelado
e que até lá para correr se encaminhava...
“Mas sem cavalo para te puxar...?”

A RAINHA DA NEVE V

“De cavalo não preciso, eu dou um jeito!”
Quando passou uma carruagem devagar,
com uma corda foi depressa se atrelar,
sem que os donos da carruagem percebessem,
em travessura realmente perigosa,
especialmente quando a corda pegajosa
pelos cristais de gelo desamarrar tentasse;
mas vira outros e a maneira como faz-se;
observando, logo aprendera sem defeito,
soltando a corda quando o carro desviassem!

De carro em carro, chegou ao lago, finalmente,
vendo um veículo branco e cristalino,
dama belíssima da boleia bem no cimo, (*)
quatro branquíssimos cavalos a puxar;
e o trenó grande diminuiu a velocidade,
tal qual fizesse-lhe um convite, na verdade;
então Peter se amarrou, sem hesitar,
logo saindo depressa a deslizar,
com rapidez espantosa e surpreendente,
para bem longe deixando-se arrastar!
(*) Assento dianteiro para o condutor.

Quem era a dama do veloz trenó?
Peter, de fato, sequer se importava,
era só a velocidade que o inebriava,
dando voltas ao redor do branco lago...
Mas logo após, o trenó seguiu em frente,
deixando para trás cidade e gente;
então Peter começou a se inquietar,
seu trenozinho procurando desatar,
mas a Dama lhe fez um sinal só:
ao mesmo tempo uma ordem e um afago...

O branco trenó continuou a avançar,
mais uma vez Peter tentou a corda;
a Dama então com novo sinal o aborda
e Peter se permitiu levar avante,
mas viu que a tarde já estava adiantada
e teve medo de retornar em caminhada,
sem conseguir carona em outro carro...
Com um esforço maior, me desamarro!
Mas mesmo solto, não conseguia parar!
Seu trenó sempre levado para adiante!...

A RAINHA DA NEVE VI

Já bem longe da cidade, enfim pararam
e a Dama desceu então de sua carruagem;
quando ele a viu, perdeu toda a coragem:
sem a menor dúvida, da Neve era a Rainha!
O que ela vai querer fazer comigo?
Abelhas brancas, qual exército inimigo
começaram a cair em denso véu,
impedindo a visão até do céu!...
Eram flocos de neve e já aumentaram,
maior ainda cada qual deles já vinha!...

Alvas abelhas já não mais lhe pareciam,
porem pardais e até mesmo andorinhas!...
“Aonde se foi a bravata que antes tinhas?”
Peter ficou incapaz de dar resposta...
“É inútil em dois veículos nós andarmos:
no meu trenó será bem melhor ficarmos...
Entre logo, trago um grosso cobertor,
pele de urso que te dará um bom calor!...”
De Peter os olhos já nada mais viam,
senão a Rainha de alva beleza exposta!...

Assim que entrou no trenó, ficou gelado:
quando a Rainha o envolveu em abraço
seu calor corporal sumiu sem traço...
Mas a Rainha beijou-o, docemente
e ele passou logo a sentir-se confortável.
“E o meu trenó?”  Ela falou, bem amigável:
“Ora, não é preciso preocupar-se...”
Um grande floco viu em sua mão formar-se,
até virar-se em níveo pássaro emplumado,
que seu trenó foi puxar incontinenti...

Junto à Rainha, a conversar baixinho,
chegou logo a uma praia, junto ao mar;
com um sinal, fez ela a água congelar,
sobre o gelo prosseguindo velozmente;
os dois cavalos eram sombras a puxar,
talvez em águias já a se transformar:
voaram sobre lobos em alcateia,
por ursos brancos em fileira como aleia,
depois por focas, morsas, leão marinho,
seu rugido a emitir, bem reverente...

A RAINHA DA NEVE VII

“São meus súditos, não precisa ter receio;
logo estaremos em meu grande castelo...”
E realmente, já surgia, imenso e belo,
vasto palácio, todo feito de geleira!...
Mas não se via por ali um ser humano
junto à amurada feita em gelo soberano;
então chegaram a magníficos portões,
que se afastaram, em rápidas moções...
Cansado, Peter adormeceu no meio
nos frios braços da Rainha hospitaleira!

