terça-feira, 15 de maio de 2012

Elektra e Clitemnestra


FREUD E ELEKTRA I – 14 MAR 12

De Agamêmnon Elektra era filha,
irmã também de Ifigênia e ainda de Orestes,
sacrificada a segunda contra as pestes,
antes de ir a Tróia, em escura ilha.

Sua mãe guardou-lhe o sangue numa bilha,
Clitemnestra, movida por agrestes
impulsos, em sua busca de incontestes
desejos de vingança, que perfilha...

Aliou-se a Egisto, sobrinho do marido,
porém legítimo herdeiro de seu trono;
deu-lhe a coroa e o recebeu no leito;

quando Agamêmnon, dez anos de partido,
retornou a Micenas, no abandono
de um banho quente, punhal cravou-lhe ao peito.

FREUD E ELEKTRA II

E derramou-lhe o sangue na cabeça,
guardado de Ifigênia por dez anos;
da execução dos atos desumanos
explicação não é preciso que se peça

a deuses e demônios, pois não cessa
a inventividade dos humanos
com referência aos crimes mais arcanos:
são o ciúme e a ambição a causa dessa

conspiração de vampiro e salamandra.
Freud as tendências humanas explicava,
não por destino, mas ódio e angústia brava;

na ocasião, ela matou também Cassandra,
filha de Príamo e de Agamêmnon a escrava
e a seguir, a seu amante se entregava.

FREUD E ELEKTRA III

Elektra, porém, seu pai amava,
na mais perfeita devoção filial
e sobre o túmulo do corpo paternal,
de dia e noite, sempre ali chorava.

Clitemnestra, de temor, até a obrigava
a seu casar com um camponês de seu aval,
julgando assim se olvidaria, no final,
de tanto pranto que na tumba derramava.

Mas ela apenas por Orestes aguardava
e quando o irmão finalmente retornou,
fê-lo matar Clitemnestra e seu amante;

o matricídio a Orestes espantava
e quase enlouqueceu, quando afirmou
ser torturado pelas Fúrias, delirante...

FREUD E ELEKTRA IV

Mas no Areópago, a voz da própria Atena
o absolveu de tão hediondo crime:
é permissível então, que se assassine
a própria mãe, quando à morte o pai condena...

Casou-se Elektra com Pílades, sem pena
do camponês, por mais que este a estime;
Médon e Estrófio são os filhos em que arrime
seu novo esposo; e o primeiro se envenena...

Freud de Sófocles o resultado triunfante
em sua doutrina um dia empregar vai;
mas a mensagem de amor assim se impetra:

pois não anseio que te tornes minha amante,
porém que penses em mim como teu pai
e desenvolvas um complexo de Elektra...

O RETORNO DA DEUSA I (18 fev 12)

Clitemnestra também nasceu de um ovo,
com sua gêmea, Helena, que uma guerra
teria provocado e toda a terra
feito embarcar em navios, gente do povo,

os nobres e os guerreiros, o renovo
da Hélade e das lendas, em que encerra
mil deuses e não-deuses, que me emperra
em tal teogonia, a um ponto em que mal movo

as pálpebras e já deparo em novos nomes
de heróis e semideuses, à porfia,
com tantos monstros compostos de ilusão.

Porém Clitemnestra, com suas fomes,
o marido matou, sem teurgia,
movida apenas por outra paixão...

O RETORNO DA DEUSA II

Segundo a lenda, foi Júpiter ou Zeus
que, como um cisne, a Leda engravidou;
os autores divergem, se a estuprou
ou seduziu-a com os encantos seus.

Foi avisar o marido e os dois sandeus
fizeram logo amor, pois afirmou
Tíndaro que a semente humana retomou
seu ventre; mas de fato, Polideuces

e Helena herdaram a semidivindade,
mas Cástor e Clitemnestra humanos foram,
dotada Helena de sobre-humana sedução.

