sábado, 16 de dezembro de 2017







OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES &+
(Mitologia helênica compilada por Hesíodo em sua Teogonia, versão poética de
William Lagos, 29 ago / 3 set 2017) -- 1ª Parte

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES – 29 AGO 2017
IRONIA CAPILAR - 30 AGO 2017
REGIMES – 31 AGO 2017
REPRESSÃO – 1º SET 2017
ROUBO DE AMOR – 2 SET 2017
MENESTREL – 3 SET 2017

PRÓLOGO

Há vários anos, fiz “Coroa de Sonetos”,
com os trabalhos de Hércules completos,
mas sem grandes descrições
e por capricho, volto agora ao mesmo tema,
mas envolvido, destarte, num dilema
de variadas mutações!...

Para modelo, tomei versos castrinos,
de Castro Alves, hemistíquios pequeninos,
em vasta pretensão!
E sou forçado a confessar, agora,
quão difícil foi a escolha desta hora,
esforço de paixão!

Naturalmente, para mim natural sendo
o formato de soneto recebendo
completa minha atenção
o atual formato mais perturbador,
mas que aos “Trabalhos” dará maior sabor
em sua aplicação.

Assim espero que os leias com paciência,
no meu esforço de uma leve inconsequência
e de mais atrevimento!
E com Hesíodo assim os deixarei;
é dele o mérito, não o contestarei,
não meu merecimento!...

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES I

Um dia Zeus por mortal se apaixonou:
doce Alcmena, que ligeiro conquistou:
promíscuo era esse deus!
A linda jovem sentiu-se muito honrada
quando Zeus a pediu por namorada,
entre suspiros seus!...

Qual mulher rejeitaria a corte alada
do pai dos deuses?  Facilmente conquistada
a jovem bela!
E assim gozaram ambos tais amores,
sem Alcmena perceber que seus pendores
não eram dela!...

Zeus não mais era que um conquistador,
sobre centenas derramando o seu amor
e foi-se embora,
nela deixando o fruto do prazer,
filho gerado no ventre da mulher,
terrível hora!...

Assim foi esse o destino de Alcmena,
da gravidez a suportar, sozinha, a pena:
Zeus logo se cansou!
Já se afastando para outros carinhos,
que percorrendo alado os seus caminhos,
a muitos mais gerou!...

Cumprido o tempo, dois gêmeos lhe nasceram:
dois belos filhos que rápido cresceram
de seu materno leite,
um demonstrando ter poderes, realmente,
mas o outro sendo humano inteiramente:
duplo deleite!...

Um deles foi Hérakles, o forte,
o irmão chamado Ifikles, tendo um porte
muito menor;
no mesmo berço os dois irmãos dormiam,
enquanto os fados aos poucos se cumpriam,
sem estridor.

Por uma vez, Zeus mostrou-se como homem;
em cem disfarces houve outras que o tomem,
sabendo ou não;
sobre Dânae desceu em chuva de ouro
e sobre Leda foi cisne, estranho agouro:
vasta paixão!

Sabe-se bem qual foi o resultado:
violentamente tomou-a o cisne alado,
em tal surpresa;
mas seu marido, ao saber do acontecido,
logo a tomou, para ver-se garantido,
não por vileza!...

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES II

Foi mais em prova de real veneração,
que os próprios filhos alcançassem a proteção,
que o rei ansiava;
passados meses, a dois ovos gigantes
a meiga Leda deu à luz e instantes
depois chocava!...

E teve assim quatro filhos encantados:
pelo deus haviam dois sido gerados,
semidivinos,
já os outros dois completamente humanos,
dos mesmo ovos saindo, sem enganos,
esses meninos!...

Assim, Helena foi de todas a mais bela,
filha de Zeus, brilhante como estrela:
mulher fatal!
E Clitemnestra, sua irmã, audaz e forte,
porém seus traços sem qualquer divino porte:
mulher mortal!

