domingo, 20 de setembro de 2020

 

 

Luar de Lesbos 1 -- 08 Jan 2018

 

A Lua lésbica enamorou-se de uma estrela

E lhe enviava ramalhetes de luar;

Não se atrevia a estrelinha a rejeitar,

Tão importante parecia a Lua bela...

 

Porém é grande a distância que congela

O sideral espaço e a ultrapassar

Não era fácil, sequer para estelar

Constelação debruçada na janela...

 

A estrelinha achava estar honrada

E o luar mais aumentava seu fulgor,

Embora antes pelo cosmos se perdesse

 

Boa parte da chispa transportada...

E limitava-se a responder com seu rubor

Parte do alento que nela se aquecesse...

 

Luar de Lesbos 2

 

Mas ao longo das vastas translações

Algumas vezes ocorriam conjunções

E pelo sétimo céu perfurações

Que conduziam às mais gráceis rotações...

 

A estrelinha tinha virgens vibrações,

Mas oscilava em timidez de librações,

De quando em vez trocando libações

De vinho prata em gentis conotações...

 

Na verdade, estava a Lua ressentida

Porque o Sol a chamara de inconstante

E raramente conseguiam se encontrar...

 

Certas semanas, sem que fosse percebida,

Quando em spa se recolhia distante,

Com seu ouro solar a financiar...

 

Luar de Lesbos 3

 

E muito embora lisonjeada a estrelinha,

Que se dispunha mesmo a tomar chá,

Pela Lua cortejada, anoitecia já

E ela lembrava que a noite se avizinha...

 

Pois era um broche no manto da rainha

E precisava retornar para acolá,

"Senão o peplo da noite cairá,

Tornando gris esse negror que tinha..."

 

Mesmo que a Lua asseverasse, num amuo

Que outras havia em similar tarefa,

Que a inseriria em sua própria tiara,

 

Permanente recusava-se a tal duo,

Afirmando ser colchete da sanefa,

Solta a qual deixaria a noite clara...

 

Luar de Lesbos 4

 

Secretamente, acalentava uma paixão

Por asteróide de altivez admirável,

Sabendo embora não ser amor saudável,

Pois ao pobre queimaria de emoção...

 

Até que um dia, de espantosa duração

Chegou um cometa de cauda formidável,

Sem ser de ouro mas de ferro perdurável,

A própria Lua a ocultar em ofuscação!

 

E a estrelinha foi por ele consumida,

Sem ter espada ou escudo de luar

E como estrela se projetou, cadente..,

 

Pelas águas de um oceano adquirida

Até tornar-se tão só estrela do mar,

Contemplada pela Lua indiferente...

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