domingo, 5 de janeiro de 2014






OLHOS DE ESTRELA & MAIS
William Lagos

Olhos de Estrela 1 – 15 dez 13

Segundo dizem, dançam as estrelas
A cada vez que amas; ou teus olhos
Se enchem de alegria em seus refolhos,
Só vendo a dança das estrelas belas.

Segundo dizem, templos e estelas
Dentro das vistas se erguem, com antolhos
Para quaisquer desdouros ou escolhos
E numa tal idolatria te congelas.

Todas as cores e sons são diferentes
Sob as nuvens cor-de-rosa que aqui narro,
Teus pés parecem nem tocar no piso.

Mas as estrelas no céu, indiferentes
Permanecem e teus templos são de barro,
Argamassados com a saliva do sorriso...

Olhos de Estrela 2

E as estrelas, será que se apaixonam
Pela beleza vista nos humanos?
Antigamente, no tempo dos romanos,
Sentir amores em nada as desabonam,

Pois muitas lendas de paixão ressonam
Entre uma deusa ou musa em seus afanos
Ou entre deuses ou titãs com sobre-humanos
Poderes que de mortais fácil se adonam.

E existem lá no céu muitas estrelas
Que começaram a viver como donzelas
E nesses pontos de luz se transformaram

E assim os gregos acenderam longas velas
Para esses olhos que entre nós já se apagaram
No vasto manto das pupilas que pregaram.

Olhos de Estrela 3

Caso as estrelas algum dia se enamorem
Não dirão suas próprias frases de magia?
“Dançam humanos,” talvez se  proferia,
“Nos próprios raios de luz que nos percorrem.”

Em sua tristeza, quiçá estrelas chorem,
Sua luz prateada pelo impulso da elegia,
Amor perdido cada luzir gemia
Na geada pura que do alto nos escorrem.

Mas a elas são humanos indiferentes:
Só uns com outras projetam seu bailar:
Como prender-se a qualquer raio estelar?

Pequenas vidas, de ânsias contingentes,
Por quem estrelas se irão em vão apaixonar,
Ao invés de por cometas coriscar...

Olhos de Estrela 4

Talvez, no contemplar de uma lagoa
Os miríades reflexos estampados,
Possam olhares luzir apaixonados,
Dando às estrelas leve esperança boa.

Então, talvez nos desçam em garoa
Mil respingos nas águas espalhados
E ao refletir-se nos olhos contemplados,
Cada borrifo em bimbalhar ressoa.

Mas as mulheres que olham para as águas
Ou mesmo os homens cujos rostos se refletem
Veem a si mesmos através dessas estrelas,

Igual que lágrimas mostrassem as suas mágoas
Ou só contornos de faces ali completem,
Mirando estrelas por se acharem belas!

Reincidência I – 16 Dez 13

reincidência é a palavra desses crimes
que escorrem verdes sobre lábio até perplexo,
no verde em brotação do puro sexo,
mil versos mudos sem que o verde rimes,
geração a geração, maduros vimes
do berço em que se cria o novo nexo,
do ventre vivo para o novo amplexo,
da lâmina febril que aos poucos limes
pois reincidimos em nossa distropia,
formando mais motores, que energia
concentram, sem deixar que se dissipe,
nesses casais que lutam como equipe
para enfrentar a morte e sua entropia,
milagre inútil mas de idêntica magia. 

Reincidência II

o nosso crime não difere de outras vidas;
quanto perdura conserva sua ambição,
mais energia quer manter dentro da mão
no preservar de suas quimeras concebidas;
a maioria mal percebe ter reunidas
antigas forças isoladas sem razão,
apenas junta, sem calcular paixão,
as vibrações que ao redor acha perdidas,
algumas por um mínimo de tempo,
logo soltando outra vez, ao se esvair
cada unidade do calor que amealhou,
a dissolver-se em breve contratempo,
outras vidas ao redor a permitir
que bebam vida que cada qual soltou.

Reincidência III

enquanto aumenta a escala da consciência
essas vidas passageiras mais se adonam;
o quanto encontram a seu redor retomam
e reproduzem em sua vasta reincidência;
quanto maiores são, maior potência
nesse reunir com que em torno se redomam,
nas vibrações desse canto que ressonam,
a combater com firmeza a decadência;
filhas do sol, contrariam sua vontade,
que o astro-rei só preside à entropia,
na mais cálida e total dissipação,
mas roubam vidas toda a oportunidade
de em si tomar e manter a distropia
e assim reforçam a sua preservação.

