BEBENDO
HORIZONTES 24/1-2/2/18
NOVAS
SÉRIES DE WILLIAM LAGOS
BEBENDO
HORIZONTES -- 24 JAN 2018
HEMATOMA
DE AMOR -- 25 JAN 2018
SOM
EM CINZAS -- 26 JAN 2018
CREMAÇÃO
-- 27 JAN 2018
AMOR
CREMADO -- 28 JAN 2018
PERDA
DE PALAVRAS -- 29 JAN 2018
ONDE
NUNCA ESTIVE -- 30 JAN 2018
ONDE
PENSO ter ESTADO -- 31 JAN 2018
ALUSÕES
-- 1º FEV 2018
GAGUEZ
-- 2 FEV 2018
BEBENDO
HORIZONTES I - 24/1/2018
No
limo azul de uma encantada fonte.
ao
debruçar-me, os olhos a lavar,
não
foi meu rosto que ali pude contemplar,
mas
o geométrico refletir de um horizonte.
E
por estranho que pareça tal reponte,
no
fim da Terra me fui dessedentar,
em
água solúveis, as silhuetas fui tomar
e
degluti para mim mesmo cada monte.
E
para longa vida o céu linear
dentro
em mim se assentou e me inspirei,
por
longas noite o horizonte conservei
e
quando enfim a morte me alcançar
no
limo azul dessa encantada fonte
cuspirei
o arcabouço do horizonte.
BEBENDO
HORIZONTES II
Dos
horizontes assim me embriaguei,
entranhado
nas pupilas seu recorte,
qualquer
monte, da planície algum ressorte,
no
quiasma ótico as imagens arquivei,
para
minhas redes neutrais as transportei,
em
recônditos do cérebro têm seu porte,
essa
serra verde-azul controle forte
do
que antes sopesava e só sonhei.
Vive
em mim o horizonte feito em verso,
descerro
nele o limite da distância,
que
a Terra é plana e cooptou o Sol,
que
morre ao entardecer e outro diverso
é
gerado no horizonte da constância,
do
azul do céu percorrendo o guarda-sol.
BEBENDO
HORIZONTES III
O
horizonte em mim se fez aquático,
em
cada veia e artéria azul corpúsculo,
em
cada capilar, por mais minúsculo,
correndo
verde em seu pendor enfático.
O
verde-azul não me torna sorumbático:
muito
ao contrário, a energia do crepúsculo
em
mim rebrota e fortalece o músculo
mental
em rudimento aristocrático.
Só
quem pôde deglutir o horizonte
consegue
manter forte a inspiração,
senda
tortuosa e de longa duração,
sem
que a amargura dentro em si remonte,
verde-azulado
a se fazer o coração,
como
petróleo a permear do sangue a fonte.
BEBENDO
HORIZONTES IV
Foi
muito mais que uma água peregrina
de
que um dia me abeberei na fonte,
pois
veio-me rasgar em seu desponte
nesse
esvair da estrofe que assassina
meus
dedos e meu peito, que se inclina
numa
sangria a rebrotar que mal se conte,
num
coágulo estagnado em verde ponte
entre
minhalma e o infinito da campina.
E
o horizonte que deveria restringir,
ao
ser vertido de mim mesmo nessa gesta, (*)
vai
pelo mundo inteiro se expandir
e
não se esgota como um fim de festa,
sendo
horizonte, afinal, em seu luzir,
que
quanto mais se gasta, mais me resta.
(*)
Canção de feitos romântico, saga.
HEMATOMA DE AMOR I -- 25 JAN 2018
Amor é como um chute na canela
golpe do qual é bem difícil recobrar,
que incapacita num momento e vai
inchar
um bom período, por culpa dessa bela
de forte olhar, tal qual brilho de
estrela,
sua faísca fulgurante a nos lançar,
sem seu amparo não se pode mais
andar...
Se não ajuda, melhor mesmo é não mais
vê-la!
Porque sem ela, só podemos claudicar,
e se forçarmos a ignorância de sua
ação.
se não nos quebra, nos deixa um
hematoma,
por toda a vida sua marca a nos
deixar,
rasgando os ossos até o coração,
que facilmente por assalto então se
toma!
HEMATOMA DE AMOR II
Esse amor dói e só passa lentamente,
mas até mesmo quando passa a dor
permanece-nos qualquer mancha de
amor,
um arco-íris que do inchaço se
alimente!...
