ILUMINISMO
& MAIS
Novas
séries de WILLIAM LAGOS, 23/7-1º/8/2018
Iluminismo
(VIII) ... ... ... 23/7/2018
Mortos-Vivos
(III) ... ... ... 24/7/2018
Ectoplasma
Tímido (IV) ... ... ... 25/7/2018
Autenticidade
(III) ... ... ... 26/7/2018
Poética
(IV) ... ... ... 27/7/2018
Em
Covarde Resplendor (IV) ... ... ... 28/7/2018
Retrospecção
(IV) ... ... ... 29/7/2018
Laranja
Estrela (IV) ... ... ... 30/7/2018
Melodicidade
(III) ... ... ... 3l/7/2018
Unanimidade
(VI) ... ... ... 1º/8/2018
ILUMINISMO
I – 23 JUL 2018
Foi
o Iluminismo um movimento filosófico,
destinado
a combater superstição,
o
Absolutismo e toda a intervenção
do
Estado ou de misticismo pseudossófico
dos
charlatães que por motivos egotistas
criavam
suas “maçonarias”, em que são,
opostamente
à verdadeira instituição,
ensinadas
falsas místicas sofistas,
abundantes
deste o surgir da Renascença,
em
que falsos profetas apregoavam
conhecimento
oculto e pré-cristão,
a
converter para seu tipo de crença
principalmente
os ricos que exploravam,
pompas
brilhantes para sua iniciação.
ILUMINISMO II
Os Iluministas pregavam o uso da
Razão,
que chamavam de “Luz” contra a
crendice
do Direito Divino dos Reis, uma
tolice,
que a Igreja apóia para sua
dominação;
estas as “Trevas” de antiga
gestação,
durante a Idade Médica, escolastice
disseminada, porque os prelados,
diz-se,
na maioria, eram de nobre condição;
mas defendiam, sobretudo, a
liberdade,
por certo corporal, porém da mente
mais do que tudo, unida à
fraternidade
entre todos os homens! Bem.. os europeus,
sem que esse sentimento de igualdade
se extendesse aos negros ou aos
judeus...
ILUMINISMO
III
Da
Reforma Religiosa foi direto herdeiro,
impossível
na monolítica religião,
a
defender da burguesia a ocupação,
não
só liberta para ganhar dinheiro,
mas
liberdade social tendo por inteiro,
o
antropocentrismo a defender, em oposição
à
Teocracia hierárquica cuja dominação
durava
séculos, mas com aceno lisongeiro
à
Monarquia com vigor constitucional,
assim
os Déspotas Esclarecidos aceitando
as
suas ideias e o Parlamentarismo:
Friedrich
II na Prússia e em Portugal
o
Marquês de Pombal rédeas tomando
do
governo aos reis contra o obscurantismo.
ILUMINISMO
IV
A
escravidão já multissecular
na
Rússia sendo aos poucos aliviada
por
Yekaterina Segunda, também inclinada
para
milhares de Judeus ir convidar
que
em sua pátria a base iriam criar
de
uma burguesia a ser formada,
entre
os escravos e os nobres colocada,
comércio
e indústria assim a apoiar.
Os
principais destes argutos pensadores
Foram
John Locke, dito o “Pai do Iluminismo”,
Voltaire
a combater o absolutismo,
Montesquieu
dos três poderes, conservadores
da
integridade do Estado, que a monarquia
como
o Poder Moderador defenderia.
ILUMINISMO V
François Quesnay, muito mais um
idealista,
um Capitalismo Agrário a defender,
sem que a Nobreza o pudesse combater
e Adam Smith, o maior liberalista;
ao mesmo tempo, os naturalistas,
portas abriram para a ciência florescer,
sem de fato a natureza proteger;
mais coletores sendo que cientistas;
infelizmente, tal a natureza humana,
o Liberalismo conduziu à opressão:
na Inglaterra, abolida a escravidão,
milhões de servos às cidades
afluíram,
em habitação realmente sub-humana,
dominação em egotismo soberana.
