LUAR DE LESBOS & MAIS
WILLIAM LAGOS, 8-16/1/2018
LUAR DE LESBOS -- 8 JAN 2018
OPRESSÃO DO ESTIO -- 9 JAN 2018
ENFRENTAMENTO -- 10 JAN 2018
INFLEXÕES -- 11 JAN 2018
COLETA -- 12 JAN 2018
QUEIMA DE PALHA -- 13 JAN 2018
CORVEIA -- 14 JAN 2018
GALUG -- 15 JAN 2018
FURTACOR -- 16 JAN 2018
Luar de Lesbos 1 -- 08 Jan 2018
A Lua lésbica enamorou-se de uma
estrela
E lhe enviava ramalhetes de
luar;
Não se atrevia a estrelinha a
rejeitar,
Tão importante parecia a Lua
bela...
Porém é grande a distância que
congela
O sideral espaço e a ultrapassar
Não era fácil, sequer para
estelar
Constelação debruçada na
janela...
A estrelinha achava estar
honrada
E o luar mais aumentava seu
fulgor,
Embora antes pelo cosmos se
perdesse
Boa parte da chispa
transportada...
E limitava-se a responder com
seu rubor
Parte do alento que nela se
aquecesse...
Luar
de Lesbos 2
Mas ao
longo das vastas translações
Algumas
vezes ocorriam conjunções
E pelo
sétimo céu perfurações
Que
conduziam às mais gráceis rotações...
A
estrelinha tinha virgens vibrações,
Mas
oscilava em timidez de librações,
De
quando em vez trocando libações
De
vinho prata em gentis conotações...
Na
verdade, estava a Lua ressentida
Porque
o Sol a chamara de inconstante
E
raramente conseguiam se encontrar...
Certas
semanas, sem que fosse percebida,
Quando
em spa se recolhia distante,
Com
seu ouro solar a financiar...
Luar
de Lesbos 3
E
muito embora lisonjeada a estrelinha,
Que se
dispunha mesmo a tomar chá,
Pela
Lua cortejada, anoitecia já
E ela
lembrava que a noite se avizinha...
Pois
era um broche no manto da rainha
E
precisava retornar para acolá,
"Senão
o peplo da noite cairá,
Tornando
gris esse negror que tinha..."
Mesmo
que a Lua asseverasse, num amuo
Que
outras havia em similar tarefa,
Que a
inseriria em sua própria tiara,
Permanente
recusava-se a tal duo,
Afirmando
ser colchete da sanefa,
Solta
a qual deixaria a noite clara...
Luar de Lesbos 4
Secretamente, acalentava uma
paixão
Por asteróide de altivez
admirável,
Sabendo embora não ser amor
saudável,
Pois ao pobre queimaria de
emoção...
Até que um dia, de espantosa
duração
Chegou um cometa de cauda
formidável,
Sem ser de ouro mas de ferro
perdurável,
A própria Lua a ocultar em
ofuscação!
E a estrelinha foi por ele
consumida,
Sem ter espada ou escudo de luar
E como estrela se projetou,
cadente..,
Pelas águas de um oceano
adquirida
Até tornar-se tão só estrela do
mar,
Contemplada pela Lua
indiferente...
Opressão do Estio 1 -- 9 Jan 2018
A mão pesada do ar quente que me esmaga
Me empurra contra o solo.
Esse calor
Eu até em garrafas guardaria, mas aziaga
Foi a ocasião de as abrir com estridor.
Eu não queria, juro! O meu
ardor
Era vender fora de casa a longa praga
Que é para mim esse falso cobertor,
Mas outros as abriram, em tola e vaga
Esperança de ali achar algum conforto,
Permeio ao frio, por terem esquecido
O que antes fora o estio.
Memória cessa,
Bem mais depressa que se esvai aborto
E assim soltaram meu verão bem escondido,
Que hoje domina qual mortalha espessa...