Clitemnestra e Castor foram humanos,
Póllux e Helena semideuses soberanos:
Zeus os gerara!
Porém os seus irmãos eram mortais,
mas Póllux pediu a Zeus fossem iguais:
prece preclara!

E aos dois irmãos deu Zeus imortalidade,
assim os transformando, sem maldade,
numa constelação!
Que no Zodíaco como signo se apresente,
foram os Gêmeos, muito certamente,
do horóscopo atração!...

Contudo Hérakles, também ser semidivino,
não demonstrou igual gesto peregrino
de Ifikles em favor,
que desta forma, não se tornou imortal,
mas teve morte bastante triunfal,
segundo o narrador!...

O fato é que Hera, esposa ciumenta,
sempre do Olimpo observando atenta,
aos dois meninos descobriu;
cheia de ódio, duas serpentes enviou,
porém a Zeus nem um pouco incomodou,
que sorrateiro riu!

Ifikles, vendo as cobras, assustado,
pulou do berço e por terror levado,
fugiu engatinhando!
Porém Hérakles aos ofídios agarrou
e com as duas mãos, os sufocou,
apenas apertando!

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES III

Outros autores dizem ter sido Anfitrião,
pai de Alcmena, que, nessa ocasião,
mandou as duas serpentes,
para saber qual dos dois era seu neto,
experimento que não foi nada discreto,
porém de resultados  eficientes!

Cresceu Hérakles, realizando mil proezas,
nem todas elas perfeitas em belezas,
e algumas bem brutais!
Quis a conquista de Esparta realizar,
quando de Ifikles foi a morte provocar,
sem intenções reais.

Este morreu pela mão de Hipocoonte,
o rei dessa cidade, ou seu arconte,
em combate singular,
não permitindo que o irmão interferisse,
Eu também sou valente! – o infeliz disse,
querendo-o impressionar!.

Naturalmente, o forte Hérakles o vingou
e os ritos fúnebres por ele celebrou,
em honrada cremação;
mas essa culpa sempre o perseguiu,
pois no combate de então não acudiu,
a Ifikles seu irmão!

De outra feita, a Etiópia percorria,
esse nome com que a Grécia referia
a terra ao sul do mar.
(Depois província criaram os Romanos,
chamada África, após seus soberanos
a Cartago derrotar).

E aconteceu-lhe chegar à cordilheira,
no deserto erguendo-se, altaneira,
        altíssima montanha,
ali a encontrar um dos titãs,
o velho Atlas, que com palavras vãs,
        porém de vasta manha,

o convenceu a lhe dar certo descanso,
enquanto ia banhar-se num remanso
e Hérakles aceitou,
nos fortes ombros tomando o vasto céu,
enquanto Atlas malandreava ao léu,
quase tal peso o esmagou!

É bem possível que o titã não retornasse,
se essa esfera dos céus não balançasse,
provável a desgraça!
Aos próprios ombros a carga retornando,
quando Hérakles percebeu periclitando,
ao peso dessa massa!...

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES IV

E de outra feita, a Anteu desafiou,
outro gigante, a quem por horas enfrentou,
sem conseguir vencer!
Ele era filho de Géia, a Deusa-Terra,
a mesma Gaia – a energia que ela encerra,
constante a lhe ceder!,

Pois cada vez que o herói o derrubava,
renovado, do chão se levantava,
e a luta continuava!...
Até que Hérakles o ergueu em pleno ar,
sem na Terra conseguir os pés tocar
e assim o estrangulou!...

Contudo Hera, inclemente, o perseguia,
mais que a outros filhos de Zeus o malqueria.
por ser o mais famoso!
Chegou um dia, depois de o ver casado,
que em acesso de loucura – por ela provocado,
cometeu crime horroroso!

E os próprios filhos o semideus assassinou,
que monstros eram a deusa o enganou.
pura maldade!
Que não deixasse de si a descendência:
netos seriam de Zeus – vasta indecência,
um ato de impiedade!...

Quando Hérakles despertou de sua loucura
a deusa Nêmesis o perseguia e já o tortura,
e ele mesmo não podia se perdoar!
A própria Hera determinou o seu castigo:
doze trabalhos do maior perigo
deveria realizar!...

