terça-feira, 26 de abril de 2011

CORTE IMPURA (2009)



CORTE IMPURA I

Nossa mente é um palácio de memórias,
contrafortes e lustres de cristal,
cada lembrança um galhardo pedestal,
em que se erguem as mais antigas glórias,

ou esconso escaninho em que as histórias
que olvidar gostaríamos, em total
escuridão já encontram um real
esquecimento de suas aleatórias

recordações, quando sobem às ameias
e silvam ululantes nos torreões...
E quando as reconduzo ao calabouço

dardejam-me seus olhos de sereias,
que estas mágoas que invadem meus salões
as mais constantes são que ainda ouço.

CORTE IMPURA II

Contudo, de visita a meu castelo,
prefiro abrir escrínios e epitáfios
de sonhos feitos fósseis, cenotáfios
em que somente habita poeira e gelo,

mas nos quais encerrei teu olhar belo
que agora não me fita e nunca mais
se lançará ao meu para os demais
expulsar para os confins do cerebelo;

lembrança desse tempo em que querias
que minhas vistas somente para ti
inda se abrissem e nada mais entrasse;

porém, depois de ver que me esquecias,
guardei na minha masmorra o que sofri,
sem deixar que outro olhar me conquistasse.

CORTE IMPURA III

São justamente as memórias dolorosas
que vêm à tona com maior frequência;
eu as busco ocultar, em grã veemência,
mas elas são potentes e ardilosas...

E quando espero menos, poderosas,
como mensagens de igual potência,
vão emergindo nos mil tons da ardência
e superam as lembranças mais formosas,

cravando ao coração a dor fininha,
que nos percorre com indiferença,
querendo apenas se estabelecer

e tornar-se do consciente a má rainha,
frutificando em plena malquerença,
suas teias pegajosas a tecer...

CORTE IMPURA IV

Percorro os corredores sem escolta
dos calabouços em que o mal encerro:
todas as dores que pus para o desterro,
todas as giestas amplas de revolta.

Algumas vezes, uma sílfide se solta,
roendo as grades e rompendo o ferro,
uma banshee, com seu agudo berro
ou uma lâmia, em falsidade envolta

e vêm me seduzir, as meretrizes,
ímpios fantasmas de um passado oculto,
que tanta vez magoou meu coração.

Então as beijo, na gosma dos deslizes
e chegam a pensar terem indulto...
Porém as reconduzo à sua prisão!...

CORTE IMPURA V

São essas jaulas que passo a consertar:
que mais não saiam os fantasmas tristes
que novamente prendi, lanças em ristes,
acorrentados em seu pobre lar...

Mas eles se projetam ao luar,
lançando filamentos dos enquistes:
não se contentam mais com os alpistes
que lhes jogo a comer no seu jantar.

Pois tais fantasmas têm seus apetites:
eles almejam presidir banquetes
e toda boa lembrança devorar...

Quando os algemo, já ficamos quites,
pois me cravaram tantos alfinetes,
que sem remorso os posso torturar.

CORTE IMPURA VI

São esses que compõem minha corte impura:
seus uivos lancinantes eu transformo
em mil sonetos de mistério morno,
sem o menor vestígio de candura...

E é mais a dor que sentem que perdura:
trespassada de azul em puro adorno,
transmogrifada de prata em seu transtorno,
entre as correntes da masmorra escura...

Pois não importa que o fantasma minta:
morre um pouco de mim em cada fel;
bem mais me custam assim do que supunhas...

Porque lhes dou meu sangue para tinta
e são páginas de cérebro o papel
que eles rasgam à ponta de suas unhas...

CORTE IMPURA VII

Pouco a pouco eu empurro tais memórias:
construo novas celas, bem fechadas;
as mais candentes deixo emparedadas
e esqueço o mais possível tais histórias...

são meus fracassos e as mais vazias glórias:
de uma em uma, desertam-me as fachadas,
as vastas salas quedam-se empoeiradas,
ninguém mais dança no meio das escórias...

