sábado, 20 de abril de 2019




A LENDA DOS DEZ PINHEIROS
FOLCLORE PORTUGUÊS, RECOLHIDO OU RECONTADO
EM PROSA POR TERESA LEITÃO DE BARROS
VERSÃO POÉTICA, William lagos, 8 jul 2018

A LENDA DOS DEZ PINHEIROS – 8 JUL 2018
COICE DE BURRO – 9 JUL 2018
ENCONTRO EM SAMARRA – 10 JUL 2018
MÚLTIPLA ESCOLHA – 11 JUL 2018
A ELEIÇÃO DO GRÊMIO – 12 JUL 2018



A LENDA DOS DEZ PINHEIROS I

Há uma lenda pouco conhecida,
passada algures no Velho Portugal,
numa aldeola, em que se erguia, mal e mal,
uma dúzia de choupanas construída.
Lagoa de Ouro era seu nome pomposo,
gente pobre, porém trabalhadora,
cabras e ovelhas criando como outrora,
um trabalho tranquilo e vagaroso.
Um pouco além, antigo bosque havia
e lá no meio, existia uma clareira,
que evitavam os aldeões, sobremaneira,
pelo temor de algo estranho que se via:
dez pinheirinhos de porte bem nutrido,
mas que um dia, de repente, haviam surgido!

Inicialmente, nada havia no lugar,
da noite para o dia, apareceram os pinheiros,
de pouca altura, em nada hospitaleiros,
sombra esgalgada e pouco familiar.
Era a Clareira dos Pinheiros Anões,
que há cinco anos tinham aparecido
e nem um só centímetro crescido,
mais um motivo para o medo dos aldeões.
Houve um rapaz dessa Lagoa de Ouro,
que não temia fantasmas nem bruxedo
por uma aposta, fôra ali dormir bem cedo,
depois fugindo, para seu desdouro,
dizendo que a clareira era habitada
por bruxas más e gente horrível encantada!

O tal rapaz, prepotente e fanfarrão,
não tinha grande força na cabeça:
perdera a aposta, é claro, e depois dessa,
alvo de troça se tornou pela região.
E como todo prepotente, achou melhor
fugir à luta após ser enfrentado,
não descansando antes de ter deixado
a sua aldeola para um lugar maior...
Não obstante, havia ali outro rapaz,
a quem chamavam de Chico Larico,
muito pobre, sem nenhum parente rico,
que dependia do que Deus lhe traz;
dos pais herdara apenas seis cabrinhas,
uma choupana e algumas ovelhinhas.

Junto à choupana havia horta e pomar
e os animais para pastar levava;
à noitinha, de volta os pastoreava,
punha no aprisco e ia se alimentar.
Esse curral era de fato só duas grutas,
numa as ovelhas, noutra as cabras a ficar,
bem fechadinhas, para ninguém roubar;
tomava sopa e comia algumas frutas.
As cabras também lhe davam leite
e aprendera a fazer queijo e requeijão;
suas ovelhas esquilava na ocasião,
trocando a lã por um qualquer deleite:
algum açúcar ou um saquitel de sal
ou roupa usada, que lhe assentava muito mal.

Mas lá na feira escutava os mexericos,
via comerciantes com pilhas de dinheiro;
sonhava em viajar, mas percebeu ligeiro
que isso era fácil apenas para os ricos.
Mas quando ouviu falar dos pinheirinhos
e das histórias que contavam a respeito,
mais a loucura que acometeu o tal sujeito,
começou a arquitetar os seus planinhos...
Ora, se havia duendes na floresta,
talvez eles guardassem algum tesouro!
Seria bem bom ter um saquitel de ouro,
iria o mundo percorrer e fazer festa!
Ele aprendera a ler e a escrever
numa escolinha, antes do pai morrer...

A LENDA DOS DEZ PINHEIROS II

E bem no mês de agosto, na metade,
quando é o auge do verão em Portugal,
deixou os bichos bem guardados no curral
e aproveitou da Lua Cheia a claridade.
Foi-se esconder atrás de um pedregulho,
que boa vista dava da clareira;
então a Lua avermelhou-se por inteira,
igual fogueira de São João no mês de Julho.
Dali Chico tinha boa visão dos pinheirinhos,
de vez em quando se dava um beliscão
e assim no sono não pregava, então,
bem acordado por mais uns minutinhos.
Ouvia as horas pelo sininho da igreja
e à meia-noite cada vez mais boceja!...

Finalmente, a sonolência o venceu,
mas abriu os olhos quase imediatamente;
estranhos ruídos soavam à sua frente
e uma visão logo a seguir o surpreendeu;
os dez pinheiros, batidos pelo vento,
pareciam se encontrar mesmo a girar...
Pareciam, não!  Estavam a rodopiar!
Logo a seguir, assistiu grande portento:
Os pinheirinhos, um a um, se transformando
em dez velhinhos, barbas brancas e compridas,
com roupas verdes, de bordados revestidas
e com muita cortesia se inclinando,
de dois em dois, para a seguir dançarem,
uma espécie de minueto a começarem...