Opressão do Estio 2
Eu realmente um
negócio abrir pensara
Ao engarrafar de um
verão todo o calor;
Em meu porão mil
botijas eu guardara,
Curativo das frieiras
seu pendor!...
Mas desse lucro não me
tornei senhor,
Pois foi o inverno
mais quente que esperara;
Alguém abrira de
minhas garrafas o estridor
Pensando ser champanha
e me roubara!
Isso porque, mesmo
guardadas no porão,
As minhas garrafas
começaram a estourar!
Eram de plástico, sou
forçado a confessar...
E não do rijo vidro de
antemão
E seu calor atravessou
o meu assoalho,
Como castigo por meu
ato falho!...
Opressão do Estio 3
Em consequência, o que
perdi foi o inverno,
Vendo os passantes de
bermuda pela rua,
Expondo ao fraco sol a
pele nua,
Mesmo que o vento em
nada fosse terno...
Dentro de casa,
ventilador alterno
Com seu colega e todo
o pó estua
De seu rotor, mas o
calor flutua,
Vaga lembrança do
acalentar materno...
Mas de repente,
esgota-se a energia
Liberada da botelha
que estourou
E o ventilador ventila
por demais!
E sou forçado a
desligar, porque me esfria
Bem mais do que o
calor já me cremou
E essa alternância não
controlo mais!
Opressão do Estio 4
O meu calor não consegui vender,
Muito embora o aceitassem de presente
E o introduzissem em coração carente,
Como resgate do frio de seu porém...
Mas para mim o conservar não pude ter:
Qualquer calor se expande facilmente,
Das profundezas da adega evanescente,
Para fazer de mim mesmo o seu refém!
Perdi o inverno no fragor desses ataques,
Vendo os demais andar semidespidos,
Durante as noites a espancar seus atabaques.
Quem sabe empacotar agora possa o frio
E o distribuir no verão aos mais sofridos,
Igual que um sopro sutil de calafrio!...
ENFRENTAMENTO I -- 10 JAN 18
Lança no ar o teu suor sem mágoa,
não foi do sangue hipertensa redução,
rugindo embora desde o coração,
desritmado em seu rugir de frágua.
Mas cada espectro enfrenta firmemente,
que os prepotentes enfrentados cederão
e mil temores se desvanecerão
quando souberes encará-los frente a frente.
Fugir deles, ao contrário, é desatino,
pois cada vez mais expandem-se fantasmas
e ao fim da tarde já te esmagarão.
Ser derrotado talvez seja o teu destino,
porém não morras de impotências pasmas,
morre de pé, enfrentando um batalhão!
ENFRENTAMENTO II
Algumas vezes os problemas se acumulam
e não consegues dar-lhes vencimento,
mas o importante é investir cada momento,
com teimosia enfrentando os que te açulam!
Quando teus ossos em dores mais ululam
faz novo esforço e lhes darás aquecimento,
transforma em atos teu padecimento,
mata um a um os insetos que pululam!
Tuas aflições são quais nuvens de mosquitos:
se não tens inseticida, um mata-moscas
pode, aos poucos, suas coortes reduzir.
O que não podes é permitir que os gritos
te ensurdeçam ao redor qual nuvens foscas
que assim te possam totalmente recobrir!...
ENFRENTAMENTO III
Quando o escultor inicia uma escultura
não se acovarda ante o bloco de granito
ou de mármore ou de pórfiro.
Acredito
que ali perceba escondida a forma pura.
É bem verdade que na presente conjuntura
qualquer medíocre adota por seu fito
engazopar esse círculo infinito
dos falsos críticos sem qualquer lisura.
E assim emprega o cinzel em martelada,
sem sequer dar-se ao trabalho de polir
e como arte impunge os fragmentos,
com falcatruas a fortuna acumulada
dos tolos pode facilmente adquirir,
lascas de pedra vendendo por portentos!
ENFRENTAMENTO IV
Mas se for de talento esse escultor,
irá buscar a beleza encarcerada
que no bloco puder ver encerrada,
golpe por golpe cinzelando com ardor.