ILUMINISMO VI
Então
surgiram as ideias socialistas,
a
culminar no Marxismo-Leninismo,
a
Ditadura do Proletariado um idealismo
que
pretendia da liberdade seguir pistas;
mas
ditaduras sempre são absolutistas,
resultando
em igual paralelismo
com
os governos de total protecionismo,
que
ao invés de racionais, são ideologistas;
parece
ser inerente ao ser humano
degradar
todo ideal de liberdade,
em
especial quando for intelectual
e
na desculpa de um futuro arcano,
transformar-se
em monolítica unidade,
todo
altruísmo transmutando em mal.
ILUMINISMO
VII
Talvez
nos surja um novo iluminismo,
de
novo a esclarecer nossa razão,
mas
por certo as trevas aqui estão,
a
desvirtuar arte e cientificismo;
não
chego a acusar de diabolismo
quando
a Ciência foi feita religião,
a
negação do divino quase obrigação,
a
ética clássica a encarar com ceticismo;
nem
é tão só questão de mediocridade
grosseiras
coisas aceitadas como arte,
mas
certamente existe aqui degradação,
pós-modernismo
verdadeira aberração,
ideologia
e desaponto parte a parte,
total
descrença em nossa humanidade.
ILUMINISMO
VIII
Vejo
esperança na quântica e astronomia,
as
descobertas mil a acumular,
nosso
caminho às estrelas a indicar,
desmentindo
toda a falsa arqueologia
que
da raça o progresso impediria,
tudo
deuses-astronautas a lhe dar;
se
não de Deus, há alguma força a orientar
tais
descobertas em simultânea via;
eu
creio ainda no antropocentrismo,
pouco
importando nossos raciais defeitos
e
o eventual, mas terrível, retrocesso;
mas
há tendência para o perfeccionismo,
nossos
espíritos mais e mais insatisfeitos
na
imposição de um comercial progresso.
MORTOS-VIVOS
I – 24 JUL 18
Esses
filmes de zumbis só me dão nojo,
na
estupidez apresentada em seu formato,
nesse
plágio de descarado desacato,
mais que
os zumbis em canibal despojo.
Na
posição oposta, então, me alojo,
qualquer
cerebrofagia eu não acato
e à minha
originalidade não abato,
autoridade
intelectual de mim arrojo!
Pois me
parece que esses roteiristas,
de ideias
próprias sempre destituídos,
até
confessam a outras mentes devorar;
e ao
assumirem serem plagiadores,
iguais
zumbis de estômagos destruídos,
ideias
alheias não se importam de furtar!
MORTOS-VIVOS
II
Na
verdade, os cadáveres descansam,
o medo
deles a ser multissecular:
os
Egípcios com suas faixas a amarrar,
os
Indo-Europeus que de os cremar não cansam;
os
Romanos com sangue até os amansam,
mais por
temor de sombras a ulular;
mesmo em
valas comuns a derramar
óleo e
álcool para as chamas que ali dançam;
algumas
tribos vão seus mortos devorar,
porém nós
os vamos em gavetas encerrar,
por não
confiar naqueles parafusos
que os
seguram dentro dos caixões,
porém das
almas a temer assombrações,
missas
rezando de portentosos usos!
MORTOS-VIVOS
III
Na
realidade, estão aí os mortos-vivos,
aos quais
não é possível sepultar,
esses
milhões a quem as drogas vêm viciar
e os
seguidores de profetas mais altivos;
as
multidões de operários inativos,
porque
trabalho não conseguem alcançar,
essas
massas de manobra sem pensar,
que até
no futebol acham motivos,
dos
oponentes a criar mortos reais,
mais a
camada inferior de analfabetos,
não
importa sua cor ou religião,
que nem
ao menos têm vivos ideais,
mas só
desejos que em nada são secretos:
que para
si e seus filhos tenham pão!
ECTOPLASMA TÍMIDO I – 25 JUL 18
Sempre foi bem conveniente declarar
que o ectoplasma facilmente se
dissolve
na presença de um cético, que o
envolve
com a descrença total de seu pensar!