Eles ficavam a se fazer mesuras,
em dança lenta, mas cheia de graça;
mas não havia música na praça
e Chico Larico tocava notas puras
em sua flautinha barata de pastor...
E assim pensando em animar a dança,
tirou o instrumento do cinto e sem tardança
começou a soprar nele com vigor.
Mas por bonita que fosse a melodia,
os dez velhinhos num instante se assustaram
e de novo em dez pinheiros se mudaram;
Chico Larico mais uma vez se surpreendia
e foi tentar convencê-los a voltarem,
qual o motivo para dele se assustarem?

Mas ao chegar ao pé dos pinheirinhos,
troncos e ramos a se solidificar,
viu o menino dez barbas a escapar
junto às raízes, iguais moitas de espinhos.
Chegando perto, porém, logo notou
que não eram mais cabelos, porém neve!
Examinou-as com um toque leve:
eram frias como gelo!  E então pegou,
uma a uma, do chão fácil de puxar;
vinham inteiras e se pôs a construir
um calunga de neve e assim se divertir;
mas a seguir o Sol chegou a brilhar
e seu boneco bem depressa derreteu;
um passarinho chegou e a água bebeu!

Depois mais outros, para se dessedentarem
e logo um bando sobre a água a debicar;
pouco líquido chegou no solo a penetrar,
do rapazinho sem se amedrontarem.
Há muitos dias que não caía chuva
e desde longe vieram as avezinhas,
cheias de sede e muito alegrezinhas,
aquela poça a cair-lhes como luva!
Chico a perda do boneco lamentou,
porém logo em seguida consolou-se:
Perdi o boneco, mas alegria trouxe
para as avezinhas que a sede torturou...
Porém passara a noite inteira sem dormir
e ao forte sono não mais pôde resistir...

A LENDA DOS DEZ PINHEIROS III

Contudo, não dormiu por muito tempo:
alguém chegou e seu ombro sacudiu;
com muito esforço seus olhos abriu
e de um salto se ergueu: novo portento!
Diante de si estava um ser enorme,
com barbas negras chegando até a cintura,
um longo manto a recobrir a sua figura,
de folhas verdes, mas sem nada de disforme,
exceto os pés, que raízes pareciam;
em sua mão carregava uma varinha;
disse-lhe o homem, numa voz que o acaricia,
igual que o som com que as folhas se moviam:
“Não te assustes!  Sou o Gênio da Floresta,
 as árvores protejo, cada ave e cada besta...”

Mas sei bem que não vieste fazer mal
e, de fato, vim pedir o teu conselho...
Conselho dele para um gênio assim tão velho?
Mas respondeu com a voz mais natural
que um certo medo ainda permitia:
“O que eu posso fazer pelo senhor?”
“Ouve com atenção, te peço, por favor:
os dez velhotes naquela dançaria
de fato são dez pajens da corte real;
foram trazidos pela bruxa Rabitesa
e à minha guarda entregues, com certeza;
quando prestassem um favor, curassem mal
ou qualquer coisa de prestável a louvar,
eu poderia aos dez desencantar.”

“Estão aqui há mais de cinco anos
e uma vez por mês, na lua cheia,
deixo minha gruta para a tarefa alheia
e os transformo novamente em humanos,
mas depois de se passar um dia inteiro
nada de útil conseguem realizar;
hora após hora ficam só a dançar
e cada um então retorna a ser pinheiro...
Esta tarefa já me deixa aborrecido,
mas hoje penso que a posso completar;
na sua pressa de se transformar,
barbas deixaram neste chão varrido
pelas suas danças, dia a dia, no final
sem fazer bem, sem causarem qualquer mal.”

“Mas as barbas em neve se viraram
e alegremente tu ergueste o teu boneco,
que logo o sol derreteu num cacareco
e cem pássaros aqui se apresentaram...
Com esta seca, tenho até dificuldade
de achar orvalho para os dessedentar
e a passarada aqui veio se saciar...
Dize-me agora: foi um ato de bondade?
Sem dúvida provocou um bom efeito,
estão as aves a cantar alegremente,
cada qual no seu pouso novamente,
mas é aqui que entra o teu conceito:
foi de propósito deixar barbas de fora,
para matar a sede delas nesta hora?

“O que me dizes tu, serzinho humano?
Posso agora a esses dez desencantar?
Com alegria assisti teu trabalhar,
que essa água me poupou trabalho insano!
Mas pode ser que eu só queira me livrar
dessa tarefa para mim desagradável...
Na tua opinião, um ação realizaram amorável
e o encantamento posso agora terminar?”
Chico Larico muito não pensou,
tivera pena desses dez velhinhos
que antes tinham sido pajenzinhos.
“Acho que pode,” rápido falou.
“Porém não vai zangar-se comigo Rabitesa?”
“É a instrução dela que cumpre, com certeza!”

