segunda-feira, 18 de abril de 2011

AMBLIOPE, CADUCEU, SIDDHARTA e ESCALADA


AMBLIOPE

Meu destino afinal, é ver-me duplicado
Na mesma geração que tem-me desvalido;
E quantas vezes creia amor tenha sorrido,
Nas mesmas vezes tenha amor desprestigiado.

Um pouco fujo eu, um pouco tu me evitas,
Quase me desafias, em detestar me odeias,
A carne minha amarga de vastidão enleias,
Repeles, retrocedes, acenas e concitas...

Nunca entendi mulher, dos homens nunca soube:
Eu sei só de mim mesmo, eu sei quanto te quero,
Amor não cabe em mim, amor nunca me coube.

Amor que perdi sempre, amor não recupero,
Amor que julgo ter, um outro amor me roube,
Amor que despedaça o amor que mais espero!



CADUCEU

E novamente eu sinto essa ilusão antiga,
Só de te reencontrar no mesmo e velho asilo,
Asilo não de pedra, do meu ideal asilo,
Asilo na emoção que eu sinto, tão antiga!...

E novamente usando um véu de exoterismo,
Exótico espetáculo na teia do segredo,
Segredo não do mundo, do meu querer segredo,
Segredo em véu sagrado, em som de exoterismo.

Na mesma arguta e vaga e estranha exaltação,
Tisana tão melíflua, um chá de coração,
Bebida amarfanhada em canto sem história;

Que as frases que dizemos sabor não tem de glória:
Apenas nos disfarçam o ardor bem mais profundo,
De sermos um do outro sem pejo neste mundo.




SIDDHARTA

Que o verso descreva a visão do Mandala,
Foi sonho de um dia, Avatar delirante,
Olvidado o Nirvana e, no ardor palpitante,
Apegado a esta carne que aroma trescala.

Que Durga e Parvati curvassem-se a Kali,
E, exaltado e sublime, este pobre Saddhu
Se entregasse à visão triunfal deste nu
E perfeito exemplar -- dançarina de Bali!...

Kundalini ressurge e suas curvas extende
E o manso Derviche o chamado já atende,
Desatento do Buddha, esquecido de Brahma.

E na arcana espiral, ele é Tudo, ele é Shiva,
E ela freme de ardor, Mahadeo!... -- ela é diva,
Num Mandala de sangue esguichado na cama!

 

ESCALADA

Nesta emoção feroz que tanto me avassala,
Busquei enfim um dia, no mais urgente assédio,
A torre derribar fortíssima do tédio
Homiziado em tua alma -- aveludada sala!

Que em gélido esplendor da morte se avizinha,
Neste luxo artifaz ao hóspede soturno,
O ambiente contumaz em parsifal alburno,
E a mente te desnuda enfim, tão comezinha..

Lancei-me em catadupas de ardor; e de lasciva
Condescendeste então, na mente incerta e vaga,
Os portais a me abrir, assim como se apaga,

Na indiferença vã a própria luz, que ativa,
Mantinha frio e vivo o frio e antigo tédio,
Extinto a bocejar no ardor do mesmo assédio.

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