Chamadores de mortos alguns a se
arvorar,
em situação qualquer que aos tais
devolve
durante uma séance; e se algum resolve
qualquer dúvida da chamada a lhe
afirmar,
ofendido, o ectoplasma deixa o tal lugar;
(não era fácil para um vivo produzir
as alegadas manifestações concretas,
surgindo às vezes desde o fino ar,
noutras da boca ou do nariz a expelir),
tais proezas sendo hoje obsoletas.
ECTOPLASMA TÍMIDO II
Mas de invocar algum não há o que impeça,
desde que alguém se disponha a contribuir,
quando um espírito vem num vivo se incluir,
comunicando-lhe uma voz que se pareça
com a do falecido, desde que não se esqueça
que no “outro plano” ele está a evoluir
e alguma coisa sempre se pode diluir,
nessas sessões a ocorrer por aí à beça!
Naturalmente, não há espírito inquietos;
creio na alma e na imortalidade,
mas os imateriais são bem mais quietos
do que os médiuns nos fazem acreditar,
embora aspectos de sua personalidade
os ministrantes em nós possam captar...
ECTOPLASMA TÍMIDO III
Se por acaso sucesso não alcançam,
a despeito dos murmúrios ambientais,
de interferências reclamam naturais,
pois certamente os espíritos ali dançam,
mas de tentarem manifestar-se cansam,
quando os descrentes superam aos demais,
voltando então para regiões espirituais,
onde em poltronas confortáveis se balançam!
Mas afinal, no Velho Testamento,
existe clara e total condenação
para qualquer feiticeira ou invocadora;
e a Pitonisa de Endor, em tal momento,
ao Rei Saul trouxe final condenação,
após ter feito intervenção
em triste hora!
ECTOPLASMA TÍMIDO IV
O Seio
de Abraão só no Novo Testamento,
é no Evangelho de São Lucas
mencionado;
quando o Profeta Samuel foi invocado,
referiu-se a “subir” nesse momento,
(*)
(*) Ver I Samuel Capítulo 28.
sua perturbação a trazer grave
lamento
ao Rei Saul quando lhe foi comunicado
que ele seria em Gilboa derrotado,
também seus filhos em acompanhamento
(*)
(*) Ver I Samuel Capítulo 31.
de Samuel, onde quer que esse profeta
se encontrasse, no Abaddon ou no
Sheol,
do Paraíso sem formar-se ainda
conceito;
e se essa narrativa hoje te inquieta,
vive tua vida sob a luz do Sol,
sem de qualquer invocação tirar
proveito!
AUTENTICIDADE
I – 26 JUL 18
Nessa
dança permanente dos amores
com
frequência se encontra a falsidade,
no
egotismo natural da humanidade,
o
altruísmo contrário a seus pendores;
comumente
é mais troca de favores:
“Trata-me
bem e com equanimidade
o
mesmo te farei; e em naturalidade,
trata-me
mal, te servirei rancores.”
Mas
se os passos do amor forem seguidos,
mesmo
quando se enfraquece o sentimento,
percebes,
com surpresa em tal momento,
que
o amor surgiu ou voltou, substituídos
os
desdéns e descasos por carinho,
lado
a lado, por difícil o caminho.
AUTENTICIDADE
II
Não
obstante, pode protestar alguém
ser
muito errado se pretender amor,
mas
por que, se a intenção desse fervor
é
a seu alvo tão só fazer o bem?
Sempre
existe um motivo de temor:
há
quem pretenda ter amor, porém
só
intenções egotísticas mantém,
a
ser autêntico somente em seu favor.
Há
quem deteste até os próprios filhos,
a
pretender um amor igual também
e
com auto-sacrificio até o sustém;
mesmo
não sendo autênticos tais trilhos,
é
autêntico no dever que com eles tem,
investimento
que no fundo lhe convém...
AUTENTICIDADE
III
Sentimentos
contraditórios todos temos,
melhor
quem busca o bem alheio por ofício
que
recusarmos o próprio sacrifício,
quando
auxiliar ao próximo podemos;
quem
mais próximo que alguém com quem vivemos?