A LENDA DOS DEZ PINHEIROS IV

“Dizes bem.  Então desfaço o encantamento,
mas não me agrada encontrar a Rabitesa...
Se ela se zanga, em sua enorme malvadeza?
Vou-me embora daqui neste momento...
Mas pega aqui agora a minha varinha
e vai cantando para cada pinheirinho...
Já te ouvi antes, sei que és bem afinadinho;
em cada um dá uma leve pancadinha
e a cada vez, terás de repetir
a ladainha que vou te ensinar.
Procura os versos perfeitamente decorar,
caso contrário, continuam a dormir!
E o Gênio da Floresta, com voz renga,
cantarolou a seguinte lengalenga:
Solta a Um e solta a Dois
e que trabalhem muito bem depois;
que o Três, o Quatro e o Cinco
façam toda a sua obra como um brinco;
que o Seis possa ir ajudar o Sete,
que bom esforço no trabalho mete;
que mexa o Oito muito bem os pés,
o Nove percorrendo muitas sés,
todos correndo mais depressa do que o Dez!  (*)
(*) Estes versinhos já constavam do original,
com apenas leves adaptações.

Bem facilmente Chico decorou
tal versalhada sem pé nem cabeça
e foi aos dez pinheirinhos bem depressa,
cantando os versos dez vezes; e os tocou.
Um a um logo se demudaram
em dez meninos louros e elegantes,
não mais os dez velhinhos ofegantes,
só as roupas verdes e bordadas conservaram
e de serem dez irmãos mostraram jeito,
sendo gêmeos também, de dois a dois;
de Chico aproximaram-se depois,
agradecendo pelo bem que havia feito:
“Foi essa bruxa que nos encantou,
algum motivo decerto ela encontrou!”

“Como se chamam e quais são seus pais?”
“Meu nome é Una e meu irmão é Duna,
mas não lembramos de mais coisa alguma,
decerto os temos, mas não sabemos quais...”
“Só de viver na corte recordamos,”
disse um segundo.  “O meu nome é Tena,
meu irmão gêmeo se chama Catena
e com o príncipe Alfenim nos empregamos...”
“Eu sou o Catená e meu mano é o Semissi,
a guitarra para o príncipe sempre cantar tocamos,
para a caça suas espingardas carregamos,
 em geral só brincávamos e dançávamos ali,
mas até o vinho para o príncipe servíamos
e versos para as damas lhe escreviamos...”

“Meu irmão é o Contabem e eu sou o Pincipés;
em nada o príncipe queria se empregar,
com lança e espada não queria lutar...”
“Eu sou o Quissão e meu irmão é o Dez,
mas certo dia veio a bruxa Rabitesa
e ameaçou que nos iria castigar
se ao príncipe não chegássemos a orientar
para as tarefas que executar deve a realeza...”
“Mas nada disso queria saber Alfenim
e deu-nos ordem bem disparatada
e assim a bruxa por nós foi emboscada
e a carregamos para cá assim...”
“Pagamos caro por esta tratantada,
mas do príncipe não discordávamos em nada...”

“Quando chegamos aqui nesta clareira
pusemos a bruxa no chão e começamos
a fazer troça e a seu redor dançamos;
para nós era não mais que brincadeira,
mas de repente, lhe brotaram dos cabelos
dez cordas grossas que nos amarraram;
as que a prendiam logo rebentaram
e disse ela: ‘Recusaram meus apelos,
pois ficarão virados em pinheiros;
só um dia por mês voltam a ser gente,
para fazer alguma coisa diferente,
ou boa ação ou a males bem certeiros
corrigir, com resultados semelhantes;
só depois disso voltarão ao que eram dantes!’”

A LENDA DOS DEZ PINHEIROS V

“E para aprender o valor da mocidade,
como velhos voltarão todos, corcovados,
mais difícil a correção de seus pecados,
a lição assim aprendem de verdade!”
“Só que nunca aprendemos a fazer
coisa alguma de bom ou contra o mal,
desencantados só dançávamos, que afinal,
as pernas tínhamos de desentorpecer!”
“E foi assim até hoje, benfeitor...
Finalmente, nosso encanto se quebrou
já nossa ausência Alfenim bem lamentou,
pois voltaremos para o real senhor!
Mas nem falaram em alguma recompensa
e já avançavam para a floresa densa...

Mas nesse instante, uma corda apareceu
e num bolinho enrolou todos os dez!
Rabitesa saltou sobre seus pés:
“Seu desencanto nem sequer um mereceu!
O que fizeram foi apenas se esconder
e se as barbichas deixaram de fora
e se pássaros dessedentaram nessa hora,
não é mérito algum que possam ter!
Só porque o Gênio da Floresta fez asneira,
iam voltar à mesma vida de antes!
Vou transformá-los em pinheiros, como dantes,
Mas desta vez será sentença derradeira!”
Chico interviu: “Senhora Dona Rabitesa,
a culpa disso é toda minha, com certeza!”

