sábado, 17 de março de 2012

DADOS VICIADOS




DADOS VICIADOS I  (9/12/2008

Não esperava que este final de ano
aborrecido se tornasse assim.
Muito já fiz durante o ano, enfim,
sem resultar-me mais que desengano.

Soma-se a tudo o mais que desumano
calor que em nada serve para mim,
senão para amurchar o meu jardim
e despertar em mim verso profano.

E a todas essas, ela me dá carinho,
como não dava há anos, surpreendente
o seu afeto gentil e a sua paciência.

Será o preço a pagar?  Que veja o ninho
desfeito ramo a ramo inconsequente,
queimado pelo gelo dessa ardência?

DADOS VICIADOS II (17 abr 11)

Por estranho que seja, não é a primeira
vez que isso comigo me acontece.
Esse inverso resultado de uma prece,
essa malícia que me surge derradeira.

Esse preço a pagar, flecha certeira,
sempre me surge quando bênção desce.
Uma fatura, talvez, que a teia tece
e um pagamento bem maior requeira.

É como se estivesse na balança
e num prato depusesse todo o amor,
ficando o outro a pesar prosperidade,

que a cada vez que mais valor alcança,
requer diminuição do outro vigor,
tal qual arcana contabilidade...

DADOS VICIADOS III

Já muitas vezes encontrei no outrora
isso que chamam de felicidade,
quando em amor se transforma uma amizade,
nesse prazer inesperado de uma hora.

Ao mesmo tempo, o dinheiro vai-se embora:
cessam as fontes da prosperidade.
A balança sente o peso da vaidade
e o peso do trabalho assim desdoura.

Então surge mais trabalho, mas o amor
escoa devagar... e sobe o prato,
muito mais raras as mostras de carinho.

Como se alguém sopesasse, em seu rancor,
o meu destino, sem permitir de fato
um incremento dentro em meu ninho.

DADOS VICIADOS IV

Mas não se trata, certamente, de justiça:
o efeito é muito mais de zombaria,
tal qual se meu guardião só ironia
demonstrasse pelo esforço de minha liça.

Sem respeitar a norma mais castiça
de que riqueza a gente mesmo cria,
pela força do labor em que se fia,
porém se atrasa a gente mais remissa...

Diz o ditado: "Ajuda-te a ti mesmo
e Deus te ajudará" -- pérfida ética.
Sei que trabalho bem mais que a maioria.

Não deveria, portanto, pôr a esmo
os resultados de minha dialética,
para ajudar a quem favor pedia...?

DADOS VICIADOS V

Será essa a lição?  Que vire egoísta,
que me recuse a com os outros repartir?
Que buscar deva somente o meu porvir
e guardar para mim toda a conquista?

Que a cada outeiro de que galgar a crista
eu deixe para trás, sem permitir
que me acompanhe quem busca seu nutrir?
Que não exista lugar para o altruísta?

Pois ao redor de mim, vejo ambição,
a maioria aos outros explorando,
para poder a si locupletar...

E a mim enoja essa competição:
vou facilmente aos outros ajudando,
sem o menor retorno a lhes cobrar...

DADOS VICIADOS VI

Mas me rebelo contra este julgamento.
Não se trata de culpa, nem castigo,
de karma ou dharma sem qualquer abrigo:
eu só recebo a indiferença do momento.

A boa ação sempre traz um pagamento
na peculiar doçura que consigo
ou no amargor, quando a fazer me obrigo:
somente o mal não cai no esquecimento.

E assim eu sei que a balança me é infiel.
Ninguém me disse que o mundo seria justo,
nem acredito me atendam qualquer prece

que já não pretendessem... e que o anel
do arco-íris não compensa o alto custo
dessa enxurrada em que um amor perece.                

Um comentário:

  1. Olá Sr. William, tudo bem?
    Sou estudante do curso de Tradução da Universidade Metodista de São Paulo e farei um trabalho de análise comparativa de tradução utilizando uma de suas traduções ( Será o meu TCC). Gostaria de manter contato devido a isso pois quero saber um pouco mais a seu respeito. Tem algum e-mail pelo qual eu possa contatá-lo? Obrigada. Tatiane

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