Reincidência IV

mas os humanos são os maiores criminosos:
ao reincidir, o fazem bem conscientemente;
água, alimento, a luz do sol potente
são capturados em seus atos sediciosos;
enquanto podem, mais que o sol são poderosos,
pois ele espalha sem qualquer alvo aparente,
mas os humanos reúnem, com frequente
renovação destes atos impiedosos...
somente nós plena consciência temos
deste crime de guerra praticar
e uns nos outros nos fortalecer,
e novas vidas criamos, pois sabemos
que dentro delas podemos perdurar
muito depois de nosso próprio perecer.

PASSOS TORTOS I – 17 DEZ 13

Quer se encontrem passos tortos no caminho,
na branca areia ou permeio à poluição;
quer passos tornos vão girar por entre o espinho
das rosetas para evitar o seu fisgão;
quer tortos passos desvendem o carinho,
na busca fútil de qualquer paixão;
que seja o passo torto comezinho
em qualquer ponto que se contempla o chão;
quer se busque o passo torto sobre o arminho
tornar mais fácil, apesar da perversão,
desses mil passos tortos me avizinho,
por mais que puro eu busque o coração,
pois são humanos e no humano me definho,
que passos tortos dos humanos todos são...

PASSOS TORTOS II

Se os passos fossem sempre retilíneos,
marcharíamos todos nós em paralelo;
são os desvios que dão cruzar ao alelo,
são verdadeiros amores curvilíneos;
os paralelos são egoístas e odiolíneos,
cada qual olha à frente e quer o belo
somente para si.  Recusa o selo
da permuta e partilhar dos amorlíneos;
são passos tortos que permitem relações
de maior intimidade e imperfeição;
e os passos retos só se cruzam nas esquinas,
no seguimento das determinações
da clareza, do rigor e da razão,
predestinadas por superiores sinas.

PASSOS TORTOS III

São os erros desses passos que impulsionam
a vida humana, com todo o seu defeito;
são maquinais as amplitudes do perfeito,
são instintivos os caminhos que se tomam
e até parábolas da Escritura nos ressonam:
da perdição o caminho é bem direito,
da salvação o sendeiro é muito estreito,
largos os passos que ao primeiro nos retomam;
se larga é a estrada que conduz à perdição,
interrompida tão só em encruzilhadas,
enquanto é estreita a que nos leva à salvação,
com mil percalços e correntes encontradas,
a cada ponto são as veredas desviadas,
por passos tortos pelo peso da emoção.

PASSOS TORTOS IV

Quero portanto para mim os tortos passos,
que me conduzam a outros caminhantes,
que me façam colidir com viandantes
e a suportar-nos mutuamente por abraços;
eu quero os passos tortos que a teus traços
já me lançaram em momentos delirantes;
erros foram, talvez, mas tão vibrantes,
na permanente frouxidão dos laços!...
que passos tortos nós podemos apoiar
ou de outrem receber apoio igual
e os passos retos a causar somente espanto:
ficam  os outros somente a contemplar,
por mais que o reto pareça natural,
quando até curvo nos escorre o pranto.

TROVAS REBELDES I – 18 DEZ 13

Das raras vezes em que tentei trovar
logo as sílabas se fizeram irrequietas;
queriam mais, queriam ser completas
e em versos mais extensos se espalhar.

Pois as trovas só as buscavam limitar,
mas tais correntes pareciam abjetas;
ansiavam coisas ser bem mais estetas
e nos poetas do passado se espelhar...

Bem sei prefere a trova o violeiro,
na rima simples, muitas vezes repetida,
que muitos chamarão de rima pobre;

mas novas rimas plantarei em meu canteiro,
em métrica diversa da mantida
que a mente popular hoje recobre.

TROVAS REBELDES II

Assim, se uma mulher quero “trovar”,
tal qual é a expressão hoje corrente,
devo buscar um tema mais frequente
para o triunfo de meu breve galantear,

para as mais simples das mentes alcançar,
agindo tal que não fosse inteligente
o belo rosto que encontro pela frente,
esse e(terno) feminino a desprezar...