“Fui eu que dei ao Gênio mau conselho!
Se alguém merece receber algum castigo
Sou eu, que pensando ser amigo,
precipitei-me e aconselhei mal ao pobre velho!
Então castigue a mim e não aos pobres manos;
Perdoe, sem lhes dar tal punição
ou ao menos com mais curta duração,
dê-lhes chance para voltarem a ser humanos!”
“Você é muito atrevido, pastorzinho!
Mas posso ler seu bom coração
e desse modo, somente em sua intenção,
eu não perdoo, mas darei um regalinho:
concedo aos dez por um mês a liberdade,
para que façam algum ato de bondade!”

“Dentro de um mês, justo à meia-noite,
quando a clareira for lavada de luar,
todos os dez aqui devem retornar
ou irei procurá-los com um açoite!
Cada um deve relatar sua boa ação,
um mês tiveram para isso praticar
ou algum mal não deixarem realizar,
mas eu decido se foi mesmo boa ou não!
Mas se um só de vocês gastar o mês
sem realizar qualquer coisa de prestável,
só por causa desse pequeno miserável,
castigarei a todo e cada um de vocês!”
Então a bruxa no ar se desmanchou,
Chico Larico só com os dez ficou...

Rapidamente, com sua faquinha cortou
a corda que prendia os pajenzinhos,
seguindo os dez para dez caminhos...
Chico Larico só então lembrou
que cabras e ovelhas tinha de soltar,
depois de água colocar no bebedouro,
que não sofresse o rebanho algum desdouro
e suas ovelhas precisava pastorear.
Nada contou a ninguém, naturalmente,
além disso, quem o iria acreditar?
Daí a um mês, depressa foi voltar,
os animais bem presos novamente.
Nessa história coisa alguma ainda lucrei,
mas se puder fazer um bem, ainda o farei!

A LENDA DOS DEZ PINHEIROS VI

Quando chegou, a clareira achou vazia,
porém com um estrondo, à meia-noite,
Rabitesa apareceu.  “Pastor, eu trouxe o açoite!
Aos mandriões ter de caçar eu já previa!”
Mas logo uns ruídos se escutaram
e o primeiro pajenzinho apareceu,
veio mais um e um terceiro sucedeu,
 até que os dez na clareira se encontraram.
“Atrasados, mas enfim apareceram!”
Um círculo fizeram ao redor dela.
“Lembro-me bem dessa sua dançarela,
quando vocês, de tocaia, me prenderam!”
Os dez irmãos já a estremecer de medo,
para um por vez ela apontou o dedo!

Una, Duna, Tena, Catena, Catená,
todos chegaram, mas arrastando os pés,
deviam ter chegado antes!  Semissi, Pincipés,
Contabem, Quissão, Dez... Chegaram todos já.
Vamos lá, Una, que foi que você fez?”
“Vi uns lenhadores um carvalho cortar,
havia um ninho, porém sem se importar
que esmagado seria inteiro por sua vez...
Subi depressa na árvore e peguei
o ninhozinho e a seguir passei
para um galho de outra árvore e ali o deixei,
depois desci e os lenhadores enfrentei!
Disse um: ‘Você é corajoso, rapazinho!
Sua vida arriscou só por um ninho!’”

“Está certo.  Podia ser melhor,
mas talvez os lenhadores o espancassem,
por não deixar em paz que trabalhassem,
está aprovado.  Podia ter sofrido bem pior!
E você, Duna, qual foi a boa ação
que agora pretende me contar?”
“Por um campo eu estava a caminhar,
quando vi uma raposa, sem matar,
guardar bem junto dela a um coelhinho,
ainda vivo e a lambê-lo à sua vontade,
não tinha fome, era só maldade.
Está certo que comesse o pobrezinho,
mas por que o judiar daquele jeito?
Não achei que tivesse tal direito!”

“Lembrei ter visto um lobo ali por perto,
adormecido, mas um galho lhe joguei;
atrás de mim correu, pois o acordei,
fui despistando até o ponto certo...
A raposa na sua toca se enfiou
e amedrontada, deixou fora o coelhinho;
peguei nos braços rápido o bichinho
então o lobo quase me alcançou,
mas numa árvore que lá havia já trepei,
carregando o coelhinho no meu colo,
deixando o lobo para uivar no solo...
Horas depois, cansou e então soltei
o coelhinho, que fugiu para a sua toca,
raposa e lobo deixei com água na boca!”

“A boa mentira a sua história cheira,”
falou a bruxa, “porém vou deixar passar!
E você, Tena, o que pretende me contar?”
“Não é uma história de heroísmo inteira,
mas vi uns meninos a se combinar
não irem a escola...  Então, rasguei
minha linda roupa e a cara me sujei
para até junto deles caminhar...
E menti que virara num mendigo,
matando aula, sem aprender a ler,
Nem a tabuada consegui saber:
vejam só o que aconteceu comigo!
E então os dois da má ideia desistiram,
fiquei cuidando e para a aula seguiram!”