E vai a pedra cedendo o seu teor,
uma lasca por vez, até que a ansiada
imagem pura à luz seja revelada,
não se esculpe com um só talho de vigor!
E assim é a vida. Cada
golpe abre caminho,
um obstáculo sendo aos poucos desviado,
quando o problema com acúmen é enfrentado.
E de repente, após o esforço comezinho.
põe-se em ordem o baralho de teu fado,
naipe por naipe em sequência colocado.
INFLEXÕES I -- 11 JAN
2018
meu nome é
madrugada. sou apóstolo
das nobres
inflexões. Tenho sentido
desfaçatez e a
zombaria ouvido,
a fazer da vida
inteira o meu ergástulo.
as dimensões recolho,
como oráculo,
a fim de interpretar. Assim as tenho haurido
nos esforços mais
viris. Fui recolhido
na pista dos deveres,
por mais másculo
meu pendor fosse. Transformei quanto tocava
de palha em ouro, mas
aprendi também
que o ouro é para os
outros. Não tomei
mais que o feno dos
campos que ceifava,
de modo tal que me
tornei refém
das nobres reflexões
com que sonhei.
INFLEXÕES II
meu nome é madrugada. já
desperto
antes dos galos. tomo meu
café
e me ponho a escrever, chegando até
as onze, mais ou menos. salvo,
é certo
se o calçamento eu percorri, deserto,
praticamente a sós com meu boné,
salvo fantasma que encontrei na sé
dos próprios sonhos.
algum encontro incerto
mas cumprimento a tais raros passantes
que sempre me respondem a essa hora.
mas verifico que, depois das dez,
as respostas são bem mais inconstantes,
cordialidade carregada embora
pelas desfeitas que o dia já lhe fez.
INFLEXÕES III
meu nome é madrugada. em
ocasiões
esse processo que adoto é invertido:
horas devoro sem tê-las percebido,
meias-noites adormecidas nos galpões.
das horas duas e três as durações
vejo findar sem que tenha dormido:
no leito só me vejo recolhido
quando das quatro já ausculto as pulsações.
mas nem por isso me levanto tarde,
dificilmente após as oito dormirei:
mesmo que o queira, tenho sono leve
e não preciso que algum sonho me carde
a lã dos dias na quimera que acharei,
nem devaneio que na mente mais se atreve.
INFLEXÕES IV
meu nome é
madrugada. as inflexões
que a tempo me
sussurram os fantasmas
não coalescem na
mortalha dos miasmas
senão nas horas de
diárias ilusões,
quando as palavras têm
de outrem brotações
e vejo a luz dos
cílios nos quiasmas
de meus olhos. E a fúria das marasmas
da vida morta em
diárias tentações.
a madrugada é minha e
a ela pertenço
quando me furto a
outros quefazeres ,
nas inflexões de cada
verso tenso.
pois sou da madrugada,
minha rainha,
nas horas mansas
encontro meus prazeres
e me reclino na
madrugada minha.
COLETA
I -- 12 JAN 18
Caso
pudesse, guardaria minhas noites
para
gastá-las totalmente do teu lado:
teria
um cofre ao tempo arrebatado,
com
coquetéis de minúsculos pernoites.
Tomaria
dos segundos os afoites,
esses
que correm em suor apalermado,
após
de longos sonhos despertado,
por
um ruído ou por silêncio nos açoites.
Tantos
minutos se desperdiça assim!
Nos
intervalos a girar sobre o colchão,
no
afofar de nosso travesseiro,
antes
do sono queimar seu estopim
e
novamente perder-me em comoção,
quando
a quimera me devora por inteiro...
COLETA
II
Eu
tomaria os momentos dessa espera
nos
interstícios do dia consumidos
por
quaisquer visitas inúteis perseguidos
ou
se os canais da tevê seguem a esfera
dos
comerciais em que a cobiça deblatera
ou
nos momentos em que são interrompidos
os
programas por discursos malqueridos,
quando
o desgosto a nosso lado persevera!