Talvez estejam por isso a esperar,
mas é em vão que a tanto me limito,
esse trovar para mim é sucedâneo,

enquanto em busca de um melhor rimar
talvez me perca nas brumas do infinito,
em seus ouvidos sem nada de espontâneo.

TROVAS REBELDES III

Só posso então esperar que não compreendam
as minhas rimas ou sequer vocabulário;
tudo em mim, naturalmente, é multifário
e não me atenho a padrões que outros me vendam;

se não me esforço assim para que entendam,
tampouco busco ser atrabiliário;
somente deixo que me reflua o vário,
muito diverso daquilo que encomendam...

Porque, de fato, após trovas já andei
e versos livres tenho até buscado,
mas nada disso assopram minhas musas;

e deste modo, tão só redigirei
as ideias que me tenham inspirado,
sem buscar para mim outras escusas...

O PORTO DA POESIA I – 19 DEZ 13

POSSO AFIRMAR QUE SOU POETA POR ACASO,
UMA FUNÇÃO CONTRA A QUAL JÁ RELUTEI;
EM MEUS VERSOS QUASE NUNCA ACREDITEI,
NO MEU FLUTUAR NAS MAROLAS DO MAR RASO;

MAS POR MAIS QUE ME REBELE, ME DEFASO
AO  VER OS DEDOS QUE EM VERSOS JÁ BANHEI:
FORAM BEM OUTROS OS SONHOS QUE BEIJEI
E SE ESCOARAM DE MIM, NO SEU DESCASO.

DE FATO, NUNCA SOUBE O QUE QUERIA;
À VIDA PERMITI QUE DECIDISSE
O QUE QUERIA DE MIM, POIS NÃO FUI EU

A DECIDIR QUANTOS VERSOS EU FARIA,
OU QUE ESSA IMENSA VARIEDADE EU VISSE,
AINDA DESCRENDO QUE ALGO SEJA MEU.

O PORTO DA POESIA II

EU NÃO ME SENTO POR DECISÃO MOVIDO:
“VAMOS AGORA ESCREVER OUTRO SONETO...”
(OU OUTRO RITMO QUALQUER MENOS HERMÉTICO,
AO QUAL ME SINTA POR VAIDADE DIRIGIDO.)

PERANTE TODO ESSE RITUAL SOU CÉTICO:
NÃO SOU À GLÓRIA OU FAMA COMPELIDO.
SE DEPENDESSE DE MIM, SERIA SECRETO
CADA POEMA, POR MAIS QUE FOSSE ESTÉTICO.

O MEU NOME NÃO IMPORTA E NEM SEQUER
ASSINARIA, SE NÃO FOSSE PRAXE,
SEM RECAIR EM ORGULHOSO PSEUDÔNIMO

(QUE UMA VAIDADE INVERSA ASSIM REQUER,
POR EFEITO DE ESTRANHA PARALAXE,
FUGINDO À CRÍTICA AO SE MANTER ANÔNIMO.)

O PORTO DA POESIA III

PORÉM EU ME PERCEBO UM CAPITÃO,
O TOMBADILHO DE VERSOS APINHADO,
CADA TÁBUA UM POEMA REJUNTADO,
CADA VELA UM SONETO DE ALCATRÃO.

EM MEU CONVÉS HÁ CENTENAS MAIS QUE ESTÃO,
APÓS PASSAGEM DE MIM TEREM COMPRADO,
QUE EXIGEM O CRUZEIRO COMPLETADO,
ATÉ AS COSTAS EM QUE ARRIBARÃO.

EU PERMITI QUE SUBISSEM AO TOMBADILHO
E OCUPASSEM CADA CAMAROTE,
SUPERLOTASSEM CADA ALOJAMENTO

E ASSIM, NESSA DERROTA, EU ME PERFILHO;
CHEGADO AO PORTO, NÃO BAIXAREI UM BOTE,
DEIXANDO O BARCO AO SABOR DO VENTO.

O PORTO DA POESIA Iv

MAS EMBORA O CONDUZA ATÉ O CAIS
ENTÃO BAIXO PARA A DOCA A PASSARELA:
DESCEM ALGUNS PARA VER SE A PRAIA É BELA;
DEI-LHES PASSAGEM E NÃO LHES DEVO MAIS.