Polideuces ou Póllux intentou, em sua bondade,
pedir a Zeus, pois ambos juntos moram,
que desse a Cástor a mesma proteção...

O RETORNO DA DEUSA III

O deus era piedoso e assim, ao invés
de do filho tirar parte dos poderes,
a Cástor concedeu idênticos pendores
e os dois irmãos, segundo antigas fés,

tornaram-se os Dióscuros, protetores
dos navegantes e no Zodíaco as sés
do signo de Gêmeos, através
da benignidade dos deuses superiores...

Contudo, como Cástor já morrera,
fez Júpiter trato novo com Plutão
e os dois passavam no Hades a metade

de cada ano; também assim se esclarecera
que no hemisfério sul essa constelação
ficasse oculta por seis meses, na verdade...

O RETORNO DA DEUSA IV

Porém os quatro nasceram de dois ovos...
Clitemnestra foi a mais prejudicada:
não se tornou semideusa essa coitada
e Agamêmnon foi lutar com outros povos,

em sua conquista de tesouros novos
e, para deixar Clitemnestra desolada,
não se contenta em deixá-la abandonada,
trouxe Cassandra consigo nos corcovos

de sua trirreme, após passar dez anos!...
Enquanto Menelau trazia sua Helena...
Como culpá-la por amante ser de Egisto?

Ou que tramassem os dois tétricos planos:
mataram Agamêmnon no banho, sem ter pena,
para seu nome desde então ficar mal visto...


VISITA A ESPARTA I (27 mar 12)
(Para Helena R. Pinto Botelho)

Fui visitar Helena em sua casa vazia
nada mais resta dela, até os móveis foram
para as casas dos dórios e ali douram
nessas sacadas que o sol ainda alumia.

Helena não está, partiu na nostalgia
de uma vida infeliz, porém ainda moram
sua coragem e calor.  Sempre me agouram
sua beleza e louvor, tal qual dizia

o rapsodo que não a pode usufruir.
Era mui bela Helena.   O coração
mal lhe cabia e tinha ouro

em suas próprias entranhas.  Sem desdouro,
digo que foi mãe e amante de ilusão,
por todo o sangue que por ela fez fluir.

VISITA A ESPARTA II

Poucos vestígios dessa Esparta restam
em que Helena habitou com Menelau.
Foi destruída em breve dia mau,
igual que Troia.  São pontos  que se prestam

a dez reconstruções.  Outros empestam
com sua presença o mesmo antigo vau.
Alicerces abriram no palácio, ao
qual com novos deuses hoje infestam.

Mas essa Esparta que nasceu mais tarde
tampouco perdurou e essa muralha
de pedras por escravos ajustadas,

dez séculos depois em incêndio arde
e de Helena a cinza o vento espalha,
outras as cinzas por teus passos agitadas.

VISITA A ESPARTA III

Nova Esparta existe hoje, um município
da nova Grécia, por modernos restaurada,
meio escondida, pois tem pouca nomeada.
Vetusto o tempo em que causou o malefício

a Atenas, no auge de seu viço.
Mas esta permanece renovada,
da atual Hellas a capital airada,
enquanto Esparta ficou em desperdício...

Sobre ela havia um bosque de oliveiras
e aos arqueólogos custou bastante esforço,
escavar esses restos de paredes.

Agricultores de índoles altaneiras
até desprezam aquele velho escorço
que com oitenta passos fácil medes.

VISITA A ESPARTA IV

Porque, de fato, nem descendem deles.
Os espartanos de Helena estão extintos;
Dos espartanos de Leônidas meus instintos
indicam-me que penses tão só neles,

mas também extintos foram.  Filhos reles
facilmente por romanos mais distintos
escravizados foram e esses recintos,
por mais respeito que sobre eles veles

são os restos dos vestígios de outra Esparta,
pois realmente, essa casa está vazia
em que habitou Helena.  Só há a memória,

que por tantas mil helenas se reparta,
cada uma delas em sua morada fria,
esquecida pela lenda e pela história. 

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