Ou
quando à noite é preciso levantar
para
abrir ou então fechar janela,
ligar
ou desligar ventiladores
ou
as cobertas sobre os pés ir arrumar,
quando
centelha anuncia uma procela
ou
ventania nos causa alguns temores.
COLETA
III
Por
acaso alguma vez já calculaste
esses
momentos perdidos em tais dias,
essas
chispas de marasmo tão vazias,
durante
as quais quase nada realizaste?
Ou
os instantes que ao letargo consagraste,
atrás
das pálpebras em diáfanas orgias,
imagens
plúmbeas em que mal pensarias,
que
em seu conjunto causam tal desgaste?
Ah,
se eu pudesse! Para mim guardava tudo
para
esconder em frascos de perfume,
que
só abriria quando estivesses perto!...
Correndo
os dedos por tua pele de veludo,
vendo
teus olhos cintilantes como lume,
aberto
o cofre e o coração aberto!...
QUEIMA
DE PALHA 1 -- 13 JAN 18
Quem
diria, afinal? Tudo o que faço
torna-se
palha, por mais doce seja!
Esse
é o problema do ouro que se enseja
da
palha transformada em meu regaço...
A
palha, ao menos, traz da relva o traço
e
até pode ser comida. A palha beija
minha
língua, embora a arranhe enquanto esteja
entre
meus dentes ocupando espaço...
Porém
o ouro em que a transformo não se come,
apenas
se açambarca e se entesoura,
enquanto
eu, a mãos cheias, distribuo...
Sou
ourives da vida e a vida some
tudo
o que crio. É outrem que o devora,
pagando
apenas com seu desdém e amuo!
QUEIMA
DE PALHA 2
Mas
pouco importa o que a vida nos devore.
O
quanto faço se amalgama em ouro,
meus
percalços transformados em tesouro,
Que
diferença se é só latão que eu doure?
Que
o pasto murcho com meu sangue enflore,
que
da carcaça eu conserve o melhor couro,
que
dê ao sonho injustiçado melhor foro
ou
torne do outro em luz o que deplore?
Pois
sou o ourives de qualquer cilada
e
com a mínima coisa me comovo,
de
tal forma que a transforme em arrecada
entrelaçada
de quimera em desvairada,
que
o barro e a poeira de um rubi removo
e
os lanço ao vento, sem guardar mais nada!
QUEIMA
DE PALHA 3
Sobre
o Rei Midas afirmaram no passado
que
tudo em ouro podia transformar,
para
de fome finalmente se acabar
a
sua existência, após o pão ter transformado.
Também
o Toque de Sadim foi mencionado,
um
irmão seu, o qual tudo iria mudar
em
pura palha, sem sua fome mitigar:
embora
opostos, no final o mesmo fado...
Mas
não é assim comigo. Eu tomo a palha
de
minha vida e a transformo em verso,
em
alimento do mundo assim converso;
tristezas
e obstáculos, cada falha,
sem
que por isso me prive de algum pão,
por
mais que lascas te dê do coração.
QUEIMA
DE PALHA 4
A
esta altura, pensarás, talvez
em
como é presunçoso esse poeta!
Tem
pretensão que a alma te completa
com
tantos versos inúteis que já fez!
Tudo
depende da forma como os vês:
cada
verso é destinado a alma inquieta;
se
não à tua, a outra fez repleta,
talvez
pirita e não ouro em seu jaez.
É
só essa a pretensão. Que se destina
cada
soneto indo a qualquer desconhecida,
para
quem essas palavras tragam bem;
Tenho
esmeraldas e rubis na vasta mina
e
se um não pode enriquecer tua vida,
quem
sabe um outro se destine a ti também?