Mas veja bem como foi contraditória
a deusa-mãe, que potente na sua glória,
a loucura lhe enviou
e pelos atos que inconsciente praticara,
em vasto escárnio também o condenara
e assim dele zombou!...

Tinha então Hera um fervente adorador,
Euristeu, de Argólida o senhor
e a este encarregou
de as doze penas ao herói determinar
e assim por anos pôde em Hérakles mandar
o juiz que ela indicou!...

Euristeu aproveitou-se da ocasião,
para de um monstro se livrar, sem compaixão,
que a Argólida assolava!...
Pois no pântano de Lerna uma serpente,
com sete cabeças, cada qual delas diferente,
aos homens devorava!...

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES V

E se o rei vítima ali não enviasse,
em cada aldeia por onde passasse
        causava morte e horror.
pois cada qual que a cobra assim mordia
nas mais terríveis dores perecia,
        venenoso o seu ardor!

Pensou Euristeu que, se Hérakles vencesse,
porém que a Hidra no combate ainda o mordesse.
        seria duplo o resultado!...
Pois caso fosse uma cabeça assim cortada,
outra brotava da garganta decepada,
        em combate prolongado!...

E até o perigo continuava pelo chão,
pois as cabeças ainda mordiam sem perdão.
        se não fossem esmagadas!
Chamou Hérakles a Yolau, valente amigo,
que muitas tochas carregou consigo,
aos pescoços destinadas!...

Assim Hérakles cortava uma cabeça
e dava um pulo para trás, com pressa,
        no chão a esmagá-la!
Então Yolau suas tochas aplicava,
cada garganta assim cauterizava,
        mais ágil que uma bala!...

Pouco a pouco destruiu todas as sete,
seu sangue impuro a respingar como confete,
        deixando a Hidra morta!...
Hérakles então desabotoou a sua aljava,
pontas das flechas no sangue mergulhava,
        que a cabeça ainda comporta!...

Deixou suas setas assim envenenadas,
mesmo as mais leves feridas condenadas
        à morte dolorosa!
Seriam vítimas quantas alvejasse,
caso em batalhas Hérakles ingressasse,
        até a mais corajosa!

Ele mesmo dos respingos se curou,
mas Yolau, coitado! -- então matou,
        mas poupá-lo de tanto sofrimento...
Seu bom amigo o final golpe agradeceu;
mesmo no reino dos mortos, prometeu
        ajudá-lo em algum momento...

Hérakles o corpo da Hidra carregou,
e para o rei então o entregou:
        a tarefa foi cumprida!
Para Yolau cumpriu os santos ritos,
vertendo lágrimas dos olhos aflitos,
        durante a despedida!...

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES VI

Constrangido, afirmou ser a fumaça
que no canto de suas vistas fez trapaça
        e seu choro provocou...
Não pôde Hera ver cumprida sua vingança,
porém seu ódio perpétuo não se cansa
        que tanto o condenou!...

Contra a Argólida enviou ela um Leão,
determinando a Euristeu, então,
        que a Hérakles mandasse
até a Nemeia, contra o leão invulnerável.
mesmo por golpes de clava ainda intocável,
        pensando assim que o condenasse...

Contra seu pelo as flechas se quebravam
e os duros golpes somente o abalavam:
        de novo ele atacava!...
Mas então Hérakles no chão o derrubou,
montou-lhe às costas e então o estrangulou
        e já não respirava!...

Sua pele invulnerável esfolou
com as próprias garras e ao sol a colocou:
        em breve ele a curtiu!
Uma túnica a pouco e pouco costurou
com as grossas tripas que de ventre retirou
        e com ela se vestiu!...

Tornou-se assim, em parte, invulnerável,
um lucro assim a ganhar considerável
        após cada castigo!...
Euristeu cada vez mais assombrado,
ao descobrir qual fora o resultado:
        a vitória do perigo!...

