COMA DE LUZ i (14 AGO 11)
(MAMIE VAN DOREN, coadjuvente apogeu hollywood)
são os sonetos de amor os mais perfeitos,
sonetos de tragédia amanhecida
ou da comédia de ontem, mal
tecida
e já descosturada em seus efeitos...
são os sonetos buscados em defeitos,
qual de tragicomédia ensandecida,
esperança de palhaço mal
havida,
expectativa dos fatos imperfeitos.
são o desejo austero de maus feitos
de quem somente os bons realizou,
de um dramaturgo que mal consgue
ler...
e fica inerme a mastigar direitos
autorais disso que
nunca idealizou,
lambendo sonhos sem sequer viver...
COMA DE
LUZ II
EIS-ME AQUI, POIS, DE AMOR DESFALECIDO,
DESSE AMOR QUE NEM SINTO DE VERDADE,
NO CORTE
AGUDO DESSE AMOR-PIEDADE,
MAS QUE ME TORNA DE HONRA REVESTIDO.
eIS-ME AQUI, PRETENDENTE DO ESQUECIDO,
PORTADOR DOS PECADOS DA BONDADE,
GENEROSO DE
EGOÍSMO E DE VAIDADE
DE Q UEM NADA
MAIS QUER, SENÃO SER CRIDO.
EIS-ME AQUI,
NA FALSIDADE DE MEUS VERSOS,
NESTAS JURAS DE AMOR, QUE SÃO APENAS
PALAVRAS SEM
SENTIDO E BEM ARMADAS.
EIS-ME AQUI,
NESSA ANGÚSTIA DOS CONVERSOS,
NESSE ZELO
IRREQUIETO EM QUE ME ACENAS
COM A
ILUSÃO DAS BOCAS NÃO BEIJADAS.
coma de luz
iii
dá-me um motivo e então te farei verso;
dá-me um motivo, um só, ou sugestão
apenas de um sorriso, na
emoção
de seres cúmplice de meu amor disperso.
Dá-me razão para sonhar, converso
ao que podia ser, na
abnegação
do que jamais será,
na exaltação
de sermos dois e o mundo todo adverso.
Dá-me a suspeita de que, em outra circunstância,
em outra década, talvez, no
mundo antigo,
ou mesmo no futuro serás minha.
Dá-me um pretexto, apenas,
sem ganância,
que me permita em sonho estar contigo,
enquanto a solidão mais me espezinha.
coma de luz iv
– 30 dez 23
é assim que
sou. em romantismo apenas,
capaz de uma paixão desconhecida,
bebendo lágrima que foi tão só vertida
por diferente amor e alheias penas.
Que me enlace amor na sombra, em Cenas
Desse invisível
palco, na perdida
dramaturgia da novela que escoNDida
nunca foi para as telas mais pequenas.
nessa rima obrigatória,
em cada mágoa
que não
provei, mas poderia ter tido,
se um dia amor pedisse e não me desses.
Oh, mulher
desconhcida, gota d'água,
embalsamando o meu cérebro sofrido,
com todo o bem que teria, se quisesses !...
COMA DE LUZ V
Talvez não seja mais que biologia,
Esta atração de perpetuar
a raça,
Que passa a vida qual vida NOS
perpassa
E passa o amor que um dia
nos vencia.
Mas este amor de sonho
que se via
Nos olhos dela quando nos
abraça,
Nos próprios olhos QUE reflexo se faça
Brilhar nos seus no
prazer que então sentia.
Talvez na posse da mais
pura falsidade,
Ledo engano em saciedade interesseira,
Da solidão que não quer ser permanente,
Falso que seja, esse amor é minha verdade
E não me espanta que se
torne verdadeira
Ou que se prove
falsa eternamente.
COMA DE LUZ VI
Amor de fato não
se trata de cegueira,
É tão só um universo atemporal,
Em que se
enxerga o mundo em desigual
Significado da certeza verdadeira.
Durante coma de
amor apagaDA A derradeira
Capacidade de responder a algum sinal,
Dizem que a dor permanece por igual
E só se ama esta saudade interesseira.