MEUS VERSOS SÃO TURISTAS NATURAIS
QUE VÃO A HOTEIS, ESPIAR PELA JANELA
OU A CASSINOS, EMPÓS A BOA ESTRELA.
JÁ OS REDIGI – QUE SE FAÇAM IMORTAIS!

SOU OBRIGADO, ESVAZIADO ESTE NAVIO,
MEU TRANSATLÂNTICO, COMO ANTES SE DIZIA,
A RETORNAR A MEU PORTO INICIAL;

QUE NO MOMENTO EM QUE O BARCO ESTÁ VAZIO
ERGUI A LUNETA E PASSAGEIROS MIL LÁ VIA
A ME EXIGIREM NOVO CRUZEIRO INAUGURAL

SACRIFÍCIOS DE SANGUE I – 20 DEZ 13

Antigamente, se queimavam nos altares
pombas e ovelhas para a divindade;
em parte do sacerdócio à saciedade,
outra parte santificada aos seus esgares

para ser compartilhada aos familiares;
em longas mesas, a carne, em amizade
era por todos dividida, assada em grade,
como símbolo ritual de dons talares...

Fez promessa de que tais sacrifícios
nunca mais se tornassem necessários
um só Cordeiro, para toda a humanidade,

no mais perfeito dentre os benefícios,
equalizando mil bens hospitalários,
iguais tornando os homens em verdade.

SACRIFÍCIOS DE SANGUE II

Contudo, hoje se abatem animais,
sem que nada se queime nos altares;
são apenas iguarias e manjares,
satisfação dos apetites naturais.

Se aos deuses não se erguem os fanais,
realizam-se hecatombes similares;
há idolatria nas carnes desses lares:
para si mesmo os sacrifícios são finais.

Ao invés de redimir o sangue escuro,
guardam-se pratos para sarrabulho
e molho pardo das aves inocentes,

ao próprio estômago esse holocausto puro...
mas a mim mesmo causa sempre certo engulho
ver pobres seres degolados impotentes.

SACRIFÍCIOS DE SANGUE III

Mil vezes o holocausto dos pagãos
ou os sacrifícios pascais desses judaicos
magarefes, sem permissão aos laicos
de sangue derramar em jatos vãos!...

Havia limpeza nos tecidos sãos
entregues às famílias nos arcaicos
sacerdócios de sangue dos mosaicos;
havia nobreza nas hecatombes dos verões.

Enquanto hoje se comprimem nessas granjas
os pobres frangos, de hormônios entupidos...
(Ainda que câncer causem, lucro trazem.)

E marcham mil novilhos, longas franjas,
a caminho dos churrascos produzidos,
que os paladares somente satisfazem...

URUCUBACA I – 21 DEZ 13

A vida é um pássaro que voa para trás,
somente vendo os lugares em que esteve;
mas não à frente o caminho a que o leve
esse seu voo às cegas e sem paz...

A vida é tão somente o que se faz,
um sacrifício que só ao passado ceve,
na busca vã do que o futuro deve,
nessa incerteza de escolhas boas e más.

O passarinho da vida estende a cola,
em direção ao tempo, qual balão,
e por seu bico sopra-se o passado,

servindo o corpo qual diária mola
e a cada instante nos ultrapassarão
sopros vazios, sem ser nada preservado.

URUCUBACA II

Quem pode mesmo conservar o seu passado,
quem o pode prender por entre os dedos?
Esse voo é permanente e sem segredos:
cada momento é para trás abandonado,

sem jamais poder ser recuperado.
Até a memória desses tempos ledos
se encaixa do presente nos albedos:
tudo é reflexo apenas espelhado...

O que lembramos já possui um novo nexo;
não é o fato realmente vivenciado,
mas a bruma consentânea do já-feito.

E nem a dor, nem o prazer do sexo
e nem sequer o indiferente é recobrado,
enquanto o voo escorre sem defeito...

URUCUBACA III

E quem de nós conserva o seu presente?
O mesmo passarinho diligente
que deixa a vida fluir por entre o bico,
à nossa ânsia de manter-se indiferente?

Nosso presente são apenas as entranhas,
no rápido fluir de suas patranhas,
o futuro a passar, rápido e rico:
perde-se o ingênuo e voam artimanhas...