A pobre Gerda ficou na rua a suspirar,
o seu medo aumentando lentamente...
com o demora, seus pais e muita gente
até o lago foram juntos procurar;
outros meninos mencionaram a carruagem
a cuja traseira se atrelara com coragem;
chegada a noite, sem o menor sinal,
todos voltaram, já temendo um grande mal:
devia ter caído, provavelmente a congelar,
mas nesse escuro não o podiam encontrar!...

Passou-se um mês, os pais perderam a esperança
do pobre Peter conseguirem recobrar;
nem o trenozinho se avistara em algum lugar...
Só no degelo, chegada a primavera...
Gerda, contudo, nunca desistiu,
mas a Avozinha tampouco mais sorriu;
pouco a pouco, a primavera já chegava
e Gerda junto ao Sol se lastimava:
“Peter morreu?” – falava-lhe a criança.
“Não vi sua morte.  Conserva-te na espera...”

Foi então Gerda conversar com as Andorinhas.
“Meu amiguinho morreu?” – “Não vimos nada
por onde andamos,” respondeu-lhe a passarada.
Novas Rosas nasceram, chegada a primavera.
“Peter morreu?” – falou, quando as beijava.
“Ele matou nossas irmãs e as acusava
de serem feias e de cheirarem até mal...
Porém não cremos e medo temos, afinal,
que ele retorne a quebrar nossas filhinhas:
no passado, ele portou-se igual que fera!...”

A RAINHA DA NEVE VIII

Assim Gerda também deixou de acreditar
e foi falar com seus pais diretamente:
“Vou sair pelo mundo, eu sou valente
e só retorno quando achar seu paradeiro...”
Ela calçou seus sapatinhos vermelhos,
sem aceitar qualquer conselho dos mais velhos.
A Avó de Peter disse a todos, finalmente:
“Deixem que vá, a inspiração potente
de nosso Deus vem nas crianças se mostrar...”
Disse seu Pai: “Então, que vá primeiro...”

“Depois eu irei segui-la, sem que note...”
Gerda chegou até o rio e lhe falou:
“É verdade que aqui Peter se afogou?
Se o devolver, eu lhe darei meus sapatinhos...”
E julgando que o rio lhe respondera,
lançou-lhe os sapatinhos que trouxera,
mas uma vaga os devolveu depressa:
“Aqui não se afogou!” – a Onda confessa.
Foi então Gerda desamarrar um bote
e se entregou do rio a seus caminhos...

Amedrontada, permeio à correnteza,
ela indagou de cada passarinho:
“Nesse inverno você viu meu amiguinho?”
Porém as aves negativa lhe chilreavam...
Finalmente, ela avistou belo jardim
com dois soldados de madeira, assim
postados, em saudação aos viajantes.
Ela indagou, com pedidos incessantes:
“Viram meu Peter aqui passando, com certeza?”
Mas os soldados nada lhe falavam...

Contudo, o barco parou nesse remanso,
até então livre, pois não pegara remos
e por mais que repetisse seus acenos,
nenhum dos dois soldados respondia...
Até que enfim, apareceu-lhe uma Velhinha,
com um imenso chapéu branco que sustinha.
“Mas o que está fazendo aqui, menina?
Esse rio é perigoso e traz má sina!...”
Por mais velha parecesse, sem descanso,
pelos degraus de uma escadinha já descia...

A RAINHA DA NEVE IX

Puxou o barco para o ancoradouro;
tomando Gerda nos braços, fez sinal
e o bote sem âncora ali ficou, afinal...
“Coloque agora os seus vermelhos sapatinhos,
senão nas pedras se machuca ao caminhar
e me diga o que a trouxe a navegar...”
Levou a menina para dentro de sua casa,
serviu-lhe chá e os bolinhos que lhe apraza,
a história ouvindo com respeito e com decoro,
sorrindo sempre, cheia de carinhos...