Cada vez mais ficou Hera despeitada,
em suas más intenções assim frustrada
        e ao herói fortalecendo!...
Pois via Zeus em seu trono sorridente,
muito embora se fingisse indiferente,
        a seu filho protegendo...

E de igual modo, em segredo, o auxiliou
quando a Corça de Cirene ele caçou,
        que então, de astúcia usando,
pensou Hera que só por força ele vencia,
mas que essa corça matar não poderia,
        tão só capturando!...

Porque era a Corça a Ártemis consagrada,
e desse modo não poderia ser magoada,
        sem ofensa à Caçadora,
que de fato, protegia a Natureza.
perpetua virgem, por maior a sua beleza:
        para si só ela entesoura!...

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES VII

Ficava o templo no Monte de Cirene,
cascos de bronze a manter-lhe o passo indene
        de pedras ou de espinhos;
Por um ano, caçou-a Hérakles em vão,
que Ártemis Diana lhe dava proteção
        ao longo dos caminhos...

Finalmente, Zeus cansou do esconde-esconde,
enviando Hermes para explicar aonde
        lançar uma armadilha,
sem deixar Hera a par desse segredo;
Zeus prometera não meter sequer um dedo
        de Hérakles na trilha...

Por Mercúrio ou Hermes de tal sorte instruído,
prendeu Hérakles fina teia de tecido
        quase invisível
contra as colunas do pórtico do templo,
que à deusa Ártemis, de Arakne no exemplo. (*)
        seria imperceptível!...
        (*) A deusa Aranha, que pretendem introduzir no Horóscopo.

Já outras redes a Corça destroçara;
com suas patas de bronze estraçalhara,
        fugindo inalcançada;
covas ocultas e cordas em alçapé
ela evitara, com malícia até,
        correndo inabalada...

Porém na nova teia se enredou
e as quatro patas Hérakles lhe atou
        levando-a a Euristeu
e à deusa Ártemis, movido por temor,
após sua Corça libertar, com breve ardor,
        holocausto ofereceu!...

A Ártemis Diana assim se propiciou
e a Hérakles facilmente ela perdoou.
        pois a culpa fora de Hera,
a deusa Juno venerada por Romanos
assim movida por ciúmes soberanos,
        qual besta-fera!

E novamente, com malícia extrema,
a Euristeu inspirou mais uma pena,
        que julgou ser impossível!...
O rei da Élida, Áugias, estrebaria
possuía imensa, na qual ele acolhia
        seu gado, já quase intransponível...

Ao invés de se limpar, ele ordenava
erguer os tetos, quando o esterco acumulava,
        sólida massa,
Cujo fedor o próprio ar envenenasse:
talvez a Hérakles esse odor matasse:
        feia pirraça!...

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES VIII

Contra a tarefa rebelou-se o semideus:
"Não sou escravo dos caprichos seus!"
        porém submeteu-se;
Chegado à Élida, porém, desacorçoou,
mas novamente Zeus a Hermes enviou:
        conselhos desse!...

Então o herói abriu um vasto canal,
de dois rios desviando o seu caudal:
        Alfeu e Paineu;
a muralha às correntes represou,
mas com golpes de clava as derrubou,
        e o galpão inteiro encheu!

A força da água com cuidado dirigida
contra o esterco então foi conduzida,
        em blocos o arrancando,
É bem verdade que abalou a cavalariça,
mas retirou o resultado da preguiça,
        cinco décadas lavando!

Primeiro Áugias seu rebanho retirou;
por sorte, vaca alguma se afogou,
        contudo o cheiro
o ar empestou de sua cidade inteira,
pois boa parte da enxurrada derradeira
        cobriu todo o terreiro!

Aos poucos, retornaram os rios ao curso,
todo o esterco carregando no percurso,
        real fertilizante,
que pelas margens, tal qual um novo Nilo,
de uma semente fez nascer um quilo:
        bênção gigante!...