Nem é coisa que nos deixe
descontente,
porque se expande no organismo com
vigor,
como vacina contra qualquer outro
esplendor,
infecção de caráter permanente!...
Se algum amor se dissipa facilmente,
foi provocado por casual carícia,
não foi seringa que na pele se
encravou,
passado o amor tal qual ferida rente,
só dói um pouco, sem real sevícia:
quem assim ama, de fato, nem amou!
HEMATOMA DE AMOR III
Bem reconheço ser imagem desusada,
talvez algum mesmo a tome por
grosseira,
mas é uma símile perfeita e
verdadeira
e nesse intuito deverá ser apreciada.
Já "ferida de amor" foi
muito usada,
fez-se imagem desgastada e
corriqueira;
no coração querem ver flecha
certeira,
não esse baque em ocasião inesperada!
E certamente do coração, vermelho,
o sangue corre, circulação retoma,
para o peito e o abdômen vai parelho,
porém desses sintomas feita a soma,
em qualquer ponto da pele vê-se o
espelho,
do verde ao púrpura na cor desse
hematoma!
HEMATOMA DE AMOR IV
E na verdade, por que a delicadeza
quando um assédio de amor nos
avassala?
Rasgando a alma como feroz bala,
bem mais que a seta dessa arcana
gentileza...
A marca fica, brasão de sua nobreza,
panóplia heráldica de perfeita gala,
marca o lugar em que a frecha nos
empala,
que amor perfeito não se apaga por
vileza!
Especialmente quando é amor maduro,
quando mais lento se recobra o
organismo
e a mancha fica ali por longos anos,
marca de fogo desse amor mais puro,
mais permanente que qualquer modismo
da adolescência em seus verdes
desenganos...
SOM EM CINZAS I == 26 JAN 2018
Por um só dia viver não poderia
sem tua presença ter sempre do meu lado,
por ela o coração sempre assombrado,
doce e gentil tal fantasmagoria...
Difícil expressar-me assim seria,
embora tenha tanto já expressado,
nesses milhares de versos desgastado,
como lanterna que em palidez luzia...
Mesmo assim, fui expressando, mês a mês,
o que sentia num qualquer momento,
embora algo sentisse que faltava...
E empós toda a poesia que se fez,
jamais soube descrever o sentimento
que tão diverso do coração brotava.
SONS EM CINZAS II
As sensações de amor variam tanto
que sempre algo fica por dizer,
algo importante a se desvanecer,
amortalhado em transparente manto.
Porque não é inaudível esse canto,
nem invisível fragmento do querer,
só não se o pode inteiro descrever,
nessa escala da alegria ao doce pranto.
Pois todo amor é feito de incerteza,
em mil nuances de imperfeito gris,
acinzentados os sons emocionais,
belo em feiúra, feio em sua beleza,
impermanente silhueta feita a giz,
feitos de poeira tantos seus sinais.
SONS EM CINZAS III
Destarte eu já tentei, dia após dia,
e acreditei ter expressado tanto,
insuficiente, porém, nesse porquanto
o reflexo furtivo que escorria.
Contudo o peito na tarefa persistia,
a descrever as mil cores desse espanto:
em cem metáforas de versos me agiganto,
sinto-me anão em quanto envidaria.
Conquanto amor descrevi em mil facetas,
azul-acinzentadas, róseo-gris,
gotas de cinza pingando na calçada,
nesse chuvisco de emoções secretas,
de um arco-íris maravilhado eu quis
pintar na tela em dança perfumada.
SOM EM CINZAS IV
Não obstante, ainda te encontro diariamente,
raros os dias em que vais viajar,
durante os quais ainda vamos conversar,
até as imagens veem-se hoje facilmente...
E sinto o teu amor circunjacente,
contudo múltiplo nos dons de se expressar,
esguias sombras vêm-se condensar
e a tal completo descrever sou impotente.
Porque és mulher e mudas tão frequente!
Amor preciso assim sempre renovar,
sua confissão em cinza farfalhar,
um som turbilhonante mas presente,
na escala gris de minha insensatez
de ter nos dedos faiscar que se desfez!
CREMAÇÃO 1 -- 27 jan 2018
A jovem loura morreu num acidente:
de moto andava, esquecendo capacetes,
parentes longe ou só indiferentes;
de concussão perecera, tristemente!
Sem qualquer ferimento que apresente,
ossos inteiros, sem danos aparentes,
nesses momentos de mortes surpreendentes,
um golpe súbito não ocorre raramente...
