quarta-feira, 7 de agosto de 2024


 

 

RAWALPYNDI 1 – 12 JUN 2024

(Eleonor Tomlinson)

 

Muitos sonetos escondem-se secretos,

Embuçados no céu de Castro Alves,

Especialmente no momento atual.

Saem a fórceps, às vezes, tais sonetos,

Tropeçando nas vulvas do momento,

Na rebeldia das rimas.

 

Houve o terrível catastroformismo

Que acometeu o meu rincão natal,

Do qual eu nunca me mudei.

Por sorte, minha cidade foi poupada,

Mas a Internet e a telefonia não o foram,

Passei muitos dias sem sinal.

 

Pior ainda, por motivos complicados,

Meu pobre computador foi afetado,

Mandei limpar o interior do gabinete,

Comprei um novo mouse, bom ratinho,

Já me contemplo em novo monitor,

Sem conseguir com frequência trabalhar.

 

RAWALPYNDI 2 – 13 JUN 2024

 

A cada problema, dois ou três dias de espera,

Os meus rascunhos se acumulando,

A par com mil antigos empoeirados

E mais os versos realmente do passado,

Guardados foram tão só datilografados

Pelos cuidados de minha esposa amada.

 

De fato, eram as cópias que lhe dei,

Impulsionado pelo amor que lhe sentia,

Que as primeiras vias se queimaram,

Durante meu holocausto de 1988,

Com minha biblioteca e com meus discos,

Meus quadros, tapetes e instrumentos.

 

Como se não bastasse, desabei

De meus oitenta anos ainda no aguardo,

Não uma só, porém por sete vezes!...

No último mês, mais duas completei,

Em um total de nove as minhas quedas,

Meu braço sofre de sarcopenia!...

 

RAWALPYNDI 3 – 14 JUN 2024

 

Por sorte de ossos fortes, em nada me quebrei,

Mas perdi a liberdade de meus movimentos,

Fica difícil até mesmo digitar,

Estendo os antebraços, doem os ombros

E aqui estou, pobre tolo, a lamentar,

Quando devia por me dar feliz.

 

Até a escada rolei de cima a baixo,

Rasguei bastante o couro cabeludo,

Meio litro de sangue derramei...

Com algum auxílio, enfim me levantei,

Com fisioterapia já um tanto melhorei,

Porém os braços ainda controlo mal.

 

Feito palhaço, me estou a justificar,

Porque tão pouco tenho digitado

E por estar de mal com meus sonetos,

Que em pilhas permanecem empoeirados

Ou na pasta de minha esposa ainda guardados,

Até o momento em que os enfrentarei.

 

De fato, quem mais sofreu foi minha esposa,

Ao ver algum diabo me empurrar,

Escada abaixo, sem poder me segurar...

Por uma quinzena me ficou a vituperar

Em seu carinho que tudo compensou

E só este título absurdo resultou!,,,

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