Contudo amor é mais coma de luz,
Em que se sente tudo
menos dor,
Em que se enxerga tudo em tons dourados,
Sem qualquer tom
se escutar que nos seduz
Desse sono comum
em casto amor,
Em que os amantes conservam-se enlaçados.
COMA DE LUZ VII – 31 dezembro 2023
Mas dessa coma ninguém
quer despertar,
IGUAL Em tubos
umA no outro interligados,
Um pela outra mutuamente alimentados,
Na introvenosa ação
do respingar.
Meus aparelhos só
pode ELA desligar
E só por mim serão os
dela desligados,
Dois coraçõ ES em Um compasso conservados,
No impulso elétrico de um igual pulsar.
Ela é minha coma e dela sou o leito,
Somos canais de iguais emunctórios,
Sem querer nos separar nem por descuido.
Insuflo o meu pulmão contra seu peito
E o pulmão dela participa de envoltórios,
Compartilhando os dois Do
mesmo fluido.
COMA DE LUZ VIII
Amor então será como um acidente,
Que aos dois no mesmo plano colocou,
Para outro mundo de prata deslocou,
Sons de um silêncio que
parece permanente..
Recusa estímulo qualquer que se apresente,
Nem sente a dor que nas veias se cravou,
Uma do
outro nem um momento separou,
Ninguém nos corta, por muito mais que tente.
Porque essa coma e a de um sonho partilhado,
Coma de luz no mesmo andar airado,
Coma de amor em plena imantação
É o mundo
inteiro que se encontra anestesiado,
Meu coração e o
dela em exultação
E todo o mundo
em um fragor amortalhado.
COMA DE LUZ IX
Porque, afinal, quem diz
que se deseja
Despertar dos meandros dessa luz,
Emaranhado Da intenção que nos conduz
Nesse casulo que a eterniDade enseja?
Não é tão só a boca que se beija,
Beija-se a alma em gosto de alcaçuz,
Em sentimentos de novelos
nus
E separados qualquer de
nós se aleija.
Sejam embora tão
somente feromônios,
Que nos englobem em química feroz
E nos limitem nesse tempo triunfal,
Pois nesse amor compartilhamos os demônios
Desse inconsciente que nos flui até a foz,
No mundo oceânico de um paciente terminal.
COMA DE LUZ X – 1º janeiro 2024
Sabe-se lá o que
ocorre nas camadas,
Em nossa teia de sonhos comatosos,
Mil aparelhos de controle vigorosos,
Nessa diálise
de esperas apressadas
E se outras
gente s se vê apaixonadas,
Que compartilhem
mil fluidos vigorosos,
Atos de amor gentis ou fervorosos
Lado a lado em fantasias acamadas,
Porque de fato não
se sabe nada,
Eletroencéfalos são só tintas num papel
E as linhas de calor borrões de luz
Em mil botões de tradução errada,
Tal como traduzir favos de mel
Sem o sabor da doçura que seduz.
COMA DE LUZ XI
E assim me dura
eternamente e um dia
O amor constrangedor, coma de luz,
Que a queimar-me internamente
me seduz,
Mesmo que seja apenas jogo e fancaria,
Brincadeira de cupido ou fantasia,
Enquanto eu me penduro nessa cruz,
Em que vejo um igual brilho que
reluz,
Na alma alheia que a mim me seduzia
E assim unidos neste mesmo
facho,
Pouco importa a velhice
dessa morte
Da carne que aos poucos deteriora,
Porque esse brilho preenche todo o
espaço,
Esses dois dramas a partilhar da mesma sorte,
Que não se extingue por mais se queime embora.
COMA DE LUZ xii
TAMBÉM SE ENTENDE POR ‘COMA’ A CABELEIRA,
QUANDO EM AMOR OS CABELOS SE ENTRELAÇAM
E aS ILUSÕES POR FIO A FIO PERPASSAM
ENQUANTO A ALMA É TRaNSFUNDIDA INTEIRA
E DESSE MODO,
NA COMA PASSAGEIRA
DESSE SONO
TRANQUILO EM QUE SE ENLAÇAM,
TRANÇAM-SE LÁGRIMAS NOS OLHOS QUE SE EMBAÇAM,
LIANAS DE VEIAS TECENDO A PURA ESTEIRA.