Em vão se busca pôr grades à garganta
e transformar esse pássaro em canoro:
cada canção já é passado ao terminar. 

Tão logo seu início nos espanta,
nesse momento de repetir-se o coro,
já o vemos no antanho a mergulhar...

URUCUBACA IV

E quem pode assegurar o seu futuro?
Fazer que se conserve num instante
esse devir de retroagir constante,
cada momento apenas inseguro,

cada passo encetado em pleno escuro,
a decisão não mais que delirante
ou sendo imposta, em caráter intrigante,
se decidir nos parece ser mais duro...

Ah, belo pássaro que se chama vida!
Nossa consciência sempre a debicar,
nossa esperança levando de vencida!...

Cuja parada não são pode ousar,
pois a corrente seria então interrompida,
nenhum porvir mais além a experimentar!

JEQUITIBÁS I – 22 DEZ 13

A esperança é coisa muito estranha:
só de fitar o inexistente é que ela existe!
O imponderável a encarar insiste,
por mais que a desilusão seja tamanha,
quando nada do esperado afinal ganha....

A esperança o inesperado enfrenta em riste;
do intangível no toque ela consiste,
do impossível na espera não se acanha...

Toda esperança é um fiapo do presente,
no porvir totalmente enraizado,
a cada instante a ser desarraigado
pelas múltiplas escolhas do inconsciente,
seus ramos a crescer no coração,
com verdes frutos que amadurecer não vão.

JEQUITIBÁS II

Já foi dito nas Sagradas Escrituras
que a fé é tão somente a substância
das coisas nunca vistas, a bonança
que se busca conquistar por obras puras,
sombras fantásticas de pura expectância,

Sendo a fé e a esperança assim escuras
não existe fé ou esperança na lembrança:
só existem fatos que viveste e em que perduras.

“Pois aquilo que se vê, como se espera?”
Onde o desejo de quanto já se tem?
Toda a esperança é a busca de um ensejo,
que sempre acena, mas jamais se abeira...
Torna-se nosso aquele que nos vem
e não se espera mais o antigo beijo...

JEQUITIBÁS III

É a esperança apenas a semente
de que pode brotar jequitibá;
entre nós mais frondosa outra não há,
mas que esperança temos, frente à frente
com a bela árvore que já se encontra lá?

Admirável é seu crescer potente,
quem o desejar, seu tronco abraçará,
sua sombra a usufruir em tarde quente.

Mas não se espera essa árvore espantosa:
só em sua semente está nossa esperança,
essa coisinha minúscula, a criança
que para o imaginar é dadivosa,
toda a esperança envolta no porvir
que não se sabe se jamais se irá cumprir. 

SUSSURROS DE LUZ I – 23 DEZ 13

Teus olhos dançam como a luz da aurora,
cada centelha um novo amor de outono;
o teu olhar de mim tornou-se dono,
desde o passado até o presente agora.

Ainda hoje não sei o que me agoura
o meu destino, ao despertar do sono;
sempre algum plano para mim abono,
que a esperança, bem de leve, cora...

Então, as tuas pestanas estremecem
e me contempla o olhar estremunhado,
ainda perdido no vogar do sonho;

e só depois de piscar, me reconhecem,
sem que esse palco eu tenha partilhado,
seja o roteiro alegre ou mais tristonho...

SUSSURROS DE LUZ II

Mas ao se abrirem, no instante primordial,
os teus olhos sussurram, em lampejo,
talvez a relembrar o sonho andejo,
talvez já abertos para o mundo terrenal.

Para mim vejo que brilham, afinal,
muita vez como prelúdio de algum beijo;
outra vez só em tua dúvida eu adejo,
na flutuação desse instante natural...

Tão logo recuperas a consciência,
à luz retornam os velhos sentimentos,
em geral, se dormiste ressentida,

ante qualquer emoção de mais premência,
no predomínio de passados julgamentos
e com carinho, me retomas em tua vida.

SUSSURROS DE LUZ III

Quem sou eu, para essa luz do despertar
pôr em dúvida, quando e se me dá calor?
Tão somente retribuo igual amor,
a favorável intenção a receptar...

Mas gostaria de ver a luz a sussurrar,
inadvertida, ainda plena em seu torpor;
de saber ter sido meu esse fervor
que em teu sonho te soube dominar...

