sábado, 24 de junho de 2023


 

 

AS TRÊS MANTILHAS XIX – 17 outubro 2022

 

Quando Milovan seus olhos abriu,

parado estava diante de tétrica mansão

e pelas costas lhe correu um arrepio.

Seu irmão Khristos de súbito ele viu,

enquanto o rei lhe dava firme orientação,

a declarar-lhe com fervor e maior brio:

“O teu irmão não roubou o meu cavalo,

foi minha filha que lho deu como regalo!

“Mas como estás com o coração cheio de inveja,

vou um bom cavalo de raça te emprestar,

para que sigas as minhas ordens com cuidado

e no final, o palafrém talvez até teu seja;

mas primeiro um bom capim com ele irás cortar,

mas só no ponto que ele tiver determinado.”

Khristos (ou seu fantasma) prontamente concordou

e sem ter medo, no grande animal montou!

Mas no caminho deparou com uma ponte,

de prata pura inteiramente construída;

com sua faca, um balaústre ele afrouxou,

numa ambição que no peito lhe desponte;

dentro da roupa deixou a peça escondida

e ali mesmo bastante capim cortou,

mas que o cavalo não se importou em comer,

e nos alforges colocou para à mansão trazer.

Levou o cavalo ao estábulo e jogou o capim,

em frente dele, no interior da mangedoura

e para a mansão dirigiu-se calmamente.

Surgiu o rei a interrogá-lo e outrossim

foi verificar se a instrução seguida fôra,

mas o cavalo recusara o capim inteiramente.

“Se meu cavalo não comer, você tampouco come!

Vá-se daqui, antes que com o relho  o dome!...”

Milovan, ainda quieto, viu a seguir aparecer

a figura de Lukasz, o seu segundo irmão,

que as mesmas ordens recebeu do rei;

mas sendo toda de prata a ponte ao perceber,

tampouco ele resistiu à tentação:

Um balaústre em meu bolso guardarei!

E ali mesmo, colheu grande quantidade

de capim, sem preocupar-se com a verdade!...

 

AS TRÊS MANTILHAS XX – 18 outubro 2022

 

Mas no momento em que chegou à mansão,

foi pelo rei firmemente interrogado:

que o obedecera, mentiu solertemente,

mas o rei viu o capim solto no chão,

que o cavalo havia totalmente rejeitado

e mandou embora o segundo insolente.

Lukasz partiu, ainda que mal-humorado:

Mas tenho ao menos o balaústre bem guardado!

Quando o fantasma do outro irmão desapareceu,

para Milovan o do rei voltou-se, ainda zangado:

“Entendes bem tudo o que aqui se passou?”

“Sim, Majestade, nenhum dos dois obedeceu,

mas as instruções me repita com cuidado,

e deste modo, executarei o que mandou.”

“Faça-o bem, porque você é bem real

e seu castigo será então monumental!...”

“Veja bem, firmemente o cavalo o guiará

e nem pense em afastá-lo do caminho,

apenas corte o capim que ele escolher!”

Milovan montou e seguiu ao deus-dará,

deixou trotear o cavalo pela senda bem sozinho,

por mais longe quisesse a estrada percorrer,

mas de fato chegou em breve àquela ponte,

cujo brilho de prata em esplendor reponte!

Achou a estrutura linda, porém lamentou

que dois dos balaústres estivessem faltando,

mas o cavalo logo foi troteando em frente

e uma linda aldeia logo a seguir achou,

todo o povo dançando ali e cantando.

“Por que tanta alegria, minha boa gente?”

“Todos os anos temos colheitas abundantes,

não há doenças, temos dias interessantes!”

Mas embora o chamassem para participar,

já o cavalo insistia em ir à frente

e Milovan deu-lhe rédeas sem nada discutir;

logo a seguir, viu dois cães meio a sangrar

pelas mordidas que se davam mutuamente,

mas não julgou ser conveniente interferir

e o cavalo em firme passo continuou,

ainda mais longo o caminho em que o levou!

 

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