QUE SEJA ASSIM, COM MINHA AMADA IDEAL,
QUANDO EM COMAS DE LUZ, NUM CARNAVAL
DESSES SONHOS
ABSTRATOS DE DESVELOS
E QUE EU ME
TRANCE NA POMPA DOS ABRAÇOS
E ME PERCA NA MAGIA DE TEUS BRAÇOS,
ENOVELADO EM TUA COMA DE CABELOS.
COMA DE LUZ XIIi – 2 JANEIRO 2024
ARCANAS FORAM AS
COMAS EM QUE ACEITO
TEUS IDEAIS EM CRIAÇÕES DE PIRA E
LUZ.
COMA IGUALMENTE DE CABELOS ME SEDUZ,
NINGUÉM MAIS SENÃO
TU A TER DIREITO
DE PARTILHAR DAS COMAS DO IMPERFEITO,
PERFEITO APENAS NO SANGUE
DE UMA CRUZ,
CRUCIFICADOS EM TI
MEUS SONHOS NUS,
CRUCIFICADO EM MIM TEU SONHO ACEITO
E DESSE MODO
BEIJO TUA PELE EM SACIEDADE,
AO PERCEBER QUE ME ENCONTRO
DENTRO DELA
E DENTRO EM MIM ESTÁS em
igual VAIDADE,
NA MAIS FEROZ E MAIS PLENA SOCIEDADE,
FORAM TEUS OLHOS PARA MIM
JANELA,
SEJAM MEUS OLHOS TUA PERFEITA LIBERDADE.
COMA DE LUZ xiv
QUE NESSA COMA DE LUZ SEJAMOS SÓS,
NESSA TUA COMA DE CABELO ESCRAVIZADO,
MAIS QUE JAMAIS
SEREI EM TI AGRILHOADO.
NA VASTIDÃO CAPILAR DE TANTOS NÓS,
QUE SEJA O TEU
CARINHO MEU ALGOZ,
SEM QUE EU
ENCONTRE DESGOSTO NESSE FADO.
QUE SEJA POR TEUS SONHOS ENCANTADO.
EM TEU
ERGÁSTULO SEM PERDÃO
NEM DÓS,
QUE EM TI ME PERCA
EM TOTAL LEUCOPENIA,
AS MINHAS HEMÁCIAS A OFERTAR EM NOSTALGIA
E ASSIM ME ENGLOBE
INTEIRAMENTE EM TI,
COAGULADO DENTRO DE TEU PEITO,
NA EXULTAÇÃO DE ME SENTIR ACEITO,
NESSE ATO DE AMOR QUAL NUNCA VI.
COMA DE LUZ xv
SEM DOR NEM MÁGOA TE ENTREGAREI
MINHALMA,
QUE A CONSERVES NUM NOVELO DE CABELOS
E PELAS CARNES A
REPASSES EM TEUS ZELOS,
DA MINHA VENTURA ENGLOBADO NESSA PALMA,
QUE ME DEIXE
DOMINAR EM PLENA CALMA,
SEM ME EXCLUIR JAMAIS DE TEUS DESVELOS,
DE MAIS NINGUÉM POSSA ESCUTAR APELOS,,
MINHA FÉ e SANGUE
APENAS NUTRE E
EMBALMA.
QUE NESSA COMA DE
LUZ ESTOU ACORDADO,
NESSA COMA DE CABELOS EMBALADO,
MAS SE ESTOU
DENTRO DE TI, ESTÁS EM MIM
E DESSE MODO
IGUAL TE ENGLOBO O CORPO AMADO,
TUA ALMA E SELF, TEU
INCONSCIENTE, ENFIM,
AMBOS UM SÓ NA
amorlatria DO PECADO.