Dentro da casa brilhava luz estranha,
que passava por dez vidros coloridos.
Havia um prato com cerejas e incontidos
De Gerda os dedos já foram apanhá-las.
“Coma à vontade, minha menina linda!
Nem imagina como aqui será bem-vinda!...”
Era uma fada, mas muito solitária,
há muitos anos companheira solidária
querendo ter... E em ambição tamanha,
seus cabelos segurou para penteá-los...

Ora, esse pente transmitia esquecimento,
mesmo deixando os cabelos muito belos;
também os frutos... E Gerda, após comê-los,
viu-se tomada de um profundo sono...
“Não tenha medo, minha querida, está segura...”
Levou-a a cama de singela alvura;
Mas enquanto sua filhinha adormecia
seu Pai, que a seguira, se perdia,
por um encanto a garantir o seu portento,
palavras mágicas murmuradas com entono...

Para guardá-la, a fada precisava
fazer sua vida esquecer completamente;
e das rosas, que recordava docemente,
viu ameaça a devolver-lhe a solidão...
foi ao jardim e com gestos misteriosos,
trocou as roseiras por botões formosos
de flores ainda mais belas... As andorinhas
baniu do céu para as chácaras vizinhas;
até do Sol seu ouro já filtrava,
diante do rio fez erguer-se um paredão...

Assim Gerda de tudo se esqueceu;
voltou o Pai, tristemente, até a cidade,
desaparecida a menina de verdade...
Mas Gerda ali passou a viver feliz,
cada aposento com encanto protegido...
Mas a Fada, por acaso, havia esquecido
que presa em seu chapéu havia uma rosa
e quando o colocou, ainda vaidosa,
logo a lembrança na menina se acendeu:
A verdade vem à tona, é o que se diz...

A RAINHA DA NEVE X

Depressa Gerda correu para o jardim,
sem encontrar sequer uma roseira
e se pôs a chorar, não mais fagueira:
Mas por que não existem rosas por aqui?
Caindo as lágrimas, subiram desde o chão
belos arbustos, já com rosas em botão...
Só então percebeu que estava ali parada
há várias semanas, da mente já afastada
a sua missão, que a conduzira assim,
sem compreender a sua demora por ali...

E olhando para os pés, ela notou
que os sapatinhos se haviam conservado...
Jurei andar até tê-los desgastado
e os sapatinhos ainda estão novinhos!
Não via o rio que ocultava o paredão,
mas correu para o outro lado até o portão
e se lançou a correr pela paisagem,
já amarelada pelo outono em sua voragem!
Ai, meu Deus, o verão já se acabou!
Não achei Peter, meus pais deixei sozinhos!

Mas depois de completar longa corrida,
Sentou-se Gerda a fim de descansar
E lembrou de com as roseiras conversar:
“Nós estivemos por baixo da terra,
que é onde põem os mortos e não vimos
seu amiguinho Peter e nos rimos
porque ele ali não nos poderia judiar;
mas agora que nos foi desencantar,
dizer podemos, com a certeza conseguida:
não está morto, já que o solo não o encerra!”

Uma Gralha veio então pousar bem perto.
Disse “crá-crá” e grasnou o seu bom-dia.
“Amiga Gralha, por acaso não teria
visto Peter, meu primo e amiguinho?”
“Crá-crá!  Primeiro você vai ter de descrever...”
Gerda explicou.  Disse a Gralha: “Pode ser.
Há muito tempo eu vi passar uma carruagem,
nela um menino completando uma viagem,
que leva ao norte, ao tal país deserto...
Renas percorrem esse terreno geladinho...”

A RAINHA DA NEVE XI

“Mas seu amigo certamente já a esqueceu,
havia Rainha de uma beleza extrema
que ainda não casara, o que é uma pena,
pois não queria ter um príncipe qualquer;
uns apenas se preocupam em vestir bem,
outros desejos de guerra apenas têm,
alguns preferem só sair para caçar
e outros pretendem a dezenas namorar,
mas a Rainha já muitos livros leu
e é mais um jovem instruído que ela quer...”