Só perambulam as impressões sensórias,
à vista das ogivas descarnadas:
de certo modo, inteiro me esvaziei;

ao descartar as sensações inglórias,
eu fui buscar lembranças encantadas
dos dias felizes e pouco ou nada achei.

CORTE IMPURA VIII

Eu quis povoar de novo meus salões
com alegrias, prazer, felicidades,
com momentos de ternura, mil bondades,
com fibras luminosas de ilusões...

Eu lhes dei uniformes de paixões,
dei-lhes jóias de amores e saudades,
fiz orquestras e soldados, fiz abades,
criei o brilho de mil conversações...

Mas descobri, em pleno desalento,
que os novos cortesãos só tinham vida,
enquanto andava pelo meio deles...

Quando eu partia e deixava o aposento,
se desfaziam em pó, luz encardida,
que só minha vista projetava neles...

CORTE IMPURA IX

Depois, eu percorria as almenaras,
sob os ventos mais gélidos; cortantes
as lufadas que embatiam, incessantes
e me açoitavam, como outras tantas varas...

Ao invés de sentinelas, tinha escaras;
na torre de atalaia, tristes guantes
jogados pelo chão, igual que dantes
brilhavam os broqueis, em cores raras...

Ao redor do castelo, uma floresta
se instalara em galhos luxuriantes,
nem mais caminho havia, que a cidades

me transportara, em ocasiões de festa:
meus servos e donzelas deslumbrantes
nada mais que fragmentos de saudades.

CORTE IMPURA X

Meus calabouços não tinham carcereiro:
até o carrasco estava agrilhoado;
já não restavam lembranças a meu lado,
não me sobrava sequer um companheiro...

E a conclusão impôs-se, bem ligeiro:
as memórias que eu trazia do passado
eram lembranças tristes do meu fado:
fora bem raro o instante alvissareiro...

Os calabouços meus, superlotados,
tinham o melhor de mim e, sufocados,
estavam os meus medos e esperanças...

Somente alcançaria outro destino,
se recordasse cada desatino
daquela rede cruel de minhas lembranças.
CORTE IMPURA XI

Assim, fui libertando, lentamente,
das ruins recordações as menos más;
pouca alegria tal lembrança traz,
porém ninguém me disse, realmente,

que ser feliz fosse direito ingente:
é tão só o contentamento que perfaz
a busca pelo bem que nos refaz
e a pouco e pouco nos constrói a mente.

Destarte, repovoei com minhas tristezas
os salões e corredores deslustrados:
ouço o clamor de passos e de abraços.

Porém, as minhas piores incertezas
permanecem nas masmorras; encerrados,
em celas frias, todos meus fracassos.

CORTE IMPURA XII

São estes os meus servos permanentes:
se não compõem poemas, passam fome;
na minha prisão, só quem trabalha come,
mesmo que criem temas indolentes...

São estes os meus vermes descontentes:
sem mim, percebem que sua vida some;
cada qual só sobrevive, enquanto tome
um fragmento de minhalma; dependentes

são de meu sangue os velhos parasitas,
que poderiam levar-me até a loucura,
porém que reduzi à escravidão:

pois redigem para mim as longas fitas
de sonhos e poemas de ternura
que inda me fazem bater o coração...




Convido  a todos  para o  lançamento  do  meu  livro, Horóscopo Cigano, que acontecerá no dia  20 de maio (sexta-feira)  às 18 horas, na Casa de Cultura Pedro Wayne  (Av. Sete de Setembro, esquina General Netto, Centro, Bagé).


domingo, 24 de abril de 2011

A SAGA DE GOTHA

                   Louis Aston Knight A Bend in the River Painting



A SAGA DE GOTHA I  (18 abr 11)

Gotha nasceu em nuvem de algodão,
quando seus olhos abriu para a consciência
e se flagrou, em toda a sua impotência,
gotinha d'água, em grande multidão.