E se em teu sonho ingressar então pudesse,
no breve instante desse lusco-fusco,
bem eu queria enxergar a clara luz...

Ou então fizesse verdadeira prece:
que nesse simples momento em que me ofusco
só fosse meu o teu sussurro que reluz...

APOSTASIA I – 24 DEZ 13

NEM TODO MUSTAFÁ É MUÇULMANO
E NEM QUALQUER JESUS É UM BOM CRISTÃO;
NEM TODO GANDHI É FIEL AO INDUSTÃO,
E NEM QUALQUER JACÓ SEGUE SEU PLANO

DO MOSAICO OBEDECER AO DEUS ARCANO;
MUITOS EXISTEM QUE ATÉ CONVERSOS SÃO,
ENQUANTO OUTROS NA ORTODOXIA ESTÃO,
POR MAIS QUE SOFRAM UM ORDÁLIO DESUMANO.

OS NOMES DADOS POUCO SIGNIFICAM,
SENÃO DO PAI E DA MÃE PREDILEÇÕES;
BEM AO CONTRÁRIO, PODEM GERAR REVOLTA,

POR ZOMBARIA, TALVEZ, QUE OS SACRIFICAM;
OU POR QUAISQUER OUTRAS SITUAÇÕES,
QUAIS JOVENS POTROS CORRENDO À RÉDEA SOLTA.

APOSTASIA II

CONTUDO, MUITOS SE CHAMAM MUSFAFÁ
QUE POR JACÓS A VIDA COMEÇARAM
OU POR JESUS OS PAIS OS BATIZARAM,
OU SENDO HINDUS, QUE AGORA SÃO DE ALÁ.

IMENSAS ONDAS HOJE DE ISLAMISMO HÁ,
QUE NOS PAÍSES DA ÁFRICA AVANÇARAM
OU O SUDESTE DA ÁSIA DOMINARAM,
TERRAS LONGÍNQUAS DE SEU CARAVANÇARÁ.

DE FATO, SE EXPANDIRAM CONVERSÕES
MUITO ALÉM DAS TRIBOS DOS PAGÃOS,
ABRINDO SENDAS NAS TERRAS DOS CRISTÃOS;

MONOTEÍSTAS EM SUAS INTENÇÕES,
MAS PROVOCANDO ALGUMA VEZ ATOS MALSÃOS
ENTRE OS CONVERSOS DE OUTRAS RELIGIÕES. 

APOSTASIA III

MAS NÃO É ISSO QUE DOUTRINA O ALCORÃO
E NUNCA FOI A PREGAÇÃO DE MAOMÉ;
MAS O ATUAL AVANÇO DO ISLÃ AGORA É
SEMELHANTE À ANTIGA ONDA DE EXPANSÃO,

POIS TRANSMITIRAM À FORÇA A RELIGIÃO
SOBRE AS TERRAS EM QUE ANTES TINHA SÉ
O IMPÉRIO BIZANTINO E A MESMA FÉ
DA ORTODOXIA, MESMO EM DÉBIL CONVICÇÃO.

POUCOS ENTENDEM A SANTÍSSIMA TRINDADE
E OS DOGMAS CATÓLICOS SÃO COMPLEXOS,
SÓ AMENIZADOS PELOS SANTOS OU MARIA,

ENQUANTO PREGOU O ISLÃ A UNICIDADE
E NEM SEQUER UMA IMAGEM PERMITIA
A INTERFERIR EM MONOTEÍSTICOS AMPLEXOS.

APOSTASIA IV

NÃO É DE ADMIRAR QUÃO FACILMENTE
OS MUSTAFÁS PELO MUNDO SE ESPALHARAM;
O TERRENO ESTAVA PRONTO, QUE APLAINARAM
OS APÓSTOLOS CRISTÃOS DE ANTIGAMENTE.

ISTO LEVOU A UM OPRIMIR FREQUENTE
DAQUELES QUE A CONVERTER SE RECUSARAM,
A QUEM CONSTANTEMENTE ESCRAVIZARAM
OU IMPUSERAM-LHES IMPOSTO DIFERENTE.