“Prefere alguém com quem possa conversar,
trocar ideias e quiçá até aprender,
mas cada pretendente a aparecer,
chegando a ela, já ficava embaraçado;
a maioria perante ela se cala,
só na saída a recobrar a fala
e os criados, soldados e burgueses
riam-se deles.  Também eu, por muitos meses,
eu que sou Gralha, facilmente ia falar,
mas cada príncipe era logo descartado!...”

“Um dia, contudo, vi chegar ali um menino,
trazendo nas suas costas a mochila,
dos soldados sem temer a longa fila...”
“Era mochila?   Não seria o seu trenó...?”
“É, talvez fosse. Não prestei grande atenção;
sei que a Rainha encantou-se na ocasião
e fez o mágico da corte o transformar
em belo jovem, que então podia desposar...”
“Mas era Peter!  Foi esse o seu destino!...”
“Ora, não sei...  O que eu vi foi isto só...”

“Mas eu preciso chegar a esse castelo!”
“Não deixarão entrar ali uma menina!”
“Mas eu preciso!  Sei esta ser minha sina!”
“Bem, minha noiva mora lá.  É inteligente
e talvez possa até achar-lhe um meio...
Espere aqui...” Então a Gralha macho, sem receio
Voou até o castelo, retornando com pãozinho.
“Decerto está com fome... De mansinho,
Nossos parentes a levarão, com zelo
até janela, por que passa, facilmente!...”

A RAINHA DA NEVE XII

De fato, ela encontrou-se com a princesa
e a seu lado estava o seu marido;
não era Peter, nem ao menos parecido,
mas sua história lhes contou e verteu pranto.
Os dois depressa se apiedaram dela;
deram-lhe roupas de veludo, ficou bela,
porém não quis trocar seus sapatinhos,
mas antes de retomar os seus caminhos,
chamaram as aves do norte, com presteza,
que lá do Polo escrutavam cada canto. (*)
(*) Percorriam, examinavam.

Ele está mesmo é no castelo junto ao Polo,
junto à Rainha da Noite e já esqueceu,
de tudo quanto em seu passado aconteceu;
só tem olhares para a Rainha fria...
Porem lhe mostraremos o caminho,
sempre um de nós a seguirá, devagarinho...
Gerda, então, despediu-se do casal
e se pôs a caminhar, sem sofrer mal,
ao ponto extremo do gelado Mar do Norte.
Lá estava Peter.  Enfrentaria sua sorte!

Eventualmente, um animal lhe apareceu,
igual que Gerda nunca vira antes na vida.
A última Gralha lhe falou: “Querida,
esta é uma Rena, que fiel a levará
até o palácio gelado da Rainha;
não poderá até lá chegar sozinha;
está o mar cheio de pedaços de gelo,
mas a Rena seu caminho acha com zelo...”
Logo o medo do animal Greta perdeu:
não mais de caminhar precisará...

Pôs-se a Rena a trotar alegremente;
Greta com ela repartia o pão
que lhe haviam dado como provisão
e finalmente chegaram a uma choupana...
Uma Velhinha cozinhava peixe;
abriu a porta para que ambos entrar deixe.
Falou-lhe a Rena na língua dos Lapões,
contando a história de Gerda e emoções
despertou num coração muito clemente
da senhora, que já em carinhos se derrama...

A RAINHA DA NEVE XIII

“Ah, meus pobres, queridos amiguinhos,”
disse a Velhinha, bastante compungida,
“que viagem mais longa e dolorida
e quanto os dois já devem ter sofrido!
Até o castelo que vocês procuram
longas estradas mal traçadas duram:
trezentas milhas até a fronteira finlandesa,
mais outras tantas até a gelada fortaleza!...”
E fez na Rena e em Gerda mil carinhos,
esta com medo ao lembrar do já ocorrido...