Pouco
importa ser forçado o benefício,
se
for bem disfarçado o malefício
que
em nosso coração assim contemos.
Ai
do mundo, se por egoísmo autêntico,
ninguém
quisesse em nada se doar
ou
só o fizesse esperando recompensa,
aqui
na Terra ou em Paraíso idêntico,
contribuições
que bem sabe calcular,
num
livro-caixa que o espiritual condensa.
POÉTICA
I – 27 JUL 2018
É
bem variado o conceito de poesia:
cada
verso, para mim, deve cantar,
sem
frases soltas apenas se alijar
sobre
uma folha que tudo permitia;
antigamente,
sem haver nisto nostalgia,
qualquer
poema era difícil de gravar,
sem
pergaminhos, só por memorizar;
versos
pagãos qualquer frade destruía,
palimpsexto
em que anotar a liturgia,
que
muito útil, é natural, lhe parecia;
porém
depois se difundiu o papel,
sobre
o qual com cânula se pintava,
letra
após letra, da palavra que voava
por
qualquer mente inspirada de ouropel.
POÉTICA
II
Já
havendo de livros a impressão,
sempre
que a fosse possível financiar,
mais
raramente se alguém podia avaliar
qualquer
valor num poema em produção,
a
ser guardado para outra geração,
poesia
e prosa a se popularizar,
na
ordem direta de se alfabetizar
um
público para lhes dar mais atenção.
De
qualquer modo, sempre era restrito;
não
era qualquer coisa a ser impressa,
muito
poema em gavetas a mofar;
então
surgiu, para um poeta aflito,
a
datilografia, em que bem mais depressa
podia
a obra pelo mundo se espalhar.
POÉTICA
III
Mesmo
assim, havia dificuldade
para
ser algo publicado num jornal;
das
regras da gramática, afinal,
a
poética a mostrar diversidade.
E
a rima e o ritmo, com especiosidade,
se
exigiam, numa censura natural:
que
a presença da cesura ou métrica final
fossem
perfeitas em sua engenhosidade,
no
fim a forma a superar a ideia,
muito
cronista a fazer “prosa poética”,
regras
deixando, talvez sem muita ética,
mas
alcançando assim vasta assembleia,
sem
que sofresse da má comparação
com
as obras dos poetas que o lerão.
POÉTICA
IV
Mas
de repente, veio o computador
e
qualquer um pode nele digitar;
tornou-se
fácil pela rede se espalhar
qualquer
coisa de bom ou mau pendor;
por
que aceitar um determinador
de
como um verso se deve comportar;
pior
ainda, por que ideia censurar,
por
medíocre que seja o seu teor?
Retorna
assim o velho “modernismo”,
ao
qual jamais consegui me adaptar,
os
meus sonetos jamais a desregrar,
rima
e cesura vêm com naturalismo,
métrica
e ritmo bem fácil a manter,
em
que as ideias melhor podem florescer!
em
covarde resplendor 1 – 28 jul 18
não
acredito em inferno ou coisa assim,
salvo,
talvez, no inconsciente coletivo,
que
em tal lugar somente jaz cativo
quem
julga merecer parelho fim.
foi
neste mundo que habitar eu vim,
que
se adiem punição e lenitivo;
só
a consciência nos traz tormento ativo,
sem
permitir-nos algum descanso enfim.
são
as lembranças que esquecer mais se deseja,
esses
demônios da pura nostalgia,
que
não nos deixam permanecer em paz,
tudo
quanto não se fez quando se enseja,
esses
duendes de pura covardia,
por
cujo riso a vida se desfaz.
em
covarde resplendor 2
por
muito tempo e até mesmo na poesia,
quando
versos espontâneos me brotavam,
a
autocrítica e o medo os descartavam,
sem
acreditar que a mim tal mote pertencia,
do
mesmo modo que na vida inteira eu via
projetos
úteis a que temores adiavam,
na
insegurança a que me condenavam
a
educação e a troça que sofria
de meus colegas e até perseguição,
isso
a que agora o termo bullying se
refere;
como
menino criado com cuidado,
muito
temia essa tal provocação
e
é rara a iniciativa que se insere
nesse
que foi à desconfiança bem treinado.