Belo o cadáver entregue à funerária,
devidamente em ataúde colocado,
na capela finalmente a ser velada...
Sem dúvida, das amigas era vária
a afeição, mas na tragédia acompanhada,
rezando um terço em preces apressado...
CREMAÇÃO 2
Umas entravam, depois outras saíam,
cada qual a dispensar o namorado:
"Será um velório de caráter bem
privado"
era a frase que curiosos ali ouviam...
Só doze louras ali permaneciam,
mesmo que algumas de cabelo só pintado,
somente uma de louro platinado:
na maioria, tons de mel se viam...
Mas pareciam todas tão contritas!
Pranteando a morta com sinceridade,
a repetir as mais puras orações...
A dor presente nas faces tão aflitas,
suas fofocas murmurando sem maldade,
sem interferir em suas contrições...
CREMAÇÃO 3
Já de manhã, aproximada a hora
determinada para o enterramento,
chegou o padre em completo paramento,
para a alma encomendar-lhe sem demora...
Mas ao entrar no salão, seu rosto cora,
ao ver a morta nua em tal momento,
suas roupas dobradas num assento,
as amigas massageando essa senhora!
Olhando bem, viu que estavam passando
algum creme em todo o corpo da infeliz...
"Pois retornou da coma essa coitada?"
"Não, padre, não a vimos retornando,
mas antes de morrer, ela nos diz,
mais de uma vez, que queria ser
cremada!"
AMOR CREMADO 1 - 28 JAN 18
Dizem que o beijo de verão é benfazejo,
mas é o beijo de inverno que consola,
já que o calor oprimente nos amola,
a interferir na majestade desse beijo.
Igual que a adolescência traz ensejo
violento no hormonal em que se enrola,
encontros iniciais, primária escola,
ineficiente nesse início de desejo.
Mas se torna mais concreta na medida
em que a experiência se vem a acumular,
não mais apenas os terríveis feromônios,
que as emoções engastam em ferida,
superficial em seu cicatrizar,
por mais feroz que devorem tais demônios!
AMOR CREMADO 2
Aos poucos passa a fome e seu desejo
retorna firmemente, mais sensato,
sem ser mais da biologia um simples fato,
mas apreciadas as nuances desse beijo,
já controlado o impulso malfazejo,
nos recônditos do peito seu contato
é mais fiel, expande-se em recato,
por mais que venha a consumar-se o ensejo.
Não é apenas mais um beijo de verão,
mescla irrequieta de saliva e de suor,
na pura busca de sensual embriaguez,
mas já tornado muito mais do coração
esse beijo outonal, controlador
de algum impulso mais fútil que se fez.
AMOR CREMADO 3
Assim o beijo de inverno traz calor
que muito mais que o do verão nos alimenta;
para o amor espiritual nos dessedenta,
por mais prazer a acompanhar sensual amor.
Pois este é um beijo mais perene em seu
fervor,
a alma inteira tornando mais atenta,
o emocional mais profundo nos alenta,
reverberando em som de mais fragor.
Porque esse amor é que se quer mais
permanente
e não apenas experiência de passagem,
com vibração mais completa e reverente,
quando se sabe o valor que tem o beijo,
não mais corola aberta na paisagem,
porém rosal à espera de um adejo...
perda de palavras i
-- 29 jan 2018
Certa vez, à procura
de uma rima,
no intuito de
completar outro rascunho,
como sempre, a
redigir do próprio punho,
fugiu-me o termo que
a memória mima...
a palavra busquei, abaixo
e acima,
que de um soneto completaria o cunho.
tenho cuidado nos
versos que componho,
passando a limpo as
arestas com a lima...
mas a cruel não
conseguia achar!...
fui procurar até no
bolso do avental,
numa latinha sobre a
prateleira...
mas continuou assim
a se ocultar,
por mais soubesse
existir a natural
conclusão para
estrofe tão traiçoeira!
perda de palavras iI
os bolsos de minhas
calças consertei
com tiras grossas de
bom esparadrapo.
não fiz o mesmo com
os bolsos do casaco,
porque minhas chaves
ali nunca coloquei!
cair de um deles
certamente não deixei,
pois não havia ali
qualquer buraco.
quem sabe a enrolara
em algum farrapo
de sonho que na
mente não guardei?
tomei a chave da
porta da memória,
contudo a volta não
deu na fechadura,
um pé de cabra
talvez fosse necessário!