“Ora, de mim não precisas ter receio:
eu sou sozinha, mas não vou retê-la
e se quisesse, essa sua Rena bela,
bem certamente, não mo permitiria!...
Os dois apenas vão passar a noite aqui;
há uma Feiticeira com quem já convivi
e vou recomendá-la a seus cuidados...
Somente comam e durmam, descansados,
Apenas sua presença já hoje me alivia...”

No outro dia, após lauta refeição,
pegou a Velhinho de uma faca imensa!
Gerda ficou no mesmo instante tensa...
“Mais uma vez, esqueça o seu temor...”
Tomou um arenque seco e ali gravou
algumas runas e em oleado o enrolou.
“Eu não disponho de lápis ou papel;
para a mensagem este peixe é o meu fiel;
não se desfaça nunca dele, coração,
será grande proteção em seu favor...”

“Cada runa tem seu nome.  Escute-o agora,
e não o esqueça!  Mas somente o pronuncie
quando de fato precisar de alguém que a guie
ou proteção contra os poderes da Rainha!”
Chegou ao ouvido da Rena e pronunciou
palavras mágicas, que a Rena macho confirmou,
depois lhes dando provisões para a viagem:
“Nada acharão de alimento ou de pastagem!”
E lá partiu o par, sem mais demora;
dias depois, outra choupana se avizinha...

A RAINHA DA NEVE XIV

A Feiticeira os recebeu com amizade
e a Rena lhe explicou por que chegavam
logo depois que ali se aconchegavam;
as runas leu e só duas permaneceram.
“Trezentas milhas têm ainda por caminho;
vou ajudá-los com um vento pequeninho:
trouxe um saquinho que atou com quatro nós:
“Desate apenas um ou então segundo após:
um solta brisa de pouca adversidade;
já meus dois nós vento forte ali prenderam.”

“Porém, caso você a três desate,
irá a seguir dar saída a tempestade
e se os quatro desatar, com ansiedade,
dará origem a um vasto furacão!
Mas vou também lhes dar uma bebida
que a força de dez homens traz contida
e mais um sopro que produz grande calor,
para vencer todo o gelo em seu horror.
Mas é importante que as instruções acate,
Ainda que traga esse arenque na sua mão.”

“Antes de tudo, precisamos revelar
se o seu amigo está mesmo em tal lugar,
senão inútil será todo o seu penar!”
Assim falando, traçou um círculo ao redor
De Gerda e de sua Rena protetora,
com um pozinho que de suas mãos aflora,
mesmo que antes vazias parecessem;
tomou uma pele das que mais aquecem,
cheia de runas, que se pôs a decifrar,
até que um Troll condensou-se do vapor!...

Ela ordenou que o monstro respondesse
e que dissesse apenas a verdade:
“Conheceu Peter, um menino da cidade?”
“Não o conheço, mas certamente o vi,
Da Rainha da Neve na carruagem...
Em seu castelo completaram a viagem!”
A Feiticeira então ao Troll mandou embora.
“Mas é preciso que saiba desde agora:
ele está preso, mas sem que nada percebesse
da tristeza deste lugar que vejo aqui...”

A RAINHA DA NEVE XV

“Assim se encontra, porque traz no coração
caco do espelho que por Loki foi forjado;
tudo que é belo lhe parece endiabrado
e quanto é feio lhe demonstra formosura;
por isso se acha sob o encanto da Rainha,
velha e angulosa pelo frio que ela continha;
mas lhe parece que tão só beleza encerra,
a mais formosa mulher de toda a Terra.
De sua amizade já olvidou toda a emoção,
quase gelado nesse frio que ali perdura!...”

“Quando o encontrar, precisará saber
se Peter concorda que o tire de lá;
o fragmento de espelho o impedirá
e a Rainha o irá manter em seu domínio.”
“Mas não pode lhe dar,” indagou a Rena
“um talismã?...” E respondeu ela, serena:
“Não lhe posso conceder qualquer favor
que ela já não tenha a seu dispor...
Pois não percebe como é grande o seu poder?
Com muitos seres conversa e tem fascínio...”

