terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

LUXEMBOURG


                                                          

LUXEMBOURG

Os álamos se erguem nesse outono,
bem no centro da cidade de Paris,
no Jardim de Luxemburgo, o qual herdou
Carlos Sétimo, que foi o inicial dono
de um "pavilhão de caça", que assim quis
denominar o palácio que instalou...

Em 1611, um de seus descendentes
foi forçado a vender essa mansão
para Maria de Médici, então regente;
viúva de Henrique Quarto; seus agentes
teriam submetido, por forte coação
o proprietário, que estaria doente.  

Da mãe de Luis Treze ainda se diz
que provocara a morte do marido
durante o esporte da nobreza, a justa.
Henrique Quarto tivera amor feliz
com Diana de Poitiers e até hoje é crido
que tal amor a vida então lhe custa.

Era costume usar pontas de gesso
nas lanças dessas liças, segurança;
movida por ciúmes (era italiana),
em um desses combates de alto apreço,
substituiu-a por verdadeira lança,
causando a morte do rei essa tirana.

                           (...)

Carlos Sétimo herdara esse terreno,
em 1459, por ser um descendente
de Bonne, anteriormente uma condessa
de Luxemburgo, morta por veneno,
segundo dizem, como era frequente
nesses tempos: melhor que até se esqueça.

LUXEMBOURG II

Maria de Médici, senhora do país,
pois o filho era menor, tinha saudade
de seu Palazzo Pitti, de Florença.
E foi por isso que a rainha quis
uma cópia construir, na sua vaidade,
durante os anos após a Renascença.

O "Hôtel" ou Mansão de Luxemburgo
tinha mais de oito hectares ao redor.
O Pequeno Luxemburgo, como o chamam,
localizava-se no centro desse burgo,
o "Coração de França", em cujo ardor,
mais tarde as liberdades se proclamam.

O arquiteto Salomon de Brasse
pela rainha foi então nomeado,
em 1612 e projetou a fonte
e um novo palácio... E a esse dá-se,
depois de tanto tempo já passado,
o nome de Grande. Também a nova ponte

fez sobre o Sena.  Por ordem da rainha,
fez plantar dois mil álamos no parque
que Tommaso Francini desenhou;
e ergueu o Ninfeu com a bela grutazinha,
a fonte e a piscina e Joana D'Arc
virou estátua, que mais tarde se instalou.

LUXEMBOURG III

Em 1630, comprou mais vinte e dois
hectares para aumentar a propriedade.
Jacques Boyceau de la Barauderie
a rainha encarregou, logo depois:
novos jardins, com esplêndida vaidade,
ele traçou, projetou e ergueu ali...

Barauderie as Tulhérias planejara,
esse maior dos parques de Paris.
A ele se atribui o "jardim francês",
de traçado geométrico, pois deixara
o seu estilo onde a regente quis
encarregá-lo das construções que fez.

O futuro Luis Dezoito, então herdeiro,
vendeu metade dessa propriedade,
em 1780.  Mas, após a Revolução,
o Diretório logo ampliou o terreiro
para 40 hectares, confiscando, na verdade
aos montes cartuchos, após sua expulsão,

as hortas e vinhedos que ficavam
ao lado desse parque, justamente.
Jean Chalgrin foi nomeado o arquiteto
para o parque popular que desejavam.
(O Arco do Triunfo, eventualmente,
foi construído mediante o seu projeto.)

LUXEMBOURG IV

Jean Chalgrin os vinhedos conservou
e a estufa e hortas dos monges despojados
e ampliou os jardins com liberdade.
Mas as sendas e canteiros que adotou,
para serem de longe observados,
manteve ainda em geometricidade.

A partir de 1848, durante o Segundo
Império francês, em grande profusão,
belas estátuas ali foram instaladas,
de figuras femininas, num profundo
respeito por rainhas e em devoção
a outras mulheres na França veneradas.

Hoje as estátuas são mais de uma centena.
Uma delas representa a Liberdade:
foi o modelo inicial de Bartholdi
para essa enorme, que se ergue tão serena
em Ellis Island, francesa na verdade,
que Nova Iorque decidiu erguer aqui.

Em 1891, foi o modelo colocado
bem visível, só que em escala bem menor...
Mas em 1865, enquanto renovaram
a cidade, esse parque foi cortado
pela rua do Abade da Espada, som melhor
do que Comte, pois o nome lhe trocaram...

LUXEMBOURG V

A fim de combater a mendicância
e os assaltos que ali sempre ocorriam,
Gabriel Davioud ergueu os seus portões
por entre grades, de que a importância
para a história da arte ainda reconheciam
os que as conservam há tantas gerações.

Foi Davioud também que transformou
o traçado do jardim em "parque inglês":
caminhos curvos, canteiros variegados.
Também por ordem sua se plantou
um grande pomar, que desde então se fez
o cenário de romances consagrados.

Victor Hugo, por exemplo, o empregou
em muitas cenas para "Os Miseráveis":
Marius e Cosette aqui se amaram.
Henry James igualmente o adotou,
em "Os Embaixadores", memoráveis
as descrições do que Lambert vivenciou.

Hoje o Jardim é talvez mais popular:
tem um parque infantil, tem marionetes,
um carrossel, no coreto orquestras tocam;
Jean Carpeaux criou estatuária singular.
Vendem-se até pipocas e sorvetes
entre sombras que ainda aqui se invocam. 

LUXEMBOURG VI

Mas os álamos e carvalhos ainda crescem,
de permeio a essas tardes outonais,
do Sol molhadas por luz tão peculiar,
e pouco a pouco, ali as folhas descem,
no velho ciclo que as finge de imortais,
na mesma morte que as leva a ressecar.

Ainda estalam, em manso crepitar,
sob os pés dos numerosos visitantes,
como faziam desde a Renascença...
E como é fácil assim imaginar
que os transeuntes sejam revenantes,
durante as noites, como quer a crença.

Que tais caminhos curvos e furtivos,
ensombrados de luz, claros de escuro,
se prestam mesmo a tantas fantasias...
E quantas hamadríades esquivas
moram ainda, sob o tronco duro
dessas árvores seculares ou esguias!...

Foram os álamos moradas favoritas
dessas ninfas que atraiu o romantismo
de centenas de poetas e escritores.
E nessas horas menos puras e benditas,
em que na mente se insinua o realismo,
zomba de nós o vento em estertores!...



Veja também minha "escrivaninha" em Recanto das Letras > Autores > W > Williamlagos e o site Brasilemversos > Brasilemversos-rs, em que coloco poemas meus e de muitos outros autores.
Edição e postagem: Andréia Macedo



Um comentário:

  1. Diane de POitiers não foi amante de Henrique IV e sim do marido de Catarina. Henrique não morreu durante a caça.

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