segunda-feira, 21 de maio de 2012

O TEMOR DE THEMIS


 (Para José Carlos Teixeira Giorgis)
 
Entre os doze titãs, surge-nos Themis,
Irmã de Mnemósine, a Memória.
Do bom conselho e da ordem firma os lemes,
Considerada, através da longa história,
A voz dos deuses, cuja justiça temes,
Reverenciada na Grécia, em grande glória,
Filha de Gaia e Urano, a Terra e o Céu,
Presidindo às assembleias com seu véu. 
 
Numa das mãos trazia uma balança
E na outra uma espada, em duplo gume.
Somente a lei divina nos alcança.
Previa o futuro com potente acume
E o Oráculo de Delphos, sem tardança,
Ergueu num dia, para mostrar o lume
Da justiça divina em cada feita,
Superior à dos homens, que é imperfeita.
 
Seu nome vem de tithemi, “colocar”
Aquilo que dos céus nos é disposto.
Não se dispunha aos homens castigar;
Se contrariada, para seu desgosto,
Chegava Nêmesis, ocupando esse lugar.
Mas sem obedecer ao humano gosto,
Era descrita com “encantadora face”,
Sem que nela a vingança se estampasse.
 
Defendia as familiares relações,
Sendo a família o pilar de uma cidade.
Aconselhou a Deucalião as plantações
Dos “ossos de sua mãe”; e a humanidade
Nasceu da terra, após as inundações
Que destruíram a antiga veleidade.
Themistopolói chamavam-se os juízes
Que os helenos convocavam em suas crises.
 
Themis casou-se com seu sobrinho Zeus
E sua primeira filha foi Astreia,
A “Virgem das Estrelas”, que aos seus
Ensinou a justiça...  E a epopeia
Nos conta que retirou-se para os céus.
Hoje é a Virgem e Libra é sua candeia,
Pois marchava com balança luminosa,
Mostrando aos homens a lei reta e poderosa.
 
Sua irmã Diceia entre nós a substituiu,
Que é a “Justiça dos Homens”, inconstante,
Que o mal dos povos imparcial puniu,
Enquanto Themis amenizava cada instante
Que o julgamento das Moiroi  urdiu,
Homens e deuses submetidos a seu guante.
Clotho tecia, Laquésis lia as sortes
E num sorriso, Átropos lhes dava os cortes.
 
Foi Hesíodo que pela vez primeira
Chamou Themis de “Justiça Divinal”.
Foi mãe das Horas, a “Exatidão Certeira”
E com Zeus teve prole triunfal:
Eunomia, da lei a “Ordem” derradeira;
Auxos, das colheitas o fanal;
Carpos, que das árvores traz os frutos;
Thallos, que nos dá os outros produtos.
 
E foi a mãe de Eirene, finalmente,
Porque a justiça deve trazer a “Paz”.
Com a Iustitia romana, claramente,
Tem diferença que a identificação desfaz.
Esta a Urbe personificava inteiramente
E o interesse de Roma apenas traz,
Com impassível rosto, na sua crença,
Imposta a venda tão só na Renascença. 
 
ALVORADA RUBRA I  (30 MAR 12)
 
Seu ventre é luz de mel, um suculento
fruto de aroma agreste, som e vida,
em que somente ao penetrar acho guarida
de tanto embate e ardor sanguissedento.
 
Seu ventre é cor e ninho, um tegumento
que me consola, uma ilusão querida
por breve tempo, não menos pretendida
do que a respiração em tal momento.
 
Pois que seria da vida, não houvesse
o carinho de suas pernas e seus braços
e a calidez do umbigo contra o meu?
 
Muito mais infeliz, se não tivesse
como enfim derramar-me em seus espaços,
quando me sinto totalmente eu?
 
ALVORADA RUBRA II
 
Dessa primeira vez que vi seu rosto
foi qual se o sol brilhasse de sua face
e seu corpo inteiramente rebrilhasse,
qual lamparina na hora do sol posto...
 
Desde que, por vez primeira, bebi o mosto
de tal vinho que sua taça derramasse,
foi qual certeza plena se estampasse
nesse prazer que é primo do desgosto...
 
Eu me tornei em pólen, totalmente,
misturado em acquavit e hidromel,
nessa emoção de meu descobrimento,
 
quando sua carne cobriu-me, inteiramente
e me perdi em sua teia de ouropel,
na intensidade de meu deslumbramento.
 
ALVORADA RUBRA III
 
Pois é claro que existe muito mais
que pura e simples atração carnal
no ultrapassar iniciático do hormonal
de certa mente mais profunda que as demais.
 
Pois fazer sexo é perder-se no jamais
da armadilha de teor feromonal:
como explosão extingue-se, em mortal
satisfação desgastada no ademais...
 
Porém fazer amor envolve a calma
desse encontro de caráter essencial,
quando ela sou eu e eu me torno nela,
 
quando se encaixam os fragmentos dalma,
do amor o sexo complemento natural,
qual luz do sol a escorrer pela janela.
 
ALVORADA RUBRA IV
 
E da primeira vez que se consagra,
na pura e simples afirmação sexual,
essa asserção do engenho consensual
em que da alma o interior se flagra,
 
uma alvorada rubra se deflagra,
por mais que seja evento noturnal
ou realizado sob o sol casual
em que toda a natureza se conflagra.
 
E nesse instante de estranha aberração,
implode o egoísmo, em criminalidade,
quando milhões vêm-se lançados para a morte,
 
no masculino esguichar da lactação,
que à alma o ventre nos dá hospitalidade,
a desafiar por momento eterno a sorte.
 
Veja também minha "escrivaninha" em Recanto das Letras > Autores > W > Williamlagos e o site Brasilemversos > Brasilemversos-rs, em que coloco poemas meus e de muitos outros autores.

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