em
covarde resplendor 3
assim,
por mais talentos que tivesse,
difícil
era lhes dar continuidade
por mais que os empregasse na verdade
e como ator e compositor me expressasse;
e até com frequência viajasse,
mas sem seguir uma oportunidade,
pelo temor de toda a sociedade,
sendo criado para que dela desconfiasse.
pelos meus erros assumo a culpa inteira;
pouco importa o que de alheios eu sofri;
eu deveria reagir e não reagi,
enquanto o tempo escorria e sorrateira
se apresentava nova iniciativa,
em tudo nela minha alma rediviva.
em
covarde resplendor 4
foi
assim que criei meu próprio inferno,
grades
forjadas de ilusões perdidas,
chaves
feitas de injúrias bem sofridas,
desdém
e inveja em componente eterno,
essa
vontade de destruir quanto é superno,
quaisquer
pequenas vitórias obtidas,
depauperadas
por críticas renhidas;
entre
o combate e o desalento alterno;
mas
reconheço, afinal, o meu caminho
e
desta vez, não mais desistirei,
mais
mil poemas compor conseguirei,
sem
me importar com crítico mesquinho,
só
a indiferença ainda a me magoar,
mas
mesmo essa para mais me impulsionar.
Retrospecção 1 –29 jul 18
Já terminados meus paradoxos foram,
Até que outros me surjam de inopino,
Enquanto de retrovírus toca o sino,
Solto à vida os poemas que em mim moram.
Já não mais me surpreendo como estouram
Essas centenas de versos com que atino,
Em frias certezas, sem temor ou desatino,
Ainda que falsas, porque sei que douram
A atualidade com as antigas tradições,
Revestidas do sabor das gerações,
Coadunadas a um mundo que passou,
Enquanto os desafios que agora lanço
Correspondem a um mundo menos manso
Em que pouco desse antigo ainda ficou.
Retrospecção 2
E assim me animo a remar contra a maré,
Por mais que saiba poder ser arrastado;
Por nenhum rebocador serei puxado,
Mas no que faço eu agora ponho fé.
Serei, no máximo, nota de rodapé,
Igual a curiosidade ser mostrado:
“Existiu um indivíduo, no passado,
Que escreveu quarenta mil sonetos, mas não
é
“Apesar disso, nem um pouco conhecido,
Seus versos colocou só na Internet
E se perdeu seu conteúdo digital:
“Por explosão solar foi removido,
Somente existem fragmentos qual confete,
Que eruditos compilam mal e mal.”
Retrospecção 3
Não obstante, o importante é persistir;
Se jamais eu for lembrado, pouco importa,
Que esses versos lancei nessa retorta,
Talvez seu ouro alguém possa descobrir,
Com a Pedra Filosofal a percutir,
Que a todos liberei por essa porta
E se alguém plagiar o que neles se
comporta,
O importante é o conteúdo persistir,
Que os versos não são meus, são do
Inconsciente
E assim pertencem a toda a humanidade,
Que algum bem possam fazer assim espero,
Mesmo depois de aqui não mais estar
presente,
E se a algum citem, mesmo com
especiosidade,
Minha longanimidade eu não altero.
Retrospecção 4
Desejo a ti, caro leitor, gentil leitora,
Qualquer coisa que te ajude minha
experiência:
Quiçá espicaçado por qualquer potência,
A mim trazendo a produção que me devora
E que esses versos que me lês agora,
Enviados sejam por Divina Providência
(ou por qualquer desconhecida agência)
Para conselho enviar-te nesta hora:
Se por acaso foste alvo, como eu,
De poda familiar ou de perseguição
Que te prejudicou a iniciativa,
Disso a culpa maior te pertenceu,
Mas sempre há tempo de retratação
E boa marca ainda deixar na vida ativa!
LARANJA
ESTRELA I – 30 JUL 18
No
topo da laranja vejo estrela.
é bem verdade que
eu nunca percebi
cinco ou seis
pontas; em estrela apenas vi
luz circular em
sua centelha bela.