A LENDA DOS DEZ PINHEIROS VII

“Não vejo mérito no que tu fizeste!
Mentiste para dar um bom conselho,
coisa barata como um escaravelho!
Nada melhor em um mês fazer pudeste?”
“Mas, senhora, minha bela roupa rasguei,
sujei de terra minha carinha branca,
tirei um sapato para fingir que manca
minha passada... Eu me sacrifiquei!”
“Está bem, sempre é melhor que nada...
E tu, Catena, qual foi tua boa ação?”
“Salvei um pescador num lagoão,
tinha uma câimbra, não podia dar braçada!”
Já Catená garantiu ter trabalhado
para ajudar viúva, sem nada ter ganhado!

Semissi tirou o gibão para mostrar
como estava com o torso machucado
e relatou que uma sova havia levado
por andar em outro campo, a fim de retirar
as armadilhas de caçar pardais,
que só morriam com muito sofrimento...
Pincipés revelara o descaramento
de um charlatão que roubava dos demais,
dizendo ser um rajá que os visitava,
ganhando assim comida e alojamento,
de muita gente tirando esse alimento,
com esmeralda falsa que mostrava.
Contabem explicou ter ajudado,
um cavalinho velho e alquebrado...

No seu lugar girando algum moinho,
com a poeira da farinha sufocando
e o moleiro a rir dele, só zombando
e enfim correr de lá o pobrezinho!
Muito pálido achava-se Quissão
quando chegou sua vez de se explicar...
Ele narrou, um tanto a balbuciar:
“Por uma praça passei, certa ocasião
e ali estavam uma forca construíndo,
em que seria pendurado um assassino,
que se dizia inocente pela morte de um menino;
não quis isso assitir e fui saindo,
mas encontrei uma caverna nessa noite,
na qual salteadores tinham achado acoite...”

“E um deles se gabava, às gargalhadas:
‘Amanhã pela manhã vão enforcar
um fulano inocente em meu lugar!
Eu que matei o tal menino a punhaladas!’
Não ouvi mais.  Depois do ponto bem marcar,
fui correndo de volta até a cidade;
havia reunião do conselho e, por bondade,
o intendente se dispôs a me escutar;
fui levar os policiais até a caverna,
em que prenderam os quatro salteadores;
o assassino não demonstrou quaisquer temores
e admitiu sua culpa.  Assim se alterna
no lugar do que seria pendurado,
o inocente sendo logo libertado...”

“Sem dúvida, foi um ato de valor!”
Porém não se calou o bom Quissão:
“Não terminei ainda a narração,
houve outra coisa, que me causou temor.
Mas eu acho bem melhor lhe demonstrar,
porque não sei descrever perfeitamente...”
Tirou uma corda da roupa e nela assente
estava um baraço de enforcado pendurar.
“Pois o carrasco assim a corda lhe enfiou!”
E por um galho lançou-a em repelão,
passando no pescoço!  E pediu Quissão
a quatro dos irmãos para o puxar!
E logo estava de olhar esbugalhado,
pelo pescoço na corda pendurado!

A LENDA DOS DEZ PINHEIROS VIII

Nesse momento, o Gênio da Floresta
apareceu com sua vara, de repente
e deu na árvore um golpe bem valente,
quebrou-se o galho e não foi desta
que Quissão conseguiu se sufocar!
E disse à bruxa: “Ele ia se matar!”
Os nove irmãos logo o foram aliviar,
já Rabitesa dessa história a desconfiar!...
“Por que inventou de fazer essa ceninha?”
Com lágrimas nos olhos, Quissão confessou:
“Não fiz nada de bom! A senhora nos falou
que se um de nós a boa ação não tinha,
daria a todos os dez igual castigo!
Eu quis morrer para livrá-los do perigo!”

Rabitesa ficou meio apalermada:
“Mas que tremenda a tua abnegação!
Eu te perdoo, meu pobre Quissão,
não será a irmandade condenada!”
Então, ela virou-se para o Dez,
que era o gêmeo de Quissão, os dois menores.
Entre soluços, gemidos e estertores,
confessou que o mês inteiro nada fez!
“Mas por favor, Dona Bruxa, me castigue,
mas não a meus irmãos, os coitadinhos!
Quissão e eu somos os mais baixinhos,
para nossa estupidez rogo não ligue!”
“Mas se tu não podes ser desencantado,
deve o castigo ser a todos aplicado!”

“Isso vai ser refinadíssima maldade!”
Gritou o Gênio da Floresta e discutiram;
logo a seguir a soco e tapas se feriram...
Forte era o Gênio, mas a capacidade
de Rabitesa em magia bem maior
e o Gênio, por temer-se derrotado,
atirou-lhe um pedregulho bem pesado,
que a própria cara quebraria num horror!
Mas nesse instante, o pajenzinho Dez,
se atirou bem depressa no caminho
e caiu morto no chão, o infelizinho!
Ficaram todos aterrados com o que fez!
Mas Rabitesa logo se recuperou
e com um raio de luz o levantou!

“Deste a vida para salvar um inimigo,
mais nobre ainda que teu gêmeo Quissão,
que se mataria para salvar um irmão...
Não posso mais aplicar esse castigo!
Estão perdoados todos, desta vez,
mas não vão ao castelo!  Fora da minha frente!”
Una, o mais velho, suplicou valente:
“Mas foi o Chico que tanto bem nos fez!
Por favor, deem-lhe alguma recompensa!”
E foi embora depois, a toda pressa,
Rabitesa mastigando uma promessa...
Depois lhe deu uma cordinha tensa:
“Isto lhe dá direito a um só desejo,
enrole-a no pescoço, após um beijo!”

