terça-feira, 22 de setembro de 2020

 

 

ENFRENTAMENTO I

 

Lança no ar o teu suor sem mágoa,

não foi do sangue hipertensa redução,

rugindo embora desde o coração,

desritmado em seu rugir de frágua.

 

Mas cada espectro enfrenta firmemente,

que os prepotentes enfrentados cederão

e mil temores se desvanecerão

quando souberes encará-los frente a frente.

 

Fugir deles, ao contrário, é desatino,

pois cada vez mais expandem-se fantasmas

e ao fim da tarde já te esmagarão.

 

Ser derrotado talvez seja o teu destino,

porém não morras de impotências pasmas,

morre de pé, enfrentando um batalhão!

 

ENFRENTAMENTO II

 

Algumas vezes os problemas se acumulam

e não consegues dar-lhes vencimento,

mas o importante é investir cada momento,

com teimosia enfrentando os que te açulam!

 

Quando teus ossos em dores mais ululam

faz novo esforço e lhes darás aquecimento,

transforma em atos teu padecimento,

mata um a um os insetos que pululam!

 

Tuas aflições são quais nuvens de mosquitos:

se não tens inseticida, um mata-moscas

pode, aos poucos, suas coortes reduzir.

 

O que não podes é permitir que os gritos

te ensurdeçam ao redor qual nuvens foscas

que assim te possam totalmente recobrir!...

 

ENFRENTAMENTO III

 

Quando o escultor inicia uma escultura

não se acovarda ante o bloco de granito

ou de mármore ou de pórfiro.  Acredito

que ali perceba escondida a forma pura.

 

É bem verdade que na presente conjuntura

qualquer medíocre adota por seu fito

engazopar esse círculo infinito

dos falsos críticos sem qualquer lisura.

 

E assim emprega o cinzel em martelada,

sem sequer dar-se ao trabalho de polir

e como arte impunge os fragmentos,

 

com falcatruas a fortuna acumulada

dos tolos pode facilmente adquirir,

lascas de pedra vendendo por portentos!

 

ENFRENTAMENTO IV

 

Mas se for de talento esse escultor,

irá buscar a beleza encarcerada

que no bloco puder ver encerrada,

golpe por golpe cinzelando com ardor.

 

E vai a pedra cedendo o seu teor,

uma lasca por vez, até que a ansiada

imagem pura à luz seja revelada,

não se esculpe com um só talho de vigor!

 

E assim é a vida.  Cada golpe abre caminho,

um obstáculo sendo aos poucos desviado,

quando o problema com acúmen é enfrentado.

 

E de repente, após o esforço comezinho.

põe-se em ordem o baralho de teu fado,

naipe por naipe em sequência colocado.

 

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