mas se a arrombasse,
no final da história,
qual de pandora,
toda palavra que murmura
talvez corresse para
o anel rodoviário!
perda de palavras
iII
e como nunca eu tive
uma gazua,
nem soube abrir
ferrolho com um plástico.
pela soleira, um
pensamento elástico
enfiei, que então na
mente me flutua...
indo a arpoar essa
palavra nua,
sem recurso a algo
de mais drástico,
girou em torno,
movimento espástico,
fortaleceu-se,
transformado numa grua...
pôs-se a caçar a
palavra ali perdida,
a interrogatório as
demais submetendo:
"onde está a
rima que ando procurando?"
"Qual o motivo
de estar sendo perseguida?
sem ordem judicial
eu não pretendo
responder ao que
está me perguntando!"
perda de palavras iV
mas como fosse já a tornar-se
violento,
aos demais termos
bastante perturbando,
bem do fundo veio
aos poucos se mostrando
um gentil termo ao
árduo pensamento.
"não é preciso
causar tanto desalento,
sou eu a rima que
anda procurando,
leve-me então para
quem o está enviando,"
sorrindo tímida em
manso cumprimento.
mas a rima era,
afinal, tão bonitinha
que o pensamento
propôs-lhe casamento
e se ocultaram nas
brumas da memória...
e ao perceber que
saída outra não tinha,
dos meus versos
mudei o ordenamento,
com outra rima
completando a história!
onde nunca estive 1 -- 30 jan 18
os dias são metálicos.
despedem-se
indiferentes, envoltos em armaduras;
pouco valor as intenções mais puras
têm nessa despedida, na qual cedem-se
côdeas de vida, nas quais medem-se,
sem retrocesso, mil centelhas duras,
cem golpes do destino em fatiaduras
distribuídas, sem que em nada quedem-se
sequer migalhas dos dias cintilantes
que foram mocidade; mais pesados
os dias que compõem maturidade,
até restarem somente, embolorados,
os dias da velhice, rastejantes,
em que o bronze se azinhavra sem piedade.
onde nunca estive 2
na realidade, não acredito no que dizem:
que com a idade se encurtem nossos dias.
é bem verdade encurtarem-se as quantias
que ainda temos a viver e assim deslizem
as perspectivas dos passos que ainda pisem
por este mundo pleno de heresias
e que esses planos a que te permitias
percentualmente não mais se realizem.
mas me parece que os dias me transcorrem
com a mesma lentidão ou rapidez
que me mostravam tantas décadas atrás
e quando bem aproveitadas, ainda escorrem
as horas vivas, em plena maciez,
sem de crê-las mais curtas ser capaz...
onde nunca estive 3
contudo, os dias seguem escorrendo,
impérvios às mais árduas tentativas
de fazê-los parar. são
coisas vivas,
só me permitem os momentos que estou vendo,
um a um a correr como um adendo
em direção às cordas recolhidas ,
que se enrolam nas estradas percorridas...
são bem guardadas. nada estou perdendo.
dorme a memória num passado torto
de anéis concêntricos, nunca linhas retas,
algumas vezes a sofrer remontamento,
quando a sofreguidão de um dia morto
se mistura a lembranças mais discretas
em mescla feita de amortecimento.
onde nunca estive 4
e numa dobra dos novelos dessa corda
se contaminam momentos diuturnos,
registrando quaisquer sonhos noturnos
com que a memória desperta não concorda,
mas uma volta superpõe-se a outra borda
dos círculos concêntricos diurnos,
na confusão de mil símbolos soturnos
com esses tais que a luz do dia nos recorda!
e de repente, no livro do passado,
registra algum evento desusado
a misturar o que se sonha e o que se vive
e assim assoma final recordação
das coisas que se sonha e das que são
nesses lugares em que, de fato, nunca estive!
onde penso ter estado 1 -- 31 jan 18
o mar da mente ruge e se encapela,
percorrido por tufões perimetrais,
por peculiares ciclones marginais,
a destruir visões que a mente vela.
e a mente ruge ao derrubar da estela
que eu lhe erguera em meus sonhos noturnais,
foram tão breves esses sonhos imortais,
cai o obelisco e já me esqueço dela.
o mar devora pesadelo e sonho
e só me restam visões fragmentadas,
oscilando entre pureza e impudicícia,
mas quando à mente racional exponho
as visões estão limpas, peneiradas
por grãos de areia em breve silvo de malícia.