Então o Gênio da Floresta lhe entregou
um galho oco, que servia de luneta:
“Verás com isto a ideia mais secreta
que pensar qualquer pessoa a que apontou!”
E assim se separaram todos três.
Chico Larico vendeu cabras e ovelhas,
mais a cabana e alguma coisas velhas,
deixando a aldeia nesse mesmo mês,
seguindo a estrada rumo à capital
de Barafunda, o reino em que morava,
que pelo nome Complicância se chamava.
Quando chegou, encontrou um festival:
os reis da terra completavam o jubileu
dos vinte e cinco anos do governo seu!

A LENDA DOS DEZ PINHEIROS IX

Fazia o povo grande aclamação
e vinham juntos o rei e a rainha,
muito alegres pela afeição que a eles tinha
todo o povo de sua nobre nação!
Mas atrás deles, vinha o príncipe Alfenim,
muito triste e de cabeça baixa;
por diadema, usava só uma faixa
e luvas verdes envergava assim.
Chico Larico ouviu gente dizer:
“Como está triste!  Ele era tão alegre!
Há cinco anos parece teve febre
e nada mais depois pôde fazer!
Até vestido ele é pelos criados,
a comida eles lhe servem aos bocados!”

“E nada adianta os pais o consolarem...
Ele responde e até canta, tristemente,
mas para a menor ação é impotente,
se bem doença alguma lhe encontrarem...
E se recusa essas luvas a tirar,
Príncipe das Luvas Verdes é apelidado,
que muito bem a ele é assentado:
até com as luvas insiste em se banhar!”
Então um arauto fez proclamação;
“Quem restaurar de nosso filho a alegria
e à prática de boas ações lhe dê valia,
receberá, a seguir, de nossa mão,
um cofre cheio de moedas de ouro
e se pedir, qualquer outro tesouro!”

Chico Larico ficou cheio de pena,
mas ninguém parecia em torno se espantar.
Tal promessa devem estar cansados de escutar
e ao príncipe talvez o povo até condena...
Então o rapaz se recordou de sua luneta
e a assestou diretamente a Alfenim,
percebendo que ele só pensava, enfim,
nos dez pajens de sua afeição secreta.
Se eles voltassem, recobraria sua alegria...
Mas Rabitesa sua volta à corte proibira!
E o cordão mágico do pacotinho tira,
dar-lhe um beijo e o pôr ao pescoço deveria...
E de repente, ouviu em sua cabeça
palavras mágicas, que repetiu depressa!

Em resumo, pedia à Brtuxa Rabitesa
que permitisse o retorno desses dez,
que a restaurar sua alegria de uma vez
dos pajenzinhos precisaria com certeza,
tão necessários como os dedos de suas mãos!
E num instante vieram dez cavaleiros,
em corcéis brancos e seus trajos domingueiros,
verdes e bordados, ostentavam os irmãos.
Grande espanto percorreu a multidão
quando os dez cavaleiros desmontaram,
de dois em dois, de Alfenim se aproximaram,
os cinco dedos a segurar de cada mão;
as luvas verdes foram os dez puxando,
os seus dez nomes em coro já cantando.

Una, Duna, Tena, Catena, Catená,
Semissi, Pincipés, Contabem, Quissão, Dez!
E ante todos o milagre ali se fez,
que já nenhum dos dez pajens ali está,
mas o príncipe, maravilhado, olhava
as suas mãos, que agora tinham dedos,
essa a tristeza, esses seus segredos:
com as luvas verdes, sua ausência disfarçava!
Então surgiram a Bruxa Rabitesa,
acompanhada pelo Gênio da Floresta,
abrilhantando ainda mais a festa,
ambos vestidos igual que a realeza!
Chamaram Chico para os acompanhar,
A história inteira indo a seguir narrar!...

A LENDA DOS DEZ PINHEIROS X

E disse a bruxa com altaneria:
“Fui eu que ao seu filho castiguei,
invisível, falar ao professor o escutei,
quando uma enorme tolice proferia:
‘Preciso muito mais de ter dez pajens
do que destes dez dedos de minha mão.’
Pois lhe atendi a solicitação!
E nessa noite, iguais que dez miragens,
surgiram esses belos jovenzinhos
e de manhã, não tinha dedos Alfenim
e doravante foram servi-lo assim
esses estranhos e hábeis pajenzinhos,
que lhe serviam na mesa o alimento
e em tudo o obedeciam a contento.”

“Mas como o príncipe nada quisera aprender,
e como aos pajens conseguia dominar,
os dedos de suas mãos nunca a treinar,
todos brincavam, sem nada mais fazer,
eu avisei que lhes daria um castigo,
mas Alfenim lhes deu ordem malvada
e assim os dez me fizeram emboscada
e me amarraram para se divertir comigo;
então os transformei nos dez pinheiros
e esta foi a origem da tristeza
do seu herdeiro,” disse a Bruxa Rabitesa.
“Ficou sem os dedos e sem seus companheiros,
mas eu lhe dera as luvas verdes estufadas
e algumas coisas podiam ser agarradas...”