A seu colega aviso Áugias enviou;
com grande pompa Euristeu o visitou
        e convenceu-se
de que a tarefa fora inteira realizada;
a deusa Hera, outra vez desapontada,
        mais ofendeu-se!...

E arrepanhando as dobras de seu manto,
transportou até as florestas de Erimanto
        um terrível Javali!...
Devia Hérakles outra fera assim caçar,
todavia abstendo-se de a matar,
        o animal em breve achando ali.

E o Javali, ao vê-lo, se escapou,
por mais enorme, ao herói não enfrentou,
        quiçá por medo,
por indolência sem querer luta travar,
mas o pôde Hérakles finalmente capturar,
        sem mais segredo.

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES IX

Nele montado, levou-o até Euristeu;
como um churrasco o rei o recebeu,
        mandando-o abater,
mas das amarras ele se libertou,
da capital as ruas assolou,
        todos postos a tremer!...

Euristeu escondeu-se num barril,
acometido do terror mais vil
        e o Javali na praça
fruta e legumes se pôs a devorar,
grave prejuízo chegando a assim causar
        dos pobres a desgraça!

Mais uma vez foi Hérakles chamado
e novamente o Javali foi derrotado:
        virou churrasco!...
Porém do rei o prestígio foi ferido
e a deusa Hera soltou grande gemido,
        de puro asco!...

Mandou Euristeu a seguir o enviar
ao Lago Estínfale, para dali expulsar
        as Aves horrorosas;
tinham de bronze suas garras e suas asas;
em altos picos faziam ali suas casas,
        famintas, perniciosas,

que devoravam as carnes dos rebanhos
e agricultores que ali faziam seus amanhos,
        ferozes canibais!...
Quando as asas sacudiam, as suas penas,
iguais que adagas, embora mais pequenas,
        soltavam-se, fatais!...

Com precisão suas vítimas atingiam
e com vagar, quais abutres, as comiam
        e iam aumentando!
Mesmo envolto em sua pele invulnerável,
percebeu Hérakles ser quase irrealizável
        um trabalho assim nefando!...

De que modo tais picos escalar,
enquanto as Aves o viriam atacar?...
        Missão secreta
desta vez Zeus a Minerva designou:
Pallas-Athena, que de noite o visitou,
        trazendo uma corneta!...

Assim o herói até o lago se achegou
e o instrumento com vigor soprou:
        forte estridor!...              
Os pássaros de Estínfale, assustados,
alçaram vôo, então desalojados,
        com guinchos de pavor!

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES X

Então Hérakles as alvejou, uma por uma,
e o veneno da Hidra, que as consuma,
        em suas pontas se achava;
e mesmo alguma, só ferida de raspão,
estrebuchava, logo vindo ao chão
        e não mais se levantava!...

Então o herói, seguro da vitória,
aos poucos completou a missão inglória,
        subindo aos ninhos,
em que, sem pressa, cada ovo esmagou
e nem sequer uma cria ali deixou,
        matando os passarinhos...

(De suas tarefas foi a menos ecológica!...)
Outra versão existe, mitológica,
        que eram as Hárpias, na verdade,
que com o som da corneta revoaram
e para os picos de origem retornaram,
        em tal necessidade!...

Claro que Hérakles não as poderia matar;
servas de Nêmesis, funções a realizar,
        quando enviadas...
Mas para o norte então se retiraram,
não mais os arcádicos rebanhos perturbaram:
        feras aladas!...

Ora, um Minos, um certo rei de Creta,
promessa fez a Netuno, certa feita,
        de um grande sacrifício;
e um Touro branco, da força mais terrível,
foi preparado... mas achou ser impossível
        causar-lhe um malefício...

Este mito se relaciona, certamente
ao Minotauro, que Teseu, valente,
        matou no Labirinto;
a ilha de Creta era prestigiosa
por seus rebanhos de carne deliciosa:
        coincidência talvez pinto.

Usava o Minos o seu belo Touro
como forma de beneficiar o seu tesouro:
        rebanho belo!
Porém Posêidon, sua promessa não cumprida,
o Touro libertou de sua guarida,
        veraz flagelo!...