É bem
provável que na névoa da procela
longos raios se
desprendam por aí,
mas mesmo em
bruma não achei aqui
essas pontas como
enfeites numa sela.
Mas
não pretendo em nada ser trocista,
na roda dos escarnecedores não me assento,
mas sobre o mundo
meu olhar é diferente;
melhor que eu,
quem sabe, o povo avista
cinco ou seis pontas para seu contento,
enquanto
as fito menos complacente...
LARANJA ESTRELA II
Talvez
sobre as planuras de um deserto,
em que o ar seja
um pouco rarefeito,
um cameleiro de
sono imperfeito
essas agulhas
conseguiu ver, por certo...
Em
alguma foto que já tenha aberto,
de alguma estrela de quatro pontas vejo o jeito,
a essas miríades
de galáxias me sujeito,
se de Amalteia provêm do ubre é incerto.
(*)
(*) A cabra de
cujo leite teria surgido a Via Láctea.
Mas reconheço
ter tido sempre miopia
e gostaria que me acreditassem,
que não as vi até
meus sete anos;
que não as visse
meu pai nunca me cria,
talvez feridas narcísicas o magoassem,
visão
perfeita sempre teve, sem enganos...
LARANJA
ESTRELA III
Não obstante,
na laranja há uma estrelinha.
com cinco pontas bastante definidas,
estas imagens talvez sendo
sugeridas
dessas estrelas que na
infância nunca tinha.
Aberta
uma maçã, também continha
outras estrelas em seu cerne
inseridas...
até que ponto as legendas a ser
cridas
que tenha sido a
tentação da Mãe-Rainha?
A
qual, com folhas de maçã a sua nudez
bem certamente não poderia ocultar;
por tradição foi com folhas de
parreira;
porém as vestes que Jeová lhe
fez
com peles de animais foi fabricar
e não
com folhas de maçã ou de figueira!
LARANJA ESTRELA
IV
De onde tiraram
essa história da maçã
talvez
criaram para troça alimentar,
da narrativa bíblica a zombar,
muito embora essa ironia seja
vã,
pois não menciona
essa fruta temporã,
que
em tempo histórico só foram cultivar;
já a laranja talvez vá representar
os Pomos das Hespérides, no afã
de Hércules, a
mandado de Euristeu,
bem longe a Grécia desse Éden inicial,
que em certo ponto da Síria se
acharia,
mas sem ter brilho, assim me
pareceu,
a sua estrelinha de dourado natural,
sem se tornar em
minha Estrela-Guia!
MELODICIDADE I – 31/7/2018
Há certas músicas que me entram pela alma
e forjam artimanhas no
meu peito;
harmonias são perfeitas, sem defeito,
por minha mente a perambular sem calma;
São velhas melodias de europeia palma
que em minha mente travam um perfeito
combate a que me encontro assim sujeito,
nessa exigência firme que me embalma,
apesar de sabê-las qual de cór,
ao escutá-las, sempre há algo de novo,
são meus concertos, cantatas, sinfonias
que para mim valor têm bem maior
que a barulhada sem sentido desse povo
que me rodeia com suas tonterias...
MELODICIDADE II
Não que me julgue melhor do que ninguém;
se qualidade possuo intelectual,
só a recebi por favor espiritual;
dos talentos todos que possui alguém
é só o depositário e então se tem
obrigação de empregá-los no total;
não ocultarei esse dom do material,
pois ser escriba do verso me convém
e que algo possa aprender eu reconheço,
dos mais humildes muito espcialmente,
desconfiando dos melhor aquinhoados,
com quem converso velozmente e me despeço,
de agropecuária não sou cognoscente,
nem me interessam seus amores apressados.
MELODICIDADE III
Mas é tão raro se encontrar intelectual
sem trazer mácula de alguma ideologia!
E certamente a alguns concertos eu iria,
mas para que, se em casa tenho no total
uns três mil discos de abrangência bem real!