onde penso ter estado 2
de fato existem memórias de algum sonho
que são muito mais claras que as reais;
elas assomam à mente, naturais
como um passeio por lugar risonho.
recordo mesmo retrato bem bisonho
de sonho tido aos quatro anos e não mais:
era uma flor de quatro pétalas iguais
que mudavam de cor; e de um medonho
pesadelo que passei, já tendo dez,
com criatura que pai e mãe me devorava;
segundo penso, o derradeiro sonho mau.
já nesse tempo, nem sei se nisto crês,
percebera que meus sonhos davam vau
e bem tranquilamente os controlava.
onde penso ter estado 3
com três anos já aprendera a ler;
mais do que o monstro, livros devorava;
muito mais lia, de fato, que brincava,
cada aventura a prender-me em seu poder.
porém num livro diferente pude ver
um conselho que bem fácil aceitava:
o sonho é teu! se assim não
te agradava,
bem facilmente o podes
reescrever!
criança ainda, disso nunca duvidei.
se adulto fôra, talvez não o aceitasse,
mas aprendi a meus sonhos dirigir
a um resultado que então melhor achei
e se o final ainda assim desagradasse,
era mais fácil o interromper do que dormir!
onde penso ter estado 4
até hoje mantenho a faculdade,
mas raramente me tem aparecido
uma quimera de teor menos querido,
que interromper me interesse de verdade!
percorro sonhos de real utilidade;
meu inconsciente talvez os tenha constituído
e me aconselham como o alvo perseguido
possa alcançar com maior habilidade.
ou simplesmente eu mergulho no inconsciente
coletivo, a percorrer terras diversas
dessas que um dia percorri no mundo
e reconheço ali amigos bem frequente,
com quem posso travar longas conversas
de teor bem jocoso ou bem profundo...
onde penso ter estado 5
e ao percorrer esse mar encapelado
durante os acordados devaneios
é mais difícil encontrar os meios
para mudar o conteúdo encapsulado.
satisfazer a meu querer tenho buscado,
mas ao interromper os seus meneios,
quando me atacam pensamentos feios,
consigo apenas ser por isso despertado.
embora busque o conselho da escritura
e não andar ansioso, não é fácil
correr de mim as preocupações
e se em modorra faço uma cesura,
na esperança de final mais grácil,
apenas corto-lhe a fiada de ilusões...
onde penso ter estado 6
assim percebo a ironia claramente,
que fácil possa meus sonhos controlar
e não a vida, sem meu despertar:
tanto problema a me chegar premente!
não que de fato me ache descontente,
mas poder seria tão bom determinar
cada dia qual o pude planejar
ao invés de tanto mostrar-se diferente!
com bom humor falho em manipular
a variedade que em torno se propõe,
modificando a parte que me toca...
tantos projetos na mente a pulular
sem se tornarem realidade... o homem põe,
diz o ditado... mas só a galinha choca!
ALUSÕES
I -- 1º FEV 2018
O SOL
SE PÕE EM ROSA, AZUL E GRIS,
PELO
ESPECTRO DA NOITE PERSEGUIDO.
SE EU
FOSSE ANTIGO, POR CERTO TERIA CRIDO
QUE O
SOL MORREU PORQUE MEU DEUS O QUIS!
E DE
MINHAS PRECES LANÇARIA UM CHAFARIZ
PARA
NÃO SER PELAS TREVAS ENGOLIDO
OU
POR UM GÊNIO QUALQUER, DO MAL NUTRIDO:
QUE O
DEUS CRIASSE NOVO SOL DE LOURO GIZ!
QUE A
MADRUGADA ENCHESSE DE PERFUME
E
RECOBRISSE AS TREVAS COM ALUME,
DE
TAL FORMA QUE A LUZ ME RETORNASSE
E EM CINCO
PRECES DIÁRIAS ME AJOELHASSE,
PARA
NA MÁGICA DE MEU PENSAMENTO
ESSE
MEU DEUS CONJURASSE EM MEU LAMENTO!
ALUSÕES
Ii
NATURALMENTE,
ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO,
TERIA
CERTEZA DE QUE O DOM EU CONJURASSE,
QUE
NESSAS REZAS COM QUE ME AJOELHASSE
CONVENCERIA
ESSE MEUS DEUS PRIMÁRIO.
