Nunca fiz visita à Arábia,
nem tampouco à Palestina.
(Muçulmano que não peca
precisa visitar Meca,
em busca de melhor sina.)
Mas tampouco fui a Roma,
buscar a bênção do Papa.
(Naquela multidão vária,
cercado pela estatuária
de tanto santo de capa...)
Nunca vi Jerusalém,
nem sequer a Via Crucis.
(Das Lamentações o Muro
só vi no cinema escuro,
depois que apagam as luzes...)
Nem fui ainda à Inglaterra,
a Canterbury em visita.
(A catedral anglicana
minha visita reclama,
mas meu corpo não se agita...)
Nem sequer a Compostela,
Caminho de Santiago.
(Percorrendo meia Espanha,
peregrino não se acanha
de pedir ao santo o afago...)
Das vezes que viajei,
tive outras intenções:
busquei muito mais cultura,
busquei beijos de ternura
e não peregrinações.
Porém sigo o meu caminho,
apenas fazendo versos.
Trabalho quanto é preciso,
nem um momento indeciso
em misturar-me aos conversos.
Porque não me disporei
a rezar por cinco vezes
a cada dia. Vou orar
sempre que em Deus eu pensar,
no decurso de meus meses.
E assim, prossigo minha vida,
por obra e graça de Alá.
E embora não me converta,
seu poder não desconcerta
e aqui me protegerá.
Clemente e misericordioso,
como reza no Alcorão,
defendendo a vida humana,
sem condenar a quem chama
a si mesmo de cristão.
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