Entre as plateias eu até me imiscuiria,
mas perturbado pelas tosses que ouviria,
por seus murmúrios e suspiros e, afinal,
por essas palmas e estranhos assovios,
com que meu clima inteiramente cortariam
e para o lar eu voltaria insatisfeito,
para escutar meus rouxinóis presos em fios
dessas ranhuras em que os mortos gravariam
suas execuções, sem mostrar qualquer defeito!
UNANIMIDADE I – 1º AGOSTO 2018
Farei hoje este soneto e outro não faço,
que estou a traduzir desde o francês
uma obra de economia, que me fez
passar uma semana em seu abraço!
São estes os deveres em que passo
envolvido dia a dia e mês a mês,
vertendo livros para o português,
meus rascunhos juntando maço a maço!
Cada semana, eles já crescem mais,
sem sobrar tempo à redação final,
minha culpa cresce e o superego geme...
Pois são rascunhos de ideias seminais,
mas numerosos extravasam meu bornal,
enquanto o Sol se espanta e a Lua treme!
UNANIMIDADE
II
Com o
meu subconsciente estou aliado,
de lá
me brota toda a inspiração,
numa
unanimidade de intenção:
abandonar
um só rascunho é vil pecado!
E te
pergunto, ao encontrar-te do meu lado,
mesmo
que seja só indireta a tua visão,
se o
teu alvo não sofre uma pressão
de
quem reclama ser tão só por ti amado.
Talvez,
de fato, tua função na vida
seja
cuidar da familia e do teu par,
mas em
geral, tens acesso a qualquer mina,
de que
pode brotar a obra sofrida,
que é
teu dever ante o mundo proclamar;
se
desprezada, parte da alma se assassina!
UNANIMIDADE III
O corpo e a alma te
compõem internamente;
há desejos voluntários
e hormonais,
necessidades vitais e
materiais;
talvez tuas fomes te devorem
totalmente,
mas se fores aos
labirintos de tua mente,
segundo dizem, há
divisões até sensuais,
teu consciente com
intenções espirituais,
que o inconsciente
dominará frequente;
ali está a parte que
chamam subconsciente,
essa que pode
realmente te ajudar
e a parte onírica –
que te pode perturbar
ou dar início à
criação, contente;
e lá no fundo, do
tálamo a brotar
velhos instintos de
insistência permanente.
UNANIMIDADE IV
Mas normalmente, não
há esquizofrenia
ou alternâncias de tua
personalidade,
mente e corpo só
compondo uma unidade,
por mais meandros que
ali se encontraria;
o importante é reger a
melodia,
os instrumentos com
musicalidade,
todos unidos na mesma
liberdade,
sem esmagar-te com
cacofonia!
Não penses que o
inconsciente almejaria
com o consciente em
conflito batalhar:
é sempre unânime essa
interna multidão,
que as divisões a
sociedade cria,
quando te impõe
padrões a concordar,
não há disputa entre a
mente e o coração.
UNANIMIDADE
V
Antigamente,
antes de haver erudição,
servia
o cérebro para o sangue refrescar,
cabendo
ao fígado a mente dominar,
enquanto
outros indicavam o coração;
a
psicanálise realizou uma inversão,
em
tudo a mente exclusiva a governar,
mas
dividida com o instinto e o sonhar,
pois
toda análise só invoca a divisão;
alma e
espírito e instinto corporal
devem
em síntese o controle partilhar,
numa
reunião real de cada parte,
não
sendo o instinto unicamente o animal,
os
teus desejos não deves massacrar:
sem a
libido sexual não existe arte!...
UNANIMIDADE VI
Mas realmente, não pretendo te propor
qualquer exemplo que tenha experimentado
a minha síntese alcancei, mas não dourada,
só para mim demonstra o seu fragor;
o que atingi corresponde a meu teor,
terás tua síntese no coração domado,
dentro da mente a culpa dominada,
todas as partes a nutrir igual fervor.
Sempre é precisa a unanimidade
para obter-se maior intensidade
na vida adulta, mas sem a adulterar
e o que serve para ti, de ninguém mais
deves buscar de pretensa autoridade,
somente tuas sejam as sínteses finais!