QUE
OBEDECESSE MEU PEDIDO AGRÁRIO,
QUE A
LUZ DO SOL OU A CHUVA ME LANÇASSE,
QUE A
FORÇA DE MINHA PRECE O AMARRASSE
PELO
ARCANO PODER DO ATRABILI[ÁRIO!
CASO
FALHASSE, SACRIFÍCIO EU QUEIMARIA,
COMO
SE O DEUS SENTISSE O SUAVE CHEIRO
E DE
TAL EMANAÇÃO SE ALIMENTASSE...
DE
QUALQUER FORMA, MEU DEUS DOMINARIA,
MEU
SERVO ONIPOTENTE, AO DERRADEIRO
MOMENTO
EM QUE SUA GLÓRIA CONVOCASSE!
ALUSÕES
Iii
MAS
NESSA COERÇÃO VEJO AINDA TANTA GENTE
ACREDITAR,
FIRME A CRENÇA NA MAGIA,
QUE ALEGREMENTE
UMA VELA ACENDERIA
PARA
COMPRAR O FAVOR DO ONIPOTENTE!
OU A
SABER QUANTO É ONIPRESENTE,
GRANDE
DEMAIS PARA TÊ-LO ONDE QUERIA,
SERIA
A VELA PARA A SANTA MÃE MARIA
OU
PARA UM SANTO DE PODER EQUIVALENTE!
NÃO
QUE EU DUVIDE DO PODER DE UMA ORAÇÃO,
PORÉM
SE DEUS A ATENDER, É POR SUA GRAÇA,
JAMAIS
QUE TENHA POR MIM SIDO COMPRADO!...
OU
QUE PRECISE DE UMA TAL CONVOCAÇÃO
OU SE
DISPONHA A ALTERAR O QUANTO FAÇA,
OU
QUE MINHA PRECE O TENHA ACORRENTADO!...
GAGUEZ
I -- 2 FEV 2018
em
muita reza só há tautologia,
repetição
de mantra decorado
ou
a leitura de missal já desfolhado,
contendo
fórmula que ao Senhor dominaria.
muito
rosário é tão só batologia,
a
gagueira de um canto consagrado,
quanto
mais alto proferido ou declarado,
tanto
mais rápido o meu santo atenderia!
com
relação a isso, antigo Papa
determinou
o Canto Gregoriano,
que
não houvesse no hino algum excesso,
que
fosse mais louvor em santa capa
do
que essa pretensão de um soberano,
convencer
por litania ou qualquer preço!
GAGUEZ II
um
dia Elias, na antiga Palestina,
contracenou
com os profetas de Baal,
não
mais que possa, não me entendas mal,
informá-los
Baal sobre sua sina!...
mas
os preceitos que a hierarquia destina
ao
povo humilde convencia por igual,
que
a ignorância seguirá qualquer fanal,
tal
como a time de futebol se inclina
e
mesmo mate quem faz parte da torcida
do
time oposto, à menor provocação.
e
assim ergueram altares na montanha,
quatrocentos
suplicando, em forte lida,
fogo
do céu a provar a aceitação
que
ele aprovasse sua devoção tacanha!
GAGUEZ
III
mas
segundo narrou-nos a Escritura,
Baal
nem por nada respondeu.
muito
gritaram e até mesmo algum sandeu
abriu
as veias em ato de loucura!
na
esperança da devoção impura
que
esse sangue que lhe ofereceu
o
convencesse, mas Baal não se moveu,
por
mais que fosse sua algazarra e agrura!
então
Elias fez tão só uma oração,
não
que pensasse dominar a Jeová,
muito
mais sendo puro ato de louvor.
e
veio fogo do céu numa explosão,
o
sacrifício consumindo que ali há,
sem
que o profeta lhe comprasse esse favor!
GAGUEZ
IV
em
nossos dias, também há falsos pastores,
permeio
a eles alguns até sinceros;
não
é costume mais matar bezerros
qual
se churrasco comprasse alguns favores.
e
certamente não são os estertores
de
alguma vela ou holocaustos feros
que
do Senhor nos trazem dotes veros,
porém
sua Graça que concede Seus favores!
reza
o conselho que em tudo demos graças,
por
teu bem agradecer e igual por mal,
ao
Altíssimo somente expressa teu amor,
pois
não importa o bem ou mal que faças,
sobre
ti brilha a luz desse fanal,
sem
que precise sequer de teu louvor!
Recanto das Letras
> Autores > William Lagos