Não era mais do que condensação:
pequenas células, sem grande permanência,
vapor reunido em branda presciência,
reflexo embotado de emoção...

Apenas percebeu ser uma gota,
de uma imensa nuvem no interior.
Milhares de outras via ao derredor,
quando ao calor inicial o frio embota.

Aos poucos foi crescendo, lentamente,
enquanto outras gotículas sugava,
essas vizinhas que para si enxugava,
antes que desenvolvessem outra mente.

A SAGA DE GOTHA II

Chegou um ponto em que não mais podia
absorver as gotas ao redor,
pois se haviam juntado já em maior
gota de chuva, que sem cessar crescia.

Logo depois, escutou-se um trovejar
e as gotas se encolheram, em seu medo.
Um relâmpago estalou, ígneo dedo,
e gota a gota, passaram-se a juntar.

Ficou presa a muitas outras, mas guardava
essa consciência fraca de si mesma...
Outro trovão soou, qual avantesma,
enquanto a nuvem negra se tornava!...

E logo começou a gotejar,
formando cristalinos fios de chuva.
Em um deles se encaixou como uma luva
e entre rajadas, sobre a terra foi tombar...

A SAGA DE GOTHA III

Caiu sobre uma poça, a espadanar...
De um só salto galgou a ribanceira:
a terra seca a abocanhou, certeira,
e se deixou engolir, sem protestar...

Via outras gotas, que a precediam,
se entranharem lentamente pela terra...
Seguia igual caminho, mas emperra
em alguns filamentos que a prendiam!...

E logo viu-se, contra a gravidade,
sugada através do filamento,
esticada a princípio e, num momento,
rendeu-se à força da capilaridade...

Logo o tubo engrossou, por que subia:
a pressão de outras gotas a empurrava.
Gotha sentiu que a algo se mesclava:
vertente branca como a luz do dia!...

A SAGA DE GOTHA IV

Depois sentiu mudar a direção:
era um tronco de árvore, afinal.
Tornou-se mais leitosa e natural,
até o caminho sofrer nova inversão.

Num fio de seiva, Gotha prosseguiu,
por um galho retorcido, até os ramos.
E então, por entre folhas aos reclamos,
em um botão de flor se introduziu.

A flor cresceu, se ressecou e caiu,
mas no raminho, Gotha permaneceu,
que, aos poucos, fez-se fruto e assim cresceu
e uma maçã vermelha produziu...

Cresceu a fruta, com Gotha no interior,
mas viu insetos famintos a pousar
e logo pássaros vieram debicar
essas muitas maçãs a seu redor!...

A SAGA DE GOTHA V

Contudo, antes de ter igual destino,
sentiu uma pressão, foi arrancada
de seu pedúnculo e, logo então, jogada
em uma cesta por um braço pequenino.

Depois, com outras doze carregada,
as mais perfeitas, vermelhas e maduras,
cascas inteiras sobre polpas puras,
foi dentro de uma pia despejada.

Com água da torneira, bem lavadas,
as doze postas dentro da fruteira,
a sua maçã permanecia inteira,
suas cascas rebrilhando, avermelhadas.

De repente, outra criança assim surgiu,
pegou a maçã e começou a mordê-la.
O destino de Gotha se revela:
em corpo humano assim se introduziu.

A SAGA DE GOTHA VI

Passou pela garganta, mastigada
com o resto da polpa da maçã,
descendo pelo esôfago, uma sã
refeição para a saúde destinada.

No estômago foi então absorvida:
foi transformada no sangue da afeição,
atravessou os alvéolos do pulmão,
juntou oxigênio, transportando vida.

Muitas vezes, fez bater o coração:
passou por todo o corpo da criança,
pela sua face de ternura mansa,
pelos dedos dos pés, em cada mão...

Foi transportada depois até os rins
e pensou já conhecer sua triste sina:
seria amarelada como urina
e abandonada aos mais ingratos fins...

