domingo, 26 de fevereiro de 2012

TROCADÉRO



TROCADÉRO I  (03 abr 11)
(pronunciado Trocaderrô.  Muitas rimas abaixo foram feitas conforme a pronúncia francesa.)

Do Trocadéro se avista a Torre Eiffel,
erguida altiva em mil ossos de aço,
símbolo fálico, ilusão de abraço,
para tantos visitantes o quartel.
Por entre os choupos espalham-se recantos,
parcialmente protegidos por seus mantos.

Não tem do Luxembourg a longa história.
Por muitos anos, foi somente aldeia,
em cujas estalagens serviam boa ceia
aos parisienses, em descanso da ilusória
vida apressada da grande capital,
a que deviam retornar, no seu final.

Foi cemitério depois e o velho muro
ainda se ergue, com um de seus portões.
Retiraram depois, em caminhões,
muitos ossos, protegidos pelo escuro
noturno, antes das grandes construções
cujo destino era sediar exposições.

A aldeia de Chaillot numa colina
se erguia, do Sena na outra margem.
Na travessia se precisava de coragem,
sempre que o rio a transbordar se inclina,
até erigirem a Ponte de Iéna,
que ainda hoje sobre o rio está.

TROCADÉRO II

Trocadero era uma ilha, lá na Espanha,
na Baía de Cádiz encontrada.
Por uma ponte à cidade hoje é ligada.
Era um lugar de feiras e barganha,
em que depois construíram fortaleza
que a cidade defendia com nobreza.

Na Espanha estourou a rebelião
contra Fernando Sétimo e a França,
que com Espanha mantinha uma aliança,
mandou suas tropas, em total contradição:
que o berço em que a república nascera
esse rei absolutista defendera.

Em 1823, o Duque de Angoulême,
filho de Carlos Décimo de França,
atravessou a Espanha e logo alcança
esse reduto rebelde, pois não teme
assediá-lo e, em rápida conquista,
faz com que Espanha da rebelião desista.

Essa investida para a Restauração
do monarca em seu trono foi descrita
por Chateaubriand, em sua feliz dita,
como vitória superior a Napoleão,
porque, em seis meses, vitória conquistara,
enquanto o Corso, após sete anos, fracassara.

TROCADÉRO III

A aldeia de Chaillot foi demolida
em 1867 e deu lugar à instalação
de uma Feira Mundial, cuja reputação
em 1878 quiseram repetida.
O Palácio do Trocadéro foi projetado
para essa ocasião e, em breve, levantado.

Foram projetos de Davioud realizados
em um estilo chamado de "mourisco",
mas muito mais bizantino no seu risco.
Também no Salão de Concertos instalados
foram os tubos do órgão Cavaillé-Coll,
que produzia um vasto som de escol.

Mais tarde para Lyon foi transferido
e, no Auditório Maurice Ravel,
ainda é mantido com atenção fiel.
Nele se escuta o seu vasto sonido
em concertos realizados com frequência,
sempre assistidos por numerosa audiência.

Por largo tempo Chaillot foi uma pedreira,
de onde saiu numerosa cantaria
para os prédios que em Paris se construía.
Para um Aquário foi a área derradeira.
Charles Alphand foi escolhido, enfim,
para os projetos das fontes do jardim.

TROCADÉRO IV

As gigantescas estátuas em sua entrada
representavam rinoceronte e um elefante;
essas duas peças reinstaladas diante
do Museu d'Orsay, possuem nova morada,
desde 1986.   Mas uma nova exposição
do Trocadéro provocou a demolição...

Em 1937, o Palácio de Chaillot
foi erguido bem depressa em seu lugar,
com citações de Valéry a acompanhar
esse projeto de Carlu e de Boileau,
ideia de Azéma, do Islã inspiração,
que nas mesquitas pintam frases do Alcorão.

Muitas estátuas decoraram a imponente
sede da nova Exposição Internacional
das Artes Decorativas, cujo aval
originou o Art Déco, geometricamente
inspirado, em reação ao Art Nouveau,
no modernismo do Palácio de Chaillot.

Há oito delas, pintadas de dourado,
representando cada alegoria
os Direitos do Homem.  Aqui se via
o ideal republicano consagrado.
Porém hoje, esse moderno já antigo
a uma série de museus empresta abrigo.

TROCADÉRO V

Ali se encontra, em sinal de patriotismo,
esse Museu da Marinha Nacional.
De fato, mostra a evolução naval,
mas é francês em seu puro chauvinismo,
em que o estrangeiro tem caráter só simbólico,
mesclado embora a alguns traços de bucólico.

Em outra parte do palácio, está o Museu
do Homem para expor a etnologia.
Outro Museu é o da Tecnologia,
que um louvor ao progresso prometeu.
E há ainda o Teatro Nacional,
de realismo um tanto inatural.

E finalmente, o Museu dos Monumentos,
que são Franceses, bem naturalmente,
reproduzindo, com exatidão ingente,
as milenares comemorações de eventos
que contribuíram, ao longo de sua história,
a abrilhantar toda a francesa glória.

Mas diante de Chaillot, já na Segunda Guerra,
fotografaram Adolf Hitler vitorioso.
Lá no fundo, ainda aparece o poderoso
vulto de Eiffel e a foto assim encerra
de tal rivalidade o simbolismo,
nessa glória temporária do nazismo.

TROCADÉRO VI

Contudo, em Chaillot foi proclamada,
em 1948, durante essa assembleia
das Nações Unidas, perante uma plateia
que a aplaudiu, em fúria entusiasmada,
essa romântica Declaração Universal
dos Direitos Humanos, em redação final.

Hoje o Jardim do Trocadéro ainda se estende
entre Chaillot e a Ponte de Iéna,
que à visitação popular aberto está.
E a domar a natureza aqui se aprende:
não se trata de geométrico jardim,
mas tampouco é natural seu fim.

As suas lagoas refletem, cristalinas,
as imagens dos choupos, calmamente.
Se apara a grama cuidadosamente,
as árvores podadas e pristinas...
Nesses recantos votados ao lazer,
nos permitem meditar e espairecer...

Mas os fantasmas evitam o lugar:
se aparecerem, verão as suas mortalhas
lavadas com cuidado e até, sem falhas,
suas correntes irão logo retirar...
Somente ao vulto de Eiffel há aceitação
nesta paisagem despida de emoção.

Veja também minha "escrivaninha" em Recanto das Letras > Autores > W > Williamlagos e o site Brasilemversos > Brasilemversos-rs, em que coloco poemas meus e de muitos outros autores.
Edição e postagem: Andréia Macedo

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