Mas mesmo assim, em nada se esforçou
e teria sido seu destino permanente,
se não surgisse esse rapaz valente,
que para a quebra do encantamento trabalhou!”
Os reis lhe deram o tesouro prometido;
então o Gênio e Rabitesa o transportaram
para um país distante e o ajudaram
a empregar bem todo o dinheiro recebido;
mas nunca mais Alfenim se entristeceu,
nem tampouco demonstrou ser preguiçoso,
muito estudou, foi valente e generoso,
quando ao pai no trono um dia sucedeu,
demonstrando ser rei justo e inteligente,
para louvor receber de toda a gente!

Já os dez dedos haviam aprendido
a realizar boas ações e a impedir
que más ações alguém fosse cumprir,
sendo por eles o príncipe instruído.
Una ensinou-o como ter compaixão
e Duna aos malvados contrariar
Tena a toda vaidade desprezar,
Catena a dar a todos proteção,
Catená a ajudar necessitados,
Semissi a proteger a natureza,
Pincipés a combater toda a vileza,
Contabem a proteger desamparados
Quissão todo o valor da devoção
e Dez que um sacrifício não é vão.

Mas até hoje em Lagoa de Ouro
ninguém sabe o que houve com os pinheiros;
empobreceram aqueles interesseiros
que só uns trocos deram em desdouro
pelos bens do Chico em sua ncessidade;
e quanto a Rabitesa, é claro que era fada,
em feiticeira apenas disfarçada,
todos seus atos de justiça ou de bondade.
Aprenda igual o nome de seus dedos:
Una, Duna, Tena, Catena, Catená, Semissi, Pincipés,
 e a seguir, Contabem, Quissão e Dez
e passe diante estes gentis segredos,
nada mais útil que os dez dedos das mãos,
são seus amigos até mais que dez irmãos!

COICE DE BURRO I – 9 JUL 2018                   

“De burro, algum coice só se espera”:         
sempre recusa aceitar nosso conselho        
o de outro burro preferirá parelho                  
batendo palmas junto com a galera.  

Porém um burro não é besta-fera                   
trabalha mesmo até morrer de velho,
peso demais o faz dobrar o joelho,    
mas um bom lucro para o dono gera.

Esse ditado se refere mais a gente     
que não aceita a menor reprovação,  
mesmo vendo o resultado de seu erro.        

e sendo tal tipo de burrico onipresente,       
acho melhor encerrar esta lição,                     
antes de um coice atingir-me como ferro!    

COICE DE BURRO II                                           

Algumas vezes aqui até há injustiça,             
aplicada sobre nós por prepotente,   
que pretende dominar a toda gente   
e ofende a quem faz parte de outra liça.       

Algumas vezes a quem recusa missa,          
por um vigário em autoridade crente;
é mais comum, porém, ser proveniente        
de quem qualquer ideologia atiça!      

Quem não aceita a sua exortação                  
será logo acoimado de fascista,                     
ou ao contrário, de ser um comunista!          

Um coice dando com mais satisfação,          
quando reúne ao redor os partidários,         
aos quais incute ensinamentos vários!        

COICE DE BURRO III                              

Mas na verdade, se pensarmos bem,
burro é esse que seus ideais impõe  
para obter poder e que os repõe                    
à força mesmo quando lhe convém!  

Até mais do que aqueles que o sustém,       
rebanho manso que sua voz compõe;         
lavagem cerebral com que supõe                  
estar correto, pois seguidores tem.
           
Mas esse líder, qualquer sua posição,          
muitas vezes compreende estar errado       
mas espera ainda assim ganhar vantagem

e escoiceia, em grande presunção,    
a quem quer que não esteja do seu lado      
ou acerrta alguém que o enfrente com coragem!  

ENCONTRO EM SAMARRA I – 10/7/2018

“Para encontrar o diabo não há pressa”,
o melhor é se agir com temperança
porque a maldade fácil nos alcança,
nessa inveja e rancor que nunca cessa!

Mas tentações a gente encontra à beça,
algumas delas a fingir ser esperança,
das quais até a resistir a gente cansa;
talvez alguém que ajudar nos ofereça,

mas lá no fundo, queira só nos explorar,
tal qual o lobo em pele de cordeiro
igual que o corvo enganado por raposa,

nos pequenos males de fato irá auxiliar,
mas no final a devorar-nos por inteiro,
após cairmos na armadilha tenebrosa!

ENCONTRO EM SAMARRA II

Outras vezes é nossa própria impertinência
que nos leva a cometer um desatino,
tentando adiar encontro com o destino,
como na lenda de antiquíssima valência

do criado que fugiu com toda a urgência
de Baghdad para Samarra, golpe fino
pensar que prega quando, o sol a pino,
viu a Morte a encará-lo com paciência!