A SAGA DE GOTHA VII

Mas não!   Um fragmento dessa casca
ficara preso aos dentes.  Foi cuspida...
Pelas glândulas salivares absorvida,
junto da boca que tanta polpa masca.

E assim voltou à pia... Era saliva,
misturada a vermelhos pedacinhos.
Respingou na beirada, seus vizinhos
a escorrer, da forma mais esquiva,

para o ralo que no centro os esperava...
Gotha firmou-se na parede lisa;
tinha consciência do que esse cano visa:
para um esgoto de podridão levava...

Mas não pôde evitar.   Escorregou
até a grade do ralo, entre mil gotas
e outras substâncias ignotas;
e por fim, sua sucção a arrastou...

A SAGA DE GOTHA VIII

Gotha desceu permeio a um turbilhão,
para um cano bem fino, mas profundo.
Em seu pavor de tal ambiente imundo,
até parou de palpitar-lhe o coração...

Muitas horas depois, ela acordou:
fora salva desse horror pela inconsciência.
Corria rio abaixo, sem premência;
na superfície logo se encontrou.

Examinou a si mesma, com cuidado,
pois ao se ver tão leve, percebera
que nenhuma imundície absorvera:
estava inteira e limpa e sem pecado...

O rio corria, bem placidamente,
a refletir as estrelas lá do céu.
Gotha adornou-se desse manso véu,
a refletir cada estrela iridescente...

A SAGA DE GOTHA - EPÍLOGO

O Sol surgiu então, lá no horizonte,
banhando as águas ainda de través...
Por entre árvores passava nos sopés,
depois, por sob os arcos de uma ponte...

E então o Sol brilhou, com mais calor,
velozmente aquecendo essa corrente.
Gotha sentiu essa atração potente
e transformou-se, aos poucos, em vapor...

Subiu aos céus, em direção ao Sol,
entre outras gotas mil evaporadas,
até chegar às regiões mais resfriadas,
sem influência qualquer desse arrebol...

Perante o frio, seu calor, sob pressão,
de novo condensou-se, na impotência
de mil gotículas... E, ao recobrar consciência,
Gotha nasceu em nuvens de algodão...


quinta-feira, 21 de abril de 2011

TRAVESSIA

(Pintura de James Anderson)


A bordo vinham meus sonhos; antigamente
 Usavam uniformes, brava gente,
 A enfrentar garbosamente oceanos.
 Eram sonhos reais; na fugidia
 Luz da manhã o seu olhar luzia,
 Contemplado, a sorrir, por veteranos

 Que doutras tantas viagens navegavam
 E sabiam como os mares destratavam
 Os sonhos jovens nas ondas refulgentes:
 Que muito em breve, essas tranquilas ondas
 Seriam mais profundas do que as sondas
 E os sonhos não seriam suficientes.

 Não é que houvesse tantas tempestades:
 Foi mais a calmaria, as saciedades,
 A despertar em minhalma a sensação
 De que tudo era inútil desatino,
 Que a multidão dos sonhos de menino
 Não era mais que vaga exaltação.

 Seguiram no navio, trocando as velas,
 Aqueles pobres sonhos, já sequelas
 Do que antes tinham sido; inquietação
 Constante no intestino, enjôo manso,
 Sabendo que esforçar-se sem descanso
 Não impediria sua lenta esgalhação.

 Foram sendo superados, um a um,
 Amorteceram; afogou-se algum,
 Porém a maioria adormeceu.
 Do olhar se foi a luz... Ficou desdita,
 A luta se manteve, nessa aflita
 Contemplação de um ser que não morreu,

 Mas não vive tampouco, nessa mágoa
 Inconsequente de trilhar a tábua
 Sempre oscilante do velho tombadilho:
 Percepção constante e visceral,
 Que não importa o ardor mais triunfal
 No oceano da vida: escuro e brilho

 Independem de nós, são aleatórios,
 Os ventos nos arrastam, peremptórios
 E o bem e o mal nos chegam sem esforço.
 Sobreviveram os sonhos, resistentes,
 Porém sabendo que muito mais potentes,
 São o acaso e a aleivosia, seu reforço.