CORVEIA
1 -- 14 JAN 18
Este
é o dia que o Senhor criou. Eu deveria
regozijar-me
e só passar horas a esmo,
porém
minha vida assim inútil passaria
e
então seria amaldiçoado por mim mesmo!
Assim
tais horas consumirei em resma
de
trabalhos constantes, noite e dia,
uns
velozes de condor, outros quais lesma,
que
se arrasta tanto mais que produzia...
Mas
foi o que pedi. Não me importava
de
trabalhar manhã e tarde e noite
e
é justamente o dom que tive agora;
porém
foi-me diferente que esperava,
sem
resultado visível nesse afoite,
senão
corveia que me suga e vai-se embora! (*)
(*)
Tarefa obrigatória devida ao rei o a algum nobre.
CORVEIA
2
Afinal,
é esse mesmo o fim da vida:
trabalhar
na tarefa que se escorça,
enquanto
dura do coração a força,
gota
de sangue por gota perseguida.
Em
trapos dalma a tarefa a ser nutrida,
bem
mais custosa que aquilo que se orça;
o
tempo foge, igual que veloz corça
e
a noite chega, pelo sono consumida.
A
gente pensa, com satisfação,
que
foi cumprido o que devia ser feito
ou
tem remorsos por não-completação.
Porém
que vida seria, sem noção,
se
para nada se fazer houvesse um jeito
e
o desperdício consumisse o coração?
CORVEIA
3
Porque
esta é a vida que fez o Senhor
e
para algum propósito cá estamos;
nossa
corveia a cumprir nos conformamos,
mesmo
sem ver a razão desse labor...
Mas
o que alcançam nossas mãos, seja o sabor
amargo
ou doce, tudo então realizamos;
por
bem ou mal, é forçoso que o façamos,
que
as tarefas se impõem, sem mais favor!
Assim
as cumpro com vigor e força
a
tudo e quanto me apareça de inopino,
sem
esperar fazer tão só o que queria.
Fogem
os planos que a manhã nos orça
e
então sigamos a força do destino,
enquanto
algo restar-nos de energia!
GALUG
I -- 15 JAN 2018
COMO
EM COPA ARREDONDADA DE CRISTAL,
CUJA
ESPIRAL TRAZ ARCO-ÍRIS CONSERVADO,
GUARDO
A DIÁSPORA DOS SONHOS DO PASSADO
DENTRO
DA TAÇA REBRILHANTE DO MENTAL.
TRAGO
O GALUG EM CHISPAS DE METAL,
NA
CALIFORNIA INICIALMENTE OBSERVADO,
PELO
MUNDO AOS POUCOS ESPALHADO,
SEM
SIGNIFICADO CONFESSAR-ME NO FINAL.
POR
QUE EM "GALUG" EU DEVERIA PENSAR?
POR
QUE á DIÁSPORA DEVERÁ SER ASSOCIADO?
NÃO
SE TRATA, AFINAL, DE TERMO HEBRAICO.
ENTRE
NATIVOS AMERICANOS O FUI ACHAR,
TALVEZ
OS MÓRMONS O TENHAM ACEITADO
COMO
QUALQUER INDICAÇÃO DE ALGO JUDAICO.
GALUG II
MAS ENCONTREI O
TERMO NA MINHA LISTA
DE TÍTULOS
DESTINADOS A SONETOS;
ALGUNS TÊM
SIGNIFICADOS BEM SECRETOS
E OUTROS SIMPLES,
QUE QUALQUER AVISTA.
PASSOU-SE O TEMPO,
FOI DESCENDO A CRISTA,
RISCANDO NOMES JÁ
EMPREGADOS EM DILETOS
POEMAS,
REVERBERANDO MEUS AFETOS,
PARALELEPÍPEDOS
MARCHETANDO A LONGA PISTA.
DEZ ANOS GASTOS OU MAIS
DO REGISTRAR...