Atacava os pastores e a seguir matava;
cada outro touro que por ali se achava!
        Minos em vão
muitas rezes sacrificou de seu rebanho,
porém o estrago continuou, tamanho,
        desesperando, então.

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES XI

Foi a Micenas, solicitando a Euristeu
que o aceitasse qual problema seu
        e a Hérakles o atribuísse;
Foram trocados, assim, ricos presentes,
as condições dessa caçada assentes,
        que Hérakles cumprisse!...

E lá se foi, satisfeito, o semideus:
seria o mais fácil dos trabalhos seus,
        pois o Touro dominou,
por força bruta, igual que mais gostava
e já nas costas a besta carregava,
        que ao Minos entregou!...

Porém o rei, pensando agradaria
a Posêidon, a quem muito temia,
        deu-lhe certa liberdade
e o animal, estando atarantado,
foi para a praia do mar sendo levado,
        como ato de piedade...

Tocaram muitas trompas e tambores
os sacerdotes de Posêidon servidores,
        até a beira-mar!
Mas o animal na maré se libertou
e até ao Istmo de Corinto então nadou,
        pensando se escapar!...

E enveredou então por Maratona,
planície de que Atenas era a dona,
        comendo seus trigais!
Mas como touro novamente foi caçado
e a Posêidon, enfim, sacrificado;
        esta uma história a mais!...

Já o rei da Trácia, um certo Diomedes,
criava quatro éguas e seus hóspedes,
        depois de embriagados,
os dava àquelas, como ímpia refeição,
acostumadas a comer carne que estão
        de escravos e criados!...

Chamou Hérakles a alguns de seus amigos
e à Trácia foram, a enfrentar perigos,
        ao longo da viagem;
ficava ao norte da Grécia, nos confins,
montanhas ásperas, duros seus afins,
        pastores de coragem!...

Mas Diomedes por todos era odiado;
por montanheses foi Hérakles guiado
        até a capital,
que conquistou, sem maior dificuldade,
venceu Diomedes com facilidade,
        destinando-o a fim igual.

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES XII

Para suas éguas o rei serviu de refeição,
sem ser, contudo, embriagado então,
        terrível seu terror!
E ao ver as quatro feras satisfeitas,
com pesados grilhões foram sujeitas,
        arrastadas sem temor.

Hérakles apresentou-as a Euristeu
e foram soltas, por mandado seu,
        nas faldas de montanha,
em que lobos e ursos habitavam
que já as quatro, prontamente, devoravam,
        maior sendo sua sanha!...

Já sem ter monstros para o enviar,
Euristeu conseguiu imaginar
        mais uma armadilha
e o enviou para distantes zonas,
em que moravam as ferozes Amazonas:
        difícil a partilha!...

Mandou Euristeu que lhe trouxesse o cinturão
carregado de jóias da rainha, para então
        oferecê-lo a Hera,
vendo que a deusa se encontrava desgostosa,
pois fracassava a sua vingança tenebrosa,
        após tão longa espera...

De novo Hérakles reuniu os seus amigos,
para enfrentar do Mar de Mármara os perigos,
        chegando à atual Turquia,
da qual a Frígia ficava no nordeste...
Que trouxe o cinto não existe quem conteste,
        só a forma em que o faria.

Dizem alguns que à Hipólita venceu
em combate singular e o cinto recebeu
        como um tipo de resgate;
já dizem outros que o combate foi parelho
e que Hérakles trocou o cinto por espelho,
        após esse combate.

Dizem também que os dois se apaixonaram,
que muito tempo juntos ali quedaram
        e que Hipólita concebeu,
tendo uma filha de força singular,
Pentesileia, que Aquiles iria matar
        na luta em que a venceu.

Mas esta lenda já se refere a Tróia
e o certo é que tal cinto, rica jóia,
        Hérakles conseguiu;
Existe ainda um relato mais sereno,
que ela casou, ao invés disso, com Tereno,

um amigo que o seguiu.

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