Horas depois, ela encontrou o seu patrão
e lhe afirmou estar muito surpresa,
era em Samarra seu encontro marcado,

daí a dois dias, para pegar o tal fujão
e não em Baghdad, sendo indefesa
para trocar o lugar já combinado!

ENCONTRO EM SAMARRA III

E existe ainda quem o busque desafiar,
numa rampa de esqui ou no alpinismo,
sobe o Everest, em aposta ou por modismo,
qual o famoso Schumacher foi se acidentar,

após ileso tantas pistas enfrentar
nessas corridas de automobilismo
ou o nadador que cruzara tanto abismo,
numa sarjeta embriagado se afogar!

Sem dúvida o mal é ubíquo e nos espera,
mas por que sem razão buscar perigo?
Ir num safári enfrentar uma pantera

ou com álcool ou droga se arriscar.
só para ser a parceria de um amigo,
quando o diabo pode ali nos espreitar?

MÚLTIPLA ESCOLHA  I – 11 JUL 2018

“Quem muito começa, pouco acaba”,
Eis um ditado que a mim mesmo aplico:
tantos rascunhos faço que até fico
afundado numa pilha que desaba!

Isto ocorre a quem talentos mil recebe,
destes mil possíveis sendo rico,
pois come aqui e ali enfia o bico,
de tudo prova e apenas goles bebe!

Mas de fato, não escolhe o seu caminho,
se deixa enfim levar por circunstâncias,
cada tarefa  com excelência a realizar,

depois buscando um ulterior carinho,
em que empreende vastas extravagências,
para depois um outro alvo ir enfrentar!

MÚLTIPLA ESCOLHA II

Pois no meu caso, finalmente, fui achar
ou quem sabe, foi para mim que acharam
maugrado meu  e na senda me empurraram
para os milhares de versos compilar!...

Alguns deles a despertar a tua ironia,
outros a sacudir os teus instintos,
alguns só de tristeza em sonhos tintos,
outros capazes de acordar a tua alegria!

Entretanto, isso que sentes não é meu,
pois fui apenas capaz de convidar
o que teu era para subir à tona;

meu pensamento inicial já se perdeu,
para tua própria alma rebrilhar ,
nesse trapézio desprezando a lona!...

MÚLTIPLA ESCOLHA III

E nessa infinitude de promessas,
de fato raramente realizadas,
eu aguardo as emoções petrificadas
se transformarem em dores mais pregressas,

ou até no recordar de antigas pressas
das esperanças até hoje ainda esperadas,
das confianças em surpresas desconfiadas,
quando em terrores primordiais me esqueças.

Mas realmente, o que mais apreciaria
era sentar-me  a teu lado, bom leitor,
em teus momentos de maior terror

e segurar-te a mão enquanto via
verso após verso que a alma te devora
e contigo esperar a luz da aurora!

A ELEIÇÃO DO GRÊMIO I – 12 JUL 2018
(Sugerido por piada de Art Linkletter)

Houve eleição para um grêmio estudantil
e logo estavam formados dois partidos,
sem estarem com direita/esquerda definidos,
dois grandes males que assolam o Brasil!

Sua Coordenadora Pedagógica era sutil
e só queria ver os garotos instruídos
nos democráticos direitos concedidos
pela Constituição Cidadã, pura e civil!

Era escolinha de primeiro grau,
ainda cedo para compreensão de ideologia,
grupos formados só por afinidade;

naturalmente, logo surgiu algo de mau:
só as crianças mais velhas a Diretora permitia
disputar a presidência da entidade.

A ELEIÇÃO DO GRÊMIO II

E se escolheram assim dois candidatos,
na quinta série os dois matriculados,
alguns protestos a seguir apresentados,
explicando, em pressão com alguns recatos,

que no outro ano, ordem natural dos fatos,
seriam ambos candidatos aprovados
para a quinta série os quartanistas a ser levados,
podendo então concorrer sem descatos...

Mesmo assim, as cédulas foram elaboradas
de modo a alunos mais jovens incluir;
gerentes de campanha apontou a coordenadora,

tornando as coisas mais elaboradas,
cartazes de propaganda a redigir,
para a eleição transcorrer como lá fora...

A ELEIÇÃO DO GRÊMIO III

Uma repórter veio então entrevistar!
Para seu canal a novidade
talvez valendo mais popularidade,
quando a entrevista fosse levada ao ar!

Depois dos candidatos, foi interrogar
de um gerente de campanha a atividade.
“Eu vou dizer, com a maior sinceridade,
que o Maneco é o melhor de se apoiar!”

“Ele é honesto, aplicado e estudioso
e minha equipe vai muito se esforçar,
que à Presidência ele de fato se destina!”

“E você, é claro, vota em rapaz tão prestimoso?”
“Não, na outra chapa eu vou votar...”
“Mas por que?” “Eu gosto mesmo é de menina!”


William Lagos
Tradutor e Poeta – lhwltg@alternet.com.br
Blog:
www.wltradutorepoeta.blogspot.com
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