SÓ ALGUMAS VEZES
RECORRO A TAL AGENDA
PARA QUALQUER NOVO
ESFORÇO INTITULAR,
COM FREQUÊNCIA O
PRÓPRIO NOME A RECLAMAR
COMO REAL
DESIGNATIVO DESSA PRENDA.
DEIXEI
"GALUG" POUCO A POUCO SE ATRASAR...
GALUG
III
NÃO
SE O CONFUNDA COM O "GULAG" INFAME,
DESIGNATIVO
DAS PRISÕES STALINISTAS!
TANTAS
MORTES ATRIBUÍDAS AOS NAZISTAS,
AOS
QUE A ESQUERDA TÃO FEROZMENTE DANE!
NÃO
QUE A TAL SEITA EU JAMAIS ME IRMANE,
NEM A
QUALQUER OUTRA SIGLA DE CONQUISTAS,
EMBORA
TENDA PARA AS PARLAMENTARISTAS
ATRIBUIÇÕES
QUE A LEI MAIOR NOS BANE!...
HOJE
ME INDAGO POR QUE EU FUI "GULAGAR"
OU DE
QUAL LIVRO OU REVISTA FUI TIRAR
TÃO
INCOMUM TERMO PARA DENOMINAÇÃO!
MAS
NÃO COSTUMO TAIS ESCOLHAS RENEGAR
E SE
ALGUM DIA FIZ PARELHA ANOTAÇÃO,
TALVEZ
ME INFORMES SUA FINAL CONOTAÇÃO!
GALUG
IV
PORQUE,
AFINAL, ME INCLINEI A "GALUGAR"?
CERTAMENTE
ALGUM DIA HOUVE MOTIVO
POR
QUE ESSE TERMO DE SIGNIFICADO ESQUIVO
CERTO
DIA ME DISPUS A RASCUNHAR?...
SÓ
POSSO O SOBRENOME PESQUISAR
E LÁ
ESTÁ, PERTENCENTE A UM POVO ALTIVO.
PORÉM
MESMO QUE SEJA ALGO NOCIVO
OU
ALGO A DAR RAZÃO DE SE ORGULHAR
SOU
NOVAMENTE OBRIGADO A CONFESSAR
QUE
ESSE TAL SIGNIFICADO ME ESCAPOU:
É
IMPROVÁVEL QUE ALGUM GALUG UM DIA CONHEÇA!
MAS
AS RAZÕES QUE ME FIZERAM REGISTRAR
A
ALGUM PASSADO PERTENCEM QUE FINDOU,
QUAL
TANTAS COISAS QUE A MENTE NOS ESQUEÇA!
GALUG V
MAS VEJA SÓ A QUE
ME LEVA A INSPIRAÇÃO,
ENQUANTO CORRE A
CANETA NO PAPEL!...
QUEM MAIS IRIA
ESCOLHER ESSE OUROPEL
E NESTAS LINHAS LHE
DAR VENERAÇÃO?
MAS COMO A COPA DE
CRISTAL DA INTRODUÇÃO
O QUE EU PROCURO,
DE FATO, É DAR QUARTEL
AOS SONHOS
DESGARRADOS, MEL E FEL,
ALIMENTÁ-LOS E OS
VESTIR EM ADOÇÃO.
aSSIM COMPREENDO,
PORTANTO, QUE A PALAVRA
DE ALGUM MODO NO
ANTANHO COMPILADA
MOTIVO FOSSE DE
QUALQUER ACEITAÇÃO
E A CONSERVO NOS
QUARTETOS DE MINHA LAVRA.
MAS PORQUE FOI À
DIÁSPORA ASSOCIADA,
O PRÓPRIO INVERSO
DESSA INICIAL NOÇÃO?
GALUG vi
PORÉM
SE ATÉ ESTE PONTO ME ACOMPANHAS,
DESSAS
DIÁSPORA ÉS O ALVO CERTAMENTE
DESSES
MIL VERSOS DE TEOR SUBJACENTE:
NOS
SEUS ARCANOS SIGNIFICADOS TE EMARANHAS!