“A sua força está na sua bondade;
de que outra forma se poderá explicar
que com tão leves sapatinhos a calçar
já tenha andado qual o Judeu Errante?
Se ela por si só não alcançar
toda a força da maldade contrariar
e o fragmento de Peter extrair,
magia alguma o pode conseguir;
somente lhe posso reforçar a ingenuidade,
terá de agir sozinha doravante...”

“Ante o castelo um grosso arbusto existe,
mesmo na neve, com frutinhos encarnados;
deves levá-la até lá, sem mais cuidados;
volta a seguir, que já não podes fazer mais...”
A Maga finlandesa então lhe deu
botas forradas e um par de luvas concedeu,
mas no outro dia a Rena a apressurou:
“Senhora Gerda, nossa hora já passou!...”
E como o seu amigo tanto insiste,
Gerda se ergueu, sem esperar demais...

A RAINHA DA NEVE XVI

Mas pela estrada logo frio sentiu:
“Rena, querido, as luvas eu deixei
e minhas botas novas não calcei:
vamos voltar, que não aguento mais de frio!”
Porém a Rena obedeceu às instruções,
chegando ao arbusto mesmo nessas condições
e ali deixou-a, ao lado das frutinhas;
com muita fome, Gerda comeu todinhas
e um calor no corpo inteiro lhe surgiu,
começando a marchar com muito brio!...

Logo o seguir, recomeçou a neve,
porem os flocos não desciam desde o céu:
rolavam pelo chão, em denso véu,
e se tornavam cada vez maiores!...
Como bolas de neve se juntavam
e logo feras e monstros figuravam,
aproximando-se, em frígida ameaça;
Greta lembrou de desatar um nó, depressa.
e a malta branca recuou, porém se atreve
mais uma vez a aumentar os seus poderes!

Então Gerda desatou um segundo nó
e novamente para trás os monstros foram,
mas a seguir outras forças desdobraram...
Greta falou: “Ai, meu Deus!  De nada adianta,
aqui domina do gelo a fria maldade!...”
Mas seu hálito condensou-se em intensidade
e novamente os monstros hesitaram:
Os vapores de minha boca os atrapalharam!
Então Greta lembrou as palavras da Vovó
e uma canção do Yule ela descanta!...

Destarte, a cada nova palavra que dizia
a muralha em torno dela se aumentava,
mas tão logo a proteção se assegurava,
outras palavras se tornaram figurinhas,
que uma espada e um escudo seguravam
e nas cabeças capacete ainda portavam
e no momento em que punham pés no chão
aumentavam de imensa proporção
e de imediato o povo gélido fugia,
desfazendo-se em poças pequeninhas...

A RAINHA DA NEVE XVII

Gerda marchou em frente, com coragem,
o tempo todo cantando sem parar,
o seu pequeno exército a aumentar,
e assim do gelo toda a horda desmanchava...
Finalmente, quando tudo derreteu
e o solo gélido toda a água absorveu,
seus ajudantes também viu se dissipar
e logo à frente pôde o castelo divisar,
sentindo quase o fim de sua viagem,
interrompendo, afinal, quanto cantava...

Por via das dúvidas, os dois nós ela refez,
pois não queria um furacão ou tempestade;
viu não ser lindo e nem castelo de verdade,
pois não passava de um paredão de gelo,
em que se abriam ora porta, ora janela,
mas com os portões fechados para ela...
Contudo, com os sapatinhos desmanchados,
o frio queimando seus pezinhos já gelados,
respirou fundo e avançou mais uma vez
contra o castelo que assustava só de vê-lo...

A cidadela era imensa, na verdade,
paredes grossas, com metros de espessura
e era o vento a formar cada abertura,
que logo após se fechava novamente,
mudando portas e janelas de lugar,
muito difícil lá por dentro caminhar;
era formado por mais de cem salões,
sem ornamentos, móveis ou brasões,
paredes lisas, mas com mobilidade,
descia neve e as reformava incontinenti!