MAS COMO OCORRE ENTRE TANTAS MAIORIAS
EM QUALQUER GRUPO HUMANO OU SOCIEDADE
AS MINORIAS SÓ DESPERTAM DESCONFIANÇA,

PUNINDO A SHARYIA QUAISQUER APOSTASIAS
ENTRE OS FIÉIS PERTENCENDO À ISLAMIDADE,
ENQUANTO TRATA OS CONVERSOS COM BONANÇA. 

APOSTASIA V

MAS AOS JUDEUS E CRISTÃOS DEU MAOMÉ
UM LUGAR ESPECIAL NAS ESCRITURAS;
MARIA RECEBE ALI  HONRAS MAIS PURAS,
JESUS É TIDO QUAL PROFETA DE SUA FÉ.

A ABRAÃO E MOISÉS NO MESMO PÉ
QUE OS PRECEITOS DAS MUÇULMANAS JURAS;
POUCOS JUDEUS SOFRERAM TAIS TORTURAS
ENTRE ELES: DOS CRISTÃOS BEM MAIS ATÉ,

DEPOIS QUE TÊM O PODER BEM GARANTIDO
E O GOVERNO DO PAÍS ASSEGURADO,
O “POVO DO LIVRO” TOTALMENTE SUBMETIDO.

JÁ NA EXPANSÃO TUDO É DIFERENCIADO,
PELO ZELO DOS CONVERSOS CONCEBIDO
QUE SÓ NO ISLÃ PODE ALGUÉM SER ABENÇOADO.

APOSTASIA VI

HOJE VEMOS ATRAVÉS DAS FILIPINAS
E EM NUMEROSOS PAÍSES AFRICANOS
UM MOVIMENTO DE IMPULSOS SOBERANOS
OS CATÓLICOS A DESVIAR DE ANTIGAS SINAS.

FICAM APENAS AS SUPERSTIÇÕES MAIS FESCENINAS,
AINDA PRESENTES NOS SINCRÉTICOS ARCANOS,
CERTAS RAÍZES, MESMO PASSADOS TANTOS ANOS,
CRENÇAS ANTIGAS SOBRE A CARNE DAS MENINAS.

E CONVERSOS VEEM-SE DISPOSTOS A MATAR
PARA A ADVERSA RELIGIÃO DESARRAIGAR,
IGUAL SUNITAS E XIÍTAS ENTRE SI,

NA MESMA FASE QUE ULTRAPASSOU O MUNDO CRISTÃO
MATANDO CÁTAROS E A PROTESTANTE MULTIDÃO
MAS QUE HOJE EM DIA AINDA ASSISTIMOS POR ALI...

NATAL I – 25 DEZ 13

ao redor da fogueira nos reunimos
a celebrar o yule dos antigos,
vestindo só a lã branca dos mendigos
e com um cinto vermelhos nos cingimos.

quais peregrinos aos montes nós subimos,
nas tradições a redimir castigos,
as tréguas feitas com nossos inimigos,
longos archotes de resina ali brandimos.

e então dançamos em volta de um pinheiro
que à meia-noite será sacrificado,
sua chama a espantar a escuridão

e extinguiremos seu fogo derradeiro
com o monte de neve acumulado
de um novo ano garantindo a gestação!

NATAL II

em outra parte temos outras tradições:
não é santo o pinheiro, é o carvalho,
o visgo a ser colhido em cada galho,
foices de prata só nessas ocasiões.

coroas tecidas para nossas proteções,
pequenos brotos de azevinho em talho;
para o alto da montanha, em cada atalho,
ramos levados de tantas direções

para a fogueira erguer no descampado,
nessa noite mais longa e mais escura,
os espíritos noturnos a espantar,

para o retorno da primavera, ao terminado
inverno envolto em asas de brancura,
a luz do sol em seu seio a amamentar!

NATAL III

mas diferente é o natal em portugal:
em vez de árvore, se fazem figurinhas
de gesso ou barro, imagens pequeninhas,
para lembrar essa noite inatural

de um nascimento de caráter divinal,
ali dispostas à frente de grutinhas,
um boi, um burro, ovelhas bem branquinhas,
hálito quente a presentear cada animal.

alguns pastores e reis com seus presentes,
anjos cantando em coro triunfal,
josé e maria em igual adoração,

em seu futuro os humanos confidentes,
que ofertas pagam seu pecado original...
e os animais?  será que esperam salvação?




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