NESSE
ARCO-ÍRIS RECOLHIDO É QUE TE BANHAS,
SOBRE
A HASTE DE CRISTAL IRIDESCENTE,
NA
REFRAÇÃO DA LUZ EQUIPOLENTE
À
DIFRAÇÃO DAS ROSÁCEAS MAIS ESTRANHAS!
E SE
ESSA LUZ SEPTIFORME TE ALCANÇOU,
SOMENTE
DEUS SABERÁ COM QUAIS NUANCES
ACHOU
A DIÁSPORA EM TI DESTINO CERTO.
E
PARA QUEM ATÉ ESTE PONTO SE ACHEGOU
E NO
SEU PEITO CONCEDEU-LHE ALGUNS ALCANCES
POSSA
O "GALUG" DEIXAR DE SER INCERTO!
FURTACOR i -- 16 JAN 18
NESSA PRISÃO O ARCO-ÍRIS SE
CONSERVA,
TRANSLÙCIDO, VIVAZ, MULTIGERADO,
SEM ENTUSIASMO, SEM SER MORIGERADO,
COMO UM CAPELO DA CARDINAL CATERVA.
QUALQUER DIÁSPORA REBROTA EM TODA A
ERVA,
TUA CARNE VERDE DO CAPIM AIRADO
OU DO CEREAL QUE TENHAS MASTIGADO,
LARANJA E OURO, PRESTIMOSA SERVA.
TALVEZ PERCEBAS MINÚSCULO PELAME
AO LONGO DE TEU BRAÇO, À LUZ DO SOL,
NO QUAL SE ESPELHAM SETE CORES DO
ARREBOL,
A REFLETIR ESSA AURORA QUE TE CHAME,
A REFLETIR DO ANIL E DO ARROXEADO
O SANGUE RUBRO QUE NAS VEIAS TENS
GERADO.
FURTACOR II
JÁ RECONHEÇO SER EU MESMO FURTADOR
DA LUZ SOLAR E DO ESPLENDOR
PRATEADO,
DE CADA ESTRELA QUE ME TENHA
INFLUENCIADO,
DE CADA ESPANTO QUE ME TROUXE AMOR,
DE CADA ENGANO QUE ME TROUXE DOR,
DE CADA TEMA QUE SERIA ABANDONADO,
MAS QUE POR MIM SE CONSERVOU
GUARDADO,
FOSSE QUAL FOSSE SEU INICIAL TEOR.
TAMBÉM TUA ALMA É UM DOCE FURTACOR
E SE DIFUNDE VOLÚVEL NUM MOMENTO,
CONFORME O ENGANO DE TEU CORAÇÃO,
CONFORME O ARDIL QUE UM DIA TROUXE
DOR,
TAL QUAL O ANTANHO A QUE AINDA DÁS
ASSENTO,
DENTRO DO COFRE DE TEU ÚLTIMO
PENHOR.
FURTACOR iii
AI, ARCO-ÍRIS, AI, TRÂNSFUGA ILUSÃO,
ESSE ANEL DE NOÉ EM MIL GOTINHAS,
O DIADEMA ENZINABRADO DAS RAINHAS,
O ESPELHADO INCONSÚTIL DA PAIXÃO,
A LAMPARINA DENTRO EM CADA CORAÇÃO,
QUE SÓ PERCEBES QUANDO DELA TE
AVIZINHAS,
EM UM VIÉS DE PESTANAS DANÇARINAS,
SETE FANTASMAS ENQUADRADOS NA
EMOÇÃO.
AI DO DALTÔNICO QUE NUNCA PODE VER
ESSA CASCATA DE TORRENTE PEREGRINA,
COM QUEM PARTILHAS DO ULTRAVIOLETA
ESSA CEGUEIRA TAMBÉM, SEM PERCEBER
O INFRAVERMELHO DA ÂNSIA FESCENINA,
A SUSSURRAR-TE A TENTAÇÃO SECRETA.