Não dispunha de soldado ou cortesão:
só a Rainha é que vivia aqui,
nem animais se achegavam para ali,
somente ao centro havia um trono imenso,
em que a Rainha sentava e adormecia,
porém Pedro, de encantado, nada via;
alimentado pelos beijos da Rainha,
estava azul na solidez que tinha;
ali imaginava haver vasta multidão,
tapeçarias e estátuas... contrassenso!

A RAINHA DA NEVE XVIII

Devido ao mágico fragmento desse espelho,
percebia lindo e quente o lugar feio
e nem sequer sentia algum receio
por não comer ou beber há tanto tempo!
Deu-lhe a Rainha um quebra-cabeças,
colorido e composto por mil peças,
de fato, apenas mil cristais de gelo;
porém Peter nunca assim podia vê-lo
e acreditava desenhar um escaravelho,
animais, flores, insetos, bem atento!...

De Gerda ou da cidade nem lembrava
e a Rainha lhe contara uma mentira:
“Se essas peças você com cuidado vira,
irá formar um sol e a centro dele,
a palavra Väryëdag, ou “Eternidade”
dar-lhe-ei então do mundo a variedade,
sobre os humanos reinarás, o meu herdeiro...
Sapatos novos lhe darei também primeiro!...”
Tudo mentira: a tal palavras significava
“todos os dias”, mas ela assim troçava dele...

Peter em tudo que ela dizia acreditava,
mas a Rainha não conhecia a eternidade,
vivia de dia para dia, em realidade,
mas como Peter poderia sabê-lo?
Certo dia, a Rainha aproximou-se,
deu-lhe o beijo de costume e afastou-se:
“Querido, as Terras Quentes vou hoje visitar,
porém não pode por lá me acompanhar...”
(Era sobre os vulcões que então falava.)
“Mas a Senhora não domina sobre o gelo?”

“Porém mantenho quietos os vulcões:
Vesúvio, Stromboli, Etna e outros mais;
não fosse eu, explodiriam por demais...
Se em suas panelas a pressão aumenta,
derramo neve e gelo nas crateras
e assim se acalmam as perigosas feras...
Por acaso, pensa ainda que sou má?
É por minha ajuda que catástrofes não há!”
(De fato, o calor intenso das erupções
contra as neves de seu reino muito atenta!)

A RAINHA DA NEVE XIX

E nesse dia, a Rainha das Neves retirou-se,
deixando os flocos do castelo como a Guarda,
na oportunidade que Gerda mais aguarda...
Foi coincidência ou a força do destino...?
Assim, ao ver como mudavam as aberturas,
o Vento Norte a fazer suas diabruras,
ela abriu novamente o seu saquinho,
deixou o primeiro Vento de fora, bem mansinho,
que contra o vento forte condensou-se
e desatou segundo nó, bem pequenino...

Pelo segundo então fortalecido,
o Vento Mágico o portão para ela abriu
e facilmente entrar na corte conseguiu,
a percorrer com firmeza esse salão,
até que Peter, finalmente, ela encontrou
e a seu pescoço gelado se atirou:
“Peter!  Peter!  Encontrei-o no final,
após tanto caminho e tanto mal!...”
Porém Peter só encarou-a, surpreendido:
“Quem é você, menina sem noção?...”

Gerda caiu em pranto.  Após tanto trabalho,
seu amiguinho nem a reconhecia;
logo seu choro sobre Peter recaía
e de algum modo penetrou-lhe o coração
e ao pedaço de vidro feito em gelo
seu quente pranto conseguiu amolecê-lo
e entre lágrimas, Gerda então cantou
a Canção do Yule que a Vovó lhes ensinou;
subiu o vidro aos olhos, como um talho:
Peter sentiu-se tomado de emoção!...

Só então o caco saiu de seu olhar,
pingando até o chão, com um tinido;
ao estilhaçar-se, com lamento de gemido,
a fortaleza inteira estremeceu!...
E a dura neve que compunha a cidadela,
começou a derreter, rude procela;
caíam do teto os pingos cintilantes,
depois pedaços de gelo mais gigantes,
já as paredes começando a desabar,
rachando o piso do salão que os acolheu!