 Assim os sonhos passaram a cumprir ordens
 Dos desgostos, das pragas, das desordens,
 Tornaram-se confiáveis e obedientes,
 Esperando, talvez, terminaria
 Em um porto essa viagem, dia a dia,
 Contrário o vento e de tufões frequentes.

 E a bordo vêm meus sonhos, no presente,
 Esfarrapados, magoados, no impotente
 Esforço de cumprir tanta rotina,
 Roídos de escorbuto, doidos, fracos,
 Escravos da esperança, pobres cacos,
 Com lustro ainda ao fundo da retina. 


segunda-feira, 18 de abril de 2011

AMBLIOPE, CADUCEU, SIDDHARTA e ESCALADA


AMBLIOPE

Meu destino afinal, é ver-me duplicado
Na mesma geração que tem-me desvalido;
E quantas vezes creia amor tenha sorrido,
Nas mesmas vezes tenha amor desprestigiado.

Um pouco fujo eu, um pouco tu me evitas,
Quase me desafias, em detestar me odeias,
A carne minha amarga de vastidão enleias,
Repeles, retrocedes, acenas e concitas...

Nunca entendi mulher, dos homens nunca soube:
Eu sei só de mim mesmo, eu sei quanto te quero,
Amor não cabe em mim, amor nunca me coube.

Amor que perdi sempre, amor não recupero,
Amor que julgo ter, um outro amor me roube,
Amor que despedaça o amor que mais espero!



CADUCEU

E novamente eu sinto essa ilusão antiga,
Só de te reencontrar no mesmo e velho asilo,
Asilo não de pedra, do meu ideal asilo,
Asilo na emoção que eu sinto, tão antiga!...

E novamente usando um véu de exoterismo,
Exótico espetáculo na teia do segredo,
Segredo não do mundo, do meu querer segredo,
Segredo em véu sagrado, em som de exoterismo.

Na mesma arguta e vaga e estranha exaltação,
Tisana tão melíflua, um chá de coração,
Bebida amarfanhada em canto sem história;

Que as frases que dizemos sabor não tem de glória:
Apenas nos disfarçam o ardor bem mais profundo,
De sermos um do outro sem pejo neste mundo.




SIDDHARTA

Que o verso descreva a visão do Mandala,
Foi sonho de um dia, Avatar delirante,
Olvidado o Nirvana e, no ardor palpitante,
Apegado a esta carne que aroma trescala.

Que Durga e Parvati curvassem-se a Kali,
E, exaltado e sublime, este pobre Saddhu
Se entregasse à visão triunfal deste nu
E perfeito exemplar -- dançarina de Bali!...

Kundalini ressurge e suas curvas extende
E o manso Derviche o chamado já atende,
Desatento do Buddha, esquecido de Brahma.

E na arcana espiral, ele é Tudo, ele é Shiva,
E ela freme de ardor, Mahadeo!... -- ela é diva,
Num Mandala de sangue esguichado na cama!

 

ESCALADA

Nesta emoção feroz que tanto me avassala,
Busquei enfim um dia, no mais urgente assédio,
A torre derribar fortíssima do tédio
Homiziado em tua alma -- aveludada sala!

Que em gélido esplendor da morte se avizinha,
Neste luxo artifaz ao hóspede soturno,
O ambiente contumaz em parsifal alburno,
E a mente te desnuda enfim, tão comezinha..

Lancei-me em catadupas de ardor; e de lasciva
Condescendeste então, na mente incerta e vaga,
Os portais a me abrir, assim como se apaga,

Na indiferença vã a própria luz, que ativa,
Mantinha frio e vivo o frio e antigo tédio,
Extinto a bocejar no ardor do mesmo assédio.