A RAINHA DA NEVE XX

Por mais que os dois corressem, não podiam
daquele vasto cataclismo se escapar,
seguiam em frente, mas tinham de recuar,
até que Gerda se lembrou de seu arenque
que trazia sob a roupa!... E então gritou
as duas runas que a Velhinha lhe ensinou:
dois seres gigantescos ali surgiram,
a protegê-los, para que os blocos não os firam
e depressa no portão os dois se viam,
os dois gigantes a seu lado como um renque! (*)
(*) Fileira, em geral de árvores.

“Gerda, querida!” – gritou Peter, finalmente
“Mas quanto tempo!  Por que me abandonou?”
Sem recordar que foi ele que a deixou...
Olhou o castelo que já se desmanchava:
“Mas como era frio e vazio esse lugar!”
O quebra-cabeças os estava a acompanhar,
saltando alegre, tal e qual tivesse vida!...
Quando pararam numa área protegida,
Peter dobrou-se e ao tocá-lo de repente,
Cada cristal já em seu posto se encaixava!

E diante deles formou-se então um sol,
e bem no centro, a palavra “Eternidade”;
encheu-se Peter de vivacidade;
Gerda beijou-lhe as faces nesse instante;
Peter perdeu todo o sem tom azulado,
seu movimento total já recobrado!...
Mas a Rainha, lá de longe, percebeu
quando a sua fria cidadela derreteu
e regressou, como puxada por anzol:
desatou Gerda o terceiro nó, vibrante!

Saiu um vento de forte tempestade:
recuou a Rainha, mas logo retornou;
o quarto nó então Gerda desatou
e a Rainha foi jogada para trás,
até o Etna, o vulcão de que viera
e o furacão ali prendeu-a como fera:
durante anos, não conseguiu sair,
todo o seu reino de verde a reluzir;
e assim chegaram sem maior dificuldade
àquele arbusto que vermelhos frutos traz...

A RAINHA DA NEVE XXI

Pararam um pouco para ali se alimentar
e então de longe surgiram duas Renas,
trazendo duas renazinhas bem pequenas,
já com idade para poder pastar;
Gerda e Peter nas adultas já montaram,
enquanto os gênios para o céu se alçaram;
foi outra longa viagem, realmente,
bebendo leite de Rena, bem frequente,
até a casa da Feiticeira se alcançar,
que botas e luvas não cessara de guardar...

E de algum modo, ali acharam o trenó,
em que suas Renas logo foram atreladas,
alegremente por renazinhas acompanhadas,
até chegarem na choupana da Velhinha,
que lhes havia dois casacões tecido
e para Peter um par de botas conseguido;
então as Renas também se despediram
e de mãos dadas a pé os dois seguiram,
por muito tempo, branco deserto só,
mas o caminho nunca suas botas espezinha.

Já mais adiante, Peter lança improvisou,
caçando bichos para se alimentar,
mais um caniço para poder pescar,
enquanto Gerda doces frutas conseguia;
muito depois, retornaram à cidade,
no dia preciso da Natividade;
no templo estava toda a povoação,
cantando os cânticos da antiga geração;
Peter as suas lembranças recordou
E logo a rua de suas casas já se via...

Gerda guardara a chave de sua casa:
os dois entraram e ali espelho acharam
e sua mudança somente então notaram:
Uma jovem linda, um rapaz, ambos garbosos,
suas roupas acompanhando o crescimento
(Nada espantoso após tanto portento)
E na sala os dois sentaram a esperar,
para a chegada de seus pais observar;
a Vovó velhinha, mas com olhar ainda em brasa,
seus pais mais velhos, mas ainda vigorosos...

EPÍLOGO

Inicialmente, não os reconheceram,
mas foi depois a maior felicidade,
suas histórias a contar em saciedade,
até que, finalmente, descansaram.
Um mês mais tarde, celebrou-se o casamento,
toda a cidade em grande movimento
e muito em breve os filhos lhes chegaram;
honestamente, os dois sempre trabalharam
e muito tempo ali juntos ambos viveram,
depois de tanto trabalho que passaram!...